A humanidade se deixou aprisionar material, cultural e ideologicamente numa gigantesca armadilha: a de ignorar que se vive em um planeta limitado e com um clima cuja estabilidade foi (e continua sendo) fundamental para a sobrevivência de nossa espécie, bem como de inúmeras outras.
A cada dia que passa, vai ficando mais evidente que as mudanças climáticas não são algo remoto, para futuras gerações que ainda não conhecemos, tampouco algo abstrato. Afeta e afetará ainda mais cada um(a) dos(as) já viventes. E naquilo que mais nos é essencial.
Trata-se de onde morar, do avanço do nível do mar que desaloja comunidades e até nações inteiras a extremos de temperaturas que podem tornar enormes porções do planeta inabitáveis para nós; de onde tirar o alimento, com a tendência a riscos cada vez maiores de quebras de safra por alterações nos padrões de chuva, temperatura, umidade, etc.; de onde obter a água que se bebe, tarefa continuamente mais dura a persistirem o agravamento das secas, a contaminação dos corpos d'água e a demanda imposta pelo agronegócio e a grande indústria; da própria saúde, pois tanto extremos de secas quanto enchentes comprometem a infraestrutura de água potável e ampliam a área de atuação de vetores transmissores de doenças.
Há poucas décadas, o custo de uma transição energética gradual teria sido baixo e os prazos eram relativamente razoáveis. Mas a completa irresponsabilidade de corporações e seus governos serviçais, até hoje acobertada pela canalhice dos negacionistas climáticos, mudou o quadro radicalmente. Pisamos com tudo no pedal da direita, aprofundamos a "Grande Aceleração"e saltamos em queda livre no desfiladeiro do Antropoceno. Livrar-se rapidamente do entulho do aparelho "produtivo" (na verdade destrutivo) de hoje e reorganizar a base de produção da nossa sociedade envolve maiores recursos e prazos muito mais curtos. Ainda assim, porém, tais custos são irrisórios em comparação com os custos da inação, mesmo atendo-nos àqueles estritamente monetarizáveis (vidas, espécies, sofrimentos não cabem na contabilidade de nenhuma moeda, afinal).
O problema é que tais recursos, especialmente com o advento do neoliberalismo de 30 anos atrás e as agendas ultraliberais de hoje, se concentraram nas mãos de corporações que operam unicamente com base na lógica do lucro imediato, no universo paralelo do mercado financeiro, como se os fluxos de capital e o balanço de ações fosse mais importante que os fluxos de carbono e o balanço de energia planetário. E o poder decisório, político e jurídico, migrou juntamente com o poder econômico para as mãos de poucos, muito poucos, um punhado de bilionários a quem os governos, os corpos legislativos e os tribunais cada vez mais explicitamente prestam obediência.
Nossos ancestrais, os primeiros e pequenos mamíferos, se pareciam mais com os roedores modernos do que com a miríade de famílias de cetáceos a primatas. Mas se enganam os que acham que escapamos ao crescermos e andarmos sob dois pés e montarmos uma civilização. Não apenas armadilha, o sistema baseado na mercantilização-privatização de tudo, na lógica de predação irrefreada e crescimento ilimitado não passa de uma enorme ratoeira. Os prazeres fugazes, superficiais, o apelo ao consumismo... são como um grande queijo, defumado com a propaganda, e que nos capturou para muito além do rabo, perdido com a evolução. Não se trata de simplesmente combater as ratazanas mais fortes e gordas (os especuladores, os rentistas, os executivos e acionistas de grandes corporações) em sua sanha irracional de abocanharem pedaços cada vez maiores. Se formos coletivamente inteligentes, não nos limitaremos a empunhar a bandeira de migalhas maiores ou mesmo a de distribuição equitativa de um pedaço de queijo com prazo iminente para se esgotar, mas sairemos da ratoeira.
