tag:blogger.com,1999:blog-19841295927689171652024-03-10T14:50:07.936-03:00O que você faria se soubesse o que eu sei?A frase que dá nome a este blog foi proferida por Jim Hansen, pesquisador senior da NASA, preso num protesto em frente à Casa Branca. Refere-se à necessidade de que os cientistas do clima comuniquem à sociedade seus conhecimentos pois estes se relacionam a questões cruciais para o futuro do gênero humano e da vida no planeta. O megafone da foto simboliza essa atitude de falar sobre o risco climático em voz alta, de forma enfática e com o maior alcance possível.Unknownnoreply@blogger.comBlogger235125tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-12245106373230038002021-11-15T18:50:00.000-03:002021-11-15T18:50:04.108-03:00Copo "meio cheio" não salva uma casa em chamas<p></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioXS-glqY71icsYnsgQtjoOy25IYLPWwitC73nOvdhBM_OLs3ocOi0KZm-9XsIcGtF1jBNuGaQlbgppL6hn-boWuJXZNovAF6xLuh4koAaKLKWxQeR86Xh_lKgc7JB9KeLU76VYsMZtHw/s860/Captura+de+Tela+2021-11-14+a%25CC%2580s+20.20.17.png" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="566" data-original-width="860" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioXS-glqY71icsYnsgQtjoOy25IYLPWwitC73nOvdhBM_OLs3ocOi0KZm-9XsIcGtF1jBNuGaQlbgppL6hn-boWuJXZNovAF6xLuh4koAaKLKWxQeR86Xh_lKgc7JB9KeLU76VYsMZtHw/s320/Captura+de+Tela+2021-11-14+a%25CC%2580s+20.20.17.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Alok Sharma, presidente da COP26, teve de<br />conter as lágrimas no anúncio do texto final<br />da Conferência, com recuo em tópicos essenciais</td></tr></tbody></table>"Infelizmente a vontade política coletiva não foi suficiente para superar algumas contradições profundas". "Estamos batendo na porta da catástrofe climática e precisamos entrar em modo de emergência". Estas foram palavras de ninguém menos que António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Alok Sharma, presidente da COP26, visivelmente emocionado e constrangido, pediu desculpas "pela forma como o processo de desenrolou", referindo-se especificamente às mudanças de última hora, que tornaram o texto do Pacto de Glasgow ainda mais frágil, justamente em dois pontos cruciais: as propostas de banimento do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis. <p></p><p><span></span></p><a name='more'></a><p><b>"Pactuação" muito aquém do necessário</b></p><p>A poeira de Glasgow ainda vai baixar, mas <a href="https://news.un.org/en/story/2021/11/1105792" target="_blank">o tom dado pela própria ONU</a>, que teria o máximo interesse em destacar as potencialidades dos seus fóruns, é de decepção e frustração. O próprio Alok Sharma, ao afirmar que o objetivo de 1,5°C "ainda está vivo", reconhece que "seu pulso, porém, está fraco".</p><p>Não é que não houve avanços no documento que ficou conhecido como "Pacto de Glasgow". Poderíamos falar da linguagem mais forte, dos compromissos sobre o metano, etc. Mas ao fim e ao cabo o fosso entre o reconhecimento da crise e da urgência e as ações propostas continua gritante, repetindo o grave problema do Acordo de Paris. O documento da COP26 é muito mais fraco do que o necessário.</p><p>O banimento do carvão, proposto numa versão anterior do documento, antes da trágica emenda final, não era algo tirado da cartola. É uma necessidade vital, apontada em virtualmente todo cenário compatível com o limite de 1,5°C de aquecimento global. "Por que só o carvão?" era a pergunta feita pelos representantes da Índia (dispostos a manter o modelo de crescimento econômico baseado em termelétricas movidas a esse combustível), mas a resposta, se pretendesse mesmo se contrapor ao cinismo jamais seria subsituir "phase-out" (eliminação) por "phase-down" (redução), mas incluir indicações concretas para forçar o abandono progressivo, mas rápido, dos outros combustíveis fósseis também, citando petróleo e gás explicitamente.</p><p>Ao mesmo tempo, trocar o apontamento tão necessário do fim dos subsídios aos combustíveis fósseis pela retirada dos "subsídios ineficientes" soou como escárnio. Afinal, do ponto de vista da necessidade (reconhecida pelo próprio documento final da COP26) de cortar em 45% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, qualquer subsídio fóssil mantido é ineficiente por definição. A introdução de um termo tão obviamente impreciso e subjetivo é justamente a brecha necessária para manter, sustentada com dinheiro público, a destruição planetária perpetrada pela indústria fóssil. </p><p><b>Seguir as regras de qual sistema? Do sistema climático ou do sistema econômico?</b></p><p></p><p>Mas tais absurdos acontecem porque a métrica no "Acordo", repetida no "Pacto", foi sempre o que é "possível" dentro dos marcos do sistema, sem impor às corporações responsáveis pela acumulação de gases de efeito estufa o ônus devido e sem equacionar a profunda injustiça que é condenar países quase sem qualquer responsabilidade sobre a crise climática a se tornarem inabitáveis pelo calor extremo ou pela exposição a secas, furacões, incêndios e tempestades recorrentes ou simplesmente por terem seu território submerso pelos oceanos. </p><p>Fato: temos dois sistemas que funcionam com regras diferentes e, hoje, incompatíveis. O sistema climático terrestre está sob risco de desestabilização de várias de suas componentes e a entrada irreversível nesse terreno perigoso demanda que acionemos o freio de emergência. O sistema capitalista, por outro lado, impõe-se na lógica de acumulação de riqueza, do encurtamento do tempo, da ampliação das demandas de matéria e energia e só reconhece o pedal do acelerador. A proteção de um dos dois sistemas implica expor o outro ao colapso. E até agora, as mesas de negociação de todas as COPs terminam ou optando explicitamente pelo sistema econômico ou tentando conciliar o inconciliável.</p><p><b>Meio cheio ou meio vazio?</b></p><p>É verdade que a pressão puxou o provável aquecimento futuro do planeta para baixo em alguns décimos de grau, só que de maneira muito insuficiente. No entanto, não se trata aqui de pensar na lógica de "copo meio cheio ou meio vazio" e sim entender o todo, pois o que menos interessa são as nossas "percepções". Na frieza (ou no calor) da Física do Clima, a água no copo que veio da Escócia é insuficiente para aplacar a sede (ou apagar o incêndio) de uma atmosfera completamente deslocada de seu estado de equilíbrio.