sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Porque você nunca deve apostar contra um Cientista do Clima!

No "cassino do clima", não é inteligente apostar contra as
leis da natureza. 
Há duas semanas aconteceu em San Francisco, um encontro da American Geophysical Union (AGU): o AGU Fall Meeting. Em meio ao número enorme de sessões que ocorreram, vou chamar atenção para uma, sob o nome curioso de "Apostando na Mudança Climática: mercados de previsões, avaliação de riscos, seguros, consenso científico e decisões sobre políticas". Como revelou o organizador da sessão, Mark Boslough, em um artigo para o Huffington Post divulgando essa sessão, havia uma história interessante por detrás: a história de uma aposta...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Os 8 fatos climáticos de 2016!


2016 foi tudo menos um ano típico, em várias áreas, incluindo economia e política. Mas para o clima em especial, 2016 deverá ficar para a história. Nesta espécie de retrospectiva, vamos mostrar alguns dos "fatos climáticos" mais marcantes desse ano que muita gente não vê a hora de acabar!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Oceano azedo: há mais sobre o CO2 do que a mudança climática

Mesmo que o CO2 não fosse um gás de efeito estufa, mesmo
que as não-linearidades do sistema climático jogassem a nos-
so favor e não contra... As emissões desse gás precisariam
ser detidas para evitar um holocausto oceânico.
Quando nosso blog foi criado há 4 anos, já havia evidências impressionantes sobre a gravidade da crise climática e após a publicação do 5º relatório do IPCC e de uma série de artigos científicos nos periódicos mais conceituados, apenas ficou mais nítido que o quadro é simplesmente o de uma catástrofe se desenvolvendo perante nossos olhos: degelo, secas, ondas de calor, supertempestades, recordes climáticos e eventos anômalos um após o outro. Mas imagine por um instante que os negacionistas das mudanças climáticas tenham razão. Sim, sabemos que eles não têm, que aquilo que eles propagam são mentiras grotescas, e que o aquecimento global é real, é antrópico e é perigoso. Mas façamos brevemente esse esforço...

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Maggi: um ruralista pra lá de Marrakech

Ministro da Agricultura Blairo Maggi dando um tchauzinho
para o clima. Foto: Estadão.
A eleição de Donald Trump, nos EUA, caiu como uma bomba em Marrakech, onde está sendo realizada a COP22 e em nosso blog já dedicamos um longo artigo analisando os graves perigos que isso representa. Acontece que não é só da parte norte do continente americano que partem ameaças ao frágil consenso construído em torno do Acordo de Paris, sim, aquele mesmo que já era só letra e que pelo andar da carruagem deve virar letra morta mais cedo do que o que se imaginava. O Brasil, que geralmente posa de bom moço nas conferências climáticas, desta vez resolveu passar vergonha também...

Cadê o gelo que estava aqui?, parte II

Gelo marinho ao redor da Antártica em 16/11/2016,
comparado com a mediana no período de 1981-2010.
Mas o sistema parece ter alterado seu comportamento
e o gelo marinho encolheu muito este ano. Fonte:
National Snow and Ice Data Center (NSIDC)
Há poucos dias publiquei um artigo mostrando que, apesar de não ter sido batido o recorde de degelo no verão do Ártico (a menor área coberta por gelo continua a ser aquela alcançada em 2012), desde que se tem registro a recuperação do gelo marinho nunca foi tão lenta. A tendência, como mostramos nesse artigo anterior, é nítida no sentido de estabelecimento de recordes negativos para a cobertura de gelo no inverno.

Só que a perda de gelo ao redor do polo norte não é exatamente novidade. Embora o processo esteja se dando de maneira bem mais acelerada do que indicado pelas primeiras projeções climáticas, com recordes negativos de cobertura de gelo e temperaturas até 20°C acima do normal, a tendência de redução da massa de gelo no Ártico (tanto o gelo marinho quanto o gelo do manto da Groenlândia quanto o permafrost) já vem se acelerando há pelo menos duas décadas. Novidade mesmo é que o gelo marinho ao redor da Antártica, que vinha apresentando uma tendência a se expandir nos últimos anos, está neste momento ocupando uma área muito abaixo do normal.

