segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mais uma vez, o Ártico!

Artigo publicano na GRL utilizou dados
de um VOR (veículo operado remotamente)
submarino,  como descrito no site do NOAA
Artigo recentemente publicado no Geophysical Research Letters (GRL) reporta um estudo bastante interessante, que quantifica um mecanismo de amplificação do aquecimento do Ártico. O artigo, de autoria de M. Nicolaus e colaboradores é intitulado "Changes in Arctic sea ice result in increasing light transmittance and absorption" (Mudanças no gelo marinho do Ártico resultam em aumento da transmitância e absorção de luz) e baseado em observações utilizando um veículo submarino operado remotamente e chega a conclusões importantes.

O "leitor" e os "cientistas"

Jornal da Ciência, da SBPC
Como os leitores possivelmente sabem, enviei carta à diretoria da SBPC, em que critiquei o posicionamento da Sociedade sobre os recursos advindos do pré-sal. É lamentável que, tendo a mesma sido enviada para o email pessoal de cada um dos diretores, nenhuma resposta tenha surgido.

Por outro lado, o Jornal da Ciência, veículo da Sociedade, publicou meu questionamento. Aqui, porém, deixo momentaneamente de lado a questão de mérito científico sobre a discussão do impacto climático da exploração do petróleo do pré-sal para falar do discurso.

A publicação no Jornal da Ciência estampa a manchete "Leitor questiona posicionamento de cientistas sobre os royalties do pré-sal", que, no meu entender, passa, subliminarmente, a idéia de se tratar de um questionamento de um leigo em relação à opinião de especialistas abalizados para falar do assunto (os royalties do pré-sal).


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

É o CO2, Dilma!



É o CO2, Dilma!
"Nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações." (ROUSSEFF, D., 2013, em pronunciamento público)

Errado, presidenta! Utilizar combustíveis fósseis não pode ser considerado "normal", "seguro", nem "correto". Cada molécula extra de CO2 adicionada à atmosfera, elevando a já insegura concentração de 394 ppm amplia o "risco" climático e deveria, da parte de qualquer governante sensato deste mundo, despertar "inquietação".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A que preço? Carta à SBPC.


Petróleo pode até gerar recursos para Ciência
e Tecnologia, mas a que preço?
Se há algo que me incomoda profundamente é ver, no meio acadêmico, uma nada contida empolgação (bastante ingênua, na maioria das vezes) com a possibilidade de exploração do pré-sal. É mais incômodo, porém, que a principal sociedade representante dos pesquisadores de nosso País, posicione-se desta forma, ignorando o conhecimento científico atual sobre o ciclo de carbono terrestre, a influência humana sobre ele via queima de combustíveis fósseis e as consequências sobre o sistema climático. Tomei, assim, a iniciativa de me dirigir diretamente a cada uma das diretoras e cada um dos diretores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nos termos que seguem.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Austrália: Imagens dos Portões do Inferno

Incêndio nas proximidades do Lago Repulse /
área de Meadowbank, visto de Hamilton,
Tasmania, 4 de Janeiro de 2013. Por ToniFish, 
Nos últimos dias, uma onda de calor recorde se abateu sobre a Austrália, como já documentamos. Dia 07 de Janeiro, a média das temperaturas máximas em território australiano (cujas dimensões são continentais) bateu recorde, chegando a impressionantes 40,33°C. Quatro dos dez dias mais quentes do registro histórico australiano ocorreram este ano e durante sete dias consecutivos (também um recorde), a média das temperaturas máximas ficou acima dos 39°C. As informações são do Australian Bureau of Meteorology.

Presidentes

"Nós temos de responder à ameaça da mudança climática, sabendo que se recusar a fazê-lo seria trair nossas crianças e as futuras gerações". "Pode ser que alguns ainda neguem o posicionamento contundente da ciência, mas ninguém pode fugir dos impactos devastadores de incêndios furiosos, secas debilitantes e tempestades mais poderosas".  Essas palavras não são de James Hansen, ou Michael Mann. Tampouco de Bill McBibben, fundador da 350.org, ou de um dirigente do Greenpeace ou do WWF. São de Barack Obama, no discurso de posse para seu segundo mandato.

