Até 6 graus de aquecimento na Amazônia na estação de inverno. Possibilidade de 30% de redução na vazão do São Francisco. Aumento da intensidade e frequência das enchentes e deslizamentos, atingindo populações em áreas de risco. Impactos profundos em nosso País, recaindo sobre os mais pobres e vulneráveis são consequências prováveis ao longo do século XXI em cenários globais de elevadas emissões de gases de efeito estufa, segundo o 1º Relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Escrevo este "post" durante o lançamento do mesmo na Conferência de Mudanças Climáticas, em São Paulo.
O Painel repete a estrutura do IPCC de 3 grupos de trabalho (GTs): um, que investiga as bases científicas da mudança no clima, outro que avalia vulnerabilidade, impactos e possibilidades de adaptação e um terceiro, que trabalha na construção de políticas de mitigação. O 1º Relatório foi escrito com a contribuição de centenas de cientistas brasileiros, dentre os quais me incluo, na condição de autor principal de um dos capítulos do GT-1.
O Painel repete a estrutura do IPCC de 3 grupos de trabalho (GTs): um, que investiga as bases científicas da mudança no clima, outro que avalia vulnerabilidade, impactos e possibilidades de adaptação e um terceiro, que trabalha na construção de políticas de mitigação. O 1º Relatório foi escrito com a contribuição de centenas de cientistas brasileiros, dentre os quais me incluo, na condição de autor principal de um dos capítulos do GT-1.
O Relatório indica riscos claros associados à mudança no Clima para a sociedade brasileira. É preciso dar uma mensagem mais clara e objetiva à sociedade: estamos diante de um desafio sério, real. Precisamos defender o direito à qualidade de vida das futuras gerações.
Infelizmente, as movimentações recentes do governo federal tem-se colocado na contra-mão da necessária defesa do clima: Redução de IPI de automóveis, pouco incentivo às energias renováveis, subsídios a termelétricas (como a térmica do Pecém), mudanças deletérias no Código Florestal, leilões do petróleo (2 ppm de CO2 leiloados de uma única vez), etc., são algumas de suas políticas, em franca contradição com a própria legislação brasileira de clima.
Estamos também, ao meu ver, em condições ruins na guerra de informação. A mídia assegura muito espaço aos negacionistas climáticos e à vilania que eles praticam. Ao dizerem o que a maioria da sociedade deseja ouvir, isto é, que está tudo bem, eles têm ganho espaço. Em nossa democracia precária, em que interesses pessoais mesquinhos se entrelaçam com a pressão dos lobbys (incluindo petroquimico, agronegócio, automobilístico), a predisposição contrária da sociedade às ações para limitar as emissões pode ser o golpe mortal nas nossas possibilidades de salvar o futuro.
Há uma demanda pela popularização da Ciência do Clima, em torno do qual precisamos ser mais enfáticos, mais abertos, mais diretos e reivindicar instrumentos e financiamento para difundir, educar, etc. Não tem jeito. O Século XXI condenou a comunidade de clima a sair da paz dos laboratórios. O aquecimento global e a desestabilização do clima são contra qualquer perspectiva de um mundo justo e solidário. Não é o fim do mundo, mas quase certamente é o fim da possibilidade de um mundo melhor.
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