Capa do livro de Luis Fernando Verissimo |
1 - Foi um meteorito.
2 - Há insistentes rumores de guerra com a Argentina e o governo está construindo abrigos antiaéreos para a população.
3 - Que buraco?
4 - Todas as ruas estão sendo rebaixadas para aumentar a altura dos prédios, que assim pagarão mais impostos.
5 - Está bem, está bem, mas e o problema dos negros nos Estados Unidos?
6 - Estão procurando restos de uma antiga civilização que viveu aqui, os Cariocas (...).
7 - Como vamos todos entrar pelo cano, estão instalando um bem grande.
8 - Você quer brigar?
9 - São as obras do novo aeroporto, e não faça mais perguntas.
10 - É para o metrô que só ficará pronto quando o… eu sabia que você não ia acreditar."
Hoje, começamos uma série de artigos, dedicados à refutação do negacionismo à luz, dentre outras fontes, do que traz a parte referente ao WG1 (Grupo de Trabalho sobre as Bases Físicas da Mudança Climática) do 5º Relatório do IPCC, cujo sumário foi recém-divulgado.
É impressionante como há análogos quase perfeitos entre essas várias vertentes do "negacionismo do buraco do metrô" verissimiano e o negacionismo climático e, portanto, usarei o mote de LFV. Tentarei explicitar o paralelo entre algumas das "dez coisas para dizer" e "As Mentiras que os Negadores Contam". Estas últimas são muitas, bem mais do que dez, portanto terei de ser seletivo. Todas são vergonhosas à luz do que se conhece não só da Ciência do Clima, mas até de fundamentos básicos de disciplinas como Física, Química, etc. E constituem escalas diferentes de negacionismo. A grosso modo, pode-se negar o fato, negar o mecanismo, negar as causas, negar os impactos, etc. Comecemos, então...
"Que buraco?"
Evolução temporal da anomalia de temperatura média global. Como se vê, o aquecimento parou e o mundo está resfriando... Só que não! Fonte: IPCC AR5. |
Este é o chamado "negacionismo de 1º grau". Nega-se o fato. Nega-se a própria realidade. Para refutá-lo, como coloquei anteriormente neste post e em outros, basta olhar para as evidências objetivas. A rede de estações de superfície, satélites, radiossondas e demais instrumentos de medida corroboram com a elevação da temperatura da superfície da Terra e de sua troposfera, bem como o esperado ao se aumentar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. É loucura suficiente para fazer o sujeito teimar com um termômetro...
A Figura ao lado deveria ser suficiente para dirimar quaisquer dúvidas sobre isso, pois a tendência de aquecimento ao longo do século XX é visível para qualquer um. Ela mostra a evolução, ao longo de mais de um século e meio, da anomalia de temperatura média global, isto é, quanto essa temperatura diferiu daquela do período de referência (1961-1990). Na série anual, há subidas e descidas mais evidentes, afinal de um ano para o outro há e sempre haverá bastante variabilidade. Ignorando o todo, os negadores se apegam ao finalzinho da série. Ligam o pico isolado de 1998 (quando ocorreu o maior El Niño de que se tem registro) com os anos mais recentes, mas é evidente que isto é manipulação, afinal bastaria pegar qualquer outro ano (1997 ou 1999 serviriam) e a "brilhante conclusão" dos negadores (de um aquecimento supostamente inexistente há 15 anos) se desmancha no ar. Ao se considerar não cada ano, mas cada década, o que se vê é no mínimo espantoso. O aquecimento na segunda metade do século XX é evidente, é acelerado e persiste claramente até o presente. A primeira década do século XXI é a mais quente de todo o registro, já se aproximando de 1ºC acima do início do século. Ou seja, globalmente, considerando devidamente as escalas de tempo e a variabilidade interanual (isto é, de um ano para outro), não há sinais de pausa no aquecimento global. Assim, a variante "light" do negacionismo de 1º grau ("o aquecimento acabou") é tão falsa quanto sua versão delirante ("estamos indo para uma era glacial"), que será desmontado em outra publicação.
Mudança na temperatura de 1901-2012 por estações de superfície. Fonte: IPCC AR5. |
Quando os negacionistas usam a última versão (a ingênua) do negacionismo de 1º grau, ignoram ou uma, ou outra, ou ambas as flutuações (no tempo e no espaço). É algo do naipe... "Este ano, em Setembro fez um frio em São Paulo que não fazia há anos" ou "Nevou na serra catarinense este ano e não me lembro disto ocorrer!" Às vezes, esse tipo de afirmação é baseado em mera impressão; às vezes é um fato real, mas que nada significa para a média de temperatura global de longo prazo, que é o que constitui o aquecimento global. É um ponto de vista flagrantemente ingênuo.
Não tem como negar. O planeta, globalmente, na escala de vários anos a décadas, segue aquecendo, e muito! O "buraco" existe (o da camada de ozônio também, negadores!). Mostraremos, em seguida que sabemos quem o cavou, como o cavou, porque ele é diferente de outros buratos e que o mesmo é muito, muito profundo!
Olá Professor.
ResponderExcluirSaberia me informar como é feito o calculo da anomalia de temperatura? Ou ainda, teria a relação de estações meteorológicas ( ou imagens) utilizadas para tal?
Olá Ariel,
ExcluirUma boa descrição das estações e métodos é apresentada neste link:
http://www.skepticalscience.com/surface-temperature-measurements-advanced.htm
Abraços!