A "profundidade" do discurso da esquerda oficial em torno da exploração do pré-sal é inversamente proporcional à profundidade física da própria camada.. |
É preciso que a riqueza chegue às mãos e às casas de muitos milhões de pobres mundo afora. Isso é fato. Centenas de milhões de pessoas mundo afora vivem muito, mas muito longe de um limiar mínimo de dignidade e é, evidentemente, necessário que infraestrutura material de saneamento, mobilidade, comunicação, etc. se faça disponível a todos os assentamentos humanos que a desejarem.
Mas a premissa de Fuser de que "negar ou diluir a dimensão social dos recursos naturais em países periféricos, como o Brasil, é incorrer num elitismo imperdoável" é flagrantemente falsa.
Primeiro, porque não se pode usar de maneira tão irresponsável um termo generalista como "recursos naturais". Poderiam ser igualmente mencionados como "recursos naturais" os minérios, as terras e os rios da Amazônia, a fauna e a flora, o petróleo e o gás natural, o vento, a radiação solar, etc. Ora, qualquer análise superficial é suficiente para demonstrar que alguns desses recursos são renováveis e outros, não; que alguns recursos, por motivos diversos (da prosaica viabilidade econômica a escolhas baseadas em julgamento moral ou impacto ambiental) não devem ou podem ser explorados. Como questionei em outro texto, desmatar toda as florestas brasileiras, incluindo a Amazônia inteira e transformá-la num imenso campo de soja implicaria, assumindo que o preço de mercado da soja permanecesse constante, em aumentar em mais de 30% o PIB brasileiro. Mas duvido que o Sr. Fuser defendesse esse ecocídio em escala continental, ainda que todo o recurso fosse usado para um destino "nobre", seja a Saúde, a Educação, etc.
No entanto, o Sr. Fuser é capaz de defender a participação brasileira em um ecocídio em escala global. Sim, pois como demonstramos repetidas vezes (aqui, aqui e aqui), o orçamento de carbono está absolutamente apertado e a exploração das últimas reservas fósseis (o que inclui o pré-sal brasileiro, o petróleo do Ártico, as areias betuminosas de Alberta e as montanhas de carvão da China) é absolutamente incompatível com qualquer perspectiva mínima de manter o sistema climático sob limites precariamente seguros!
Mas uma "esquerda" tacanha, covarde, adaptada e - essa sim, elitista - prefere que a riqueza necessária para elevar as condições de vida dos mais pobres a condições mínimas de dignidade continue vindo (como se fosse suficiente!) na forma de migalhas caídas da mesa em que o grande capital se refastela; prefere que sejam as sobras e as esmolas (royalties?) do banquete das corporações que supram essa necessidade.
Ao invés de dizer claramente que, para respeitar os limites materiais do metabolismo entre a sociedade humana e o restante da natureza, os ciclos da água, do carbono, do nitrogênio e do fósforo e a capacidade dos sistemas naturais em reciclarem as excretas de nossos processos agrícolas, industriais, etc., é preciso parar de crescer e desacelerar a locomotiva tresloucada do capital, arrancando a riqueza diretamente do punhado de bilionários que a controla, a lógica dessa esquerda envelhecida é a de que o banquete do capital deve se ampliar, (de)predando o ecossistema global de forma ainda mais brutal, a fim de que caiam mais migalhas no chão! Ao invés de colaborarem na construção da necessária insurgência contra o poder do capital, contra as corporações, contra a indústria de combustíveis fósseis e o sistema financeiro; na prática se voltam contra as futuras gerações, contra os povos tradicionais, contra os pequenos agricultores, contra o contingente cada vez maior de refugiados climáticos e ambientais.
O que infelizmente acontece é que não se vê apenas um ignorar injustificável da objetividade do que estabelece a Ciência do Clima contemporânea quanto ao balanço de carbono e o que se sabe sobre a profunda desigualdade nos impactos das mudanças no clima, discutida por mim em outros momentos (especialmente aqui e aqui). Na verdade, vai-se além, para argumentos que resvalam para o campo do cinismo, quando se diz que "quanto ao aquecimento global, sempre é bom lembrar que sua causa não é extração de combustíveis fósseis e sim o consumo" (algo que poderia soar até pueril, se viesse de algum desavisado).
A insistência em defender a exploração do pré-sal, por fim, casa-se com a omissão de duas questões essenciais: a primeira, a quem ela serve; a segunda, que há alternativas.
O discurso de "100% dos royalties do pré-sal para a Educação" não passa de uma cortina de fumaça. A grande maioria dos recursos advindos de sua exploração tão somente engordará o faturamento da Shell, da Total e das empresas chinesas que, juntamente com a Petrobrás, compuseram o consórcio que adquiriu o Campo de Libra, além de vitaminar as contas correntes dos acionistas desta última. De um lado, o filé mignon vai para o grande capital, a um custo ambiental (pelo menos potencial) e climático (este, com certeza) brutal. De outro, a realização de uma auditoria da dívida, o cancelamento de montantes indevidos e a redução das taxas de juros que estrangulam o orçamento da União permitiriam que recursos vultosos se tornassem imediatamente disponíveis para a Educação e Saúde públicas, sem que nenhuma gota de petróleo fosse derramada ou queimada. Aliás, como sempre friso, adquire requinte de crueldade a lógica de vincular os destinos da educação brasileira à exploração de um veneno para o clima global. É imoral impor que as escolas dos filhos dos trabalhadores só possam receber melhorias se casadas com hiperlucros para petroquímicas.
E além de alternativa de financiamento para os serviços públicos, é evidente que também há alternativa de produção energética, de industrialização, etc., envolvendo um sistema de geração de energia descentralizado, socialmente justo e popular, com forte participação da geração solar doméstica. Estas alternativas vão de encontro aos interesses dos grandes bancos, da indústria de combustíveis fósseis, das corporações do setor energético. Vão de encontro ao jugo destrutivo que as elites querem continuar impondo aos pobres e ao ambiente. Fuser, como muitos outros, quer interpor um muro entre a solução das questões sociais e a defesa do ambiente e do clima, quando as duas questões só podem ser solucionadas com a liquidação do hamster impossível chamado capital. É isto que está posto nesse louco século XXI, em que se entrelaçam a história da sociedade humana e a história biogeoquímica de nosso planeta e não menos.
Oi Alexandre, uma pergunta off-topic, a respeito da seca e calor que estão afligindo o estado de São Paulo.
