segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Que 2013 seja quente, em todos os sentidos!

Não estou aqui para dourar a pílula e estourar champanhe (cuja uva, no andar da carruagem, vai deixar de ser plantada na França para cruzar o Canal da Mancha e aportar na Inglaterra). 2012 foi muito difícil para a questão climática. O Ártico bateu recorde de degelo. Temperaturas extremas foram registradas em todo lugar, com o Rio de Janeiro passando dos 43 graus e os EUA tendo  o ano mais quente (e um dos mais secos) do registro histórico. Taxas de elevação do nível do mar acima de qualquer projeção se confirmaram e estudos mostraram um quadro bastante grave, incluindo um aquecimento maior  do que o que se conhecia em parte da Antártida e uma mortandade significativa de corais e pequenos moluscos, cujas vidas ficam comprometidas em função de um oceano mais ácido. O Atlântico teve uma temporada acima da média, com 19 tempestades tropicais dos quais 10 chegaram a se configurar como furacões. Um deles, Sandy, fez 253 vítimas mortais (principalmente nos EUA e no Haiti) e provocou prejuízos gigantescos na cidade-coração do capitalismo mundial.  No Pacífico, o total de tempestades ficou bastante dentro da média, mas dos 14 tufões, 5 foram considerados "super-tufões", dentre os quais Bopha, que causou nada menos que 1067 mortes confirmadas, tendo sido a segunda tempestade desse tipo mais mortal a se abater sobre as Filipinas. Não precisa dizer que as concentrações de dióxido de carbono também estiveram nas alturas.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Rio 40 Graus... 41, 42, 43...


Rio 40 Graus é o título de um filme de Nelson Pereira dos Santos, de 1955, portanto de quase seis décadas atrás. Meninos da favela vendem amendoim sob um sol escaldante, em pontos turísticos do rio. Provavelmente pela realidade social mostrada no filme, o filme foi proibido durante a ditadura militar. O censor alegou, no entanto, posando de climatologista, que o filme seria mentiroso, pois a temperatura do Rio nunca teria excedido os 39,6 graus... Mas eis que hoje os sites de notícias anunciaram que a estação de Santa Cruz, na zona oeste da Cidade Maravilhosa, teria estabelecido novo recorde de temperatura, chegando aos 43,2°C.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Eles também sabem II - Grilos Falantes e Pinóquios

A ciência nos permitiu curar doenças mortais para nós seres humanos há poucos séculos ou mesmo décadas. Nos ofereceu a possibilidade de nos deslocarmos por terra, mar e ar. Nos deu condições de nos comunicarmos e trocarmos idéias a quilômetros de distância. Sistemas integrados, asas de avião, antibióticos são exemplos de como, no dia-a-dia, não só damos ouvidos à ciência como chegamos a confiar nossas vidas na justeza do seu método. 

A ciência é cumulativa, avança, se auto-corrige. Por vezes se revoluciona, mas sempre no sentido de ampliar os horizontes e não de retroceder a superstições, crendices ou pseudo-ciência (a Relatividade, por exemplo, não "nega", antes amplia o alcance da Mecânica Newtoniana, que passa a ser caso particular da primeira). E é por isso que, sem nos sentirmos, confiamos tanto nela.

O problema surge quando ela apresenta alguma conclusão que nos desagrada ou que incomoda, seja porque contraria alguma crença pessoal (a Evolução das Espécies ainda hoje irrita alguns fundamentalistas) ou nos leva a (ou impõe) alguma mudança de hábito pessoal ou coletivo. É mais grave ainda quando interfere com algum interesse econômico ou político fortemente estabelecido. E é aí que a Ciência do Clima se tornou um incômodo grilo falante.

A conclusão (tão bem estabelecida quanto o papel do DNA na evolução biológica ou da Gravitação na Mecânica Celeste) de que a elevação das concentrações de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono, emitidos em atividades humanas, tem levado ao aquecimento do sistema climático e de que a continuidade desse processo pode trazer riscos severos mexe precisamente nesses dois últimos pontos nevrálgicos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Ho, ho, hot!


2012 estabeleceu um novo padrão para o recorde de degelo no Ártico. Pela primeira vez desde que vem sendo medida a partir do final dos anos 70, a área do Oceano Ártico coberta por pelo menos 15% de gelo ficou reduzida a menos de 4 milhões de quilômetros quadrados. A comparação com a  média climatológica para esse período (figura ao lado) é impressionante. É uma verdade óbvia que, a cada verão, o gelo derrete na região, mas não na proporção deste ano. A cobertura de gelo em 2012 ficou 10% menor do que o recorde anterior, valor já impressionante de 5 anos atrás (figura abaixo).

sábado, 22 de dezembro de 2012

Números II - Logaritmos e Regras de Três


Evidentemente, para representarmos corretamente os processos físicos e as interações biogeoquímicas no interior do sistema climático, são necessários modelos sofisticados das componentes desses sistemas. Os chamados "Modelos do Sistema Terrestre" de hoje em dia são gigantescos programas de computador com muitos milhares e até milhões de linhas que incluem tipicamente um modelo de circulação geral da atmosfera, um modelo oceânico global, modelos de gelo marinho e continental e um modelo de superfície com solo, vegetação e hidrologia continental dinâmicos, além de módulos de química, ciclo do carbono, etc. 