</p><p>Os limites profundos do processo ficam explícitos quando constatamos que, mesmo assumindo que as declarações genéricas e promessas de "zero líquido" serão transformadas em planos reais e que estes serão cumpridos integralmente, apontamos para 2,1°C ou, na melhor de todas as hipóteses, 1,8°C, marginalmente cumprindo o Acordo de Paris, mas ainda assim com uma margem de risco por demais elevada. O que temos, de fato, consolidado nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) é que se todos os compromissos assumidos para 2030 na COP26 forem cumpridos à risca, ainda ficamos numa rota de emissões muito parecida com o "cenário intermediário" de emissões de gases de efeito estufa, segundo o <a href="https://climateactiontracker.org/publications/glasgows-2030-credibility-gap-net-zeros-lip-service-to-climate-action/" target="_blank">Climate Action Tracker</a>, o que, para o final do século XXI nos dá 2,4°C de aquecimento em relação ao patamar pré-industrial. </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://climateactiontracker.org/media/images/CAT-Thermometer-2021.11-4Bars-Annotation.width-1000.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="654" data-original-width="800" height="490" src="https://climateactiontracker.org/media/images/CAT-Thermometer-2021.11-4Bars-Annotation.width-1000.png" width="600" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Análise do site Climate Action Tracker mostra que as metas oficiais dos países, por meio das suas NDCs, nos colocam numa rota de de 2,4°C até 2100 e que, por meio das complexas retroalimentações do sistema climático, tenderia a produzir um aquecimento ainda maior nos séculos seguintes.</span></i></td></tr></tbody></table><p>Segundo o AR6 do IPCC, esse tipo de "cenário intermediário" ou "caminho do meio" (tecnicamente o cenário SSP2-4.5), além de produzir, já neste século, um caos climático causado pela multiplicação de eventos extremos (ondas de calor, incêndios, secas e tempestades), <b>não estabiliza o clima</b> e mantém uma rota de aquecimento rumo a 3,3°C em 2300 (sendo este o valor mais provável, mas podendo chegar até 4,6°C). Em outras palavras, não há, literalmente, "meio-termo" ou "caminho do meio" neste caso.</p><p><b>Duas bifurcações</b></p><p>Estamos portanto, numa situação de bifurcação, em que o sistema climático pode, de um lado, acomodar-se numa trajetória marginalmente compatível com os padrões climáticos do mundo que conhecemos ou ser empurrado, pela inação e pelos interesses dominantes, a um clima muito mais parecido com aquele do "Período Quente do Plioceno Médio", colocando a biosfera do planeta e a humanidade à força numa máquina do tempo com relógio configurado para 3,3 milhões de anos atrás. Receita para transformar amplas áreas do planeta em locais praticamente inabitáveis para muitos milhares de espécies (inclusive a nossa). Receita para praticamente acabar com os mantos de gelo da Groenlândia e da Antártica Ocidental. Receita para elevar os oceanos em 20 metros.</p><p>E se o sistema climático está diante dessa bifurcação, nós também estamos diante de uma. Não temos mundo em comum com os bilionários, como estes mesmos já fazem questão de afirmar (<a href="https://www.rt.com/usa/540203-bezos-earth-population-limit/" target="_blank">confere, Jeff Bezos?</a>). Não existe mundo em comum entre carbono e capital, entre natureza e mercadoria. Está cada vez mais evidente que, muito mais do que somente disputar a pretensa racionalidade do terreno das COPs, é preciso disputar o poder político e econômico, em todas as esferas, a fim de encerrar o trágico sequestro do futuro, refém neste exato momento das corporações e dos governos por elas capturados. Lutemos. Mudemos o sistema, não o clima!</p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-49652703499162106682021-11-10T08:34:00.002-03:002021-11-12T13:36:51.623-03:00Da Pedalada à Falsa Ambição, o Vexame Brasileiro na COP26<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXmiIzu1ddv_mRTN8GvUTw7xTei8RfCiIp-5rPhG0ok1EcA0luK2dZP4GUmaF2BL14T4BLSgZZS1TsmWlJSZyzno7OGZR1pCo-3y6_AZJGRF8xbIOE1BnT1tcd1LHKgrl1cY5U5iy6QFw/s497/Bandeira-do-Brasil-rasgada-no-meio.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="241" data-original-width="497" height="155" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXmiIzu1ddv_mRTN8GvUTw7xTei8RfCiIp-5rPhG0ok1EcA0luK2dZP4GUmaF2BL14T4BLSgZZS1TsmWlJSZyzno7OGZR1pCo-3y6_AZJGRF8xbIOE1BnT1tcd1LHKgrl1cY5U5iy6QFw/s320/Bandeira-do-Brasil-rasgada-no-meio.jpeg" width="320" /></a></div>Concentrações de gases de efeito estufa <a href="https://midianinja.org/alexandrearaujo/o-que-voce-faria-se-soubesse-o-que-eu-sei/" target="_blank">batendo recordes</a>, uma <a href="https://midianinja.org/alexandrearaujo/a-grande-lacuna/" target="_blank">lacuna gigante</a> entre o corte necessário nas emissões e as promessas dos países. Diante de quadro tão grave, <b>todos</b> os países se dispuseram a contribuir com NDCs mais ambiciosas, com metas mais ousadas de redução das emissões, certo? Hmmm... não! Houve países que conseguiram a proeza de apresentar NDCs iguais ou piores às que apresentado antes! O artigo de hoje vai focar sobre o triste comportamento de um certo país que chegou à COP26 ultrapassando todos os limites da palavra "vexame".<p></p><p><b><span></span></b></p><a name='more'></a><b>Desacoplamento às avessas</b><p></p><p>Existe uma fortíssima correlação entre crescimento econômico e emissões de carbono (uma expansão da economia em geral implica maior consumo de energia, o que leva ao uso de mais combustíveis fósseis). Economistas e políticos de diferentes matizes ideológicos sonham há anos com a quebra dessa correlação, o chamado "desacoplamento".</p><p>No auge dos impactos da pandemia de Covid-19, o mundo permaneceu "acoplado", com queda no PIB global de 3,1% acompanhada de queda nas emissões em 6,4%. </p><p>Já o Brasil inventou o desacoplamento às avessas: com a economia em frangalhos em função não apenas da pandemia, mas também de uma gestão calamitosa da crise sanitária e de uma política econômica não menos desastrosa, <a href="https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/03/03/pib-do-brasil-despenca-41percent-em-2020.ghtml" target="_blank">viu seu PIB despencar 4,1% em 2020</a>, ao mesmo tempo em que <a href="https://www.oc.eco.br/na-contramao-do-mundo-brasil-aumentou-emissoes-em-plena-pandemia/#:~:text=As%20emiss%C3%B5es%20brasileiras%20de%20gases,desvantagem%20no%20Acordo%20de%20Paris." target="_blank">as emissões de gases de efeito estufa subiram impressionantes 9,5%</a>.