ResponderExcluirUm artigo de 2006 do Marengo mencionava alguns testes com modelos que sugeriam que, com o aquecimento, um vento de altitude, a leste dos Andes, se intensificaria e traria o ar úmido da Amazônia para a bacia do Prata, diminuindo as chuvas lá e aumentando aqui (desculpe se estou escolhendo as palavras técnicas erradas - sou leigo, vc sabe).
Esse novo estado seria algo como uma perenização das condições que existem hoje durante os anos de El Niño.
Só que hoje estamos tendo uma seca em pleno verão em SP. No Skeptical Science postaram um estudo que concluía que os trade winds estavam mais fortes que o normal, favorecendo o estado de La Nina (que normalmente diminui as chuvas aqui pro sul).
Uma coisa tem a ver com a outra? Esses trade winds, ou as La Ninas da última década, têm a ver com essa seca de SP?
Eu não sou o Alexandre, mas vou logo adiantando a você que essa turma(cientistas climáticos do IPCC), é completamente inútil para fazer qualquer previsão que ajude a humanidade.
ExcluirEles não são capazes de prever secas, cheias, frio extremo, etc...
Eles previram que iria esquentar cada vez mais, e os EUA estão congelando.
Eles não previram porra nenhuma das secas históricas da amazônia em 2005 e 2010.
Eles só querem prever a temperatura média global para daqui a 100 anos. Como se isso servisse pra alguma coisa :))
Seus netos e bisnetos provavelmente vão estar vivos daqui a 100 anos. Que comentário estúpido.
ExcluirSim, nós aqui hoje somos os tetra-tatara-tatara-netos dos seres humanos que atravessaram a última era do GELO. Hoje a temperatura é 10 graus maior que naquela época e tá bom demais assim. Quem nos dera, que as fogueiras que eles fizeram pra se aquecer, que as matas que eles queimaram para comer churrasco de bicho morto, tivessem contribuído para que o clima estivesse como está hoje. Nossos netos certamente nos agradecerão também. Mas nada disso aconteceu. Os Mamutes se acabaram, bem como as preguiças e tatus gigantes. A terra está muito melhor agora. Nosso problema atual é com as bestas. Estão se reproduzindo com muita velocidade pela Internet.
Excluir1. A temperatura média global quando do último máximo glacial não era 10 graus acima da atual, e sim algo da ordem de 4-7 graus (claro, com bastante variabilidade em escala regional). Um aquecimento global de 4 graus ou mais é o que se espera em condições em que a concentração atmosférica de CO2 chegue a 700 ppm, o que é uma projeção absolutamente realista dadas as emissões atuais;
Excluir2. As concentrações de CO2 no período se mantiveram próximas a 200ppm, algo próximo a 30% menos dos valore pré-industriais. Hoje, a concentração de CO2 já está mais de 40% acima daquela antes da era industrial e é mais do dobro daquela encontrada no último máximo glacial. É um valor sem precedentes em pelo menos 3,5 milhões de anos;
3. Todas as evidências dão conta de que o ritmo de aquecimento atual, associado à mudança antrópica na composição química da atmosfera e, portanto, no balanço energético planetário, é pelo menos 10 vezes mais acelerado do que aquele que levou ao fim da última era glacial;
4. Um planeta 4 graus mais quente daquele encontrado na ultima era glacial é mais hospitaleiro do que o de então, mas há fortes evidências científicas de que ele se tornará bastante inóspito para a nossa espécie se se tornar 4 graus mais quente, especialmente via mudanças tão aceleradas;
5. A negação da ciência, especialmente feita em tom arrogante, só pode ser caracterizada como lamentável.
Caro Alexandre Costa,
ResponderExcluirO que você faria se soubesse realmente o que afirma saber ?
Você avisaria aos agricultores se o próximo ano vai ser de El Niño ou La Niña para que eles aumentassem ou diminuíssem a área plantada?
Você avisaria às autoridades do Brasil, que o sudeste teria uma seca severa, e que por isso seria melhor manter todas as térmicas funcionando o ano todo ?
Você poderia avisar aos criadores de gado para construírem mais açudes, para evitar a morte de seus animais ?
Você avisaria aos ribeirinhos da amazônia(secas de 1926, 2005 e 2010) que os rios da região secariam e eles ficariam isolados do mundo, sem acesso à sua principal fonte de alimento, que é o peixe ?
Você calcularia a capacidade, e mostraria os locais onde poderiam ser construídas represas para estocar água ?
Você seria capaz de ajudar qualquer ser humano hoje ?
Ou você, com todo seu conhecimento, só é capaz de teorizar sobre temperatura média global para 100 anos à frente, sem nenhuma atitude prática de ajuda na solução de qualquer um dos problemas atuais ?
Diferenciar temperaturas médias globais de temperaturas regionais, do máximo glacial, sem ter sequer um termômetro, ou um satélite para medir, e a terra sendo coberta em 3/4 por oceanos, onde é impossível medir temperatura é arriscar muito.
Para que arriscar tanto ?
Para que serve uma temperatura média global ?
O que é mais importante para o ser humano: A temperatura do local onde ele vive, ou a do interior da Antártida ?
Ambas influenciam e são influenciadas pela global.
Se alguém tem conhecimento suficiente para ser parte da solução, que se apresente. Com a a proposta de solução, é claro...
Sem precisar exterminar a humanidade, ou parte dela, é claro.
Aníbal
ExcluirÉ evidente que você precisa se apropriar realmente do assunto e desconhece fatos bastante concretos. Temos contribuído (e aí, o detalhe é que isso não é só em termos de comunidade, mas pessoalmente) com desenvolvimento de ferramentas de monitoramento e previsão de tempo e de clima em escala sazonal, através das instituições que lidam com estas questões nas escalas nacional e regional. E isto tem, sim, ao contrário do que você imagina, auxiliado agricultores e tomadores de decisão em diversas esferas, como recursos hídricos e outros. Mas aí seria uma irresponsabilidade profunda da comunidade científica esconder o grave risco que existe acompanhando a mudança climática global. Que não é para "daqui a 100 anos". Que não se resume, pelo contrário, ao aumento da temperatura média global (leia os textos sob a tag "eventos extremos"). Ademais, que aqui se exime de apontar soluções? Ao contrário, confrontamos aqueles que alimentam falsas ilusões de que é possível manter o "business as usual", extraindo e queimando combustíveis fósseis como se não houvesse amanhã. Aliás, ignorar essa mensagem, sim, é a garantia de que não haverá um.