Isso pode fazer com que a Ciência do Clima pareça obscura para a grande maioria das pessoas. Mas para se obter uma estimativa de alguns números, cruciais para que se estabeleçam metas de estabilização das concentrações de gases de efeito estufa, podemos usar representações mais simples, que permitem que boa parte das pessoas nos compreenda. Vamos tentar fazer isto neste texto.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O AR5 e o Tiro pela Culatra dos Negadores

Muitos conhecem o famigerado fuzil AR-15, arma semi-automática extremamente difundida, inclusive entre grupos paramilitares e facções criminosas. Bem menos conhecido é um dos antecessores dele, o AR-5, um rifle adotado pela Força Aérea dos EUA na década de 1950, mostrado ao lado.
Armas: AR15 (acima), AR5 (abaixo)

Mas não é de rifles, fuzis e similares de que vou falar aqui, evidentemente. Prometi que voltaria ao assunto e aqui está... O tema que abordarei é outro AR5, o 5° Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e o gigantesco tiro que os negadores da mudança climática deram no próprio pé quando tentaram capitalizar alguma coisa com o "vazamento" da 2ª revisão desse Relatório e divulgação de um ou outro trecho do material, como se de alguma forma as evidências em torno das mudanças climáticas e do papel antrópico possam vir a aparecer enfraquecidas neste relatório, em relação ao seu antecessor (o AR4, disponível no site do IPCC).

Bopha, 333

A atenção dada pela mídia é bem menor do que aquela dedicada a Sandy, mas é impossível não falar aqui do super-tufão Bopha (imagem de satélite ao lado), que chegou à categoria 5  na classificação de Saffir-Simpson, o que implica que seus ventos sustentados ultrapassaram 252 km/h. No dia 4 de dezembro, Bopha chegou às Filipinas. Foi a tempestade mais forte que se tem notícia a atingir aquele país. De imediato, se registraram inúmeras mortes e centenas de desaparecimentos. Hoje, o total de mortes confirmadas ultrapassou 1000 pessoas. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Novembro de 2012: 5° mais quente em 133 anos.

Mapa com a distribuição da temperatura de Novembro/2012,
em percentis. Fonte: NCDC/NOAA
Segundo o boletim mensal da National Oceanic and Atmospheric Administration, Novembro de 2012 é o quinto Novembro mais quente de todo o registro histórico, desde 1880, quando este se iniciou, com uma temperatura média global 0,67°C acima da média do século XX. Os 10 meses de Novembro mais quentes de todo esse período ocorreram nos últimos 12 anos. Sobre os continentes, as temperaturas estiveram 1,13°C acima da média do Século XX, reforçando o fato bem conhecido de que estes tendem a aquecer mais rapidamente do que os oceanos. A maior parte da América do Sul, da África, da Austrália e do Oceano Índico estiveram com temperaturas muito acima da média. Recordes de temperatura ocorreram no Caribe, em porções do norte e oeste africanos, dentre outras regiões.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Números

Na semana que se encerrou ontem, tive a oportunidade de discutir a questão climática em dois eventos: a exibição do documentário "6 graus" no Projeto "Arte e Crítica", na Universidade Estadual do Ceará e a mesa de abertura do "Seminário Ecossocialista" do PSOL-CE. 

"Seminário Ecossocialista"
Em ambas as situações, ficou claro para mim que existe a necessidade de construir o entendimento, por parte das pessoas, de que o aquecimento global é um fenômeno real, já presente e em aceleração, de que o mesmo é motivado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre e de que o aumento da concentração desses gases se dá em virtude das atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis. Há, também, que se deixar a mensagem de que o corpo científico que trabalha na construção da Ciência do Clima, investigando, publicando, elaborando os relatórios do IPCC (e, no Brasil, do PBMC), etc., é uma comunidade séria e confiável e que, na eterna imperfeição e incompletude da Ciência, apresenta ao público a última palavra do conhecimento na área e de que se há erros nas projeções anteriores do IPCC, a maioria desses erros se dá ao se subestimar a velocidade das mudanças (vide degelo do Ártico e elevação do nível dos oceanos). 

Mas percebi que há algo que causa impacto, ao falarmos. São determinados números, que mostram como é crítico agir com rapidez para deter a locomotiva descontrolada do aquecimento global (Nesse sentido, por experiência própria, vi como a campanha "Do the Math", de Bill McBibben e da 350.org é interessante).  E aí, resolvi colocá-los de forma sintética aqui:

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Vazamento do 5° Relatório do IPCC: o que esperar?

Foto do Encontro de Autores-Líderes
do WG-I do IPCC 
Assim como há 3 anos, quando houve a violação dos servidores de email da University of East Anglia, dando origem ao factóide que tentaram chamar de Climategate, novamente outro factóide parece querer se gestar. Trata-se do vazamento do "Second Order Draft" do material do WG-I (Grupo de Trabalho I, dedicado ao levantamento das bases físicas das Mudanças Climáticas).

Como de praxe, a blogosfera negadora apressa-se em tentar atacar o relatório ou falseando grosseiramente a verdade ou pinçando alguns trechos e colocando-os fora de contexto. Só gosto de emitir opiniões com completo conhecimento de causa e voltarei ao tema posteriormente, em detalhes, mas obviamente resolvi colocar esta postagem para preparar o espírito de todos. Nossa comunidade sofrerá novos ataques do lobby da indústria fóssil, catapultados por indivíduos inescrupulosos, sem compromisso com o método científico, a ética e a verdade.

