No "cassino do clima", não é inteligente apostar contra as leis da natureza. |
JAMES ANNAN CONTRA OS NEGACIONISTAS RUSSOS
A aposta foi feita há 12 anos, entre o climatologista britânico James Annan e os físicos russos Galina Mashnich e Vladimir Bashkirtsev, do Instituto de Física Solar-Terrestre da Divisão Siberiana da Academia Russa de Ciências. A dupla estava tão convencida de que as temperaturas globais realmente iriam começar a cair (como aparentemente o Sr. Molion que anunciava em 2009 que a Terra iria "resfriar nos próximos 22 anos") que apostaram 10 mil dólares nisso. A aposta chegou a ser noticiada pela Revista Nature.
Como o próprio James Annan explica, a aposta é simples. Seriam consideradas as médias de temperatura global, usando a base de dados da NOAA, para dois períodos: 1998-2003 e 2012-2017. Se do primeiro período para o segundo a temperatura caísse, a dupla russa ganharia; se subisse, 10 mil dólares na conta de Annan em 2018.
PAUSA? UMA OVA!
Quando a aposta foi feita, estava entrando em voga o famoso mito de que "o aquecimento global parou em 1998". Esse mito chegou mesmo a contaminar setores melhores da mídia, que chegaram a mencionar uma "pausa" no aquecimento global e até mesmo alguns colegas cientistas, que se referiam à suposta ausência de um aumento significativo das temperaturas médias globais como um "hiato" nesse aquecimento.
Claro, tratava-se de uma falácia, mas tão insistentemente agitada que alguns do nosso lado capitularam a esse discurso mentiroso. Nunca houve pausa, ou hiato, ou o que quer que seja. Pelo contrário, o desequilíbrio energético planetário seguiu crescendo durante todo esse período de 1998 para cá, na exata medida em que a concentração de gases de efeito estufa seguiu aumentado. O que acontece é que as temperaturas do ar próximo à superfície como também a temperatura média da troposfera não são as melhores métricas para o aquecimento global, já que é o oceano quem absorve mais de 93% do calor extra retido pelo excedente desses gases no sistema climático terrestre.
Um artigo recente de Yan et al. ("O hiato do aquecimento global: desaceleração ou redistribuição?"), se mostra particularmente esclarecedor. A seguir, traduzimos parte do resumo desse trabalho: "As temperaturas médias globais na superfície (TMGS) apresentaram uma taxa de aquecimento menor entre 1998 e 2013 quando comparada à da segunda metade do século XX. Embora não se trate de um hiato verdadeiro na definição estrita do termo, o termo "hiato no aquecimento global" foi usado pelo IPCC (2013). (...) Uma conclusão importante é que esse processo relacionado à TMGS é característico da superfície e não foi causado por uma desaceleração do aquecimento do sistema climático, mas por uma redistribuição de energia no interior dos oceanos".
O artigo, como mostrado na Figura, deixa nítido como o conteúdo de energia térmica nos oceanos (termo dominante diante do muito menor conteúdo energético da atmosfera) continuou a aumentar mesmo nesse período, evidenciando, como os autores colocam explicitamente nas conclusões que o termo "hiato" é "inapropriado".
ADEUS "PAUSA", ADEUS 10 MIL DÓLARES
Conforme os dados da NOAA (e qualquer um/a de vocês pode conferir isso e fazer os gráficos corespondente usando este link) a taxa de aquecimento média foi de 0,112°C por década, tendo subido para 0,142°C por década considerando apenas os últimos 20 anos do século XX. De 1998 a 2013, a melhor linha de tendência é aquela que nos dá um aquecimento de 0,085°C por década, embora 2013 tenha sido apenas marginalmente mais quente que 1998 (respectivamente 0,66°C e 0,62°C acima da média do período 1910-2000). Acontece que se considerarmos os dados do século XXI (lembrando que 2016 ainda está de fora), essa taxa não apenas voltou a subir como já é maior do que aquela do final do século passado, batendo nos 0,156°C/década.
