A teia alimentar dos oceanos está em grave risco por conta da acidificação dos oceanos e, infelizmente os indícios são cada vez mais claros de que os impactos estão vindo mais rapidamente do que se imagina. Branqueamento, adoecimento e morte de corais e mortandade de moluscos já são uma realidade.
Acaba de ser publicado na revista Nature Geoscience um artigo anunciando uma daquelas coisas que realmente me assustam. O artigo (cujo resumo é disponível a todos, mas o texto completo apenas para assinantes), é de autoria N. Bednaršek e colaboradores. Seu título é "Extensive dissolution of live pteropods in the Southern Ocean" e versa sobre a dissolução de conchas de organismos vivos no Oceano Sul (a imagem acima, copiada a partir do artigo, não deixa dúvidas quanto aos efeitos da acidificação).
Acaba de ser publicado na revista Nature Geoscience um artigo anunciando uma daquelas coisas que realmente me assustam. O artigo (cujo resumo é disponível a todos, mas o texto completo apenas para assinantes), é de autoria N. Bednaršek e colaboradores. Seu título é "Extensive dissolution of live pteropods in the Southern Ocean" e versa sobre a dissolução de conchas de organismos vivos no Oceano Sul (a imagem acima, copiada a partir do artigo, não deixa dúvidas quanto aos efeitos da acidificação).
Esta é umas consequências mais dramáticas de um efeito colateral do acúmulo de CO2 na atmosfera terrestre. Parte deste gás (cerca de 40%) é capturado pelos oceanos e nele se dissolve. Se por um lado isto ajuda a minimizar o estrago que as emissões de CO2 fazem sobre o clima (pois se todo o gás se acumulasse na atmosfera, o aquecimento global seria ainda mais acelerado), por outro a presença do CO2 dissolvido nos oceanos produz ácido carbônico, reduzindo o pH oceânico, ou seja, acidificando-os.
Os oceanos são naturalmente alcalinos, isto é, são básicos, e não ácidos. O meio oceânico, tem um pH entre 7,9 e 8,3. Graças a isso, o oceano é supersaturado com respeito ao carbonato de cálcio, que se precipita na forma de calcita ou aragonita. É por conta dessa alcalinidade dos oceanos, portanto, que moluscos, equinodermos, corais e esponjas formam suas conchas e exoesqueletos. O que aconteceria se os oceanos se acidificarem? Muitas espécies vão ter cada vez mais dificuldades em capturarem o carbonato para formarem seus corpos. O efeito relatado por Bednaršek e seus colegas de pesquisa, de dissolução de conchas da espécie Limacina helicina nas proximidades do continente antártico são uma amostra do que virá em escala global, a não ser que se reduzam drasticamente as emissões de CO2. A figura ao lado é do 4° relatório do IPCC e mostra que as projeções futuras são de aumento da concentração desse gás na atmosfera, redução do pH oceânico (isto é, acidificação) e redução rápida da saturação da aragonita. Há vários cenários possíveis, mas por enquanto temos acompanhado os mais pessimistas e, segundo um deles, a saturação no Oceano Sul (o que impedirá qualquer organismo vivo de fixar carbonato) virá na década de 2050.
Moluscos, equinodermos, corais, foraminíferos e certas espécies de algas dependem de um oceano com as atuais características químicas. São todos eles, componentes importantes da fauna marinha. São alimentos de peixes, crustáceos e cetáceos, cuja sobrevivência ficará comprometida, em cadeia. A espécie mostrada na primeira imagem é, em alguns lugares, o principal alimento de peixes e baleias, em substituição ao krill. Infelizmente, antes até que todos os efeitos das ondas de calor, tempestades e secas severas sejam revelados, é possível que o disparo de uma mortandade em massa de espécies marinhas nos mostre quão daninhas e nocivas são as ilusões com os combustíveis fósseis e puna duramente uma espécie (que não é o avestruz) que, diante de perigos tão óbvios, e tendo a chance de agir, preferiu a cegueira, a negação e a cabeça enterrada na areia.
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