Estou com o relatório em mãos e já foi possível constatar numa leitura rápida que, como era de se esperar, o AR5 (5° Relatório de Avaliação) tende a reforçar (ainda é um esboço, portanto deverá sofrer alterações) as conclusões do AR4 (4° Relatório de Avaliação). O entendimento de que a contribuição antrópica é o principal fator que determina as mudanças climáticas do presente se ampliou e a atribuição de uma causa antrópica vai além das temperaturas superficiais e chega a variáveis cruciais como o conteúdo de calor oceânico e o degelo do Ártico. Afirma-se, com menor margem de incerteza, que a Irradiância Solar Total apresentou uma variabilidade muito pequena desde o advento da era industrial, tornando ainda mais remotas quaisquer chances (que já eram ínfimas) de que a atividade solar guarde  relação causal com o aquecimento global observado. Em geral, o AR5 também deverá estabelecer vinculações mais fortes entre a influência antrópica, a mudança climática fenômenos extremos ainda que, em relação ao AR4, ele tenha chegado a conclusões diferentes sobre a ocorrência de secas. O que percebi é que esta última constatação já está sendo colocada fora do contexto e que a discussão sobre o papel do Sol está sendo falsificada da forma mais grosseira que se possa imaginar nos sites dos negadores.

Enfim, posso resumir...

Como esperado, o AR5 reforça o corpo de evidências que se acumulou desde o AR4 e o TAR (3° Relatório), mostrando cada vez mais claramente que as mudanças climáticas correntes são de natureza antrópica, em função da emissão de gases de efeito estufa de vida longa, principalmente CO2 pela queima de combustíveis fósseis.

Como esperado, os negadores das mudanças climáticas, imitando os métodos desonestos que a indústria do tabaco utilizou há mais de 30 anos para evitar que a verdade científica sobre a relação entre fumo e câncer fosse aceita pela opinião pública, levando a se tomar medidas para reduzir o consumo do cigarro e salvar vidas, vão buscar uma ofensiva para enfraquecer o impacto que a publicação do AR5 provavelmente terá. Vão repetir suas mentiras à exaustão, a fim de que pareçam verdade!

O IPCC já emitiu uma posição oficial, num documento que tentarei traduzir posteriormente. Mais detalhes podem ser obtidos através deste link. Noutro momento, também mostrarei para vocês como funcionam esses painéis, inclusive falando a partir de minha própria experiência junto ao Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) e vocês entenderão porque o trabalho que nós, cientistas, fazemos é sério e confiável.


Bomba-relógio: o tique-taque acelerado das mudanças climáticas


Recentemente, alguns textos têm circulado, nas mídias alternativas, acerca da justeza das projeções apresentadas pelo IPCC desde os anos 90 para o que era, então, o futuro próximo, e viria a ser, hoje, o nosso presente. Alguns, como este, destacam que as projeções de aquecimento global se confirmaram. Outros, como o texto de James Hansen, em sua versão traduzida, destacam aquilo que mais me preocupa, que é o ritmo alarmante de certas mudanças, que têm sido detectadas no sistema climático na escala de anos.

Distribuição do calor excedente no sistema climático terrestre,
com base nos dados do IPCC. Figura adaptada a partir de
http://www.skepticalscience.com/graphics.php?g=12.
Os sinais mais alarmantes, ao meu ver, estão relacionados a outras variáveis do sistema climático que não a média da temperatura global na superfície. Na realidade, como o planeta e principalmente seus oceanos são tridimensionais, o calor acumulado pelo efeito estufa mais intenso não se distribui homogeneamente e, por vezes, pela própria dinâmica do sistema climático, pode dar preferência ora para uma parte desse sistema, ora para outro. Por exemplo, é possível que parte do calor retido na Terra durante alguns anos se acumule na porção superior do oceano, sendo transmitido depois para a atmosfera. Noutros momentos, é possível que a circulação oceânica mais profunda redistribua esse calor, transportando-o através de suas correntes para regiões remotas do planeta, vindo, em algum momento, a se manifestar de forma mais clara no derretimento do gelo das calotas polares. O quarto relatório do IPCC, por sinal, identifica de forma muito evidente que os oceanos são o principal coletor desse excedente de calor. Os resultados originalmente mostrados nesse relatório são mostrados, de forma mais simples, na figura acima.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Eles também sabem: Isto não é um Vídeo-Game!

Há aqueles, na comunidade acadêmica, que acham que não caberia a nós irmos a público e não caberia a mim assumir a postura recente, de incidir, diretamente junto ao público, sobre a questão das mudanças climáticas e das urgentes ações para contê-las. Ainda assim, dizem entender quão grave é o problema. Há aqueles, no público em geral que, mesmo conhecendo as evidências e aceitando a dura realidade das mudanças no clima, ainda assim, não perceberam a profunda gravidade da questão e não se mobilizaram em torno dela. Não se deu, obviamente, a fusão do conhecimento científico com a ação política e social. Alguns cientistas permanecem alheios a esta última. O grande público continua a ignorar o que se sabe no terreno da Ciência do Clima. Esse desencontro precisa ser resolvido e é no exemplo de cientistas de peso que tenho tentado me inspirar em meus esforços para que um grande movimento em defesa da estabilidade e justiça climática possa emergir. Eles - com bem mais autoridade do que eu - também sabem o que eu sei...

Jornalismo de Tigela Inteira?


É lamentável que possa haver qualquer publicidade adicional para textos como os escritos pelo Sr. Reinaldo Azevedo, mas infelizmente, desta vez, ele tocou em algo que me é bastante caro: a ciência a que me dedico há 19 anos, dentre os quais se incluem um título de mestre e um de Ph.D., um estágio de pós-doutorado e algumas dezenas de publicações que incluem artigos em periódicos e em anais de eventos científicos, capítulos de livro, etc. Daí, tenho que divulgar o “link”, para que os que vierem a lerem estas linhas possam saber do que falo. Neste caso, se há uma coisa me deixa menos preocupado quanto à publicidade, é saber que tais leitores meus serão poucos.