O vergonhoso silêncio que perdurou por quase toda a campanha presidencial foi quebrado primeiro pelo furacão Sandy, que matou 253 pessoas (131 nos EUA) e acumulou prejuízos de mais de 65 bilhões de dólares. Depois, o próprio Obama teve de retirar a cabeça da areia e, já no discurso da celebração da vitória, render-se ao óbvio.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Mudança Climática: no que a Arte pode Ajudar?

Recentemente publiquei uma postagem com cartoons excelentes, em que a negação da mudança climática é ironizada de maneira ácida por Tom Toles. Evidentemente como uma matéria prima muito comum aos cartunistas é a crítica, chega até a ser decepcionante que haja menos deles explorando o tema.

Mas há um sem número de outras manifestações artísticas que, em um momento ou outro, se mostraram profícuas em demarcar posições críticas, difundir idéias e valores e chamar a atenção da opinião pública para determinadas questões. Isto tem acontecido com as mudanças climáticas e gostaria de compartilhar alguns exemplos bastante interessantes de como a arte pode ser nossa aliada em sensibilizar o grande público. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ética Geracional e "Happy Hour", Direitos Humanos e Movimentos Sociais

Imagine a seguinte situação, caro leitor: dois amigos seus, ou amigas, deixam o local de trabalho naquilo que é conhecido como "happy hour" e se dirigem a uma churrascaria. Assim como você, várias outras pessoas acertam que se encontrarão por lá, mas que não irão imediatamente. As duas pessoas que chegaram primeiro ao lugar combinado, desde o princípio se põem a consumir. Carne, petiscos diversos, chopp, cerveja, uísque... Você é o quinto a chegar (um casal já havia se somado às duas primeiras pessoas) e percebe que, logo após sua chegada, um dos que ocupavam a mesa simplesmente desapareceu. Pouco depois, tempo suficiente para chegarem outras três pessoas, você se dá conta de que o segundo ocupante original da mesa também saiu de fininho. Eis que, passados mais alguns minutos, o casal chama o garçon e deixa com ele um determinado valor em dinheiro. Você olha de esguelha e percebe que o valor deixado é claramente inferior ao consumo, mas, constrangido, não se manifesta. Pouco depois do momento em que chegaram os dois últimos convidados, você e os três restantes já haviam decidido encerrar a farra. Os quatro deixam a mesa, desta vez com contribuições mais próximas ao que realmente consumiram, mas os dois últimos, desavisados, que mal desfrutaram do lugar, não tardam a descobrir que herdaram uma conta enorme de três "gerações" de "farristas". E pagam, pois a churrascaria não quer saber disso. Lindo, não? Então fique sabendo que o papel prestado pela geração atual (óbvio que principalmente pelos mais abastados, mas extensivo em diferentes graus a toda aquela que se convencionou chamar "sociedade de consumo") é idêntico aos do par de caloteiros. Sendo que o calote está sendo aplicado sobre os jovens e crianças de hoje em dia, sobre as próximas gerações, sobre (caso você já seja mãe, pai, avô ou avó) seus próprios filhos e netos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nos "top ten"! 2012 desafia La Niña e entra para a lista dos mais quentes!

Evolução das anomalias de temperatura ao longo do ano
para 2012, em comparação com os cinco anos mais quentes
do registro histórico. Fonte: http://www.ncdc.noaa.gov/sotc
Um ano que começou com um evento de La Niña, no Pacífico, como 2012, deveria ter sido marcado por temperaturas relativamente mais baixas. Foi o que aconteceu, como se pode perceber na Figura ao lado, no início do ano. No entanto, o que se pode perceber é que, com o enfraquecimento e desaparecimento desse fenômeno, as temperaturas globais rapidamente subiram, e 2012 se aproximou dos anos mais quentes do registro histórico.