Alexandre,
ExcluirHá um ano atrás, fiz bastante pesquisa na Internet(em português), pois meu objetivo era descobrir algum trabalho, ou artigo científico da área de climatologia que houvesse previsto qualquer um dos grandes eventos climáticos que nos afetam diretamente, com alguma antecedência, algo entre um e dois anos.
Ou não fui hábil em minha pesquisa, ou realmente não existiu nenhuma previsão feita para os grandes eventos climáticos como so que citei, ou outros quaisquer.
Só não vale prever resfriamento causado por erupção de grandes vulcões, porque isso não seria uma previsão. A menos que se conseguisse prever, quando e onde se daria a erupção. Aí não seria da área da climatologia.
O que mais se assemelhou com o que eu procurava, mas nem de longe atendia ao meu anseio, foi isso:
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/prod_probio/Relatorio_1.pdf
E lendo esse relatório, me desencantei com a capacidade de produzir resultados práticos do IPCC, com seus modelos climáticos, e cientistas pré-direcionados.
A crítica não é pessoal. Se você como pessoa tem contribuído na criação e melhoria de ferramentas de monitoramento, parabéns !
Pelo menos está na direção de fazer parte da solução.
Mas até que nossas(da humanidade) ferramentas de monitoramento gerem dados que sejam capazes de acertar previsões úteis para essa geração, elas são somente de monitoramento.
Por que eu deveria deixar morrer hoje, a dona Francisca, que não tem energia elétrica em casa, que não tem saneamento básico, e que nunca terá, se eu tiver que fazer tudo isso com ENERGIA SOLAR, que é 10 vezes mais cara ?
Devemos deixá-la morrer hoje para salvar os NOSSOS tataranetos daqui a 100 anos ?
Quanto aos tomadores de decisão que você tem ajudado, houve algum alerta aos governantes de São Paulo para esse verão seco no sudeste do Brasil, para que pudessem gerenciar as reservas de água ?
Tem alguma evidência desses alertas ?
Tem alguma previsão de evento climático relevante para 2016, o ano das olimpíadas ?
Assim que a comunidade climática(IPCC ou não) começar a prever e acertar suas previsões, as pessoas passam imediatamente a dar o devido crédito, exatamente como se dá hoje com relação à previsão do tempo para 1 ou dois dias. Confiança, é conquistada com resultados, e não com ameaças. Ainda mais, ameaças para daqui a 100 anos.
Acredito que quando os climatologistas forem capazes de explicar, prever e provar o modo de funcionamento de eventos como El Niños, e o que provoca o final e início de eras glaciais, vão ganhando pontos positivos. Quando conseguirem provar que seus modelos climáticos são capazes de reproduzir o clima observado, teremos confiança em dizer: Vocês sabem o que estão dizendo. Até lá, só podemos dizer: Vocês acreditam no que estão dizendo.
E você por sua vez têm de que ter o simancol de confessar TODAS as suas incertezas.
Têm de ter o SIMANCOL(franqueza) de mostrar a memória de cálculo do índice de 95% de certeza, das previsões do último relatório do IPCC.
A falta de franqueza não nos permite dar um voto de confiança. Principalmente porque prever clima é foda... Para 100 anos avante, é foda ao infinito. E vocês ainda não têm certeza de muita coisa. É preciso ser franco, para diferenciar o que se sabe, daquilo que apenas se acredita. Diferenciar o que foi provado pela ciência, daquilo que foi simplesmente arbitrado, ou estudado como uma das possibilidades, por falta de ferramentas, de medições, de séries históricas, etc... Se foi escolhida UMA das possibilidades, apresentar a memória de cálculo dessa probabilidade. Quando um processo depender do outro, multiplicar seu índice de certeza...
Coisas simples que poderão levar a comunidade de climatologia a ser levada realmente a sério por toda a população.
Anibal, há vários produtos operacionais de previsão de tempo e clima que podem ser acessados, nos sites do INPE, da Funceme e do INMET e asseguro a você que o Brasil anda muito próximo do estado-da-arte nessas questões.
ExcluirAcontece que é preciso saber a distinção entre previsões de tempo (que são determinísticas no sentido da ocorrência de um evento meteorológico), previsões climáticas sazonais (que se dão com meses de antecedência, que focam no estado médio da atmosfera em uma região ao longo de uma estação e que tem, do ponto de vista atmosférico, uma característica eminentemente probabilística, mas que depende de uma condição de fronteira determinística naquela escala, particularmente temperatura da superfície do mar) de projeções climáticas de mais longo prazo, que lidam com o estado médio do sistema climático acoplado (no mínimo oceano-atmosfera, mas hoje em geral expandido para criosfera, biosfera, etc.), que buscam saber qual a resposta média desse sistema complexo a uma determinada forçante (que poderia ser mudança na radiação solar ou no vulcanismo mas que, no momento, volta-se principalmente para as alterações nas concentrações de gases de efeito estufa, dado que ambos os fatores naturais que mencionei são muito pequenos em relação às mudanças antrópicas de composição química na atmosfera).
Entende-se que a previsão de tempo – salvo exceções (bloqueio, pulso de oscilação Madden-Julian...) - não é viável para além de dias (ou até cerca de 2 semanas), por conta da hipersensibilidade às condições iniciais. Prever localização e momento de ocorrência de uma tempestade para além desse horizonte de tempo esbarra na não-linearidade da atmosfera. Porém, fazer previsão climática sazonal é diferente e há uma analogia muito razoável no comportamento do lançamento de dados ou moedas. Não se prevê o resultado de um lançamento específico, mas há conhecimento sobre o comportamento estatístico médio (média do dado, por exemplo, em torno de 3,5). Prever o clima sazonal implica em identificar se o “dado está viciado” por força de um El Niño ou outro forçante (padrões no Atlântico intertropical por exemplo influenciam muito no Nordeste). Especificamente neste caso, cheque o histórico de previsões para o Nordeste, nos sites dos institutos que indiquei. Você verá que, ainda que todos os padrões não tenham sido capturados sempre, o índice de acerto é alto e que, considerando vários anos, os indicativos da previsão climática foram bastante úteis aos tomadores de decisão. Detalhe: o caso do Sudeste é mais complicado, pois como toda a comunidade sabe, a previsibilidade do clima sobre o mesmo na escala sazonal é mais baixa, se comparada à do Nordeste, Sul e Norte. Sem entrar em detalhes, tem a ver com a física dos sistemas regionais sobre cada uma dessas áreas. Outro aspecto importante a frisar: um El Niño (e uma maior probabilidade de seca no Nordeste e Norte e excesso de chuvas no Sul) já pode ser previsto, mas com um grau de acerto menor, com muitos meses de antecedência, mas existe a questão da comunicação da informação climática, nos casos em que há grande margem de incerteza. Não é trivial.
