segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Nossas vidas valem mais do que os seus lucros!


Marcha com quase 400 mil pessoas em Nova Iorque, com
forte protagonismo dos povos indígenas, pode ser o novo
tom de uma mobilização global em defesa do clima.
(Declaração da Rede Internacional Ecossocialista frente a COP20 em Lima, Peru, Dezembro de 2014)

" A crise climática iminente que enfrentamos hoje é uma grave ameaça para a preservação da vida no planeta. Muitos estudos acadêmicos e declarações políticas confirmam a fragilidade da vida na Terra em função da mudança de temperatura. Apenas alguns graus podem causar - e estão a causar - uma catástrofe ecológica de consequências incalculáveis. Agora mesmo estamos experimentando os efeitos mortais desta situação. O derretimento do gelo, a contaminação da atmosfera, o aumento do níveis do mar, a desertificação e aumento da intensidade dos fenômenos meteorológicos são a prova. 

No interior do movimento climático, é crescente uma tendência
explicitamente anticapitalista, que identifica na necessidade de
crescimento contínuo por parte do capital a fonte da tragédia da
crise ecológica e climática global.
Daí é fundamental nos perguntarmos quem e o que está causando essa mudança no clima. Precisamos urgentemente desmascarar todas as respostas abstratas, que tentam culpar toda a humanidade. Tais respostas abstratas desconectam a situação atual da dinâmica histórica que surgiu com a industrialização baseada em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), que provoca o aquecimento global, e da lógica do capitalismo, que é sustentado pela apropriação privada da riqueza, na conquista do lucro à custa da exploração social e devastação ecológica, duas faces de um mesmo sistema que é o responsável pela catástrofe climática.

Neste panorama, as Conferências das Partes (COPs), organizadas por diversos governos patrocinados por grandes corporações, confirmam a responsabilidade do capitalismo na crise climática, conduzindo eventos vazios, sem quaisquer resoluções eficazes e capazes de resolver o problema. É até mesmo possível identificar retrocessos, como em "fundos verdes" baseados no lucro escancarado com as emissões. Infelizmente, essa dinâmica é aprofundada através das atitudes sustentadas por vários governos que facilitam a poluição e colocam os lucros das corporações acima do bem-estar das pessoas. Isso pode ser visto hoje com maior intensidade nos países do Sul, e, portanto, é fundamental compreendermos que a dinâmica deste sistema tende a despejar a crise ecológica global sobre os ombros dos oprimidos e explorados da terra.

"Florestas em terras indígenas abrigam 37,7 bilhões de toneladas
de carbono em todo o mundo. Se fossem destruídas, o CO2
lançado ao ar superaria as emissões globais de veículos durante
29 anos. Por sorte, os índios têm sido mais eficazes do que
qualquer outro grupo humano no combate ao desmatamento."
(Fonte: Folha de São Paulo)
É vital enfatizar a importância das diversas lutas sociais e ecológicas em todo o mundo, que propõem deter as mudanças climáticas e a crise ecológica através de uma lógica de solidariedade. É importante perceber que muitos desses processos são iniciados e liderados por mulheres. Sem dúvida, o cenário latino-americano hoje exemplifica a mistura de resistência, autogestão e processos de transformação, com base em projetos que podem unir a ciência e as novas tecnologias com as cosmovisões ancestrais. Um exemplo pode ser encontrado nas lutas corajosas dos povos indígenas e camponeses do Peru, em particular sua resistência ao projeto de megamineração Conga. Também é importante chamar atenção para a experiência do Parque Yasuni, que foi a iniciativa dos movimentos indígenas e ecológicos para proteger uma grande região de floresta amazônica da perfuração de petróleo, em troca de pagamentos dos países ricos para o povo de Equador. O governo de Rafael Correa aceitou a proposta por vários anos, mas, recentemente, decidiu abrir o parque para corporações multinacionais de petróleo, provocando protestos importantes. Outro caso pode ser encontrado na luta contra os projetos de “desenvolvimento” que o governo brasileiro está tentando realizar, que ameaçam uma grande parte da Amazônia com a destruição causada por grandes barragens.

Mais do que em meras negociações
entre governos, deve-se apostar numa
ampla mobilização dos povos em es-
cala global para deter a crise climática
A partir dessa perspectiva, espera-se muito pouco da COP20 em dezembro em Lima, Peru. Se existe uma solução para a mudança climática e a crise ecológica global, esta surgirá a partir do poder de luta e organização dos povos oprimidos e explorados do mundo, com o entendimento de que a luta por um mundo sem devastação ecológica deve se conectar à luta por uma sociedade justa e igualitária. Esta mudança deve começar agora, reunindo lutas, esforços diários, processos de autogestão e reformas para diminuir a crise, com uma visão centrada em uma mudança de civilização rumo a uma nova sociedade em harmonia com a natureza. Essa é a proposta central do ecossocialismo, uma alternativa para a atual catástrofe ecológica.

Mudemos o sistema, não o clima! "

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