Moral da história: só uma hecatombe fará com que James Annan perca a aposta. Como bem mostra Mark Boslough, físico, em artigo para o Huffington Post, o planeta precisaria resfriar mais de 1,6°C em 2017 para que isso acontecesse. Portanto, quando falamos em hecatombe é hecatombe mesmo.
Para se ter uma ideia, a explosão do Monte Pinatubo em 1991, segundo evidências científicas, teria provocado um resfriamento de 0,4°C. Seria algo necessário algo bem maior do que o Krakatoa, cuja explosão teria produzido um efeito de resfriamento da ordem de 1,2°C em 1883. Até por que a maior explosão vulcânica dos tempos modernos, a do Tambora, em 1815, que expeliu incríveis 180 km³ de matéria para a atmosfera, embora tenha produzido grandes anomalias climáticas em várias partes do mundo (o que em algumas regiões foi chamado de "O Ano Sem Verão"), teria levado globalmente a um resfriamento dessa ordem ou menor (como pode ser conferido no link colocado).
inverno nuclear nos aproximaria da marca necessária para que os russos ganhem a aposta, o que, portanto nada tem a ver com a hipótese furada que eles apresentaram de mínimo solar ou coisa parecida. Este artigo de Alan Robock mostra que uma guerra nuclear em que o equivalente a 100 bombas de Hiroshima fossem lançadas matando instantaneamente 20 milhões de pessoas, jogando 5 trilhões de gramas de material na estratosfera, teria o potencial de resfriar o planeta em 1,25°C. Bem, o arsenal estadunidense e russo parece ter o potencial de produzir 30 vezes isso, então...
EU TAMBÉM QUERO APOSTAR!
Ontem, em meu perfil particular na rede social do Sr. Mark Zuckerberg, coloquei um desafio, com o seguinte texto: "Molion disse em 2009 que o mundo iria resfriar nos próximos 22 anos. Quero fazer uma aposta com ele, Felício ou qualquer outro negacionista, para ser verificada em 2032. Aposto R$ 10.000,00, corrigidos pela inflação, como as temperaturas irão subir. Tudo muito simples e direto. Pega-se a média das temperaturas de 2009 a 2016. Compara-se com a média das temperaturas de 2024 a 2031. Se a temperatura subir, eu ganho. Se cair, eu pago."
A aposta é séria. Não é bravata. Num grupo da mesma rede onde já vi várias baboseiras negacionistas sendo defendidas, ninguém se manifestou. Pedi para vários amigos divulgarem e finalmente obtive um retorno. Mas o sujeito não achou a aposta justa, xingou a NOAA (minha proposta como banco de dados para aferir o resultado), etc. Concedi 0,1°C para ele, disse que ele poderia escolher outra base entre NASA-GISS e HadCRUT, mas a pessoa fugiu (não sem antes me chamar de "climatologista Marx").
O desafio está posto e continua valendo: se algum negacionista realmente acredita que "o aquecimento global é uma farsa", que "o mundo está entrando numa nova era glacial" ou qualquer sandice do gênero, deveria estar disposto a colocar dinheiro nisso. Nem que seja o dinheiro sujo das corporações que eles tanto defendem. Molion e Felício têm a preferência, mas qualquer um de vocês pode tentar ganhar esse "dinheiro fácil" de mim...
Como o próprio James Annan explica, a aposta é simples. Seriam consideradas as médias de temperatura global, usando a base de dados da NOAA, para dois períodos: 1998-2003 e 2012-2017. Se do primeiro período para o segundo a temperatura caísse, a dupla russa ganharia; se subisse, 10 mil dólares na conta de Annan em 2018.
PAUSA? UMA OVA!
As temperaturas haviam parado de aumentar de 1998 até antes de 2005? |
Claro, tratava-se de uma falácia, mas tão insistentemente agitada que alguns do nosso lado capitularam a esse discurso mentiroso. Nunca houve pausa, ou hiato, ou o que quer que seja. Pelo contrário, o desequilíbrio energético planetário seguiu crescendo durante todo esse período de 1998 para cá, na exata medida em que a concentração de gases de efeito estufa seguiu aumentado. O que acontece é que as temperaturas do ar próximo à superfície como também a temperatura média da troposfera não são as melhores métricas para o aquecimento global, já que é o oceano quem absorve mais de 93% do calor extra retido pelo excedente desses gases no sistema climático terrestre.
