Não estou aqui para dourar a pílula e estourar champanhe (cuja uva, no andar da carruagem, vai deixar de ser plantada na França para cruzar o Canal da Mancha e aportar na Inglaterra). 2012 foi muito difícil para a questão climática. O Ártico bateu recorde de degelo. Temperaturas extremas foram registradas em todo lugar, com o Rio de Janeiro passando dos 43 graus e os EUA tendo o ano mais quente (e um dos mais secos) do registro histórico. Taxas de elevação do nível do mar acima de qualquer projeção se confirmaram e estudos mostraram um quadro bastante grave, incluindo um aquecimento maior do que o que se conhecia em parte da Antártida e uma mortandade significativa de corais e pequenos moluscos, cujas vidas ficam comprometidas em função de um oceano mais ácido. O Atlântico teve uma temporada acima da média, com 19 tempestades tropicais dos quais 10 chegaram a se configurar como furacões. Um deles, Sandy, fez 253 vítimas mortais (principalmente nos EUA e no Haiti) e provocou prejuízos gigantescos na cidade-coração do capitalismo mundial. No Pacífico, o total de tempestades ficou bastante dentro da média, mas dos 14 tufões, 5 foram considerados "super-tufões", dentre os quais Bopha, que causou nada menos que 1067 mortes confirmadas, tendo sido a segunda tempestade desse tipo mais mortal a se abater sobre as Filipinas. Não precisa dizer que as concentrações de dióxido de carbono também estiveram nas alturas.
Ainda voltarei, quando os dados finais de 2012 (principalmente temperaturas e concentração de CO2) estiverem definidas e se formos nos ater apenas ao rigor científico, 2013 não acena com boas novas. É óbvio, como as emissões apenas se aceleram, que haverá mais CO2 atmosférico em 2013 do que no ano que ora termina. O United Kingdom Met Office (UKMO) até já anunciou o que parece ser uma obviedade: que 2013 estará entre os anos mais quentes do registro histórico, até porque, diferente de 2012, o ano que chega não se iniciará com fenômeno La Niña. Mas há algo a mais no ar que moléculas com dois átomos de oxigênio e um de carbono no meio, absorvendo infravermelho... Ainda são tímidos e insipientes, mas a tomada de consciência sobre o tema se ampliou (mesmo com todas a insistência dos negadores) e mobilizações especificamente sobre a questão climática vem crescendo.
Em suma, no sentido literal, 2013 será quente e ponto final e não há nada que possamos fazer a esse respeito. Ainda que por um passe de mágica termelétricas, caminhões, automóveis e toda a indústria fóssil desaparecessem, o CO2 extra que super-aquece nosso planeta não seria instantaneamente absorvido pelo sistema natural. Mas há muito o que podemos fazer sobre os "anos novos" do futuro; aqueles em que muitos de nós celebrarão na velhice; aqueles que esperamos comemorar ao lado dos nossos seres amados, companheiras ou companheiros, familiares, filhos, netos... Está nas nossas mãos "esquentar" o debate, aquecer a situação política, conversar com as pessoas, esclarecer os aspectos científicos, tirar dúvidas, convencer da importância e urgência do problema, trazê-las para a rua, construir mobilizações que pressionem pela adoção de restrições aos combustíveis fósseis e de medidas que nos preparem para sair da teia de agressão ao ambiente e ao clima em que nos enredamos como civilização. Quero dar um abraço "caloroso" a todas e todos que têm acompanhado este blog, mas quero sobretudo ver vocês, em 2013, agindo!
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