</p><p>Os dados, anunciados pelo <a href="https://seeg.eco.br/" target="_blank">SEEG</a> anunciados há poucos dias, não deixam dúvidas do tamanho do desastre. Foram 2,16 bilhões de toneladas de CO₂-equivalente contra 1,97 bilhões em 2020. Esse aumento se dá basicamente pelo aumento do desmatamento, com a queda nas emissões do setor de energia tendo sido basicamente canceladas pelo ligeiro aumento das emissões de metano e óxido nitroso da agropecuária e das emissões de resíduos. </p><p>O resumo é que quase 3/4 das emissões brasileiras são, hoje, associadas ao agronegócio e que, com a terrível parceria entre o agro, um governo federal ecocida e um parlamento tenebroso, retornamos ao patamar de emissões de 2006, ou seja, <b>retrocedemos 15 anos em dois</b>. </p><p><b>Brasil é destaque no mapa da vergonha</b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2n2xi4b2GZXLCG-7dFO9GZGTePpZK8z8UuontDTVQiR00-0tocypRac_sbqjcG5lze4fhT51QIYcPZAlH5fw21_gEsA9i2Fqbw9QUcuBzhi2EcMNjuQiszQv7YHpVmC0oFMg-Q93Vjlk/s1920/NDCs+com+metas+de+emisso%25CC%2583es+menores+em+2030+do+que+na+NDC+anterior+Na%25CC%2583o+submeteu+NDC+nova+ou+atualizada.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2n2xi4b2GZXLCG-7dFO9GZGTePpZK8z8UuontDTVQiR00-0tocypRac_sbqjcG5lze4fhT51QIYcPZAlH5fw21_gEsA9i2Fqbw9QUcuBzhi2EcMNjuQiszQv7YHpVmC0oFMg-Q93Vjlk/w621-h350/NDCs+com+metas+de+emisso%25CC%2583es+menores+em+2030+do+que+na+NDC+anterior+Na%25CC%2583o+submeteu+NDC+nova+ou+atualizada.png" width="621" /></a></div><div><br /></div><div>Fácil identificar o Brasil no mapa da vergonha aí em cima, reproduzido a partir do <i>Emissions Gap Report</i> 2021 (o r<a href="https://www.unep.org/pt-br/resources/emissions-gap-report-2021" target="_blank">elatório sobre a lacuna de emissões</a>)... Mas quando se avalia o impacto dessas mudanças nas NDCs nas emissões de 2030, a conclusão é que a famosa "pedalada climática" do Brasil produziu, disparadamente, <b>o pior impacto entre todos os países do mundo</b>. Não à toa, o (des)governo tem corrido, de forma atabalhoada, nos últimos dias, para encobrir ou diminuir o disparate.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiHyn72WI9w3Gpe344FQD_IMwCOovcBqDNNsLshr_WPJ0jlH7ebfBj9di2Y5V5F1bB3dVnYmfcopX5UCLEYYEx0jlf_5sJDk_hFgvIlHgdEAyMyTbevfU12uTqPszgwWBXHZo5Yl3kCUY/s1588/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+08.34.05.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1300" data-original-width="1588" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiHyn72WI9w3Gpe344FQD_IMwCOovcBqDNNsLshr_WPJ0jlH7ebfBj9di2Y5V5F1bB3dVnYmfcopX5UCLEYYEx0jlf_5sJDk_hFgvIlHgdEAyMyTbevfU12uTqPszgwWBXHZo5Yl3kCUY/s320/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+08.34.05.png" width="320" /></a></div>Como amplamente divulgado, a "pedalada" brasileira se deu mantendo os percentuais de redução nas emissões, só que aplicado a um valor de base (total de emissões de 2005) que havia sido reavaliado para cima, de 2,1 bilhões para 2,8 bilhões de toneladas de CO₂-equivalente. Daí, a aritmética da vergonha entrou em cena: mantendo o percentual de redução em 43% das emissões, só que aplicado a um valor de base 700 milhões de toneladas maior, o Brasil simplesmente autorizou a si mesmo a emitir 300 milhões de toneladas a mais, em 2030, do que o previsto no compromisso assumido em Paris, em 2015. Acontece que ninguém caiu na pegadinha, como bem mostrou o <i>Emissions Gap Report</i>. </div><div><br /></div><div><br /></div><div><b>A pegadinha continua</b></div><div><br /></div><div>Depois de tamanho vexame, o governo brasileiro quis remendar, anunciando um suposto <a href="https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59065366" target="_blank">aumento na meta de redução de emissões de gases de efeito estufa</a>. Algo para escocês ver. O problema, de novo, é que nenhum governo é capaz de burlar a aritmética, tampouco enganar a atmosfera com contabilidade criativa.</div><div><br /></div><div>Ora, 50% aplicados ao patamar revisado de emissões de 2005 (2,8 bilhões de toneladas de CO₂-equivalente) significa continuar emitindo 1,4 bilhões em 2030. A promessa anterior, de cortar 43% de 2,1 bilhões de toneladas, nos deixaria com 1,2 bilhões. A meta "mais ambiciosa" nos deixa, portanto, acima dos valores com os quais o Brasil se comprometeu em Paris, em 2015</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA_ynpfi0ayEc6n5rv3dG8TT7BEYNNGrbYTOI5XuYG2BroT11vXXh9RiozuEr693QjZwnUUOPpUvTgS4eqV1UIh8qjFDGGx9Y23ocr73KLU1q6mKFRpmBJZRiFrKNWKi6psEFh8jzn3eE/s1640/NDC+anterior.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="924" data-original-width="1640" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA_ynpfi0ayEc6n5rv3dG8TT7BEYNNGrbYTOI5XuYG2BroT11vXXh9RiozuEr693QjZwnUUOPpUvTgS4eqV1UIh8qjFDGGx9Y23ocr73KLU1q6mKFRpmBJZRiFrKNWKi6psEFh8jzn3eE/w448-h252/NDC+anterior.png" width="448" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vai e vem da política (anti)climática do (des)governo brasileiro<br /><br /></td></tr></tbody></table></div><div>Ainda há uma série de dúvidas e incertezas relacionados à concretização dessa meta, tanto quanto ao método de cálculo quanto ao patamar de referência que poderia ser, no limite, escolhido arbitrariamente (pasmem!) pelo presidente da república. E aí, mesmo que houvesse qualquer réstia de sobriedade nessa patacoada, entra a questão da credibilidade... </div><div><b><br /></b></div><div><b>Para reduzir emissões, é preciso dar um basta ao "governo" anticlima!</b></div><div><br /></div><div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHhHmWh8ddZptdVQpYYTFFoVDmyHUbZHQTAS-1UX0bBLjrQFExq44vBjhnhckxpfSICO2Mt8KSJO1voaS6q9ZHLnx8RalVObOQxEZBcIHJ1Un88TKw8vgSQ0gK8F1Mku78GJWASOG9gUo/s2016/FDRtnLGWQAcwDpx.