Novo estudo mostra: aquecimento global inibirá efeito resfriador de vulcões

Estrutura vertical da atmosfera terrestre. Mais de
80% da massa da atmosfera se localiza na
camada  inferior (troposfera). Acima desta,
localiza-se a estratosfera.
Como já mostramos em alguns artigos em nosso blog, vulcões exercem um papel muito peculiar no clima. Especialmente em grandes explosões vulcânicas, um número enorme de partículas é lançado na atmosfera e esses aerossóis têm a capacidade de bloquear parte da radiação solar. Por conta da estrutura termodinâmica de nossa atmosfera (mostrada na figura ao lado), se a erupção for violenta o suficiente para fazer com que parte desse material chegue à estratosfera, os impactos se tornam bem maiores, pois a estratosfera é muito estável, com pouco movimento vertical e sem a formação de nuvens de chuva. Daí, enquanto na troposfera os aerossóis vulcânicos são rapidamente removidos pelas correntes de ar e pela precipitação, na estratosfera podem permanecer por um longo período, produzindo um efeito resfriamento relativamente prolongado (de alguns meses a poucos anos), conhecido como "inverno vulcânico". Um exemplo desse fenômeno aconteceu recentemente, com a explosão do Monte Pinatubo, em 1991, que levou a uma redução de cerca de 0,5°C nas temperaturas globais, mas há registros de eventos bem mais intensos no passado, como a explosão do Tambora, após a qual estima-se uma queda na temperatura global de até 3°C.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Efeito Estufa, Efeito Trump

Dentre outros inúmeros absurdos, Trump defendeu o incentivo
à exploração do carvão para "gerar empregos"
Aparentemente surpreendendo a ampla maioria dos institutos de pesquisa e contrariando a vontade de amplas parcelas "establishment" e da mídia, que se alinharam com a candidata do Partido Democrata Hillary Clinton, os EUA elegeram o bilionário Donald Trump como seu próximo presidente em mais um episódio que indica um preocupante avanço de posições populistas de direita e uma perigosa ressonância para discursos de ódio. Não podemos esquecer que além de suas posturas abertamente xenófobas, racistas e machistas, é muito bem documentado o fato de que Trump é um negacionista climático de carteirinha. Tendo isso em conta, uma pergunta que surge, especialmente tendo a eleição de Trump caído como uma bomba na semana em que se iniciou a COP22 em Marraquech, é sobre quão danosa poderá ser a estadia desse senhor na Casa Branca para o clima.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Cadê o Gelo que Estava Aqui?

O Ártico, além de abrigar diversas espécies de outros animais, como o urso polar (Ursus maritimus) e a raposa-do-Ártico (Alopex lagopus), mostrada na foto ao lado, é também o lar de inúmeros povos e comunidades tradicionais. Há diversas mudanças em curso no clima global, incluindo mudança na frequência de eventos extremos como ondas de calor, secas, furacões. Algumas dessas mudanças são nítidas, mas talvez nenhuma seja tão dramática, rápida e visível quanto o que está acontecendo por lá.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

Sobre os Graves Erros de Cowspiracy

A indústria da carne produz enormes impactos
ambientais e climáticos, mas, ao exagerá-los,
Cowspiracy termina prestando um desserviço:
confunde e desinforma.
O filme "Cowspiracy" apareceu como uma verdadeira bomba quando foi lançado em 2014. Até hoje é mencionado como um exemplo de financiamento coletivo muito bem sucedido e, tendo conquistado Leonardo DiCaprio como produtor-executivo, estreou no Netflix em 2015, ganhando muita audiência e com uma mensagem (pelo menos aparentemente) contundente. Não cheguei a encontrar informações a esse respeito, mas acredito que a essa altura o público atingido tenha se multiplicado bastante, podendo ter chegado a vários milhões de pessoas. É um fato que o debate alimentar tem sido omitido injustificadamente em vários momentos. E isso quando, juntando-se as emissões de metano e óxido nitroso da agropecuária com o desmatamento, chega-se a aproximadamente um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, não pode permanecer em tal situação. Em nosso blog, abrimos o debate com dois artigos e pretendemos voltar a ele mais extensivamente em outros momentos. Nesse contexto, portanto, considero que seria excelente se o debate do impacto ambiental e climático da produção de alimentos pudesse chegar, de forma didática e precisa, a um público bastante amplo, por meio de um documentário. Seria...

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Apostar em futuras tecnologias de CCS: um erro que pode nos custar o próprio futuro.

