Tenho me preocupado muito com os ataques feitos recentemente à Ciência do Clima, dentre outros motivos, porque estes tem se constituído num amálgama estranho que reúne o Tea Party, a indústria petroquímica e pessoas que parecem acreditar numa grande conspiração imperialista para, ao impedir que queimem suas reservas de combustíveis fósseis, a periferia do capitalismo se “desenvolva”, o que, com o perdão da palavra, já é per si uma visão absolutamente tacanha de “desenvolvimento”.
Mas essa não é uma questão ideológica, mesmo porque se o fosse estaria eu distante de Al Gore. É uma questão científica, pois moléculas de CO2 não têm ideologia. O que elas são dotadas, assim como outras moléculas (caso do CH4 e do próprio vapor d’água), é de uma propriedade da qual não gozam os gases majoritários em nossa atmosfera, que é a de um modo de oscilação cuja frequência coincide com a de uma região do espectro eletromagnético conhecida como infravermelho. A retenção do calor é uma consequência da presença desses gases (mesmo tão minoritários) na atmosfera terrestre. Não fosse por eles, a Terra teria temperatura média de -18 graus, em contraste com os moderados 15, para não falar do papel dos mesmos em mantê-la entre limites amenos. A Terra não é Mercúrio que, por não ter atmosfera, devolve livremente a energia absorvida do Sol na porção em que é dia, levando-o a contrastes de temperatura de 430 graus durante o dia e -160 graus à noite. Felizmente, tampouco é Vênus, cuja cobertura de nuvens faz com que chegue à sua superfície menos energia solar do que na Terra, mas cujo efeito estufa, causado por sua atmosfera composta quase que exclusivamente por CO2, eleva sua temperatura a praticamente constantes 480 graus.
Desconhecer essas idéias científicas simples, de que o CO2 é um gás de efeito estufa (conhecido e medido por Tyndall, Arrhenius e outros, desde o século XIX), com mecanismo bem explicado pela Física de sua estrutura molecular; ignorar o conhecido efeito global que o CO2 tem sobre um planeta vizinho, o que é bem estabelecido pela astronomia desde o saudoso Sagan, não faz sentido, especialmente no meio acadêmico, onde encontram-se alguns dos negadores mais falantes. A esses eu gostaria de lembrar de algo básico no método científico. De um lado, a ciência não tem dogma, nem verdades definitivas. Suas verdades são sempre, por construção, parciais e provisórias (que bom, senão viraria algo chato e tedioso como, digamos, uma religião). No entanto, por outro lado, o conhecimento científico é cumulativo e, nesse sentido, não se pode andar para trás! Só quando uma teoria falha, se justifica uma nova e esta não pode ser apenas a negação da anterior, pois precisa ser capaz de reproduzir todos os seus méritos (caso da Mecânica Clássica e da Relatividade, que se reduz à primeira para baixas velocidades).
Não é uma questão de crença. “Monotonia” à parte, é ciência bem estabelecida, bem conhecida. Tanto quanto a Gravitação Universal (que também é “apenas” uma teoria) ou a Evolução das Espécies.