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1512" data-original-width="2016" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHhHmWh8ddZptdVQpYYTFFoVDmyHUbZHQTAS-1UX0bBLjrQFExq44vBjhnhckxpfSICO2Mt8KSJO1voaS6q9ZHLnx8RalVObOQxEZBcIHJ1Un88TKw8vgSQ0gK8F1Mku78GJWASOG9gUo/s320/FDRtnLGWQAcwDpx.jpeg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Brasil na COP26: "CNI acima de tudo, <br />CNA acima de todos". Foto: Fernanda Carvalho</td></tr></tbody></table>Ninguém em sã consciência é ingênuo ao ponto de achar que será respeitado qualquer compromisso climático por parte de um governo que incentivou o "<a href="https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49453037" target="_blank">Dia do Fogo</a>" e desmonta cotidianamente o arcabouço protetivo do meio-ambiente em nosso país. Ninguém em sã consciência pode conceder um mísero centavo de crédito a promessas feitas por um governo que ataca povos indígenas, aliando-se a madeireiras, garimpo e, óbvio, ao agro (que, no espaço oficial da COP26, parecia algo completamente misturado ao próprio governo). Ninguém com um mínimo de informação e boa fé pode esperar qualquer coisa de positivo de um governo que ataca ciência, monitoramento e fiscalização ambiental, tratando como inimigos órgãos do próprio Estado incluindo INPE, IBAMA, ICMBio e tantos outros.</div><div><br /></div><div>Se na COP26 as fagulhas restantes de esperança permanecem acesas bem mais do lado de fora (com juventude e povos originários liderando as mobilizações) do que do lado de dentro (com a contaminação da maquiagem "verde"/<i>greenwashing</i>, do lobby corporativo e das promessas vazias de governos), no Brasil a verdade é ainda mais crua. Por estas bandas, o compromisso climático sério que se pode assumir terá de vir do povo e começa, evidentemente, por defenestrar Bolsonaro e sua gangue ecocida do poder o quanto antes.</div><div><br /></div><div><b>Em tempo</b></div><div><br /></div><div>O texto já estava pronto quando, ao contrário do que alguns poderiam pensar, o desgoverno brasileiro ampliou ainda mais o vexame!</div><div><br /></div><div>Primeiro, merecidamente ganhou bis no antiprêmio <a href="https://climatenetwork.org/resource_type/fossil-of-the-day/" target="_blank">"Fóssil do Dia"</a>, uma indicação para os países que mais representam obstáculos aos avanços climáticos nas COPs. Se no dia 05/11 o Brasil já havia sido "premiado" pelo tratamento inaceitável que o "governo" havia dado aos representantes indígenas presentes na COP26, no dia 10/11, o "reconhecimento" do papel bizarro ora cumprido por nosso país ficou por conta da frase bizarra do ministro do 1/2 ambiente, Joaquim Leite, que associou as florestas à "pobreza"...</div><div><br /></div><div>Segundo, após ter feito alarde em cima da tal "nova meta" de 50%, verificou-se que a <a href="https://www4.unfccc.int/sites/ndcstaging/PublishedDocuments/Brazil%20First/2021%20-%20Carta%20MRE.pdf" target="_blank">carta-adendo</a>, disponível no site da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança Climática (UNFCCC, da sigla em inglês), <b>não faz menção nenhuma a essa promessa</b>. Pelo contrário, apenas afirma de maneira genérica a possibilidade futura de um "objetivo mais ambicioso" num "momento apropriado". Vergonha à décima potência, pois, em meio à Emergência Climática, o momento mais apropriado para metas ambiciosas de redução das emissões é hoje, já, agora.</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-86461543514982332562021-11-02T10:05:00.005-03:002021-11-02T10:05:50.291-03:00A "Grande Lacuna"<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKqj6jJehBXYxgB63ZSR5L3mck9LDUEVWRl2tKZ6d9bBJZ61mmUy2WTz_FA2vBw9a7s8fZxKg3_4oElmUd4Dlk7da0Iw8AV36_xq6oYCMpmH1YYvF7kZdg4qx43THqsUkdmDAROeCayjE/s2048/FCsoNMAX0Asbsp_.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1183" data-original-width="2048" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKqj6jJehBXYxgB63ZSR5L3mck9LDUEVWRl2tKZ6d9bBJZ61mmUy2WTz_FA2vBw9a7s8fZxKg3_4oElmUd4Dlk7da0Iw8AV36_xq6oYCMpmH1YYvF7kZdg4qx43THqsUkdmDAROeCayjE/s320/FCsoNMAX0Asbsp_.jpeg" width="320" /></a></div>Poucos dias antes de se iniciar a COP26, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente) lançou o "<a href="https://www.unep.org/pt-br/resources/emissions-gap-report-2021" target="_blank">Emissions Gap Report</a>", relatório que analisa as NDCs (contribuições nacionalmente determinadas). O documento avaliou as atualizações das metas de redução nas emissões e - <i>spoiler</i>! - mostrou que o somatório dessas metas está longe de ser suficiente para manter o aquecimento global sob controle em níveis minimamente seguros. Existe uma enorme <b>lacuna</b> ("gap") entre o anunciado e o necessário.<p></p><span><a name='more'></a></span><p><b>Derrubemos as emissões agora!</b></p><p>Primeiro, vamos falar do óbvio. As emissões de gases de efeito estufa aumentaram ao longo dos anos, incluindo não apenas o CO₂ de fontes fósseis e LULUCF (uso da terra, floresta e mudanças, ou seja, principalmente desmatamento), mas também a maior parte dos demais gases de efeito estufa "de vida longa" ou "bem misturados" (metano, óxido nitroso, gases halogenados). A pandemia mal fez cócegas, como discutimos em <a href="https://midianinja.org/alexandrearaujo/o-que-voce-faria-se-soubesse-o-que-eu-sei/" target="_blank">nosso artigo</a> sobre o boletim que a OMM publicou sobre o tema.</p><p>A Emergência Climática impõe ações imediatas. É importante parar de fazer promessas para um futuro distante ("zero líquido em 2050") sem cortar as emissões desde já, com redução preferencialmente <b>acelerada</b> de agora a 2030. Uma trajetória de emissões reduzidas no cenário "acelerado" é melhor do que a trajetória do cenário "linear" e, principalmente, do cenário "adiado".</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDjrf68HG6IPVoVGqQxV7KTgiJW5DvFs3zPp_fpvQO4LdOXBFCpQ5wqBVbjFegv-SY2ah9AI5HzU4t__0wG5Py-IYkCI6jxcNNRXAtfl3ZOVWcN1RGLk66pC2bFEkNoeQ5aI1piRai_ww/s2712/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.14.46.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="848" data-original-width="2712" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDjrf68HG6IPVoVGqQxV7KTgiJW5DvFs3zPp_fpvQO4LdOXBFCpQ5wqBVbjFegv-SY2ah9AI5HzU4t__0wG5Py-IYkCI6jxcNNRXAtfl3ZOVWcN1RGLk66pC2bFEkNoeQ5aI1piRai_ww/w642-h200/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.14.46.png" width="642" /></a></div><p></p><p>Isso tem a ver com o comportamento físico dos gases de efeito estufa como o CO₂. Como eles permanecem por longo tempo na atmosfera, manter as emissões elevadas hoje ou nos próximos anos (digamos, até 2030), irá produzir um efeito cumulativo com impactos bem maiores no futuro. As metas intermediárias são tão importantes quanto declarar a intenção de chegar à neutralidade em 2050 e a redução das emissões precisa se dar com força desde já! Dá para estragar irremediavelmente este planeta nos 29 anos que nos separam dessa data.