3 anos seguidos de quebra de
recorde de temperatura global
praticamente puseram fim ao
negacionismo climático
Posso estar enganado, mas parece estar acontecendo um certo deslocamento na cortina de fumaça em relação à crise climática. Estou sentindo que o negacionismo mais tradicional (e mais estúpido) está perdendo fôlego. Até porque não apenas as evidências científicas estão mais sólidas, mas elas têm revelado que o problema é bem mais grave. Pior do que isso, o aquecimento global deixou de ser algo reservado para um futuro distante, manifestações visíveis das mudanças climáticas já estão aí, desalojando e matando pessoas e produzindo prejuízos econômicos. De fato, com quebras de recordes sucessivos de temperatura média global em 2014, 2015 e agora - já dado como certo pelos principais climatologistas do mundo - em 2016, realmente é estranho alguém permanecer repetindo coisas tão malucas quanto "o planeta está resfriando", "o clima parou de aquecer em 1998", "vamos entrar em uma nova era glacial" e bobagens do gênero...


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O dia 26 de agosto de 2016 será para sempre lembrado. Dica: tem a ver com o CO2.

26 de agosto é aniversário do Palmeiras e de Madre Tereza.
Mas a partir de 2016 ficará marcado por algo impressionante.
O dia 26 de agosto de 2016 vai entrar certamente para a história. Mas não por conta do 106º aniversário de nascimento de Madre Tereza de Calcutá ou do 102º aniversário de fundação da Sociedade Esportiva Palmeiras. Tampouco será por nesse dia terem-se completado 227 anos desde que a Assembléia Nacional Constituinte da França revolucionária aprovou a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão"...


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Política energética nos EUA: Clima em Perigo

EUA: canalha negacionista defensor do carvão versus candidata
que aceita a Ciência do Clima mas mantém pesados compromis-
sos com a indústria fóssil, especialmente do gás natural. E aí?
No próximo dia 08 de novembro, a população dos EUA irá às urnas, tendo duas candidaturas com chances reais de vitória: o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton, que derrotou, num processo bastante questionável, a pré-candidatura de Bernie Sanders, que tinha um conjunto de propostas bastante adequadas para o enfrentamento das mudanças climáticas.

A conjuntura em que se dá a disputa presidencial é crítica para o clima global, pois embora o Acordo de Paris seja claramente insuficiente para a solução da crise climática (o que foi exaustivamente demonstrado em nosso blog em uma série de artigos), o país o ratificou, juntamente com a China. Embora as mudanças climáticas estejam ficando praticamente de fora dos debates, a questão energética entrou como um dos tópicos do debate realizado agora há pouco. Infelizmente, o que o debate revelou nesse quesito é que temos muitos motivos para nos preocuparmos qualquer que seja o desfecho das eleições.

sábado, 8 de outubro de 2016

Recordes de temperatura literalmente de outro mundo.

Gráfico gerado a partir dos dados de Marcott et al. (2013),
adaptados por Tamino. Fonte: "Skeptical Science", no link:
www.skepticalscience.com/marcott-hockey-stick-real-skepticism.html
Há 3 anos, surgiram, na literatura científica, evidências de que já havíamos atingido temperaturas médias globais acima de quaisquer outras durante o Holoceno (época geológica correspondente aos últimos 10 mil anos de relativa estabilidade no clima e que agora deu lugar ao Antropoceno). Levantamentos robustos, como os apresentados por Marcott et al. (2013) mostravam já naquele momento que ultrapassávamos o chamado "Ótimo Climático do Holoceno Médio", intervalo de tempo naturalmente mais quente do que os anos pré-industriais ocorrido há ~6000 anos (vide figura).

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Um Nordeste mais árido: outro provável legado das mudanças climáticas

Capa e verso do número mais recente da Revista Brasileira de
Meteorologia, que inclui artigo sobre projeções de balanço
hídrico sobre o Nordeste ao longo do século XXI.
O artigo "Projeções de Mudanças Climáticas sobre o Nordeste Brasileiro dos Modelos do CMIP5 e do CORDEX" de autoria de Guimarães et al. (o primeiro autor, Sullyandro Guimarães, foi meu orientando de mestrado e eu, junto com outros colegas e ex-alunos, sou um dos co-autores) foi recém-publicado na Revista Brasileira de Meteorologia. Até onde sei é a primeira análise de fôlego usando conjuntamente os dados disponíveis do CMIP5 (Coupled Model Intercomparison Project, 5th Phase), isto é, modelos globais e do CORDEX (Coordinated Regional Climate Downscaling Experiment), isto é, modelos regionais, voltada para a região. O conjunto de simulações inclui as "rodadas" feitas por nosso grupo de pesquisa aqui mesmo na Universidade Estadual do Ceará e aproveito o espaço não apenas para divulgar o trabalho e aproveitar para falar um pouco da modelagem climática feita para e por estas bandas, como também para agradecer a todos que o compõem. Devo dizer, porém, que, entrando no que realmente interessa, o "clima" de comemoração encerra aí, afinal o resumo do artigo encerra falando de uma "tendência de aumento de aridez sobre o NEB durante este século". Antes porém, de falar de porque devemos considerar seriamente os resultados do "Sullas" (como carinhosamente o chamamos) para o fim do século, vamos falar do contexto atual, de uma seca provavelmente inédita.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Clima não rima com lucro ou porque a crise climática não se resolveu em Paris