Além disso, alguns institutos têm começado a investir na previsão climática na escala plurianual a decadal, algo que só vem a ser possível a partir do momento em que se criou uma rede de monitoramento do oceano profundo. Nesse caso, um evento isolado de El Niño se torna um “fenômeno de tempo” oceânico e a ideia passa a ser prever fenômenos que o modulam numa escala mais longa (oscilação decadal do Pacífico, por exemplo). Aqui não se trata de prever uma seca com 3 anos de antecedência, mas sinalizar se na próxima década predominarão anos mais secos ou mais chuvosos, permitindo um planejamento de médio-longo prazo na operação de um sistema de reservatórios, por exemplo.
E finalmente, vêm as projeções de longo prazo, cujo papel e importância você evidentemente subestima de forma injustificada e o não entendimento do processo atual e cumulativo que são as mudanças climáticas. Todas as evidências científicas são muito fortes e para lá de suficientes para impor uma reestruturação profunda na sociedade humana, baseada num produtivismo/consumismo desenfreado que é inteiramente perdulário no que tange ao uso de energia e matéria-prima, que se volta para o supérfluo e, sobretudo que só serve à acumulação crescente de riqueza nas mãos de uns poucos, não importando se os rejeitos desse processo todo (de materiais radioativos a CO2) não podem ser processados pelo restante da natureza estabelecendo uma relação metabólica sustentável. Confundir, aliás, as projeções climáticas (e a realidade que já se descortina na forma de eventos como o Haiyan e as ondas de calor crescentes em todo o mundo) com uma mera previsão de aumento de temperatura é forçar a barra por demais. Aqui mesmo, neste blog, que visa não ter o status de produção científica, mas de divulgação desta, você encontrará uma série de referências que desdizem essa noção de recusa a aceitar a realidade. Não agir agora, negar o que é evidente (combustíveis fósseis são receita para o desastre e, por isso mesmo, são caros) e adotar uma fé cega de que alguma tecnologia virá a nosso resgate é um erro profundo. Não é a natureza que segue leis econômicas. A economia é que precisa reconhecer a materialidade do mundo e que o processo produtivo depende de sua adequação aos fluxos naturais de matéria e energia. Sugiro, aliás, que você cheque qual seria o custo da energia gerada via carvão e petróleo se fossem retirados os subsídios públicos a eles e embutidos os custos da saúde humana, degradação ambiental e risco climático. Com um imposto hiper-tímido sobre o carbono, a Austrália, país de carvão abundante, passou a ter a energia gerada por térmicas a um custo acima da eólica. Devo dizer, aliás, que seus dados sobre o custo das energias renováveis está inteiramente desatualizado. Em apenas 18 meses, o custo da energia solar nos EUA caiu 60% e é evidente que, sendo utilizada em escala (com a ampla difusão da microgeração residencial), esse custo seria ainda mais reduzido.
ExcluirAlexandre Costa,
ExcluirMuito obrigado pela atenção dedicada às respostas. Concordo com alguns pontos de vista, aprendi algumas coisas, enquanto outras continuaram sem resposta.
Concordo com você sobre a necessidade de se alterar profundamente a forma de desenvolvimento no mundo todo. Concordo com a necessidade, mas não acredito que isso possa algum dia vir a acontecer, sem que alguma catástrofe mundial de proporções gigantescas acabe com a civilização, como temos hoje.
Isso independe de emissões de CO2. Se(magicamente) nossas emissões caíssem a zero, e ainda conseguíssemos recapturar da atmosfera todo o CO2 já lançado pelo ser humano, não adiantaria nada, pois a corrida desenvolvimentista mundial esbarraria em muitos outros obstáculos intransponíveis, e por vários outros motivos milhões de pessoas continuarão morrendo. Por outro lado, se continuarmos emitindo CO2 adoidado, mas o mundo todo deixasse o projeto desenvolvimentista competitivo, e passasse ao modelo cooperativo entre todos os povos, poderíamos facilmente contornar todos os problemas de elevação de temperatura, e até de eras glaciais, quando, e se elas vierem.
Mas sabemos que isso não vai rolar de jeito nenhum(nem uma coisa e nem outra), e por isso as previsões de aumento de temperatura não sensibilizam e nem intimidam ninguém. Prova disso, é que os Emirados Árabes continuam construindo ilhas artificiais que serão sua aposentadoria para quando o petróleo acabar. Eles não gastariam seus bilhões de dólares, se o mar fosse realmente subir tanto né ?
Meus dados sobre energias renováveis estão bem atualizados. Afinal essa é minha área de trabalho. Energia solar, mesmo tendo caído 60% continuará inviável economicamente por séculos. A queda de custos tem um patamar mínimo, abaixo do qual é impossível descer, pois não se trata de ser energia solar, mas qualquer planta industrial, como as obras civis e sistemas de controle, caldeiraria, condicionamento e transmissão de energia, etc... O que poderá cair com a implantação em larga escala, restringe-se aos espelhos. O resto todo é usado para tudo no mundo todo há muito tempo. Não há motivos para crer que venham a cair substancialmente de preço. A última solar saiu 7 vezes mais cara que a hidrelétrica de Belo Monte. Só quem tem muito dinheiro pode ficar brincando de usina solar. As eólicas estão começando a ficar competitivas. Mas todas elas requerem uma base de geração firme(térmica, nuclear, ou hidrelétrica). Curiosamente, a turma engajada do ambientalismo resolveu combater a construção de hidrelétricas. Vá entender esse povo...
O caso dos El Ninos, continuam imprevisíveis do ponto de vista prático, pois decisões de investimento em barragens, silos de armazenamento, etc, não podem e nem devem ser tomadas com base em previsões de baixa confiabilidade. Na prática, continuam imprevisíveis.
Porque subestimamos as projeções de longo prazo ?