</p><p><b>A "Lacuna" é um descumprimento coletivo do Acordo de Paris</b></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Q3BOg5DDhy8z5CKBrSxFxdo2AWaeRj0BalzuC5e6XMvAQzk8zt6SNZD4cSUThjPM51GIPduGb0prFHQzALq9uoow96xhDDu7YYvDcPweKSRInqIG-GgC4Rk-jLBmIolq92DQpBjJlUA/s2048/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.26.51.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1176" data-original-width="2048" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Q3BOg5DDhy8z5CKBrSxFxdo2AWaeRj0BalzuC5e6XMvAQzk8zt6SNZD4cSUThjPM51GIPduGb0prFHQzALq9uoow96xhDDu7YYvDcPweKSRInqIG-GgC4Rk-jLBmIolq92DQpBjJlUA/w406-h234/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.26.51.png" width="406" /></a></div>Mesmo sendo o pior caminho para se chegar ao zero (lembrando que "zero líquido" em si já é algo temerário e insuficiente), a rota "atrasada" é o caminho escolhido por muitos países, inclusive Brasil e China. O que é importante destacar, porém, é que ninguém está de fato fazendo o dever de casa, pois os países mais ricos (EUA, União Europeia, Reino Unido, Japão...), que se industrializaram primeiro, teriam a obrigação de cortar mais rapidamente as emissões. Os países ricos estão basicamente na rota "linear", insuficiente, especialmente tendo em vista a sua maior responsabilidade na geração de todo o problema..<p></p><p>Qual o tamanho da diferença entre o que os países estão apresentando e o que é necessário? Ainda é enorme! Mesmo com todas as metas (condicionais e incondicionais) cumpridas à risca, ficamos longe até de controlar o aquecimento global em 2,0°C, o que significa <b>descumprir o Acordo de Paris</b> na cara dura, lembrando que o Acordo diz que as partes se comprometem a "manter o aquecimento global <b>bem abaixo</b> de 2,0°C" e "envidar esforços" para ficar abaixo de 1,5°C".</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuu2kCZsykLjAdxVLfAz08Pw-hp2Nw960AwTQMuQCZ4x6LNPI1Zv9Y47XeuV_orqlbq7UL1z9fTejpaWAmP9EFt-MjdLL8gPSKMEIuOG-HVFPZPmCJ8Q8ZiJHGq-rHaERg42p9GTdCRYs/s1400/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.49.26.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1400" data-original-width="958" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuu2kCZsykLjAdxVLfAz08Pw-hp2Nw960AwTQMuQCZ4x6LNPI1Zv9Y47XeuV_orqlbq7UL1z9fTejpaWAmP9EFt-MjdLL8gPSKMEIuOG-HVFPZPmCJ8Q8ZiJHGq-rHaERg42p9GTdCRYs/w243-h354/Captura+de+Tela+2021-11-02+a%25CC%2580s+09.49.26.png" width="243" /></a></div>Com os compromissos apresentados (supondo tudo cumprido à risca), chegaríamos em 2030 emitindo <b>o dobro</b> do necessário para termos 66% chances de controlar o aquecimento em 1,5°C, 52% a mais do que seria compatível com 66% de chance de 1,8°C e 28% a mais do compatível com 66% de chance de 2,0°C. Os esforços contidos nas NDCs incondicionais e compromissos anunciados nos levariam provavelmente a um aquecimento catastrófico de 2,7°C, com 10% de probabilidade de que ele possa até exceder 3,3°C no final do século.<p></p><p>Mesmo a entrada em cena das NDCs condicionais e compromissos de "net-zero" melhoram o quadro, se <b>totalmente</b> implementados, mas ainda assim de maneira <b>insuficiente</b> para evitar o caos climático. Com esses acréscimos, ainda ficamos com ~50% de chance de excedermos 2,0°C, 10% de chance de excedermos 2,7°C e 5% de chance de ultrapassarmos 3°C ao final do século. Quem apostaria um cara ou coroa entre a calamidade e o cataclismo?</p><p><b><br /></b></p><p><b>Por uma saída justa para a crise climática já!</b></p><p>Considerando as políticas atuais, <b>é preciso cortar 30 bilhões de toneladas</b> (30 GtCO₂) nas emissões previstas para 2030, a fim de alinhá-las com um aquecimento limitado a 1,5°C. Essa lacuna gigantesca precisa ser enfrentada para que tenhamos futuro. </p><p>Nos próximos anos é preciso fazer tudo que está a nosso alcance: retirar os negacionistas/ecocidas do poder nos Estados nacionais (a começar do Brasil), avançar ao máximo na escala subnacional, tratar a crise climática como prioridade! É preciso mobilização, conscientização, engajamento, buscar uma ampla aliança, que respeite o protagonismo combinado dos povos originários do planeta e da juventude mobilizada na defesa do clima.</p><p>Não podemos simplesmente confiar essa tarefa a corporações, não apenas aquelas que lucraram criminosamente por décadas queimando combustíveis fósseis e desmatando, mas também aquelas que olham para a maior ameaça à existência da civilização humana como uma "oportunidade de negócios". Até porque a saída precisa ser justa. É inaceitável impor sacrifícios ainda maiores aos setores da sociedade que já estão arcando com os piores impactos da crise e que, em geral, coincidem com aqueles que menos contribuíram para o caos. Emissões de carbono têm uma correlação intrínseca com privilégios, com séculos de uma história de colonialismo, expansionismo capitalista, escravidão, genocídio, racismo, patriarcado. É preciso frear essa máquina de moer gente, que é também máquina de moer floresta e moer clima.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><div><br /></div><p><br /></p><div><br /></div><div><br /></div><br /><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-84650930185691235022021-10-31T21:06:00.003-03:002021-10-31T21:16:48.019-03:00Um Recorde Trágico e Nosso Dever de Casa<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifN0bqJEFa6X-acCpUSInEKm6mOC8OCA_3mVoZHT-EKHEJvN8hIm-MCdDGwXM7emtUphTL5wn7MtXD956sx22VeP3T4sRhj5PfhDvRoy-sakR_I_GFpT0kzBZlnvrwej30OhKXKGJi7YE/s1508/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+20.56.45.