Algum Alento: O Clima Ganhando Voz

Foto da Marcha contra o Aqueci-
mento Global, promovida pela SOS
Clima Terra, Fortaleza, 06/12/2012
Nosso blog está se aproximando das 5000 visitas com menos de três semanas de criação. Ainda é algo muito pequeno, mas acredito que através das redes sociais e da divulgação de material nosso em outros sites, temos conseguido abrir debates importantes junto a esse pequeno público. É importante que multipliquemos as vozes conscientes da gravidade da crise climática e da urgência em mobilizar a sociedade e pressionar formuladores de política e tomadores de decisão em todas as esferas.

Foto da Marcha contra o Aqueci-
mento Global, promovida pela SOS
Clima Terra, Fortaleza, 06/12/2012
Na semana que passou, tive a oportunidade de participar de algumas atividades à luta pela estabilidade e justiça climáticas. No dia 05, foi publicado pequeno artigo que escrevi para o jornal Diário do Nordeste, reproduzido aqui, em meu blog. No dia seguinte, tive a oportunidade de participar da atividade promovida pela SOS Clima Terra, que conseguiu concentrar estudantes em frente à Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, seguida de uma marcha. Enquanto a direção do evento formalizava a entrega de um documento à presidência da AL, aproveitei a oportunidade para literalmente puxar um Deputado pelo braço, e exprimir, enquanto especialista, a posição de que é preciso que aquela questão seja tratada com urgência. A idéia que ele apresentou, de uma Audiência Pública, é boa, mas coloquei que é preciso ir além. No mesmo dia, viajei para Campina Grande e ministrei uma palestra no Instituto Nacional do Semi-Árido no dia seguinte (07/12).


Até o final desta semana, ocorrerão outras duas atividades, para as quais gostaria de convidar os que acompanham o blog e que morem (ou estejam, nessas datas), na minha cidade, Fortaleza.

No dia 13/12, às 18:30 no Auditório da PROGRAD, no Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Av. Paranjana, 1700), será transmitido o filme "6 Graus", um documentário extremamente atual, completamente afinado com a ciência do clima e que pode ser assistido aqui (legendas em Português podem ser ativadas, no primeiro botão entre os localizados abaixo do vídeo). 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O CO2 na vida de Niemeyer, na minha vida, na sua...

Mudanças significativas do clima costumam envolver escalas relativamente longas, de milhares a milhões de anos. Mas o advento da sociedade industrial encurtou essa escala para algo muito mais breve. A duração da vida de um único ser humano, que nem precisa ser dos mais longevos, já corresponde a tempo mais do que suficiente para que tais mudanças sejam percebidas.

Falar de longevidade e não citar a morte de Oscar Niemeyer, nestes dias, parece impossível. Quando ele nasceu, em 1907, a concentração de CO2 atmosférico era de 298,5 partes por milhão em volume (isto é, a cada milhão de litros de ar, 298,5 são de dióxido de carbono). Quando foi concluído o conjunto arquitetônico da Pampulha, em 1944, essa concentração já havia se elevado ao valor de 310,1 ppm. Ao longo desses 37 anos, o incremento de 11,6 ppm nos dá uma taxa média de crescimento do CO2 atmosférico de 0,31 ppm/ano.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ações necessárias e urgentes (publicado no Diário do Nordeste, em 05/12/2012)

Reproduzo a seguir texto de minha autoria, publicado juntamente com ótima matéria da jornalista Maristela Crispim, na edição de 05/12/2012 do jornal Diário do Nordeste
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Há vários anos, já existiam evidências de que o Planeta está aquecendo e de que isto se deve ao acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente CO2, produzidos por atividades humanas, sendo a principal destas a queima de combustíveis fósseis. Hoje, há evidências de que o ritmo das mudanças climáticas é mais acelerado do que se imaginava.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Armadilha dos Royalties: Educação não Precisa ser Manchada de Óleo

Com o objetivo de tentar desfazer alguns mitos, volto ao ponto dos royalties do petróleo, após a decisão do governo Dilma em não mudar as regras para o petróleo que já vem sendo explorado mas, ao mesmo tempo, aprovar uma medida extremamente populista, a de "100% dos royalties do pré-sal para a educação".

É uma pena que a ingenuidade da população e a incapacidade (por ignorarem o tema ou por covardia em incidir sobre questões polêmicas) por parte de segmentos que poderiam ajudar a esclarecer a questão, como a comunidade acadêmica e a militância social (incluindo a esquerda politicamente organizada) permitam que esse caldo de cultura de simpatia ao petróleo se instale.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Visita ao INSA

Nesta sexta, estarei visitando, juntamente com os colegas Emerson Mariano e Domingo Cassain, o Instituto Nacional do Semi-Árido, ocasião em que apresentaremos os resultados das simulações de cenários de mudanças climáticas regionais sobre o Nordeste Brasileiro que realizamos em nosso laboratório, na Universidade Estadual do Ceará. Esperamos colher bons frutos.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

If you start me up, I'll never stop! Porque não se pode empurrar o clima ribanceira abaixo!

A letra da música dos Rolling Stones ao dizer "se você começar, eu nunca vou parar" obviamente se refere a uma briga, dessas que pode começar com uma provocação ou um desentendimento pequeno, mas se amplifica por conta das atitudes das partes envolvidas. Ou, para fazer um trocadilho com o nome da banda, é como se um empurrão não tão intenso pusesse uma enorme pedra em movimento, mas uma vez ela descendo ribanceira abaixo, não pudesse ser mais freada.