2012 encerrou como o décimo mais quente desse registro, iniciado em 1880, 0,57°C acima da média histórica. É o 36º ano consecutivo em que as temperaturas globais ficaram mais quentes do que essa média (de 1977 para cá). Se você tem 36 anos de idade ou menos, portanto, você não teve oportunidade de viver um ano sequer de sua vida em que as temperaturas globais estivessem abaixo do "normal". 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Paleoclima II - Os detetives do clima e as pistas do passado



Os estudos de Paleoclimatologia são incríveis trabalhos de detetive. Voltando de certo modo à analogia criminalista que usei no texto anterior sobre Paleoclima, é uma busca de identificar o equivalente a pegadas, impressões digitais, fios de cabelo e outras evidências deixadas para traz pelo clima do passado. Essas evidências são gravadas na forma de  uma série de parâmetros físicos e químicos em sistemas diversos, como veremos em seguida. 

Isótopos do Oxigênio
A datação desses processos, isto é, determinar há quanto tempo atrás eles ocorreram é uma questão à parte, mas assim como os próprios marcadores paleoclimáticos, envolve, não raro, os chamados isótopos, isto é, átomos de um mesmo elemento químico com massas diferentes, sejam eles estáveis ou instáveis (radioativos). No nosso caso, são particularmente importantes os isótopos do Hidrogênio (o elemento mais simples, que só possui um próton): 1H (o hidrogênio "comum"), 2H (ou Deutério, simbolizado por D, o primo pesado) e 3H (ou Trício. que é instável); do Carbono: 12C (o mais abundante), 13C (também estável) e 14C (que é radioativo e importante para datação de objetos relativamente recentes); e do Oxigênio, que aparece em três formas estáveis na natureza: 16O (o mais leve e abundante), 17O (estável, mas pouco abundante) e 18O (também estável, mais pesado e mais relevante para os estudos paleoclimáticos). Também são importantes outras relações entre isótopos estáveis de elementos que participam de ciclos biogeoquímicos e entre elementos radioativos que permitem estabelecer datas mais remotas (é o caso do Urânio e Tório).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

2012: O ano mais quente do registro histórico nos EUA

Mapa do ranking de temperaturas em 2012 nos EUA, por
estado. A cor vermelha indica recorde absoluto. Fonte:
http://www.ncdc.noaa.gov/sotc/national/2012/13
A NOAA divulgou o balanço climático do ano de 2012 sobre os EUA (estamos ainda aguardando a divulgação de boletim semelhante para o mundo todo).

O resultado, que já era esperado, é o de que 2012 foi de fato o mais quente do registro histórico nos EUA. A figura ao lado mostra o ranking individual por estado, sendo que a cor vermelha indica um recorde absoluto de temperatura e os tons em laranja representam os locais em que a temperatura ficou "muito acima da média" (19 estados ao todo). Os números indicam a posição no ranking, sendo 118 a indicação de ano mais quente, 117, a de segundo mais quente e assim por diante. Um rápido exame permite identificar um grande número de estados em que 2012 pode não ter sido o mais quente, mas em que foi o segundo ou terceiro.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

BBCdoB

À esquerda, reprodução da página da BBC Brasil. À direita, reprodução
da página da BBC News, ambos na manhã de 10 de Janeiro nos links
mencionados no texto
Por acidente, a partir de um site parceiro, o Portal Ecodebate. Foi assim que, após seguir o link para uma matéria da BBC Brasil, percebi que a mesma era assinada por David Shukman, Editor de Ciência da BBC News. Em se tratando de um texto assinado, imaginei que se tratasse de uma tradução fidedigna, isto é, não literal (o que comumente deixa de fazer sentido), nem "exata" (pois não há correspondências perfeitas de língua para língua), mas que preservasse ao máximo o sentido do original. De qualquer modo, fui ao original da BBC News. E qual não foi o meu espanto!

Bomba, bomba? No way!