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="546" data-original-width="1508" height="116" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifN0bqJEFa6X-acCpUSInEKm6mOC8OCA_3mVoZHT-EKHEJvN8hIm-MCdDGwXM7emtUphTL5wn7MtXD956sx22VeP3T4sRhj5PfhDvRoy-sakR_I_GFpT0kzBZlnvrwej30OhKXKGJi7YE/s320/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+20.56.45.png" width="320" /></a></div>Na semana que antecedeu à COP26, aberta formalmente em 31/10/2021, em Glasgow, dois importantes documentos científicos vieram se somar à publicação da primeira parte do 6º Relatório do IPCC (referente às bases físicas da mudança do clima): o <i><a href="https://library.wmo.int/index.php?lvl=notice_display&id=21975#.YX7gtNNKjwc">Greenhouse Gas Bulletin</a></i>, publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM, ou WMO) e o <a href="https://www.unep.org/resources/emissions-gap-report-2021">Emissions Gap Report 2021</a>, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA, ou UNEP). Neste artigo, vamos analisar as implicações das informações trazidas no primeiro destes dois documentos para uma das mais decisivas cúpulas do clima da história.<br /><p></p><span><a name='more'></a></span><p><b>Concentrações em Alta</b></p><p>O Boletim dos Gases de Efeito Estufa, da OMM, é publicado anualmente e, como esperado, confirma a quebra de recorde na concentração dos principais gases de efeito estufa ao final de 2020. Os novos valores, considerando a média global para o ano de 2020 são 413 partes por milhão (ppm) para o dióxido de carbono (CO₂), 1889 partes por bilhão (ppb) para o metano (CH₄) e 333,2 ppb para o óxido nitroso (N₂O). Esses valores estão muito acima dos níveis pré-industriais, com aumentos relativos, respectivamente, de 49%, 162% e 23% em relação ao valor de referência em 1750. Além da quebra de recorde dessas concentrações, é importante acrescentar que a taxa de acumulação desses gases na atmosfera mostrou tendência a crescer, pelo menos nas últimas duas décadas, ou seja, há uma aceleração desse processo.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjufdyS-bWiqkLiCSgBkUcGW7MM4f6mObIiihIbwkpXfNmdq2i6iRr06CL7dA6FAtAmzb0l7dGmYfuwEl3Xxct4P5vbSPCzEKGovT3z4eFZpDgmiHO8g0LHeQxHzf9QXiZrohknjmexOlk/s2026/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+17.27.51.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="520" data-original-width="2026" height="140" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjufdyS-bWiqkLiCSgBkUcGW7MM4f6mObIiihIbwkpXfNmdq2i6iRr06CL7dA6FAtAmzb0l7dGmYfuwEl3Xxct4P5vbSPCzEKGovT3z4eFZpDgmiHO8g0LHeQxHzf9QXiZrohknjmexOlk/w548-h140/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+17.27.51.png" width="548" /></a></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD4jZ2HIBFJ14IFAihj0LwKB3xdS0gFfmtfsGV5QJcDR7mCNEsjUCqhkT9gOAWqhFCeasaNjOQamapyLSsxdKisvxlt6dJUtLi4hnTSnIUWWxKeK1NTrjpCxrifuImHyMOTAxDSIPIS2E/s2048/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+15.56.14.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="516" data-original-width="2048" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD4jZ2HIBFJ14IFAihj0LwKB3xdS0gFfmtfsGV5QJcDR7mCNEsjUCqhkT9gOAWqhFCeasaNjOQamapyLSsxdKisvxlt6dJUtLi4hnTSnIUWWxKeK1NTrjpCxrifuImHyMOTAxDSIPIS2E/w547-h138/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+15.56.14.png" width="547" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Variação, em função do tempo, das concentrações (acima) taxas de acumulação (abaixo) do dióxido de carbono (à esquerda), metano (ao centro) e óxido nitroso (à direita). Fonte: GHG Bulletin (WMO, 2021)</td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div>CO₂ e N₂O mostram uma tendência quase contínua de aceleração de sua acumulação no atmosfera dos anos 1980 para cá. O CH₄, por sua vez, passou por uma inflexão na virada do século, com a taxa de acumulação chegando a valores em torno de zero (o que deixou, por um breve período, a concentração desse gás quase constante). No entanto, ao longo dos últimos vinte anos, a concentração de metano voltou a crescer de maneira acelerada.<div><b><br /></b></div><div><b>A Natureza (ainda) faz a sua parte</b><br /><p>No que diz respeito ao dióxido de carbono, o boletim mostra que a fração aerotransportada (AF) mantém-se em torno de 42%, o que significa que de cada 100 toneladas de CO₂ emitidas, 42 toneladas permanecem na atmosfera e 58 são sequestradas por sumidouros (oceanos e biosfera continental). </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLV4IGduvekGuiHDcwpE_KofLIdcNPGBg0R-P3OaspnlAqfL2nqJcAqnAPB9iKwgwUwc5KKgwKSW38EE5-VP1aap36hU7NNIeJGGwpV0dZe7UTc-zblbyjetEi19smGXVAh-FoQUBgNKM/s1800/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+16.11.01.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="618" data-original-width="1800" height="129" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLV4IGduvekGuiHDcwpE_KofLIdcNPGBg0R-P3OaspnlAqfL2nqJcAqnAPB9iKwgwUwc5KKgwKSW38EE5-VP1aap36hU7NNIeJGGwpV0dZe7UTc-zblbyjetEi19smGXVAh-FoQUBgNKM/w376-h129/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+16.11.01.png" width="376" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Variação, ao longo do tempo, da fração aerotransportada de dióxido de carbono, isto é, a fração de CO₂ que permanece na atmosfera após o gás ser emitido. Fonte: GHG Bulletin (WMO, 2021)<br /><br /></td></tr></tbody></table><p>A tendência linear mostra leve crescimento da AF, o que sugeriria uma pequena tendência de enfraquecimento da capacidade dos sumidouros, mas sem significância estatística. A preocupação é com o futuro, pois o acionamento de "<i>tipping points</i>" pode desestabilizar esses sumidouros.</p><p>Sabe-se, por exemplo, que a Amazônia e outras florestas tropicais, além das ações antrópicas diretas (desmatamento, queimadas, degradação, fragmentação, poluição etc.) estão sob pressão de processos associados ao aquecimento global (secas extremas, ondas de calor etc.). Em virtude destes, elas estão perdendo sua capacidade de sequestrar carbono reduzida, o que pode fazer com que elas se tornem fontes líquidas de emissão, mesmo num cenário em que o desmatamento seja completamente eliminado.</p><p>No caso dos oceanos, além dos inúmeros impactos sobre a biota marinha, associados não só ao aquecimento global mas a inúmeros outros aspectos da crise ecológica (poluição, acidificação, pesca de arrasto, etc.) que comprometem a eficiência da "bomba de sucção biológica", já que a solubilidade dos gases nos líquidos decresce com o aumento da temperatura, também há limites para a "bomba de sucção química" (cujo efeito colateral é exatamente a acidificação oceânica).