segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O Obscurantismo Negacionista no Itamaraty - Parte I - Ernesto e os Extremos

Vocês algum dia imaginaram ser esse lixo paranoico o tipo de
leitura adotado e recomendado por um ministro das relações
exteriores do nosso país? (Print do Twitter de Ernesto Araujo)
Tudo no atual "governo" do Brasil é bizarro. De um ministro do meio ambiente cujo papel é obviamente o de acelerar a devastação ambiental a um ministro da educação que aposta no desmonte do ensino público, de um por um, até, claro, a bizarrice-mor que ocupa a presidência. Mas mesmo em meio a esse circo de horrores, uma figura se destaca, por ser o que melhor expressa o olavismo, o negacionismo climático e a ideologia anticiência em geral. Trata-se de Ernesto Araújo, ocupante do ministério das relações exteriores, uma figura que abraça com força a paranoia das ditas teorias de conspiração e cuja posição sobre a questão climática já antecipamos aqui mesmo, em nosso blog.

A bizarrice do chanceler se espalha em tudo aquilo que ele resolve opinar a respeito. O nível de delírio é tão medonho que ele chega a afirmar que "a esquerda quer uma sociedade onde ninguém nasça, nenhum bebê, muito menos o menino Jesus".  Mas como aqui a nossa praia é mudança climática (diferentemente do novo diretor do INPE), vamos nos deter à nova pérola do chanceler neste tema.

Também por intermédio do Twitter do ministro, fiquei sabendo que ele havia cometido um texto intitulado "Falsas aspas, falsos modelos", o que me motivou a responder também no Twitter, começando na mesma noite, mas se estendendo pelos dois dias seguintes. Resolvi, então, colocar aqui, de maneira sistematizada e melhor estruturada, a resposta ao delirante Ernesto. Vamos lá!



sexta-feira, 26 de julho de 2019

ELES SABIAM: a verdadeira conspiração por trás da questão climática

Cientistas são muitas vezes caricaturados como "malucos" ou
em alguns casos até mesmo como vilões enredados em cons-
pirações globais e para alguns o aquecimento global é uma
farsa montada numa delas (para quê nunca fica muito claro).
Neste artigo vamos mostrar que existe sim uma conspiração
relacionada ao clima, mas bem diferente do que essa narrativa
bizarra desenha.
A rede de computadores anda infestada pelas chamadas “teorias de conspiração”. Muitas delas são apenas histórias sem pé nem cabeça, algumas quase inofensivas, mas outras nem tanto, como é o caso das invencionices do chamado movimento antivacina. Outras são mentiras plantadas com interesses bastante específicos, como o caso de um certo presidente de topete estranho afirmando que “o aquecimento global é uma farsa inventada pelos chineses”.

O problema dessas “teorias” (usado de maneira imprópria, pois nada tem a ver com o uso da palavra nas ciências) é duplo: se as pessoas levam a sério as mentiras, podem ignorar evidências reais ou até militar por causas inexistentes; se dão de ombros para qualquer suposta conspiração, afinal a maior parte é pura invencionice mesmo, podem terminar não dando a devida atenção aos (raríssimos) casos em que uma conspiração (ou algo parecido) realmente exista.

Nestes tempos de vazamento de informações à la Wikileaks e Vaza-Jato, a divulgação de um certo material passou bastante despercebido, mas não deveria. Afinal, ele mostra, como veremos, que a indústria fóssil sabia há muitos anos do risco de caos climático e que o negacionismo climático jamais teve qualquer fundamento em debate científico real; pelo contrário, é uma cria de laboratório dessa mesma indústria, que montou uma enorme fraude - que persiste até hoje - apenas para defender seus interesses. Leiam. Até o fim.

sábado, 8 de junho de 2019

A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte III: Caos climático

A civilização humana é filha de um clima estável. Mas está
arruinando com ele.
A humanidade é filha de um clima particularmente estável, que emergiu há pouco mais de onze mil anos com o encerramento da última glaciação (ou “era do gelo”). (1) Foi a regularidade da chuva, das estações, o comportamento cíclico de plantas e animais, enfim, a previsibilidade do comportamento da natureza que permitiu a mulheres e homens de nossa espécie se estabelecessem em assentamentos fixos, que promovessem domesticação de espécies vegetais e animais e desenvolvessem a agricultura e a pecuária. Daí, vieram as cidades, as civilizações, as sucessivas revoluções industriais, até chegarmos no mundo capitalista globalizado de agora.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte II: Biosfera encurralada

