|
Imagem de satélite, destacando a Zona de Convergência Intertropical, que, quando posicionada mais ao sul, produz chuvas sobre o norte do Nordeste Brasileiro. |
Com raras exceções (como foi o caso de 2004, em que um sistema de vórtice permaneceu praticamente estacionário sobre o estado por vários dias), a maior parte dos reservatórios do Ceará não costuma acumular quantidades significativas de água durante o período da chamada pré-estação (dezembro e janeiro). Em determinadas circunstâncias, somente em plena estação chuvosa é que a tendência ao declínio (por consumo, evaporação e outras perdas) se reverte e, em alguns casos de anos secos, mesmo no período mais chuvoso (março e abril, quando predomina a influência da Zona de Convergência Intertropical), isso sequer acontece, havendo apenas uma estabilização do volume armazenado ou uma desaceleração do ritmo de perdas.
Em virtude disso, ainda que o prognóstico para 2015 fosse de uma estação chuvosa com precipitação abundante, ainda assim seria necessário esperar alguns meses para que haja recarga dos reservatórios hídricos.
|
Prognóstico da Funceme para Dezembro-Janeiro-Fevereiro |
Nunca se deve descartar uma excepcionalidade positiva, mas os prognósticos da pré-estação apontam no sentido contrário. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos prevê, para Dezembro-Janeiro-Fevereiro, ou seja, pré-estação chuvosa e primeiro mês da quadra chuvosa,
maior chance de precipitações abaixo da média no total do trimestre, estimando probabilidades respectivamente de chuvas abaixo, em torno e acima da média de 25%, 33% e 42%. Valores próximos dessas probabilidades, também apontando maiores chances de chuvas abaixo da média, foram atribuídas pelo
CPTEC/INPE e outras instituições (25%, 35%, 40%).
É nesse contexto que é particularmente preocupante o quadro atual das bacias hidrográficas do estado, mostrada na figura a seguir.
|
Porcentagem de reservatórios com menos de 10% da sua capacidade (vermelho), entre 10 e 25% (amarelo), entre 25 e 50% (verde) e acima de 50% (azul), por bacia e no estado como um todo, segundo o quadro atualizado em 05/12/2014. Fonte: http://www.hidro.ce.gov.br/ |
No estado como um todo, mais da metade dos reservatórios monitorados pela
COGERH (53%, ou 79 dos 149) encontra-se praticamente seca (menos de 10% do volume) e outros 24% (35 reservatórios) estão com 10 a 25% de sua capacidade. Esse quadro é quase generalizado, sendo que somente a Bacia do Salgado, na região do Cariri tem mais da metade dos açudes com mais de 25% do seu volume ocupado. Em alguns casos, a esmagadora dos reservatórios está seca ou em vias de secar, como as bacias do Curu (92%), Crateús/Ibiapaba (no gráfico, como Parnaíba, 82%) e Banabuiú (68%).
|
Evolução da porcentagem de volume ocupado nos 10 maiores reservatórios do Ceará de 2010 a 2014. O açude Figueiredo foi inaugurado somente em junho de 2013. |
Praticamente todos os maiores reservatórios cearenses permanecem em declínio acentuado do volume de água. Os dois maiores, o Castanhão e o Orós, principais reservas hídricas para a região metropolitana de Fortaleza, saíram, respectivamente, em dois anos, de 72% para 27% e de 94 para 51%. Quatro dos dez maiores açudes cearenses estão praticamente secos, com menos de 10% de sua capacidade ocupada (Babanuiú, Figueiredo - que não ganhou água desde sua inauguração há um ano e meio -, Pentecoste e General Sampaio).
Há casos emblemáticos, como o do Açude Sítios Novos, que servia à termelétrica do Pecém, que encontra-se com apenas 3% de seu volume e o do Edson Queiroz, que detém apenas 22% do seu volume máximo e está sendo proposto como fonte de abastecimento para a mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria.
|
Vista noturna da UTE-Pecém, que consome 3,5 milhões de litros de água por segundo, equivalente ao consumo de quase 600 mil pessoas. |
Reafirma-se a necessidade de resolver a questão do aumento de demanda proposto com base no modelo de desenvolvimento vigente. Como se não bastasse o fornecimento de grandes quantidades de água para o agronegócio e a carcinicultura principalmente no Vale do Jaguaribe, o início de operação de grandes consumidoras de água no Complexo do Pecém demonstrará a sua insustentabilidade hídrica. Como mostramos em
texto anterior, somente três empresas demandarão 3500 litros de água por segundo (ou 12,6 milhões de litros de água por hora), sendo que a primeira delas, a termelétrica, já opera. Somente essas três empresas consumirão praticamente 1/5 de toda a água do Ceará, uma verdadeira irracionalidade quando se fala do estado brasileiro que tem o maior percentual de sua área considerada como semi-árido...
Nenhum comentário:
Postar um comentário