</p><p>A natureza, felizmente, ainda está a fazer sua parte. Nós, por outro lado, estamos longe disso. Pior, de modo algum podemos nos confiar indefinidamente no efeito (parcialmente) compensador dos sumidouros naturais. Alguns deles podem estar perigosamente próximos do seu limite e se o ritmo do aquecimento global já é extremamente rápido (quase 30 vezes mais rápido do que o mais recente aquecimento natural, associado ao fim da última glaciação), pode se acelerar ainda mais se esses sumidouros perderem força.</p><p><b>Desequilíbrio energético</b></p><p>O acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera gera um desequilíbrio nos fluxos de energia, mensurado pelo que chamamos "forçante radiativa" ou "forçamento radiativo", que, sendo positivo (no que diz respeito ao sinal matemático, mas não no impacto sobre o planeta), corresponde à quantidade de calor acumulado por unidade de tempo e unidade de área.</p><p>O CO₂ responde pela maior parte desse desequilíbrio energético (66%), seguido do metano (16%). O óxido nitroso responde por 7% da forçante radiativa e os gases halogenados completam o valor total: CFCs (8%), HCFCs (2%) e HFCs (1%). Detalhe: assim como no caso dos três gases de efeito estufa bem misturados principais (CO₂, CH₄, N₂O), entre os gases halogenados, com exceção dos CFCs, a tendência da maioria tem sido ao crescimento de suas concentrações.</p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwgg3mAwkw5ZvjJ_HUqXxvb2nZszSeEypcdhloYmbiq9aDJoCta2pusu-58dMjEnaljyo1kDqR8E_kfsNUrnZtV_AjXgF-G_m3TXSY16NpWuTUAjfGO9TIydXxm5GD4kYRgxbmiMqlb1I/s1884/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+20.18.52.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="1884" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwgg3mAwkw5ZvjJ_HUqXxvb2nZszSeEypcdhloYmbiq9aDJoCta2pusu-58dMjEnaljyo1kDqR8E_kfsNUrnZtV_AjXgF-G_m3TXSY16NpWuTUAjfGO9TIydXxm5GD4kYRgxbmiMqlb1I/w503-h163/Captura+de+Tela+2021-10-31+a%25CC%2580s+20.18.52.png" width="503" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Variação ao longo do tempo das concentrações de gases halogenados (halocarbonetos e hexafluoreto de enxofre), com valores em partes por trilhão (ppt)</td></tr></tbody></table><p>Como consequência do crescimento nas concentrações de quase todos os gases de efeito estufa, ocorreu o aumento do desequilíbrio energético, pois com um efeito estufa mais intenso a Terra conseguiu dissipar menos calor para o espaço. Em termos técnicos, o forçamento radiativo teve um crescimento de 47% de 1990 a 2020, chegando a 3,18 W/m². Em termos energéticos (levando em conta a área do planeta inteiro), isso equivale, num ano, a aprisionar uma quantidade de calor equivalente ao liberado pela explosão de <b>82 milhões de bombas de Hiroshima</b>. Por conta da contribuição dos outros gases é como se tivéssemos chegado a 504 ppm de CO₂. </p><p><b>Zero. Nada. Niente.</b></p><p>Uma das conclusões do <i>GHG Bulletin</i> corrobora aquilo que já alertamos ano passado em um vídeo em nosso canal no YouTube (<a href="https://www.youtube.com/watch?v=NrYn94oESQI" target="_blank">"A Pandemia Vai Conter o Aquecimento Global?"</a>): "A desaceleração econômica pela COVID-19 não produziu nenhum impacto discernível nos níveis atmosféricos de gases de efeito estufa e suas taxas de crescimento, apesar do declínio temporário nas emissões".</p><p>Guardemos uma vez por todas na nossa cabeça a seguinte sequência de relações de causalidade envolvendo emissões, concentrações de gases de efeito estufa e temperatura:</p><p>1. Emissões causam aumento de concentração: gases de efeito estufa "bem misturados" ou "de vida longa" seguirão se acumulando na atmosfera, com concentrações crescentes, enquanto as emissões forem maiores que as remoções; </p><p>2. Excesso de gases de efeito estufa causa aquecimento: enquanto a temperatura não subir até atingir um valor de equilíbrio com a concentração de gases existente na atmosfera, o planeta não vai parar de aquecer.</p><p>Ora, por serem gases de vida longa, que permanecem na atmosfera após serem emitidos, precisamos <b>zerar as emissões</b>, para que suas <b>concentrações comecem a cair</b> e o <b>aquecimento global possa desacelerar</b> e, por fim, começar a ser revertido. Divulgamos os principais resultados do Boletim dos Gases de Efeito Estufa com a chamada "Gases de Efeito Estufa Batem Recorde", mas a triste realidade é que, enquanto as emissões não forem de fato reduzidas a zero, essa frase se repetirá ano após ano. Pior, mesmo com emissões zeradas, é possível que algum aquecimento residual ainda venha a ocorrer. O quanto antes agirmos e fizermos o dever de casa (<b>carbono zero, carbono nada, carbono niente</b>), melhor.</p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-3264310833012406272021-09-22T23:14:00.003-03:002021-09-22T23:14:51.326-03:00Até Quando Continuaremos Desviando do Foco? Parte II - Vaquinhas Amestradas<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgVg7PYUgwrUez9-7ygAIJwO40QgEvOIuAprQrd1jnNfs69dXMBUEbKy2KRUQShAcvje5PqP_p7eBNLZN3hQLMmN37kF6_L1GE9inH_ZNmlFzdbavG6nzApiOjTrmTUaocjM-Tao7AW7M/s1280/cow-30710_1280.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1144" height="198" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgVg7PYUgwrUez9-7ygAIJwO40QgEvOIuAprQrd1jnNfs69dXMBUEbKy2KRUQShAcvje5PqP_p7eBNLZN3hQLMmN37kF6_L1GE9inH_ZNmlFzdbavG6nzApiOjTrmTUaocjM-Tao7AW7M/w177-h198/cow-30710_1280.png" width="177" /></a></div>Assim como a ORCA, usina de captura direta de carbono que entrou recentemente em operação na Islândia, também chegou amplamente ao noticiário o experimento que mostrou uma redução nas emissões de óxido nitroso através de um inusitado treinamento de vacas para "usarem o banheiro". Sabemos que isso fica por conta do aspecto pitoresco, mas assim como no caso anterior, o espaço generosamente concedido à técnica na mídia (convencional ou não) contrasta com sua quase irrelevância do ponto de vista da grande questão colocada: reduzir radicalmente as emissões a fim de manter o aquecimento global abaixo de níveis catastróficos. Nesta segunda parte de "Até Quando Continuaremos Desviando do Foco?" abordaremos a questão da escala, desta vez em relação ao xixi das vaquinhas...