Ambas são boas comparações para o tema deste texto: as retroalimentações (ou feedbacks) no sistema climático terrestre. Como discuti num texto anterior, há forte indício de que a sensibilidade desse sistema é grande, isto é, que o efeito final especificamente do aumento de concentração de CO2 é maior do que aquele esperado apenas por conta da sua influência direta. Há, de fato,  diversos feedbacks climáticos capazes de amplificar determinadas mudanças, mesmo que inicialmente pequenas e, portanto, de responder pela sensibilidade climática. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Mudanças Climáticas: "Sorte" e Desigualdade na Verdadeira Era dos Extremos


Num dos primeiros dias da COP-18, no Qatar, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) fez uma apresentação do seu relatório especial, o SREX, destinado ao gerenciamento de risco de eventos extremos e desastres para adaptação às mudanças climáticas. Como todo material do IPCC, o SREX está disponível ao público por intermédio deste link.

Imagem de satélite de Sandy, em 29 de Oubtubro de 2012
Eventos extremos são aqueles que não ocorrem ordinariamente e incluem uma variedade de fenômenos. Aqueles ligados aos processos climáticos incluem secas severas, tempestades intensas, furacões, cheias, ondas de calor, etc. Algumas perguntas geralmente feitas são: a ocorrência desses fenômenos se tornou mais frequente? Eles se tornaram mais intensos? Como eles devem mudar em um clima mais aquecido? Que mecanismos físicos estão por trás dessas mudanças? Eventos como o furacão Sandy são causados pelas mudanças climáticas?

Os Negadores das Mudanças Climáticas encontram uma Radical à Altura: a Natureza!


Furacão Sandy
O título alternativo deste artigo bem poderia conter “o IPCC é fichinha” ou, de forma mais inclusiva, “Cientistas do Clima somos fichinha”. Isto porque, de fato, o embate entre nós e os negadores está longe de ser justo.

O debate científico se dá em Conferências e Congressos e, principalmente, por meio da literatura com revisão. São necessários vários meses para um artigo científico (que não raro sintetiza resultados de anos de trabalho), após, às vezes, múltiplas idas e vindas de revisões, finalmente ser publicado (suas conclusões sendo geralmente restritas a um pequeno aspecto da ciência e, por ter de necessariamente ser apresentada de forma técnica, acessível a um público muito restrito de especialistas da própria área).  Apesar de suas imperfeições (erros em artigos científicos podem, sim, ocorrer), do olhar não raro fragmentado, e de sua aparência geralmente obscura para o grande público, são – particularmente hoje em dia - as contribuições parciais, os pequenos avanços e retrocessos, que pavimentam o caminho para sólidas conclusões científicas.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Obscenidade


O Dicionário Aulete é que nos ensina: 

(obs.ce.ni.da.de)
sf.
1. Qualidade de obsceno, do que é considerado grosseiro e vulgar, esp. em matéria de sexo; INDECÊNCIA
2. Ação, gesto, imagem, objeto, palavra ou pensamento obsceno: "Atrás deles uma mulata... de mãos nas cadeiras, ria-se, tratando-os com obscenidades familiares." (Xavier Marques, O feiticeiro))
3. Caráter do que causa indignação pela falta de decência ou decoro; caráter do que é chocante: Essa roubalheira do dinheiro público é uma obscenidade
[F.: Do lat. obscenitas]

Este navio acima se chama Ob River. Tem 288 metros de comprimento por 44 de largura. São quase 100 mil toneladas de metal para transporte de combustível fóssil (As letras gigantescas LNG são abreviatura de Gás Natural Liquefeito). 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Não dá para Tapar o Sol... Digo, os Gases de Efeito Estufa, com uma Peneira!

O Sol é, como todos sabemos, a fonte primária de energia para o sistema climático da Terra e de todos os demais planetas que o orbitam. Mas a quantidade de energia que chega a um planeta é apenas um dos fatores que determinam o seu clima.


Cerca de 30% da luz solar que chega à Terra é simplesmente devolvida ao espaço, por ser refletida especialmente pelas nuvens que sempre cobrem parte do nosso planeta e por superfícies claras (como a areia dos desertos e, principalmente, o gelo das calotas). Os 70% restantes são absorvidos pelo solo, pelas florestas e demais tipos de vegetação, mas principalmente pelos oceanos, que ocupam 71% da superfície do planeta e refletem pouca luz. Essa energia absorvida aquece o planeta e, como todo objeto, a Terra passa a emitir ondas eletromagnéticas cujas características dependem da temperatura. Nas temperaturas típicas da Terra, o próprio planeta, nós e os objetos ao nosso redor irradiamos na faixa do infravermelho. Assim como a luz, o infravermelho é uma onda eletromagnética, mas de frequência de oscilação mais baixa e “comprimento de onda” mais longo. Ele não é detectado por nossos olhos (que também não nos permitem enxergar nem ondas de rádio, nem ultravioleta, nem raios X, dentre tantas outras radiações de onda mais longa ou mais curta do que a luz visível), mas nas tragédias das guerras é o que permite que mísseis persigam seus alvos (como aeronaves) e que, com o auxílio de óculos específicos, soldados possam ver outras pessoas e veículos, mesmo na completa escuridão. Quanto mais quente o objeto, mais infravermelho é emitido, mais alta é a frequência e mais curto é o comprimento de onda. 

Impossível negar... Está ficando cada vez mais quente!