A cada dia que passa, vai ficando mais evidente que as mudanças climáticas não são algo remoto, para futuras gerações que ainda não conhecemos, tampouco algo abstrato. Afeta e afetará ainda mais cada um(a) dos(as) já viventes. E naquilo que mais nos é essencial.
Trata-se de onde morar, do avanço do nível do mar que desaloja comunidades e até nações inteiras a extremos de temperaturas que podem tornar enormes porções do planeta inabitáveis para nós; de onde tirar o alimento, com a tendência a riscos cada vez maiores de quebras de safra por alterações nos padrões de chuva, temperatura, umidade, etc.; de onde obter a água que se bebe, tarefa continuamente mais dura a persistirem o agravamento das secas, a contaminação dos corpos d'água e a demanda imposta pelo agronegócio e a grande indústria; da própria saúde, pois tanto extremos de secas quanto enchentes comprometem a infraestrutura de água potável e ampliam a área de atuação de vetores transmissores de doenças.
Na "Grande Aceleração" vários parâmetros do Sistema Terra dispararam exponencialmente: da concentração de gases de efeito estufa à perda de biodiversidade e área florestal. |
O problema é que tais recursos, especialmente com o advento do neoliberalismo de 30 anos atrás e as agendas ultraliberais de hoje, se concentraram nas mãos de corporações que operam unicamente com base na lógica do lucro imediato, no universo paralelo do mercado financeiro, como se os fluxos de capital e o balanço de ações fosse mais importante que os fluxos de carbono e o balanço de energia planetário. E o poder decisório, político e jurídico, migrou juntamente com o poder econômico para as mãos de poucos, muito poucos, um punhado de bilionários a quem os governos, os corpos legislativos e os tribunais cada vez mais explicitamente prestam obediência.
Nossos ancestrais, os primeiros e pequenos mamíferos, se pareciam mais com os roedores modernos do que com a miríade de famílias de cetáceos a primatas. Mas se enganam os que acham que escapamos ao crescermos e andarmos sob dois pés e montarmos uma civilização. Não apenas armadilha, o sistema baseado na mercantilização-privatização de tudo, na lógica de predação irrefreada e crescimento ilimitado não passa de uma enorme ratoeira. Os prazeres fugazes, superficiais, o apelo ao consumismo... são como um grande queijo, defumado com a propaganda, e que nos capturou para muito além do rabo, perdido com a evolução. Não se trata de simplesmente combater as ratazanas mais fortes e gordas (os especuladores, os rentistas, os executivos e acionistas de grandes corporações) em sua sanha irracional de abocanharem pedaços cada vez maiores. Se formos coletivamente inteligentes, não nos limitaremos a empunhar a bandeira de migalhas maiores ou mesmo a de distribuição equitativa de um pedaço de queijo com prazo iminente para se esgotar, mas sairemos da ratoeira.
Mas isso é possível, Alexandre? Será que já não passamos do ponto em que tentamos tirar o queijo e a armadilha disparou?
ResponderExcluirSe não passamos do ponto de "não retorno", em breve passaremos:
ResponderExcluir"No 1º dia, Trump tira do ar site sobre mudanças climáticas e diz que vai eliminar plano de Obama"
http://g1.globo.com/natureza/noticia/governo-trump-esta-comprometido-em-eliminar-plano-climatico-de-obama-diz-casa-branca.ghtml
Somos inteligentes, mas somos limitados a nossa capacidade como primatas superiores. As pessoas que governam o mundo tem ciência de tudo isso, mas simplesmente não se importam. É um traço característico de muitas espécies não conceberam a ideia de futuro. Os humanos conseguem, mas muitas vezes limitam-se ao planejamento de curto prazo, porque obviamente é muito mais cômodo e gasta menos energia cerebral. Desde os 10 anos de idade tenho ouvido sobre o aquecimento global e como o homem tem acelerado o processo. Já se passaram 16 anos e até agora, mesmo com as provas aparentes, quase ninguém parece muito preocupado.
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