Simples. Por que muitos outros fatores, mais graves, e de prazos muito mais curtos afetam nossas vidas. Não me parece razoável guardar dinheiro hoje para meus tatara-netos sobreviverem ao aquecimento daqui a 100 anos, quando eu posso morrer de dengue no próximo verão. Ou quando minha casa pode ser inundada. ou quando pode surgir uma favela colada em minha rua. Temos muitas prioridades. O aquecimento é a última delas.
A geração de energia solar(elétrica) em escala residencial, é mais problema do que solução. Pelo menos para o Brasil.
Combustíveis fósseis não são caros porque sejam receitas para desastre. São caros porque a demanda por eles continua aquecida, e cada vez mais acirrada. Seguirão sendo caros enquanto houver consumidores disputando a produção.
Anibal, o que vc chama de "evento climático"? um furacão? uma enchente? Imagino que vc tenha procurado previsão de eventos meteorológicos, pois a evolução do clima tem sido bastante acertada, e até subestimada. (link)
ResponderExcluirAssim como em qualquer área (como engenharia civil, química, aerodinâmica), tenha em mente que primeiro vc precisa entender o que está sendo dito, e só depois (se for o caso) vc vai ter conhecimento pra apontar erros.
No caso do clima, o que mais se vê é gente que lê um artigo de blog 'cético' e já se acha entendedor o suficiente pra chamar toda uma comunidade científica de farsante.
Alexandre,
ResponderExcluirPrevisão climática subestimada, é previsão ERRADA. Erro, é erro. Seja positivo ou negativo. Não estou querendo ter valores absolutamente certos. Ficaria satisfeito com o mesmo nível de acerto das previsões meteorológicas para até dois dias.
Chamo de evento climático, um El Niño, que causa muita chuva no sul do Brasil e seca no nordeste, por vários meses. Chamo de evento climático o verão seco do sudeste do Brasil com esse de 2014, bem como as secas da Amazônia de 1926, 2005 e 2010.
Não sei se dentro da comunidade científica pertinente, esses fenômenos seriam classificados como eventos meteorológicos ou climáticos.
Do ponto de vista da população tanto faz se a meteorologia vai ser capaz de expandir suas previsões até chegar a prever anos de seca, de chuva, etc, ou se a climatologia vai ser capaz de diminuir aqueles 100 anos, até atingir o mesmo objetivo. Qualquer coisa entre 2 e 6 anos seria de inestimável valor, enquanto a de 100 anos tem pouquíssimo valor prático.
Para mim, uma enchente, ou um furacão não são eventos climáticos. Mas um ano de seca severa, sim.
Como você deve ter percebido, eu leio muito mais artigos do IPCC, do que qualquer material oriundo de blogs céticos.
Quanto às demais áreas do conhecimento, como as engenharias, a química previu que o silício seria capaz de conduzir e cortar a condução de eletricidade, quando corretamente excitado, enquanto a eletrônica projetou sistemas que lhe permitem ter os computadores de hoje. A indústria aeronáutica usa muita modelagem aerodinâmica teórica em computadores antes de criar uma nova aeronave. Mas NUNCA retiram um projeto de asa direto dos modelos, constroem o avião e mandam você voar nele. É preciso confirmar sempre. Confiar, nunca.
Não foi lendo em blogs que vi que os modelos são incapazes de reproduzir os climas observados. Eu vi isso no relatório do link que lhe mandei acima. Está tudo lá nas proximidades da página 94. Esse relatório foi produzido pelos integrantes do IPCC no Brasil.
Quanto à explicação da reversão de eras do gelo, procurei e nunca encontrei uma explicação lógica para a reversão dos processos de realimentação.
Por dedução lógica simples, processos de aquecimento só geram retroalimentação positiva, como aumento da temperatura dos oceanos, que liberam mais CO2, que aumenta a temperatura dos oceanos, que derrete as geleiras, que diminuem o albedo da terra, que aumenta a absorção de radiação solar, que aumenta a temperatura, e assim por diante...
O que acontece, e como acontece a reversão desses processos, visto que tem havido sucessivas eras do gelo, quase cíclicas de mais ou menos 100 mil anos ?
E por que eu, mas não somente eu, penso que a simples previsão acertada de um El Niño(ocorrência e intensidade), tenha maior importância do que a previsão de alteração da temperatura global do planeta em 100 anos ?
Porque um evento severo local ou regional poderá me matar hoje. Daqui a 100 anos, quem estiver vivo que encontre a solução.
Não há como salvar os que ainda não nasceram, se deixar morrer os que estão vivos.
Aníbal,
ResponderExcluirO clima é definido como a média de 30 anos da distribuição de temperatura, precipitação, umidade, pressão, etc. A seca de um ano com certeza não significa muito em termos de clima. Seca por 20 anos já teria um impacto importante nessa "média climática".
A física que rege a meteorologia é razoavelmente compreendida (com certeza mais compreendida do que se presumiria pela dificuldade em se prever o tempo além de uns poucos dias). O problema é que o nível de informação e processamento necessários para conseguir fazer essa conta com precisão e rapidez suficientes.
Aumentando a escala de tempo, temos previsões interanuais, dependentes principalmente de coisas como o El Nino. Isso envolve dificuldades similares à meteorologia diária, em outra escala. São necessárias observações muito melhores e detalhadas para se fazer previsões melhores do El Nino. Estão trabalhando nisso. Hoje, conseguem prever um El Nino de 12 meses à frente (ao menos no meu uso prático) com a precisão similar à previsão do tempo de 3 ou 4 dias à frente. Dá uma pista, mas muita coisa pode mudar no caminho. Não está sendo negligenciado como vc acusa (rápida e levianamente, se me permite). Simplesmente não há a tecnologia e estrutura pra se fazer isso, ainda.
Aumentando de novo a escala, existem as previsões interdecadais (uns 10-20 anos). Segundo uma palestra que assisti na net da WCC, isso está mais relacionado com as oscilações mais distantes do Equador, como a NAO. De novo, melhores observações e capacidade de processamento ajudariam a precisão disso.
Em suma, não é uma situação em que você percebeu uma lacuna que os climatólogos facínoras e embusteiros não chegaram à capacidade cognitiva de alcançar. É similar a acusar o engenheiro de picareta por ele não ser capaz de prever quantas marretadas na coluna derrubarão o prédio. Ele até conhece os processos, mas há tantas variáveis aqui que ele não vai conseguir te dar uma resposta confiável. No caso do clima essas previsões intermediárias são tão importantes que estão merecendo, sim, estudo da comunidade científica pra se apurar essas variáveis - mesmo com os republicanos nos EUA votando pra esvaziar as verbas de pesquisa nessa área.