"Anomalia" de temperatura de 1880 a 2011. Fonte: National
Oceanic and Atmospheric Administration
(NOAA),
disponível em http://www.ncdc.noaa.gov.
Não há mais margem para dúvidas: o sistema climático terrestre está aquecendo. Registros de estações meteorológicas se tornaram regulares a partir do final do século XIX, pouco depois, portanto, do advento da era industrial. Nos últimos 100 anos, em média, a superfície do planeta já aqueceu em cerca de 1°C, como se pode ver na Figura ao lado. Esta figura mostra a chamada “anomalia” de temperatura, isto é, a diferença entre a temperatura observada e a média do século XX, com os três gráficos se referindo respectivamente à média global (acima), à média sobre os oceanos (no meio) e sobre os continentes (abaixo). Fica evidente que, sobre os continentes, o aquecimento é mais pronunciado.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mulheres e Clima: outra Página num Livro Repleto de Desigualdades

Questões de gênero e mudanças climáticas. À primeira vista, não parece ser o par de temas que suscita muitas ligações. Mas felizmente essa questão, que vem sendo discutida por diversos movimentos sociais há anos, está começando a ganhar algum eco nas cúpulas climáticas. A COP18, em Doha, felizmente, abriu espaço para essa discussão. O que é preciso ficar claro é que, como nas questões de classe, de nacionalidade e de etnia, o peso dos impactos das mudanças climáticas é desigual sobre os gêneros. O machismo predomina culturalmente em praticamente todo o planeta e, economicamente a relação entre os gêneros está longe de ser justa.

Biota Marinha: Novos Estudos Mostram a Gravidade dos Impactos da Acidificação dos Oceanos

A teia alimentar dos oceanos está em grave risco por conta da acidificação dos oceanos e, infelizmente os indícios são cada vez mais claros de que os impactos estão vindo mais rapidamente do que se imagina. Branqueamento, adoecimento e morte de corais e mortandade de moluscos já são uma realidade.

Acaba de ser publicado na revista Nature Geoscience um artigo anunciando uma daquelas coisas que realmente me assustam. O artigo (cujo resumo é disponível a todos, mas o texto completo apenas para assinantes), é de autoria N. Bednaršek e colaboradores. Seu título é "Extensive dissolution of live pteropods in the Southern Ocean" e versa sobre a dissolução de conchas de organismos vivos no Oceano Sul (a imagem acima, copiada a partir do artigo, não deixa dúvidas quanto aos efeitos da acidificação).

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

COP18, Sensibilidade Climática e Insensibilidade dos Governos


Todos os indicativos mostram que o sistema climático é bastante "sensível", isto é, perturbações relativamente pequenas podem ter grandes efeitos. A chamada "sensibilidade do sistema climático" é, para nós, cientistas do clima, um parâmetro, um número que guarda um significado muito importante pois ele responde à pergunta: se duplicarmos a quantidade de CO2 na atmosfera da Terra, de quanto a temperatura do planeta subirá?

Acredita-se que esta "sensibilidade" seja de cerca de 3°C (entre 2°C e 4,5°C), isto é, que ao se duplicar a concentração de CO2 atmosférico, a temperatura planetária, ao se atingir um novo estado de equilíbrio, se eleve de três graus.

A figura acima é reproduzida a partir do  4°  relatório   do   IPCC  e  mostra

A Negação das Mudanças Climáticas e seu Despropósito versus a Objetividade e Atitude Ponderada da Comunidade Científica


Tenho recebido respostas interessantes a meus posts anteriores em que discuto a negação das mudanças climáticas. Alguns, que concordam ou simpatizam com a visão dos negadores, compartilharam links que, democraticamente, permanecem na minha página, expondo ainda mais os erros crassos e primários da negação. Como mostro, nenhum dos pseudo-argumentos apresentados se sustenta de pé, tendo eu mesmo os refutado ou indicado links que desmistificam tudo. Em alguns casos, indicar outros materiais de sites confiáveis como www.realclimate.org ou www.skepticalscience.com torna-se mais fácil e prático, pois uma característica da incansável hidra negadora é a da reciclagem de material (pelo menos nisso, ela é ecologicamente correta...). Algo desmentido uma vez pode aparecer noutro momento e/ou noutro país como uma “nova descoberta” para mostrar que “o aquecimento global é uma farsa” e toda a ladainha negadora repetida à exaustão, no esforço de repetir tanto uma mentira até que ela pareça verdade. Infelizmente, como mostrei no "texto do bode", algumas dessas mentiras parecem mesmo ter forte tendência a serem perpetuadas, como as acusações grotescas contra Michael Mann e outros cientistas.

domingo, 25 de novembro de 2012

As Mudanças Climáticas e as Cidades

Evento extremo em 22/06/2012, em Fortaleza

Como tenho afirmado em diversos textos, a questão climática põe em evidência, como poucas, a desigualdade em escala mundial. Os capitalistas, os ricos, os países centrais são, historicamente, aqueles que emitem gases de efeito estufa em grande escala. O habitante médio de países como os EUA, o Canadá e a Austrália apresenta uma “pegada” de carbono mais de 100 vezes maior do que a média dos habitantes de Moçambique, Somália, Afeganistão, Mali, Etiópia... E de maneira cruel, os impactos das mudanças climáticas tendem a incidir de forma muito mais intensa precisamente sobre os pobres dos países pobres; sobre aqueles que não se beneficiaram do “desenvolvimento” proporcionado pelo desvario fóssil.
A relação entre o clima e os assentamentos humanos é multifacetada e

sábado, 24 de novembro de 2012

"What would you do if you knew what I know"

Meu time de "heróis" é para lá de diverso. Nele estão Marx, Trotsky, Rosa Luxemburgo e Gramsci. Nele estão Einstein, Lennon, Sagan e Dawkins. Mas são para mim heróis como os deuses gregos e afrobrasileiros: assumidamente humanos e imperfeitos.

"Olimpo", portanto, onde cabe mais um que, sendo para mim "herói", está longe de ser divindade. Falo de um que não citei acima. Não... Ele não é um militante revolucionário... Foi eleitor tradicional do Partido Republicano, algo para lá de esperado para alguém nascido no interior, filho de agricultores, no estado americano de Iowa. Trata-se de James (Jim) Hansen, o "cientista reservado do meio-oeste", o autor da frase que dá nome a este blog. Eu não concordo com ele quanto às maneiras de equacionar o problema. Mas estou inteiramente de acordo quanto à compreensão da urgência e da importância da crise climática.

