Estrutura vertical da atmosfera terrestre. Mais de 80% da massa da atmosfera se localiza na camada inferior (troposfera). Acima desta, localiza-se a estratosfera. |
Então, mesmo sendo seu efeito resfriador passageiro, diante da realidade crítica em que estamos, com o degelo das calotas especialmente no Ártico se acelerando, sucessivas quebras de recorde de temperatura e 2016 prometendo fechar 1,2°C acima das temperaturas pré-industriais, é como se os vulcões, apesar do estrago que podem fazer, fossem estranhos aliados nossos contra o aquecimento global.
O esqueminha mostra o que deve acontecer no futuro: embora não haja indícios de que este venha a ser um feedback domi- nante, ele vem se somar a vários outros que amplificam a per- turbação associada às forçantes antrópicas, especialmente os gases de efeito estufa de vida longa. |
É o que indica um novo artigo, publicado no Journal of Geophysical Research, de autoria de Aubrey et al., intitulado "Impact of global warming on the rise of volcanic plumes and implications for future volcanic aerosol forcing" ("Impacto do aquecimento global no levantamento de plumas vulcânicas e implicações para o futuro forçamento de aerossóis vulcânicos). O resumo do artigo está disponível no link: http://bit.ly/2fX35P6 e para fins didáticos, a figura acima ilustra o que esperar num cenário com troposfera mais profunda.
O estudo de Aubrey et al. sugere que várias plumas vulcânicas recentes não seriam capazes de atingir a tropopausa no final do século. A redução esperada no fluxo de óxido de enxofre (SO2), precursor de aerossóis de sulfato, é de 5 a 25% para as plumas menores e de 2 a 12% no total (erupções mais violentas seriam menos afetadas).
As conclusões dos autores vão no sentido de que se trata de um novo feedback climático, que ainda não tinha sido descrito: quanto mais quente a troposfera ficar, maior a altura da tropopausa e menor a carga de aerossóis vulcânicos que atingirá a estratosfera, o que, supondo uma atividade vulcânica aproximadamente constante, levaria a mais aquecimento. Embora reconheçam que dificilmente se trataria de um processo dominante, sendo quase certamente bem menos relevante do que feedbacks como os do vapor d'água, gelo-albedo e outros, o fato é que é mais uma contribuição que se soma para amplificar as perturbações antrópicas no sistema climático terrestre. Quando se olha para o lado, pelo visto são essas retroalimentações positivas que predominam e fazem com que qualquer décimo de grau a mais no aquecimento global pode estar nos aproximando de uma situação em que o sistema saia definitiva e irreversivelmente de controle.
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