Aí você diria "mas se estão apanhando pra prever o interanual, como é que se metem a prever clima daqui a 100 anos?". É porque a média de longo prazo é muito mais simples de se prever do que os resultados individuais que compõem essa média. É difícil (impossível?) prever que número o dado vai dar na próxima vez que eu jogá-lo, mas eu consigo prever com bastante facilidade que a média dos valores que ele vai dar depois de 500 lançamentos será bem próximo a 3,5. O que vc responderia a um ingênuo que perguntasse "mas se vc não consegue nem prever o próximo valor, como é que quer me fazer acreditar que sabe a média de 500 lançamentos?!"
ResponderExcluirO clima não depende de contas tão complicadas pra ser determinado. Mudanças climáticas antrópicas à parte, qualquer um consegue prever que vai chover bastante na Amazônia em janeiro de 2018, vai chover bem pouco em Cajazeiras em julho de 2024 e que vai fazer bastante frio na Antártica em junho de 2030 (mas como, se não conseguem dizer se vai chover na semana que vem?). É que o clima é determinado por condições de contorno, enquanto a meteorologia é resultado de variáveis prognósticas. Se as condições de contorno mudam, o clima vai mudar, independente de ser agora ou daqui a mil anos. Se o ângulo de incidência do sol na Antártica for perpendicular daqui a 1000 anos, vai ser quente na Antártica daqui a 1000 anos - independente da nossa incapacidade de fazer previsões meteorológicas.
Da mesma forma, se mudarmos a composição da atmosfera, numa progressão que podemos projetar para daqui a 100 anos, podemos calcular com razoável precisão que tipo de mudanças teremos daqui a 100 anos. Independente de conseguirmos ou não prever um El Nino daqui a 5 anos.
Essa parte de física atmosférica é bastante acessível para alguém com interesse suficiente e alguma base de exatas. Vc parece se encaixar nisso. Dê-se ao trabalho de entender por que essa variação da composição atmosférica importa.
Agora que vi a resposta detalhadíssima do Alexandre Costa... a dele com certeza com bem mais propriedade.
ResponderExcluirCaro Alexandre(que não é o Costa),
ResponderExcluirSe eu comer em média 2200 calorias por dia, nunca morrerei de fome ?.
Se eu passar um ano comendo só 500 calorias, vou morrer, e não vou conseguir chegar aos anos seguintes, para comer 3500 e restabelecer minha média de calorias. A temperatura média do deserto do Saara, pode ser de 30 graus, mas isso não tem nenhum valor prático, pois de dia faz 50 graus às 3 da tarde, e à noite faz 10. A temperatura média mundial é de 15 graus, mas temos a Antártida, o Saara e todos os oceanos do mundo. O CLIMA que realmente interessa é o clima onde moro e onde planto minha comida. A média mundial não serve pra nada.
Você pode acertar que a média de lançamento do dado em quinhentos lançamentos será de 3,5, mas não pode garantir cada um dos próximos cinco, que serão os que vão determinar se eu vou ganhar ou perder na roleta, que é o que realmente interessa.
As médias podem ter sua importância, mas nunca podemos neglicenciar os desvios. Principalmente quando falamos de nossa sobrevivência. Médias de oscilação de clima de 30 anos, embora sejam fáceis de se prever, não servem pra nada(ou quase nada).
Prever um El Nino pra 12 meses, sem entender(e nos explicar) como funcionam os mecanismos que o regem, descredencia a comunidade a fazer balanço termodinâmico do planeta.
Prever que o clima se aquece com mais CO2 na atmosfera, seria válido se fosse encontrada, comprovada e explicada a taxa com que isso acontece.
Existe um problema de lógica que nunca foi solucionado(ou não nos foi explicado) pelos climatologistas quando da reversão de aquecimentos e resfriamentos nos ciclos de eras glaciais, que se refere aos processos de retroalimentação positiva e negativa. Enquanto isso não for descoberto, seguiremos apenas supondo que mais CO2, gera mais calor, que gera mais CO2, que libera mais CO2 dos oceanos, que derrete geleiras, que modificam o albedo, que gera mais calor, que aumenta a temperatura da atmosfera que aumenta sua capacidade de reter vapor d'água, que gera mais efeito estufa, até que a Terra seque todos os oceanos. Existe ALGUMA coisa que reverte o aquecimento, bem como outra coisa que reverte o resfriamento, e que nunca vi em nenhum lugar alguma explicação convincente para isso.
Fazer continhas de radiação de ondas longas, e o balanço de energia resultante é moleza demais, e nem seria necessária toda a estrutura de pesquisa bancada pela sociedade mundial, no IPCC.
Daí a aplicar essas continhas ao clima, vai uma longa caminhada. Deram apenas passinhos de formiga, mas pensam e querem nos fazer pensar, que têm visão e alcance de águia.
Você me diz que é moleza prever que em janeiro de 2018 vai chover bastante na Amazônia. Será ? Prever o óbvio não tem nenhum valor prático, e nem há a necessidade de supercomputadores para isso. O que interessa de verdade na ciência do clima, é a previsão do excepcional, e não a obviedade estatística. Em 1926, em 2005 e em 2010, você teria errado sua previsão sobre chuvas na Amazônia. Teria acertado em todos os outros anos, mas teria falhado justamente quando sua previsão teria mais valor para todos.
Aí é que entram os supercomputadores e as tentativas de se modelar, para DETERMINAR o clima em cada região, em um tempo que tenha utilidade prática.
Continuação...
ResponderExcluir" Não está sendo negligenciado como vc acusa (rápida e levianamente, se me permite). Simplesmente não há a tecnologia e estrutura pra se fazer isso, ainda. "
Quanta estrutura está sendo dispendida com o IPCC, versus o quanto está sendo gasto na busca do conhecimento necessário à previsão de El Ninos ? Se os valores dispendidos seguirem a mesma ordem de grandeza das importâncias relativas, peço minhas desculpas pela leviandade.