Reverencio a honestidade intelectual e científica deste velho pesquisador, a quem tive a honra de ouvir palestrar, sentado na segunda fila de um auditório pequeno e superlotado, em Viena, este ano. Uno-me, humildemente a ele, em uníssono, na pergunta "o que você faria se soubesse o que sei". E uno-me, igualmente, na resposta. E dentro dos meus limites, este blog é a minha resposta, pois é o veículo que encontrei para expor a crise climática e dialogar com vocês. Nesta reverência, divulgo o link para uma palestra de Jim, para mim, emocionante!

A Negação das Mudanças Climáticas, o Bode e os Gambás: O que é uma Opinião Ponderada?


Neste texto, quero expor um dos perigos em relação à ofensiva dos negadores das mudanças climáticas. Não se trata da aceitação acrítica dos seus pontos de vista, pois realmente duvido que tomadores de decisão das esferas governamentais, setores da academia de outras áreas e a sociedade em geral tendam, majoritariamente, a deixarem o discurso anti-cientítico ou pseudo-científico se espalhar sem questionamento.

O efeito colateral realmente perigoso da ofensiva dos negadores é contaminar o senso comum, que tende à moderação, induzindo-o a opinião falsamente ponderada. Em outras palavras, se os negadores conseguirem deixar a impressão de que existe um "debate" sobre as mudanças climáticas; que há dois grupos "radicais" cujas opiniões não refletem a realidade que estaria "em algum lugar no meio"; que o saldo na opinião pública seja algo como "ok, o problema existe, mas não é tão grande assim", especialmente tendo eles recebido atenção da mídia e do público, terão conseguido seu verdadeiro intento.

Alguém acredita que possa haver uma "verdade intermediária" entre a evolução e o criacionismo? Que possa haver uma "opinião ponderada" existente entre a condenação ao nazismo e a negação do holocausto?

Pela Extinção dos Combustíveis Fósseis!

Tem havido todo um debate em torno da divisão dos chamados "royalties" do petróleo, que tenho considerado superficial e enviesado. Lamento que a questão climática, absolutamente central para a humanidade neste século XXI sequer seja tangenciada. As "polêmicas", para mim, soam vazias de sentido, qualquer que seja a destinação final dos tais royalties (fiquem majoritariamente com os estados de origem do recurso fóssil ou sejam distribuídos equitativamente, sejam destinados por completo à educação ou para outros fins, os mais nobres que você possa imaginar...), o efeito final do uso das reservas fósseis é de um dano incomensurável. É certamente muito maior do que qualquer benefício de curto prazo que se possa aferir.

Em outros temas ambientais, a adoção do princípio de precaução e, sobretudo, a primazia do raciocínio de longo prazo, em detrimento da exasperação da busca de benefícios de curto prazo me parece bem melhor equacionada. É o caso, por exemplo, das florestas. Hoje em dia, em meio a formuladores de políticas, governantes de diversos matizes e na população em geral, é mais ou menos bem aceita a noção de que a devastação das florestas não pode ser admitida, por mais que fosse produzida e bem distribuída riqueza a partir de criação de gado, plantio de soja ou extração de madeira! Sabe-se que, em nome da preservação de serviços ambientais, da água, do clima local, da biodiversidade, enfim, numa perspectiva de sustentabilidade, é quase universal (com exceção dos ruralistas mais empedernidos) a compreensão de que as taxas de desmatamento devem declinar e que, pelo uma parcela significativa das florestas tem de ser mantida.

Infelizmente, não há o mesmo tipo de compreensão no que diz respeito ao uso do petróleo, carvão e demais combustíveis fósseis. Talvez porque os danos associados não seja locais, e sim globais, temos uma triste contradição: as consequências da queima desenfreada de combustíveis fósseis são mais profundas e de maior escala, mas menos perceptíveis por não se se darem de maneira localizada e concentrada. Exceto quando há um derramamento de petróleo com uma calamidade ambiental e todos vêem manchas de óleo nos mares, as pessoas tendem a naturalizar o uso dos combustíveis fósseis, sem se darem conta da catástrofe anunciada em cada ppm (parte por milhão) a mais de CO2 na atmosfera. Acreditem, a questão é para lá de séria e espero poder mostrar para vocês que a única escolha racional possível por parte da humanidade é manter a grande maioria das reservas fósseis exatamente onde estão: soterradas, intocadas, sacrossantos restos mortais das florestas do Carbonífero!

Não sou alarmista, nem utópico

alarmista
a.lar.mis.ta
s m+f (alarma+ista) Pessoa que espalha boatos alarmantes.


utópico
u.tó.pi.co
adj (utopia+ico2) 1 Relativo a utopia. 2 Que encerra utopia. 3 Fantasioso.

Divulgar os resultados robustos da Ciência do Clima, recorrentemente confirmados por fontes independentes que vão desde medidas de superfície a estimativas por satélite, de resultados convergentes de uma miríade de modelos climáticos a testemunhos do paleoclima nada tem a ver com "espalhar boatos".

A Negação da Mudança Climática e a Direita Organizada - Sobre Felício e Molion

Este material foi originalmente publicado como três notas em separado, no Facebook, mas aqui no "O que você faria...", resolvi publicá-los como um único texto. Em várias outras ocasiões, teremos oportunidade de verificar quão falsamente grosseiros são os pretensos argumentos dos negadores, particularmente de Molion e Felício, que são os mais estridentes e que contam com um estranho apoio de mídia (dado que ambos, principalmente o segundo, possuem baixa produção e não têm nenhum destaque acadêmico).