Bomba, bomba? Realmente a vida real é por demais dinâmica, para seguir à risca certos planejamentos. Volto, portanto, a "furar a fila" das temáticas a serem abordadas neste blog e, nesta postagem, venho priorizar a recém-anunciada "revisão" da previsão decadal do United Kingdom Meteorological Office (UKMO ou Met Office). O que tem acontecido é que negadores têm espalhado por aí que o instituto britânico estaria "prevendo menos aquecimento" ou até mesmo "admitindo que o mundo não aquecerá". Evidentemente trata-se de mais uma farsa a ser devidamente desmontada. Infelizmente, é possível até que canais de informação de boa qualidade sobre a questão ambiental e climática se deixem levar equivocadamente por parte desse discurso. Por exemplo, o Portal Ecodebate reproduziu matéria da BBC que se de um lado nada tem a ver com a desonestidade de certos órgãos da mídia (como a Fox News  norte-americana), do outro confunde alguns conceitos e não esclarece os pontos que devia, deixando margem a uma impressão errônea em relação ao que de fato está acontecendo.

O motivo da suposta controvérsia é o par de gráficos que mostro a seguir. Eles correspondem, respectivamente às chamadas previsões decadais do UKMO emitidas em 2011 (à esquerda) e em 2012 (à direita). A linha preta representa observações, ou seja, são a realidade. A faixa vermelha (que contém uma linha branca no meio, pouco visível) corresponde ao intervalo probabilístico de simulações anteriores (90% de probabilidade). Finalmente, as linhas azuis finas delimitam esse mesmo intervalo para a previsão do momento, com o valor mais provável, no meio. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pula a fogueira, Canguru! O Inferno na Austrália.

Canguru em campo queimado nas
proximidades de Melbourne, Austrália
Enquanto estou elaborando uma série de pequenos artigos para o blog sobre Paleoclima, é impossível não deixar um pouco de lado o passado para dar atenção ao que está acontecendo bem debaixo dos nossos narizes: a violenta onda de calor na Austrália.

Assim como os EUA, no verão passado do Hemisfério Norte e o Rio de Janeiro, logo após o Natal, a Austrália está sofrendo com uma onda de calor brutal, com recordes de temperatura sendo sucessivamente quebrados. No dia 07 de Janeiro, pela primeira vez desde que as temperaturas naquele país passaram a ser continuamente monitoradas, no início do século XX, a média das temperaturas máximas passou dos 39°C por 5 dias consecutivos. A onda de calor não deu trégua desde então e o recorde, que já é de seis dias, deve continuar a se ampliar.

domingo, 6 de janeiro de 2013

As Secas como Fenômeno Sócio-Climático (por Airton de Farias)

"Retirantes", de Cândido Portinari

Resolvi compartilhar com vocês texto de Airton de Farias, sobre a conotação social das secas. Airton é Professor e Historiador, autor de "História do Ceará", "Além das Armas: Guerrilheiros de Esquerda no Ceará Durante a Ditadura Militar" e "Fortaleza Uma Breve História" e seu texto, bastante didático, dialoga com uma perspectiva que tenho sistematicamente abordado em meu blog, que é o caráter desigual dos impactos da variabilidade natural e das mudanças antrópicas no clima. Como abordei nesta postagem, os impactos de eventos extremos são evidentemente díspares no que tange à nacionalidade, etnia e classe social. Neste outro, longe de querer travar um debate aprofundado (até porque não sou sociólogo ou antropólogo e não tenho "bagagem" para tal), alerto para a desigualdade de gênero, ligada à questão climática. É nesse contexto que me agrada a idéia de estabelecermos pontes com pesquisadores, professores e intelectuais de outros campos do conhecimento, como faço neste momento com Airton. Boa leitura para vocês!

Confissão

Tenho uma confissão a fazer. Nessa história toda de aquecimento global, estamos vivendo uma enorme farsa. Mentiras de todo lado. Falsificação de informações. A coisa é feia, feia mesmo... Chega a ser vergonhoso. Fico impressionado como as pessoas acreditam em determinadas coisas... Sim, tenho uma confissão a fazer... uma grande confissão...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

"Pito" suave, mas bem aplicado!

