informações publicadas na revista Nature, algumas medidas chegaram a detectar percentagens de metano no ar no piso de um desses buracos de 9,6%, o que é impressionante, dado que a presença média de metano na atmosfera terrestre no presente é da ordem de 1800 partes por bilhão (mais de 50 mil vezes menos!).
Como se estivesse num freezer, a matéria orgânica presente no permafrost não se decompõe, ou o faz a um ritmo extremamente lento. Não é à toa que exemplares de seres que morreram na região há milhares de anos são encontrados com altíssimo grau de preservação, caso do famoso exemplar de filhote de mamute, mostrado na foto abaixo que, estima-se, tenha vivido há 10 mil anos e cuja tromba, olhos e vários órgãos internos se encontravam simplesmente intactos.
Acontece que o aquecimento global tem levado a uma redução da área do permafrost, a um aumento da exposição deste a temperaturas acima do ponto de derretimento e, portanto, à decomposição da matéria orgânica nele contida e a emissão de gases como o metano (cuja molécula, individualmente, tem um poder de absorção de calor estimado em cerca de 21 vezes aquele do CO2). O aumento da concentração deste gás (e também do CO2) na atmosfera em função do derretimento do permafrost é, portanto, um dos mais perigosos feedbacks climáticos que está sendo disparado: quanto mais quente, mais permafrost derrete e mais matéria orgânica é exposta à decomposição, liberando mais metano e aumentando as temperaturas planetárias.
Mas ao invés de serem gradualmente liberados, os gases resultantes da decomposição da matéria orgânica presente no permafrost permanecem muitas vezes aprisionados, com as camadas superiores do solo servindo de "tampa". Daí, como os estudos mais recentes sugerem, a pressão dos gases que sob a superfície se acumulam cresce até um ponto em que mandam essa "tampa" pelos ares. Uma vez na atmosfera, particularmente o metano, cuja concentração atmosférica já cresceu duas vezes e meia desde os tempos pré-industriais, faz crescer a Forçante Radiativa, isto é, a quantidade de energia, por unidade de área e por unidade de tempo que se acumula no sistema climático terrestre (as estimativas são de que esse excesso de metano é responsável por aproximadamente 16% do aquecimento global verificado, colocando-o como o segundo gás de efeito estufa de vida longa mais importante dentre os produzidos por atividades humanas, atrás somente do CO2).
E as crateras siberianas sugerem claramente que, no que diz respeito à crise climática, "o buraco é mais embaixo", ou seja, de que efeitos até agora desconhecidos e imprevisíveis do aquecimento global venham a se revelar ao longo dos anos, especialmente quando há indícios de que a suposta "pausa" se encerrou e teremos nova aceleração de aumento das temperaturas globais nos próximos anos.
Também nos recorda que não só não estamos cuidando dos estoques naturais de metano (além do permafrost, os clatratos oceânicos também podem ser uma perigosa fonte desse gás caso a temperatura global continue a subir no ritmo atual), como continuamos a sermos responsáveis por emitir volumosas quantidades desse gás, especialmente em relação com as atividades agropecuárias (com destaque para a fermentação entérica, isto é, a produção de metano no aparelho digestivo de animais ruminantes). Fica claro que o debate de nossa dieta, conjuntamente com o da matriz energética, do desmatamento e dos modais de transporte, também precisa ser encarado de frente se nos pretendemos a resolver a crise climática. Isto é algo que abordaremos em breve, em outro artigo em nosso blog.
Como se estivesse num freezer, a matéria orgânica presente no permafrost não se decompõe, ou o faz a um ritmo extremamente lento. Não é à toa que exemplares de seres que morreram na região há milhares de anos são encontrados com altíssimo grau de preservação, caso do famoso exemplar de filhote de mamute, mostrado na foto abaixo que, estima-se, tenha vivido há 10 mil anos e cuja tromba, olhos e vários órgãos internos se encontravam simplesmente intactos.
Fonte: http://news.bbc.co.uk/ |
Acontece que o aquecimento global tem levado a uma redução da área do permafrost, a um aumento da exposição deste a temperaturas acima do ponto de derretimento e, portanto, à decomposição da matéria orgânica nele contida e a emissão de gases como o metano (cuja molécula, individualmente, tem um poder de absorção de calor estimado em cerca de 21 vezes aquele do CO2). O aumento da concentração deste gás (e também do CO2) na atmosfera em função do derretimento do permafrost é, portanto, um dos mais perigosos feedbacks climáticos que está sendo disparado: quanto mais quente, mais permafrost derrete e mais matéria orgânica é exposta à decomposição, liberando mais metano e aumentando as temperaturas planetárias.
Mas ao invés de serem gradualmente liberados, os gases resultantes da decomposição da matéria orgânica presente no permafrost permanecem muitas vezes aprisionados, com as camadas superiores do solo servindo de "tampa". Daí, como os estudos mais recentes sugerem, a pressão dos gases que sob a superfície se acumulam cresce até um ponto em que mandam essa "tampa" pelos ares. Uma vez na atmosfera, particularmente o metano, cuja concentração atmosférica já cresceu duas vezes e meia desde os tempos pré-industriais, faz crescer a Forçante Radiativa, isto é, a quantidade de energia, por unidade de área e por unidade de tempo que se acumula no sistema climático terrestre (as estimativas são de que esse excesso de metano é responsável por aproximadamente 16% do aquecimento global verificado, colocando-o como o segundo gás de efeito estufa de vida longa mais importante dentre os produzidos por atividades humanas, atrás somente do CO2).
E as crateras siberianas sugerem claramente que, no que diz respeito à crise climática, "o buraco é mais embaixo", ou seja, de que efeitos até agora desconhecidos e imprevisíveis do aquecimento global venham a se revelar ao longo dos anos, especialmente quando há indícios de que a suposta "pausa" se encerrou e teremos nova aceleração de aumento das temperaturas globais nos próximos anos.
Também nos recorda que não só não estamos cuidando dos estoques naturais de metano (além do permafrost, os clatratos oceânicos também podem ser uma perigosa fonte desse gás caso a temperatura global continue a subir no ritmo atual), como continuamos a sermos responsáveis por emitir volumosas quantidades desse gás, especialmente em relação com as atividades agropecuárias (com destaque para a fermentação entérica, isto é, a produção de metano no aparelho digestivo de animais ruminantes). Fica claro que o debate de nossa dieta, conjuntamente com o da matriz energética, do desmatamento e dos modais de transporte, também precisa ser encarado de frente se nos pretendemos a resolver a crise climática. Isto é algo que abordaremos em breve, em outro artigo em nosso blog.
Quanto de metano é necessário para que o aquecimento global "desembeste" de vez?
ResponderExcluirNão entendi muito bem a parte da liberação do carbono.
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