A tentativa é de encontrar razões para as atitudes dos mesmos. Sei que certamente boa parte da impostura brota da vaidade. Como pavões, querem aparecer e, como não o fazem por mérito acadêmico, tomam um atalho. Aproveitam-se do desconhecimento do grande público sobre o assunto e mentem descaradamente, denegrindo e desrespeitando o conjunto da comunidade científica.

Só que não para nisso. Desconheço o quanto há de interesse e de ganho financeiro (nos EUA, muitos negadores são abertamente bancados pela indústria de combustíveis fósseis), mas na falta de evidências mais sólidas (apenas, como vocês verão, o agronegócio adora chamar o Molion para palestras que, possivelmente, não sejam gratuitas), nada posso afirmar a respeito. 

Descobri, no entanto, que há uma teia de vínculos políticos por trás dos dois, que é fundamental revelar, até para que caia a máscara de isenção por parte desses senhores. Costumo dizer que uma molécula de CO2 não tem ideologia e absorve infravermelho independente de nossas opiniões político-ideológicas, o que é obviamente aceito por todos os cientistas da área que conheço, independente da referência política deles ser o PSOL, o PT, o PV ou o PSDB (sim, conheço colegas com todos esses matizes e eu mesmo me filiei ao primeiro). Mas há, para certos grupamentos extremistas de direita a necessidade de dar um passo além: para justificar seus ataques ao ambientalismo, precisam renegar o que a ciência estabeleceu. Para estes, é conveniente contar com um punhado de pessoas vindas da comunidade científica, mas que não tenham o escrúpulo de negar a ciência para lhes servir de porta-voz. Essa relação íntima, simbiótica, entre os delírios de grupos fascistóides e a vaidade emplumada dos negadores resulta num teatro ridículo. É ela que é exposta no que segue.

Em Defesa da Ciência do Clima




Tenho me preocupado muito com os ataques feitos recentemente à Ciência do Clima, dentre outros motivos, porque estes tem se constituído num amálgama estranho que reúne o Tea Party, a indústria petroquímica e pessoas que parecem acreditar numa grande conspiração imperialista para, ao impedir que queimem suas reservas de combustíveis fósseis, a periferia do capitalismo se “desenvolva”, o que, com o perdão da palavra, já é per si uma visão absolutamente tacanha de “desenvolvimento”.

Mas essa não é uma questão ideológica, mesmo porque se o fosse estaria eu distante de Al Gore. É uma questão científica, pois moléculas de CO2 não têm ideologia. O que elas são dotadas, assim como outras moléculas (caso do CH4 e do próprio vapor d’água), é de uma propriedade da qual não gozam os gases majoritários em nossa atmosfera, que é a de um modo de oscilação cuja frequência coincide com a de uma região do espectro eletromagnético conhecida como infravermelho.  A retenção do calor é uma consequência da presença desses gases (mesmo tão minoritários) na atmosfera terrestre. Não fosse por eles, a Terra teria temperatura média de -18 graus, em contraste com os moderados 15, para não falar do papel dos mesmos em mantê-la entre limites amenos. A Terra não é Mercúrio que, por não ter atmosfera, devolve livremente a energia absorvida do Sol na porção em que é dia, levando-o a contrastes de temperatura de 430 graus durante o dia e -160 graus à noite. Felizmente, tampouco é Vênus, cuja cobertura de nuvens faz com que chegue à sua superfície menos energia solar do que na Terra, mas cujo efeito estufa, causado por sua atmosfera composta quase que exclusivamente por CO2, eleva sua temperatura a praticamente constantes 480 graus.

Desconhecer essas idéias científicas simples, de que o CO2 é um gás de efeito estufa (conhecido e medido por Tyndall, Arrhenius e outros, desde o século XIX), com mecanismo bem explicado pela Física de sua estrutura molecular; ignorar o conhecido efeito global que o CO2 tem sobre um planeta vizinho, o que é bem estabelecido pela astronomia desde o saudoso Sagan, não faz sentido, especialmente no meio acadêmico, onde encontram-se alguns dos negadores mais falantes. A esses eu gostaria de lembrar de algo básico no método científico. De um lado, a ciência não tem dogma, nem verdades definitivas. Suas verdades são sempre, por construção, parciais e provisórias (que bom, senão viraria algo chato e tedioso como, digamos, uma religião). No entanto, por outro lado, o conhecimento científico é cumulativo e, nesse sentido, não se pode andar para trás! Só quando uma teoria falha, se justifica uma nova e esta não pode ser apenas a negação da anterior, pois precisa ser capaz de reproduzir todos os seus méritos (caso da Mecânica Clássica e da Relatividade, que se reduz à primeira para baixas velocidades).

Não é uma questão de crença. “Monotonia” à parte, é ciência bem estabelecida, bem conhecida. Tanto quanto a Gravitação Universal (que também é “apenas” uma teoria) ou a Evolução das Espécies.

Dando voz ao clima

A frase que dá nome a este blog foi proferida por James (Jim) Hansen, pesquisador senior da NASA. Hansen se refere especificamente à sua prisão, num protesto em frente à Casa Branca, mas também à necessidade de que os cientistas em geral (e os cientistas do clima em particular) comuniquem à sociedade seus conhecimentos, especialmente quando se trata de questões cruciais para o futuro do gênero humano e, porque não dizer, da vida no planeta, como a questão climática. O megafone da minha foto simboliza essa atitude de bradar em voz alta, da forma mais enfática e com o maior alcance possível. Tentarei usar este instrumento para debater a questão climática e suas implicações. Sejam bem vindos.

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