A atenção dada pela mídia é bem menor do que aquela dedicada a Sandy, mas é impossível não falar aqui do super-tufão Bopha (imagem de satélite ao lado), que chegou à categoria 5 na classificação de Saffir-Simpson, o que implica que seus ventos sustentados ultrapassaram 252 km/h. No dia 4 de dezembro, Bopha chegou às Filipinas. Foi a tempestade mais forte que se tem notícia a atingir aquele país. De imediato, se registraram inúmeras mortes e centenas de desaparecimentos. Hoje, o total de mortes confirmadas ultrapassou 1000 pessoas.
Apesar de haver ainda uma margem de incertezas grande em relação à dinâmica de ciclones tropicais (furacões, como são chamados no Atlântico e tufões, como são chamados no Pacífico) num clima mais quente, há indícios de que, com os oceanos mais aquecidos, haverá uma tendência ao aumento do poder destrutivo dessas tempestades. A figura abaixo, por exemplo, evidencia uma relação estatística forte entre a temperatura do Oceano Atlântico e o PDI (um índice que envolve frequência, duração e intensidade dos furacões). O artigo do qual ela foi retirada encontra-se disponível neste link. Como tenho discutido em outros textos (este, por exemplo), o princípio é que temperaturas mais elevadas favorecem uma maior evaporação, com a formação de nuvens de tempestades mais vigorosas.
PDI e temperatura da superfície do mar. Fonte: Emmanuel et al. (2007) |
A tragédia nas Filipinas aconteceu quando ainda ocorriam os dias finais da COP18, no Qatar mas nem a evidente comoção em função das 500 mortes já confirmadas foi capaz de fazer com que a Conferência avançasse. Não contendo as lágrimas, o líder da delegação filipina, Naderev Saño cobrou medidas para se conter o aquecimento global e as consequências cada vez mais devastadoras para os países pobres. Exigindo um posicionamento imediato, seu discurso reflete, de maneira correta, o senso de urgência que precisa tomar conta de todos nós:
"Eu apelo a todos, por favor, sem mais adiamentos, sem mais desculpas. Por favor, façamos com que Doha seja lembrada como o lugar em que nós encontramos a vontade política para mudar as coisas (...) Se não nós, quem? Se não agora, quando? Se não aqui, onde?".
Novembro de 2012 foi o 333° mês consecutivo com temperaturas acima da média global. Desde Fevereiro de 1985, são 27 anos e 9 meses e não podemos esperar mais. Se a inação, a prostração diante do poderio econômico da indústria de combustíveis fósseis, o jogo de empurra-empurra entre governos nacionais completamente alheios à ciência continuar prevalecendo ano após ano, o que esperar 27 anos e 9 meses adiante? Talvez, enfim, haja uma razão racional para temer um certo número. Agosto de 2040, o 666° mês com temperaturas globais acima da média, ocorrerá em plena "estação de furacões"...
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