terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Publicado pelo OPOVO: "Não basta banho curto, nem reza para São Pedro"

Em intervenção realizada na Praça do Ferreira, promovida pelo
Fórum aberto "Ceará no Clima".
Nesta terça-feira, 09 de dezembro, o jornal OPOVO publicou um artigo enviado para lá de minha autoria, que republico aqui em meu blog.

Para entender melhor o contexto, recomendo a leitura de duas outras publicações do mesmo veículo de comunicação: a primeira, artigo assinado pelo vereador de Fortaleza Acrísio Sena; a segunda, matéria do próprio jornal, em que Camilo Santana, governador eleito do estado do Ceará, declara seu apoio (e, portanto, provável continuidade) à política de recursos hídricos de seu antecessor, Cid Gomes, perdendo-se, porém, no populismo, ao revelar rezar diariamente para São Pedro para que caiam chuvas sobre o estado.

Segue o artigo:
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O governador eleito Camilo Santana declarou publicamente que defendia a gestão de recursos hídricos do Ceará e “rezava para São Pedro” por boas chuvas. Recentemente, O POVO publicou artigo do vereador Acrísio Sena, também do PT, em que este argumentava que sabendo usar, a água não iria faltar. O que causa espanto no discurso de ambos é que escondem a verdadeira raiz da crise hídrica, que já aflige milhares de famílias no interior e agora ronda as casas dos moradores das cidades, incluindo a Região Metropolitana de Fortaleza. 


Imagem do Açude Sítios Novos, localizado no município de
Caucaia, que hoje (09/12/2014) está com meros 3% do seu
volume ocupado. Segundo relatos de moradores das proximi-
dades, o reservatório teria sangrado em 2009 e ganho uma boa
quantidade de água novamente em 2011. Na imagem chamam
a atenção tanto o número de réguas, cada uma representando
um metro a menos na altura da água (havia 13 delas totalmen-
te e uma parcialmente expostas) quanto as diferentes cores na
torre ao lado direito, evidenciando onde a água esteve e onde
ela está agora. O Sítios Novos foi a fonte principal de água
para a termelétrica do Pecém enquanto esta não recebia a água
do Castanhão, via Eixão.
O Castanhão, que ficou praticamente cheio em 2009 e 2011, forneceu grandes quantidades de água aos criadores de camarão e ao agronegócio do Vale do Jaguaribe, este último, responsável pela contaminação do rio, do solo e das pessoas por conta do uso de agrotóxicos que ainda contam com isenção de ICMS. Mas nada se compara ao que relatarei a partir de agora. Há pouco mais de um ano, Cid soltou publicamente a pérola: “a termelétrica demandará cerca de 1.000 litros por segundo. A siderúrgica, algo em torno 1.500, e a refinaria, outros 1.000 litros por segundo”. Tradução: três empresas gastarão água equivalente a 96% do consumo de Fortaleza inteira.

A siderúrgica e a refinaria ainda não operam, mas a termelétrica, sim. Ela consome água suficiente para abastecer mais de meio milhão de pessoas e é, sozinha, responsável por 11% das emissões de CO² do Ceará. Sabe-se que o aquecimento global vai produzir secas cada vez mais graves; assim, queimar carvão e consumir água para gerar energia elétrica é o suprassumo da estupidez. Detalhe: ela só paga metade do preço da água que consome. A questão é que Cid Gomes, a direção da Cogerh e Camilo Santana arriscaram a sorte. Apostaram que 2015 iria ser um ano bom. Agora, com possibilidades de um El Niño atrapalhar mais uma estação chuvosa, Cid vai viajar para assistir de longe, como Nero, o Ceará inteiro pegar fogo.
"Dindim de areia": parte da intervenção do Fórum Ceará no
Clima em protesto contra a queda do volume armazenado nos
reservatórios hídricos cearenses, principalmente em função do
consumo muito elevado do agronegócio e da termelétrica do
Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Sem água, é o
único dindim (conhecido em outras regiões do Brasil por
sacolé, chupe-chupe, geladinho etc.) possível... A etiqueta em
cada um deles conta a história de declínio da água em um
açude do Ceará

O novo governante, por sua vez, diz apenas que vai rezar, mas nem São Pedro nem São José serão capazes de prover água para saciar a sede da indústria pesada. Nem mesmo São Francisco, santo ou rio: a nascente secou e a transposição para fornecer água para as indústrias se tornou uma ilusão, um blefe e um agrado para as empreiteiras que tocam a obra.
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Para aprofundamento acerca desta temática, recomendo a leitura de outros artigos, já publicados neste blog:





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