Surpreendido pelo número aparentemente alto de meteorologistas de formação, no Brasil, que assumem posições de negação da mudança climática (seja negando o aquecimento global, seja negando o papel antrópico nele), tive a atenção chamada por Michael Mann, através de seu twitter, que fenômeno parecido acontecia nos EUA. A negação das mudanças climáticas e de sua causalidade antrópica é, na verdade, comum em meteorologistas que apresentavam previsões na mídia por lá, graças a uma combinação de fatores, que iam da ausência de disciplinas nos cursos de graduação que cobrissem a dinâmica do clima, paleoclimatologia, mecanismos de feedback, etc., até a opção, pura e simples, de preferir emitir posições pessoais (evidentemente "contaminadas" pelas preferências ideológicas) do que aceitar as evidências verificadas e publicadas amplamente na literatura científica especializada, como abordado neste texto (em inglês), passando pelo desconhecimento de fundamentos de modelagem climática global. Esse fenômeno se repete no Brasil e checando a grade curricular dos cursos de Meteorologia em nosso País, constato precisamente que a formação deixa a desejar em aspectos essenciais. 

Rir pra Não Chorar

O humor, não raro, é um veículo bastante interessante de crítica, seja na crítica política ou de costumes, de Henfil (que perdemos há 25 anos) a Laerte.

Esta postagem é para mostrar trabalhos de um dos meus favoritos, Tom Toles, cartunista dos EUA, amplamente premiado (inclusive com o Prêmio Pulitzer), que não poupa a direita estadunidense e os negadores das mudanças climáticas com seu humor ácido. Como muitas vezes traduções literais não são ideais para passar o humor, tomei a liberdade de incluir, como legenda, minha tradução livre. É importante perceber os pequenos personagens (muitas vezes, o próprio Toles) no canto inferior direito de cada um deles, sempre fazendo comentários...

Instigado por Toles e alguns de seus cartoons mostrados abaixo, vale rir. Pensando melhor do que o colocado no título, também vale chorar, como o Chefe da Delegação Filipina na COP18. Vale, sobretudo, fazer a crítica e ir à luta!

Paleoclima I: “O Clima Mudou Antes”, Infartos e Assassinatos

- De todo jeito é inocente, certo?
Imagine uma situação inusitada. Um assassinato foi cometido, o primeiro assassinato da história da humanidade! E imagine que o primeiro caso em que uma pessoa humana é morta por um semelhante aconteceu já em tempos modernos, com os tribunais, o sistema penal, etc., devidamente constituídos como os conhecemos.

Toda a investigação foi conduzida conforme o figurino e as evidências (motivo, arma do crime, impressões digitais, etc.) apontam muito claramente para um único suspeito. Eis que seu advogado de defesa surge com um argumento mirabolante! Ele afirma que outras pessoas, além da vítima, já morreram antes. Que em todos os casos, a causa da morte foi natural. Que ninguém fora condenado porque outra pessoa faleceu em virtude de um infarto, um acidente vascular ou um câncer e, portanto, não se poderia condenar ninguém por assassinato.

Esse quadro surrealista é mais ou menos o que eu enxergo quando algumas pessoas desavisadas tentam negar o aquecimento global antrópico, afirmando que "o clima mudou antes". Ora, um sistema complexo cujo comportamento depende de forçantes exteriores e de uma complicada dinâmica interna, que inclui uma gama de mecanismos de retroalimentação, jamais se presumiria estático. Então a afirmativa "o clima mudou antes" é quase um pleonasmo. Mais óbvio ainda é o fato de que as mudanças climáticas do passado nada tiveram a ver com a espécie humana, seja porque, como no caso do encerramento do mais recente período glacial há aproximadamente 10 mil anos, o impacto promovido pela nossa espécie no ambiente em geral e no clima em particular era diminuto; seja porque, em mudanças climáticas de um pretérito mais profundo, nossa espécie sequer existia... Mas desde quando isso é argumento plausível para negar o papel antrópico na mudança climática do presente, do aqui e do agora? Pessoas morrem de infarto e de câncer e morrem até se, por um acidente, são atingidas em um órgão vital por um objeto perfurante. Neste caso, não há assassino. Mas desde quando se pode deduzir daí que em outra situação, quando alguém, ao atingir outrem com um desses objetos perfurantes, está livre para seguir por aí, sem ser identificado e punido?