"Em menos de cinco décadas, o mundo assistiu à terrível redução
de 60% nas populações silvestres de vertebrados, levando incontá-
veis espécies à ameaça de extinção ou à sua extinção efetivamente."
O capitalismo requer cada vez mais território a fim de suprir a demanda crescente de matéria e energia necessária para sua reprodução ampliada. A ocupação de terras para atividades humanas, seja a mineração, a instalação de cidades, infraestruturas que incluem estradas, barragens etc. ou principalmente áreas para agropecuária, vem encurralando a biosfera terrestre contra a parede.

Globalmente, essa ocupação territorial tem sido responsável por um verdadeiro encolhimento da vida silvestre. Hoje, existem 51 milhões de quilômetros quadrados de terra “domesticada”, contra 39 milhões de quilômetros quadrados de florestas. Para citar o exemplo mais próximo, em menos de cinco décadas, o Brasil perdeu mais de 20% da Amazônia e impressionantes 50% do cerrado (1). Sim, o mesmo agro, que assassina indígenas e sem-terra, que financia esquemas de corrupção, que se apropria da água para irrigação, que envenena o alimento e ajuda a bancar a radicalização à direita da política do País, é a maior ameaça à biodiversidade, riqueza impossível de se traduzir em dinheiro.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte I: A Grande Aceleração

"A característica fundamental da Grande Aceleração é colocar
o Sistema Terra para além dos seus limites. É uma declaração
de guerra à natureza."
O capitalismo é um sistema econômico eminentemente expansionista. O crescimento é uma condição necessária do seu funcionamento e existência, à medida em que a lógica, desvendada por Marx no século XIX, é usar o dinheiro para ganhar mais e mais dinheiro, às custas da exploração da força de trabalho e da espoliação da natureza.

Uma contradição inevitável desse sistema é a acumulação de riqueza nas mãos de um punhado cada vez menor de capitalistas ao lado da exclusão de amplas massas da riqueza produzida a partir de seu próprio trabalho. Mas o que não era evidente há um século e meio é que além dessa contradição interna, o sistema capitalista rapidamente faria emergir, com toda força, uma outra, ainda mais incontornável: o seu antagonismo com o próprio “Sistema Terra” [1].

domingo, 24 de março de 2019

O nome não é "Ajuda Humanitária". É Dívida Climática!

Pessoas ilhadas aguardam resgate em Moçambique após passagem
do Ciclone Tropical Idai. Foto: Chris Sherrard (Irish Mirror)
Neste ano já tivemos enchentes devastadoras associadas a eventos extremos aqui mesmo no Brasil (com impacto bastante severo em nossas megacidades, Rio e São Paulo), nos EUA (com enormes danos e prejuízos em Minnesota e Nebraska).

Mas, como em tantas outras ocasiões, eventos similares produzem impactos maiores - e um número bem maior de mortes - quanto mais pobres e vulneráveis forem os países e as comunidades sobre os quais eles se abaterem.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Rio de Fevereiro

Imagem: Folha de São Paulo
Com um saldo terrível de 6 pessoas mortas, centenas de árvores derrubadas e inúmeros danos materiais a residências, edifícios públicos e comerciais, à infraestrutura da cidade, etc., tudo indica que os impactos da enxurrada que lavou o Rio de Janeiro são bem maiores do que teriam sido caso medidas básicas de prevenção e uma gestão minimamente decente de risco tivessem sido adotadas. Tendo gasto apenas 22% do orçamento previsto para controle de enchentes e contenção de encostas, é óbvio que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) tem culpa no cartório.
Mas este texto pretende se dedicar a uma reflexão um pouco mais além (ressalto que isso não pode servir de modo algum para isentar nenhum gestor, a começar do prefeito da cidade debaixo d'água, de suas responsabilidades mínimas).

Copo "meio cheio" não salva uma casa em chamas

Alok Sharma, presidente da COP26, teve de conter as lágrimas no anúncio do texto final da Conferência, com recuo em tópicos essenciais "...

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