segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Ho, ho, hot!


2012 estabeleceu um novo padrão para o recorde de degelo no Ártico. Pela primeira vez desde que vem sendo medida a partir do final dos anos 70, a área do Oceano Ártico coberta por pelo menos 15% de gelo ficou reduzida a menos de 4 milhões de quilômetros quadrados. A comparação com a  média climatológica para esse período (figura ao lado) é impressionante. É uma verdade óbvia que, a cada verão, o gelo derrete na região, mas não na proporção deste ano. A cobertura de gelo em 2012 ficou 10% menor do que o recorde anterior, valor já impressionante de 5 anos atrás (figura abaixo).
Cobertura de gelo do Ártico encolhendo a olhos vistos:
Papai Noel terá de mudar a oficina para a Antártica?

Evolução da área do Oceano Ártico coberto por gelo, em milhões de
quilômetros quadrados. Fonte: National Snow and Ice data Center
(http://nsidc.org/)
A bem da verdade, este ano, que havia começado sob influência de um evento de La Niña (condição em que o Oceano Pacífico, mais frio do que o normal, tenderia a contribuir para a redução das temperaturas globais), rapidamente tem entrado para a galeria dos mais quentes da história. Já não há dúvidas de que este ano entrará, estranhamente, para a galeria dos dez mais quentes do registro histórico. Lembro, no começo do ano, que eu até admitia que, em função da La Niña forte, 2012 poderia ficar de fora dos "top ten" (e isso, aliás, me deixava alerta para o que os bufões da negação da mudança climática poderiam dizer...). Como eu estava enganado!

O degelo do Ártico é um dos processos mais visíveis associados ao aquecimento global, pois existe um mecanismo de retroalimentação que o acelera. O degelo expõe as águas escuras do Oceano, que absorvem muito mais radiação solar do que o gelo sobre elas. A absorção extra de energia leva a um aquecimento dessas águas que, evidentemente, ao estarem em contato com a camada de gelo, criam um círculo vicioso: menos gelo, mais luz absorvida, maiores temperaturas, menos gelo e assim por diante. Neste texto, discuto em mais detalhes este e outros mecanismos de retroalimentação.

Os alertas lançados pela comunidade de Cientistas do Clima tem tido ainda, infelizmente, efeito limitado sobre a sociedade, que muitas vezes se rende facilmente a um espírito de negação da realidade, presa que está ao vício dos combustíveis fósseis. Contribui para essa letargia, é claro, a pressão econômica dos poderosíssimos lobbies petroquímico, de mineração (de carvão), do agronegócio, automobilístico, etc. sobre os governos nacionais. Contribui para a confusão da opinião pública a propaganda orquestrada por esses segmentos junto à sociedade e o papel lamentável de um punhado de irresponsáveis - na academia e na imprensa - que preferem fazer de um falso dissenso a sua pose para a foto.

Mas a negação da mudança climática tem tanto fundamento quanto crer em Papai Noel ou no Coelhinho da Páscoa. O que acontece com o "bom velhinho", no entanto, é que já se reconhece que, em poucas décadas, o Ártico terá o primeiro verão sem gelo. Ou seja, se sua oficina ficasse realmente no pólo norte, seria uma questão de poucos anos para que a mesma afundasse em meio às águas do Oceano, deixando Papai Noel sem casa, sem fonte de renda e sendo obrigado a se mudar. Assim como ursos polares e focas do Ártico, seria extinto. Ficaria muito mais difícil para as crianças acreditarem em sua existência. Será que precisaremos chegar ao ponto de incluir Papai Noel entre os desalojados do clima para que os "adultos" passem a enxergar o impacto das ações antrópicas sobre o clima?

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