Na postagem seguinte, começarei a abordar a questão das mudanças climáticas do passado, discorrendo brevemente sobre os métodos para recuperar informações do "Paleoclima". Deixarei para outras a discussão dos fatores que influenciam o clima em diversas escalas de tempo (que são diferentes, quando vamos de séculos até milhões de anos) e como cada uma dessas escalas nos traz lições para os dias de hoje. Abordarei das mudanças em milhões de anos, que fizeram a Terra passar por estados de "Terra-estufa", isto é, sem calotas polares e "Terra-geladeira", como hoje, até a chamada "Terra bola de neve", até mudanças bem mais sutis, até as variações relativamente recentes no "Período Medieval Quente" versus "Pequena Era do Gelo", passando pela alternância, na escala de centenas de milhares de anos, entre períodos glaciais (as verdadeiras "Eras do Gelo") e interglaciais. O que posso adiantar no momento é que todos esses estudos paleoclimáticos apresentam, na verdade, evidências muito fortes de que a influência antrópica sobre o clima de hoje é de fato profundamente significativa e que o risco de disparar mecanismos não-lineares de retroalimentação que tragam transformações de grandes proporções no sistema climático terrestre é bastante real.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Novo Recorde de Temperatura Global em 2013?

Ranking dos anos mais
quentes do registro
histórico, desde 1880
O UKMO (United Kingdom Meteorological Office) anunciou sua previsão de temperatura média global para 2013 e as chances de um novo recorde absoluto de temperatura globais são bastante significativas. Há alguns meses, uma análise prévia já indicava que 2013 deveria vir a estar muito provavelmente entre os dez mais quentes do registro histórico, com fortes indícios de que teria, pelo menos, alta probabilidade de ser mais quente do que 2012. O ano que se encerrou poderia até ter ficado, como indiquei em diversos momentos, fora da lista dos mais quentes, por ter se iniciado com uma La Niña intensa e este fenômeno resfria o Oceano Pacífico equatorial, com reflexos sobre a média de temperatura global. Mas encerrou como o nono mais quente.

Agora, a instituição britânica divulgou a sua previsão final para este ano que se inicia. A expectativa é a de que, em comparação com a média de 1961 a 1990, 2013 fique entre 0,43 e 0,71°C acima, com valor mais provável para anomalia de temperatura de +0,57°C. É quase certo que ele entra nos "top ten" (pois o 10º colocado, 2004 apresenta anomalia exatamente igual ao valor mínimo previsto para 2013). São altas, ainda, as chances de este ano bater o recorde de 2010 e seus 0,54°C de anomalia em relação a 1961-1990.

Transporte Individual: Contra-Mão, Beco sem Saída, Fim da Linha!


Há números que correm em paralelo aos recordes do clima e que com estes se entrelaçam. Vão da demanda e do uso de energia, ao consumo de agrotóxicos e fertilizantes; da extinção de espécies e perda de biodiversidade aos acidentes de trânsito; da área perdida de florestas à quantidade de rios represados; enfim, à concentração de CO2 atmosférico e demais gases de efeito estufa. Se forem feitos gráficos dessas variáveis em função do tempo, a marca comum a todas elas é o crescimento acelerado, ou, como é ensinado nos bancos escolares, um crescimento em progressão geométrica ou exponencial.

Neste texto, abordarei recordes e curvas exponenciais visíveis para qualquer pessoa que passa pelas ruas e avenidas de qualquer grande cidade brasileira (ou, na verdade, da ampla maioria de grandes cidades do mundo). Referem-se ao trânsito, uma das arenas de um dos fenômenos paralelos ao aquecimento global: o enlouquecimento global.

Copo "meio cheio" não salva uma casa em chamas

Alok Sharma, presidente da COP26, teve de conter as lágrimas no anúncio do texto final da Conferência, com recuo em tópicos essenciais "...

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