" Se o ângulo de incidência do sol na Antártica for perpendicular daqui a 1000 anos, vai ser quente na Antártica daqui a 1000 anos - independente da nossa incapacidade de fazer previsões meteorológicas. "
Para que o ângulo do sol na Antártida mude, penso em duas variáveis, uma das quais é fácil de se prever, e já é conhecida pelos astrônomos, que é a precessão dos equinócios(que faria o periélio coincidir com o verão no hemisfério sul. Já o movimento das placas tectônicas poder ser observado e medido com certa facilidade, mas deve ser impossível de ser previsto, pois a taxa e a direção de movimento das placas se modificam com o passar do tempo. Com isso deve ser impossível, na adequada escala de tempo prever quando poderemos plantar cana de açúcar lá, para comprarmos logo nossas fazendas.
Aníbal,
ResponderExcluirAbaixo trechos teus com respostas:
As médias podem ter sua importância, mas nunca podemos neglicenciar os desvios.
E quem negligencia os desvios? A média global de temperatura de superfície é apenas um indicador (útil) para compararmos a temperatura atual do sistema climático com épocas passadas. Não é completo (a maior parte do calor vai para os oceanos), nem serve pra vc decidir se sai de casa de guarda chuva, nem se vai plantar milho em novembro ou dezembro.
É apenas um número que pode ser comparado com dados de paleoclima disponíveis.
Prever que o clima se aquece com mais CO2 na atmosfera, seria válido se fosse encontrada, comprovada e explicada a taxa com que isso acontece.
A física que prevê e explica como o CO2 retém calor na atmosfera já tem mais de 100 anos de idade, e nem foi desenvolvida especificamente pra explicar o clima. São propriedades de uso corrente na ciência e na indústria, e incontroversas. É um assunto que, dado seu interesse, recomendo que você dispenda algum tempo se inteirando dele. Posso ajudar, se vc quiser.
Quanto aos efeitos disso no clima, também há pesquisa extensa, feita por muita gente diferente em épocas diferentes, antes e depois de existir IPCC. Nessa linha, o assunto “sensibilidade climática” é um que te esclareceria perguntas importantes.
Existe ALGUMA coisa que reverte o aquecimento, bem como outra coisa que reverte o resfriamento, e que nunca vi em nenhum lugar alguma explicação convincente para isso.
Não sou profissional da área, mas não fica um círculo vicioso eterno não. Vou repassar o que aprendi sobre isso.
Primeiro, para os oceanos emitirem CO2, a pressão parcial de CO2 dos oceanos tem que ser maior que a do ar. Se for menor, os oceanos absorvem
CO2. Se for maior, eliminam.
Essa pressão varia em função da temperatura. Aumenta a temperatura, aumenta a pressão de CO2 (pCO2), e aumenta a eliminação de CO2 dos oceanos para a atmosfera.
Quando o CO2 atmosférico atinge uma concentração igual à dos oceanos, esses param de eliminar CO2. Na verdade continua havendo troca gasosa, mas o resultado líquido é neutro.
E, claro, quanto mais CO2 os oceanos eliminam, menos eles têm, o que baixa a pCO2 oceânica. O estoque de CO2 dos oceanos não é ilimitado. Depois de um tempo, tende a ficar em equilíbrio.
É uma pergunta relevante que alguém interessado pode e deve fazer ao aprender um assunto, mas NÃO é “um problema de lógica que nunca foi solucionado”.
(cont.)
ResponderExcluirQuanta estrutura está sendo dispendida com o IPCC, versus o quanto está sendo gasto na busca do conhecimento necessário à previsão de El Ninos ?
O IPCC em si é surpreendentemente pequeno. O grosso do trabalho é feito por cientistas que não recebem nada por esse trabalho. Pesquisando um pouco na internet no pouco tempo disponível, encontrei esse link mencionando apenas 10 funcionários em tempo integral (link).
Há pesquisas pra se prever El Nino, assim como há em várias outros temas nessa área. Aliás, dada a importância econômica de se prever isso, deve haver bastante interesse e fundos nesse sentido. Aliás, saiu um estudo novo sobre isso há pouco tempo (link). O Alexandre Costa pode ter mais informações sobre isso.
Onde foi que vc ouviu que o IPCC teria uma estrutura enorme?
Com isso deve ser impossível, na adequada escala de tempo prever quando poderemos plantar cana de açúcar lá, para comprarmos logo nossas fazendas.
O que eu quis dizer, e vc deve ter entendido, é que mudando as condições de contorno pode-se prever que o clima muda, independente disso ocorrer em 100, 1000 ou 100 mil anos. Não é previsão meteorológica.
PS: não aparece meu sobrenome quando faço login pelo google, mas é Alexandre Lacerda. Só pra vc poder diferenciar do Costa.
Alexandre Lacerda,
ResponderExcluirConcordo com você:
" A média global de temperatura de superfície é apenas um indicador (útil) para compararmos a temperatura atual do sistema climático com épocas passadas. "
É isso mesmo que eu penso: A média global serve para estudos e aprendizado. Nada mais, pelo menos até agora. Não serve para eu gastar 10 vezes mais com energia elétrica. Não serve para eu derrubar minha casa à beira-mar e construir uma na montanha. Não serve para eu construir silos, ou represas. Não serve pra nada disso. Mas é justamente para isso, que os cientistas do IPCC afirmam que elas servem.
... e comparando esses dados de paleoclima, tem-se evidencias de que 2 ou 3 graus a mais não é nada trivial. No Plioceno, com esse aumento de temperatura, o nível do mar era 25 m mais alto.
ExcluirEntão avise aos Emirados Árabes que acabaram de construir ilhas artificiais, e continuam construindo outras, como uma das formas de garantir renda no futuro, quando o petróleo deles acabar. Explique a eles que eles gastaram dinheiro à toa, e que o investimento deles não vai durar nem 100 anos, pois de acordo com o último relatório do IPCC, serão no mínimo mais 2,5 graus até 2100.
ExcluirEles nem devem ter contratado nenhuma consultoria a respeito de nível do mar, antes de gastarem 20 bilhões de dólares na construção da primeira ilha. Eles ainda vão construir mais duas sem consultar ninguém. Aliás, sem nem ler os relatórios do IPCC. Logo eles que contribuem tanto para o aumento de CO2 na atmosfera. Ninguém os avisou.
Aníbal, de novo o que parece é que vc se agarra a qualquer linha de raciocínio frágil pra negar evidências (que vc nem quer ver).