O artigo a seguir, de minha autoria, foi publicado recentemente no 11º número da revista "Socialismo e Liberdade", publicada pela Fundação Lauro Campos. A fundação é ligada ao PSOL, como uma espécie de "usina de ideias" para o partido, mas me agrada que ela se coloque para além disso e se pretenda "um fórum amplo dos que na sociedade brasileira se identificam com os valores do socialismo e da liberdade"

Como coloco no final do mesmo, é "estranho e lamentável que boa parte da esquerda não tenha acordado para a urgência e relevância da questão (climática)". No entanto, o fato de tal artigo ter aparecido no veículo pode ser um chama de esperança no sentido de que isso se reverta. Quem sabe?

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Porque somos contra o Incentivo Fiscal para Termelétricas no Ceará

Anúncio de racionamento de água em Fortaleza reflete combi-
nação de seca histórica (possivelmente associada às mudan-
ças climáticas globais) com gestão desastrosa dos recursos
hídricos, que privilegiou o fornecimento de água para grandes
empreendimentos no Ceará, incluindo termelétricas.
Este texto foi elaborado em meio a um forte embate contra uma proposição apresentada pelo Governo do Estado do Ceará, de reduzir o ICMS para o gás natural para novas termelétricas. O lamentável projeto foi, apesar de muita pressão que levou a adiamentos indesejados para o Sr. Camilo Santana e para os grupos econômicos diretamente interessados, aprovado no mês passado. É possível que a demora tenha efetivamente contribuído para que o projeto de nova termelétrica que estava inscrito no leilão de energia de 2016 não tenha mais aparecido na listagem de projetos habilitados. No entanto, como esta é uma batalha longa e o texto contém informações relevantes e links com mais informação, resolvemos trazê-lo para o blog. Até porque Fortaleza teve racionamento de água anunciado e é preciso manter o combate ao funcionamento dessas empresas sedentas, poluentes e emissoras no estado do Ceará, contexto em que movimentos sociais, como o "Ceará no Clima" devem oferecer resistência.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Uma Fratura no Clima

O crescimento da demanda por gás na-
tural, indevidamente defendido como
um "mal menor" em relação aos outros
combustíveis fósseis, tem levado à
expansão do fracking mundo afora.
O aumento significativo da presença das termelétricas a gás nos EUA e recentemente também no Brasil é um fator preocupante. Não apenas porque, como qualquer outro combustível fóssil, o suproduto da queima do gás natural é o CO2, o que faz com que um número maior dessas unidades de produção elétrica contribua para agravar o efeito estufa, mas também pelo fato de o aumento da demanda ter levado a um crescimento da exploração não-convencional do gás, incluindo a chamada fratura hidráulica, ou fracking. Há uma variedade enorme de impactos associados a esta técnica, de contaminação do lençol freático à produção de sismos. Mas neste artigo, ao invés de abordar essa variedade de impactos, nos propomos a fazer uma crítica ao principal (pseudo-)argumento levantado para defender o uso do gás natural como fonte de energia: o de que, comparado a outras fontes fósseis, ele seria "menos poluente" ou de que ele poderia servir como uma "ponte" ("bridge fuel") por supostamente produzir menores emissões.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Brasil: Leilão de Energia com Termelétricas contraria Acordo de Paris

Num discurso impecável, DiCaprio defendeu que sejam
rapidamente abandonadas as fontes fósseis de energia
No dia da assinatura do Acordo de Paris, Leonardo DiCaprio fez um discurso brilhante, defendendo o fim dos combustíveis fósseis e Evo Morales criticou duramente o capitalismo como principal causador, em última instância, das mudanças climáticas (embora haja críticas bastante procedentes à abertura que o governo de Morales tem dado para a exploração de hidrocarbonetos em seu país). A eles, somaram-se o senso de urgência declarado de Ban-Ki-Moon, o depoimento emocionante da representante da sociedade civil, Hindou Oumarou Ibrahim, do povo Mbororo, de Chad. Isso já teria sido suficiente para ofuscar os discursos mais protocolares, como o que Dilma proferiu. Mas é preciso reconhecer que mesmo com a crise interna e ainda sob efeito do show de horrores do dia 17/04, a presidenta tocou em pontos importantes: desmatamento e menor dependência das fontes fósseis.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Golpe mesmo é o Antropoceno!