Conteúdo de energia na atmosfera (azul) e nos oceanos (preto) de 1980 a 2013, mostrando que não houve nenhum indício de "hiato" ou "pausa" no aquecimento global nesse período. Fonte: Yan et al. (2016). |
O artigo, como mostrado na Figura, deixa nítido como o conteúdo de energia térmica nos oceanos (termo dominante diante do muito menor conteúdo energético da atmosfera) continuou a aumentar mesmo nesse período, evidenciando, como os autores colocam explicitamente nas conclusões que o termo "hiato" é "inapropriado".
ADEUS "PAUSA", ADEUS 10 MIL DÓLARES
Se 2017 for "apenas" 1,5°C mais frio que 2016 ainda assim os russos perdem a aposta. Só uma hecatombe (spoiler: nuclear) seria capaz de produzir algo assim! |
Moral da história: só uma hecatombe fará com que James Annan perca a aposta. Como bem mostra Mark Boslough, físico, em artigo para o Huffington Post, o planeta precisaria resfriar mais de 1,6°C em 2017 para que isso acontecesse. Portanto, quando falamos em hecatombe é hecatombe mesmo.
Para se ter uma ideia, a explosão do Monte Pinatubo em 1991, segundo evidências científicas, teria provocado um resfriamento de 0,4°C. Seria algo necessário algo bem maior do que o Krakatoa, cuja explosão teria produzido um efeito de resfriamento da ordem de 1,2°C em 1883. Até por que a maior explosão vulcânica dos tempos modernos, a do Tambora, em 1815, que expeliu incríveis 180 km³ de matéria para a atmosfera, embora tenha produzido grandes anomalias climáticas em várias partes do mundo (o que em algumas regiões foi chamado de "O Ano Sem Verão"), teria levado globalmente a um resfriamento dessa ordem ou menor (como pode ser conferido no link colocado).
inverno nuclear nos aproximaria da marca necessária para que os russos ganhem a aposta, o que, portanto nada tem a ver com a hipótese furada que eles apresentaram de mínimo solar ou coisa parecida. Este artigo de Alan Robock mostra que uma guerra nuclear em que o equivalente a 100 bombas de Hiroshima fossem lançadas matando instantaneamente 20 milhões de pessoas, jogando 5 trilhões de gramas de material na estratosfera, teria o potencial de resfriar o planeta em 1,25°C. Bem, o arsenal estadunidense e russo parece ter o potencial de produzir 30 vezes isso, então...
EU TAMBÉM QUERO APOSTAR!
Quando você aperta um negacionista, o que ele faz? ARREGA! |
A aposta é séria. Não é bravata. Num grupo da mesma rede onde já vi várias baboseiras negacionistas sendo defendidas, ninguém se manifestou. Pedi para vários amigos divulgarem e finalmente obtive um retorno. Mas o sujeito não achou a aposta justa, xingou a NOAA (minha proposta como banco de dados para aferir o resultado), etc. Concedi 0,1°C para ele, disse que ele poderia escolher outra base entre NASA-GISS e HadCRUT, mas a pessoa fugiu (não sem antes me chamar de "climatologista Marx").
O desafio está posto e continua valendo: se algum negacionista realmente acredita que "o aquecimento global é uma farsa", que "o mundo está entrando numa nova era glacial" ou qualquer sandice do gênero, deveria estar disposto a colocar dinheiro nisso. Nem que seja o dinheiro sujo das corporações que eles tanto defendem. Molion e Felício têm a preferência, mas qualquer um de vocês pode tentar ganhar esse "dinheiro fácil" de mim...
Eu não sei muito sobre, porque não estudei a fundo o assunto como você, mas só os artigos que leio, os videos que assisti e por pura associação de fatos, já fico deprimida. Infelizmente eu prefiro nao pensar mto sobre para me proteger do pessimismo (realidade)
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