ExcluirSe alguém gasta bilhões com um arquipélago artificial, seria de se imaginar que levariam em conta o aumento do nível do mar projetado de até 1,8 m até o fim do século. Seria também de se imaginar que fizessem um bom trabalho e construíssem um sistema de esgoto que funcionasse (link). Ou que fizessem ilhas que não se erodissem já hoje (muito antes dos níveis de 2100) - link.
Aníbal, vc não conhece -e não quer conhecer- o assunto que critica tanto. Nessa postura, não há razão pra continuar o "debate".
Alexandre Lacerda,
ExcluirAconteceu com você o mesmo que aconteceu comigo, no caso da estrutura do IPCC, de ver uma notícia na Internet e se precipitar. Você se precipitou ao acusar o sistema de esgoto da ilha inteira, quando o problema era específico de um dos milhares de condomínios que foram construídos nas ilhas. Alguma construtora fez merda, literalmente. Mas isso nada tem a ver com a Ilha. Qualquer idiota(desde que tenha dinheiro), pode comprar um terreno lá e construir. Se construir errado, vai dar merda. E deu.
Apareceu um tempinho extra, e resolvi ler a notícia a respeito do problema do sistema de esgoto na ilha dos árabes.
Na mesma notícia, alguns parágrafos abaixo temos:
" While the plumbing problems do not extend to the multi-million pound villas, lavish hotels and apartment blocks on the rest of the Palm, the extravagant project has not been without its own problems. "
Quem idealizou a construção das ilhas deve ter contratado uma excelente consultoria a respeito de elevação de nível do mar, mesmo sem ter sido capaz de evitar que construtoras fizessem merda durante a ocupação das ilhas.
Sobre os custos e estrutura do IPCC, encontrei uma planilha com custos de salários dos integrantes do IPCC da Inglaterra( https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/285562/Senior_staff_at_the_IPCC_as_at_30_September_2013.ods ) .
ResponderExcluirEm 2013, eles custaram 16.809.000 libras esterlinas, que equivalem a 27.746.000 dólares. Falta o dinheiro gasto no resto mundo, inclusive no Brasil. Na falta de dados realmente concretos, a acusação fica mantida.
Aníbal, por favor, procure a sigla IPCC no site www.gov.uk, no campo "search". Veja que instituição aparece.
ResponderExcluirSe não estiver convencido, procure Amanda Kelly IPCC no Google (é o primeiro nome da planilha que vc linkou). Veja que instituição aparece.
Cara, a não ser que vc tenha realmente interesse em descobrir e aprender algo sobre ciência do clima, ou políticas de mitigação, ou impactos econômicos das políticas públicas pertinentes, não há motivo para eu continuar uma conversa com alguém que, aparenetemente, corre pra acusar com qualquer indício frágil que encontra, ao mesmo tempo que ignora qualquer referência da ciência que a gente forneça.
Alexandre,
ResponderExcluirVocê disse:
" Aníbal, de novo o que parece é que vc se agarra a qualquer linha de raciocínio frágil pra negar evidências (que vc nem quer ver). "
Eu me agarro em umas bobagens, como o fato de os modelos de clima não conseguirem reproduzir o clima observado e medido, dando diferenças absurdas. Também no fato de o índice de 95% de certeza(do AR-5), ter sido cuspido no papel, sem nenhuma base matemática para tal. Detalhes pequenos que deixam as pessoas em dúvida, quanto à qualidade das previsões. Detalhes que poderiam explicar muita coisa, mas que são ignorados e às vezes, até escondidos.
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Quanto à referência que você forneceu sobre as confirmações das previsões de clima feitas pelo IPCC, desde 1990 até 2006, eu vi sim. É uma pena que se continuarmos o preenchimento daqueles gráficos, a subida de temperatura vai estancar a partir de 1998 até 2014. O que em termos estatísticos, é tão irrelevante quanto o período usado pelo artigo apontado por você. Parece com previsão de Astrólogos para o ano novo: Vai morrer um ator famoso...
Valeu pela conversa. De qualquer maneira não poderei seguir nesse bate papo, pois preciso de um bom tempo para fazer um monte de declarações de IR.
Até mais.
OS PROVÁVEIS IMPACTOS DA EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL NO MEIO AMBIENTE...
ResponderExcluirhttp://pedroseverinoonline.blogspot.com.br/2011/01/os-provaveis-impactos-da-exploracao-do.html
Muito tem se discutido sobre o pré-sal, porém, até agora nada se falou sobre seus impactos ambientais. Este deve ser outro assunto na pauta do governo. De acordo com cálculos de ambientalistas, se o Brasil usar todas as reservas estimadas do pré-sal, vai emitir ao longo dos próximos 40 anos, em torno de 1,3 bilhões de toneladas de CO2 por ano só com refino, abastecimento e queima de petróleo. Isso quer dizer que, ainda que o desmatamento da Amazônia, principal causa das emissões brasileiras, seja zerado nos próximos anos, tudo indica que as emissões decorrentes do pré-sal manterá... O Brasil entre os três maiores emissor de CO2 do mundo.
Apesar do uso de alta tecnologia de ponta na exploração do pré-sal... Mesmo assim, é inevitável, vazamentos de óleos... Como aconteceu no ano/2010, no Golfo do México, em exploração de petróleo no mar do Caribe... Que trouxe perdas irreparáveis para todo ecossistema, ou seja, fauna e flora do mar do Caribe... Sendo assim, a exploração do pré-sal aqui no Brasil, será inevitável o vazamento de óleo para o nosso oceano atlântico... Trazendo prejuízos irreparáveis para a fauna e a flora do litoral do sudeste e sul brasileiro... Além de provável perda do “Custo-Beneficio”... De investimento na exploração do pré-sal...Que gira em torno de 600 bilhões de Reais...Dentro de 4(quatro) décadas próximas(2010 à 2050)...Isto possivelmente ocorrerá devido da provável exploração do pré-sal por outros países tido como continentais, como Estados unidos da America(EUA), Canadá, China, Índia, Austrália, entre outros...Que certamente, dento de suas milhas marítimas, possuem também, suas área de pré-sal...Então, como a super-exploração do pré-sal, em “Escala Mundial”...logicamente, cairá o preço do “Barril de Petróleo”...No mercado da OPEP(operadora de produção de petróleo)...Que por via de conseqüência, diminuirá o valor do barril de petróleo, em escala Mundial.
PEDRO SEVERINO DE SOUSA
JOÃO PESSOA(PB), 12 DE JANEIRO DE 2011