Nas últimas semanas, a ebulição política no Brasil, com manifestações de rua, grampos nos telefonemas trocados entre Lula e Dilma, condução coercitiva do ex-presidente e processo de impeachment sobre a atual, documentos da Odebrecht incriminando meio mundo (Aécio, Cunha, Alckmin, Renan Calheiros e quem mais interessar possa), tem deixado pouco espaço para se discutir qualquer outra coisa. Afinal, o que pode ser mais importante do que uma crise política tão aguda, com desdobramentos quase imprevisíveis e que pode levar até a ameaças às liberdades democráticas com grupos fascistas ou similares se assanhando? Então... Acreditem... tem coisa bem mais relevante e bem mais perigosa. Os que quiserem saber do meu posicionamento político sobre a atual conjuntura brasileira, é fácil. Basta dar uma olhadinha em minhas páginas pessoais nas redes sociais. Mas aqui, o assunto, como vocês sabem, é clima. E na semana passada, dois artigos caíram como verdadeiras bombas, fazendo com que a crise climática, que já se sabia ser potencialmente muito perigosa, se revelasse muito pior, mais profunda, mais rápida: um na Nature Geoscience e outro, encabeçado por James Hansen na Atmospheric Chemistry and Physics. Os conteúdos são de arrepiar. Mostram que golpe mesmo é o Antropoceno. Mas antes de chegarmos lá, algumas considerações...

segunda-feira, 14 de março de 2016

50 Ilhas e 1 destino - Por Caio Almendra

Nauru, uma tragédia ambiental em curso. Uma amostra do que
pode resultar a deflagração de uma guerra contra o ambiente
que nos sustenta. Exatamente o que temos feito, em escala
global, ao aquecer o sistema climático terrestre
Em Teoria Geral do Estado, uma disciplina do Direito, aprendemos que um país é formado por um território(um espaço físico), seu povo(quem habita tal espaço ou é ligado cultural e juridicamente a ele) e a soberania(a relação jurídica entre o Estado e seu território). A perda completa de um dos três encerra o país.

Assim, a única causa de um país ir ao fim é a perda de soberania por perda de território. Até o século passado, isso só acontecia em uma situação: guerra. No final do século passado, outra situação foi aventada em Nauru. Nesse século, podemos ver outra situação acontecer em mais de 50 ilhas e três nações.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

E o clima? Por um verdadeiro debate sobre o pré-sal.

Senador José Serra, autor do projeto que favorece as grandes
corporações do ramo petroquímico e potencializa as emissões
de CO2.
Após ser assegurado o regime de urgência em sua votação, o Senado Federal aprovou (nesta quarta-feira, 24/02), por 40 votos favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o projeto de lei que altera as regras de exploração de petróleo do pré-sal. Em essência, a proposta faz com que a Petrobrás perca a exclusividade das atividades no pré-sal e faz com que, em lotes a serem definidos e submetidos a leilões com as mesmas regras de fora do pré-sal, não haja mais a obrigatoriedade de a Petrobrás entrar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração. Mas o debate tem andado longe de abordar a real essência do problema.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Balanço da COP21. Parte III: Onde estão os recursos para resolver a crise climática?

Nos três textos anteriores de análise dos resultados da COP21 (aqui, aqui e aqui) mostrei que, apesar de o Acordo sinalizar como objetivo limitar o aquecimento global em níveis "bem inferiores a 2°C acima dos valores pré-industriais", existe uma incompatibilidade entre as orientações genéricas para os anos do pico de emissões e do "equilíbrio entre fontes e sumidouros" e este mesmo objetivo. O aparente senso de urgência expresso na parte introdutória do Acordo de Paris, não é materializado em medidas práticas à altura dessa mesma urgência. Como é impossível resolver a crise climática sem atingir o sistema econômico que a causou, fica claro que, do ponto de vista material, a generalidade nas metas pariu a timidez nas ações. Em particular, a mobilização de recursos e a política de transferência de tecnologias apresentados são de uma insuficiência gritante, mostrando que não pode haver maior inimigo do clima do que a proteção implícita dos interesses privados, dos privilégios e privilegiados, das corporações e dos países ricos.

Copo "meio cheio" não salva uma casa em chamas

Alok Sharma, presidente da COP26, teve de conter as lágrimas no anúncio do texto final da Conferência, com recuo em tópicos essenciais "...

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