O famoso "cartoon" de Laerte: mais atual do que nunca! |
Publicação desta semana na Nature aponta ainda mais nitidamente para uma dura realidade. Os cenários para 1,5°C demandam: abandono rápido das fontes fósseis, remoção de CO2 atmosférico *E*, pelo menos contenção do crescimento da demanda energética, o que inevitavelmente impõe "mudanças nos padrões de consumo".
Sabe-se também, por outro lado, que BECCS não pode assumir a escala que alguns imaginam, devido a outros problemas ambientais, como discutimos em nosso blog. Remover carbono da atmosfera, suprindo uma demanda crescente via bioenergia, mesmo usando tecnologias bem mais eficientes do que os tradicionais biocombustíveis implica em aumento da demanda de terra para essas culturas, de água para irrigação e de uso de fertilizantes (com consequências graves para a ciclagem de nitrogênio e fósforo).
Mas é fato, e não digo isso confortavelmente, pelo contrário. Sem remoção de carbono para além daquela possível via reflorestamento, não vamos conter essa bagaça. Em suma: estou disposto a abrir mão, portanto, de uma ilusão, a de que sem nenhum uso dessas tecnologias poderemos resolver o problema.
Uma excelente metáfora da impossibilidade física de crescimento econômico infinito é o "hamster impossível", vídeo de pouco mais de um minuto, disponível no YouTube. |
No entanto a questão fundamental é outra: é se políticos, economistas, chefes de Estado, tomadores de decisão, etc. também estão dispostos a abrirem mão das suas ilusão. E aqui, a de que é possível seguir explorando e queimando fontes fósseis impunemente (como a esquerda que se ilude em financiar programas sociais com o pré-sal) só não é pior do que a outra: a de que é possível ter um futuro com mais consumo de energia do que temos hoje. Não dá, não cabe.
Renováveis como eólica e solar podem nos cobrir uma parte importante da demanda. As hidrelétricas em operação e a bioenergia podem complementá-las, compensando pela intermitência. Mas não há fisicamente como seguir com essa ideia estapafúrdia de crescimento econômico infinito. É uma fantasia, uma crença desprovida de base real. E se não planejarmos o nosso próprio decrescimento, o planeta o imporá pelos seus meios. Spoiler: não vai ser nada bonito.
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