<p></p><p><span></span></p><a name='more'></a>Primeiro, vamos tentar entender a questão. A pecuária tem uma relação muito forte com a questão climática, como já mostramos em dois artigos em nosso blog ("A Outra Bomba de Carbono", partes <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/10/a-outra-bomba-de-carbono-nossa-dieta.html" target="_blank">1</a> e <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/10/a-outra-bomba-de-carbono-nossa-dieta_20.html" target="_blank">2</a>). São relativamente bem conhecidas as questões do "pum" das vacas e do gás metano (que, na verdade, sai em maior quantidade pela boca) produzido por fermentação entérica, bem como do desmatamento associado à expansão da fronteira agropecuária, embora seja um <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2016/10/sobre-os-graves-erros-de-cowspiracy.html" target="_blank">grande equívoco</a> atribuir-lhe um peso global maior do que o da indústria de combustíveis fósseis. <p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWsPq5u0P9pTzzuzNtRKavMDLpJApvd5FtFLQalffkIH4ILNaGecIcz7DPyh_xIxViIyH-LPr9CU-e0FecAH6TN2phBnAK1Fk-ICh8RYF_T-RY1Qg3bFN8vL9a6K0jFGZ68Zaa1NJ0fkI/s470/images.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="107" data-original-width="470" height="73" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWsPq5u0P9pTzzuzNtRKavMDLpJApvd5FtFLQalffkIH4ILNaGecIcz7DPyh_xIxViIyH-LPr9CU-e0FecAH6TN2phBnAK1Fk-ICh8RYF_T-RY1Qg3bFN8vL9a6K0jFGZ68Zaa1NJ0fkI/s320/images.png" width="320" /></a></div>Mas e quanto à urina do rebanho bovino? Quimicamente o que acontece é que a ureia, presente na urina, decompõe-se em CO2 e amônia. Como a quantidade de CO2 emitida nesse processo é relativamente pequena, a preocupação maior fica por conta da oxidação de parte da amônia, produzindo óxido nitroso. Este, como sabemos, é um gás de efeito estufa com <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Global_warming_potential" target="_blank">potencial de aquecimento global</a> muito maior, por conta de sua pequena abundância. Na escala de 100 anos, o aquecimento produzido por 1g de N2O emitido equivale àquele associado à emissão de 265g de CO2. A primeira parte do 6º relatório do IPCC mostra que as emissões de N2O contribuíram com um aquecimento de 0,10°C de 1750 a 2019.<p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijSKqwH-8WM4PyWPQm-wzdyVj1bJDH4foZS9f-JtEf8cMxehbw3T0bXPdNtB4U-ugJgX36Ehl8asOMwpxVDrGWgwgnJcULU6bzswTOlsDHC7qYa9Rf211MoQ2T2twJvOOVbL0MQmzLP2s/s1386/Captura+de+Tela+2021-09-22+a%25CC%2580s+22.21.51.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="596" data-original-width="1386" height="123" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijSKqwH-8WM4PyWPQm-wzdyVj1bJDH4foZS9f-JtEf8cMxehbw3T0bXPdNtB4U-ugJgX36Ehl8asOMwpxVDrGWgwgnJcULU6bzswTOlsDHC7qYa9Rf211MoQ2T2twJvOOVbL0MQmzLP2s/w286-h123/Captura+de+Tela+2021-09-22+a%25CC%2580s+22.21.51.png" width="286" /></a></div>Sendo as emissões de óxido nitroso relativamente relevantes, reduzi-las é algo importante para mitigação da crise climática. É aqui que entra o <a href="https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960982221009660" target="_blank">artigo científico</a>, publicado na revista "Current Biology", sugerindo que, se 80% da urina do gado for coletada, como obtido no experimento de "treinamento", essas emissões de óxido nitroso podem ser reduzidas em mais da metade (algo da ordem de 56%).<p></p><p>Mas quão relevante são estas emissões de óxido nitroso em comparação com as emissões de outros gases pela pecuária? O Brasil, com seu rebanho bovino extremamente numeroso, de <a href="https://www.ers.usda.gov/amber-waves/2019/july/brazil-once-again-becomes-the-world-s-largest-beef-exporter/" target="_blank">mais de 200 milhões de cabeças</a>, e com dados de emissões detalhados, via <a href="http://seeg.eco.br/" target="_blank">SEEG</a>, é um bom espaço amostral.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://pbs.twimg.com/media/E_aTBRjVgAkr8Sd?format=png&name=4096x4096" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="259" data-original-width="800" height="118" src="https://pbs.twimg.com/media/E_aTBRjVgAkr8Sd?format=png&name=4096x4096" width="364" /></a></div>As emissões de N2O cresceram ao longo dos anos em nosso país e aquelas associadas aos dejetos em pastagens chegaram a 177,3 mil toneladas em 2019. Aplicando o potencial de aquecimento global, isso equivale ao efeito de cerca de 47 milhões de toneladas de CO2. <p></p><p>Mas a fermentação entérica associada a esse mesmo rebanho produziu mais de 13 milhões de toneladas de metano (CH₄) em 2019, e com um GWP-100 igual a 28, essa quantidade de metano equivale a 366 milhões de toneladas de CO2. Além disso, lembremos que a mudança no uso da terra é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil e respondeu, em 2019 por 901 milhões de toneladas de CO2. Como as estimativas são de que <a href="https://www.brasildefato.com.br/2019/09/05/pecuaria-e-responsavel-por-80-do-desmatamento-na-amazonia-afirma-pesquisadora" target="_blank">em torno de 80%</a> disso se deveu à expansão da pecuária (em sua ampla maioria bovina), podemos botar na conta dessa atividade econômica aproximadamente 721 milhões de toneladas de CO2.</p><p>De antemão, percebemos que as emissões de óxido nitroso, embora não sejam irrelevantes, são 7,8 vezes menores que as emissões de metano e 15,3 vezes menores que as emissões de dióxido de carbono, representando algo da ordem de 4% do total das emissões da pecuária. Se todo o gado brasileiro aprendesse a "usar o banheiro", reduziríamos as emissões em 26 milhões de toneladas de CO2-equivalente, mas esse valor é bastante pequeno face ao total de 2,175 bilhões de toneladas em nosso país em 2019.</p><p>E, <b>assim como no caso da usina de captura direta de CO2, a informação da escala se perdeu</b>. Justamente quando não podia se perder. De um modo geral, a mídia não se prestou ao serviço que deveria prestar: o de informar devidamente sobre a questão, incluindo as reais possibilidades de esse experimento produzir efeitos significativos no sentido de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. </p><p>A <a href="https://www.bbc.com/portuguese/geral-58570303" target="_blank">BBC Brasil</a>, por exemplo, mencionou corretamente que a pecuária é responsável por uma parcela significativa das emissões, mas não mencionou que o óxido nitroso produzido a partir da amônia gerada pela urina é na verdade uma fração bem pequena dessas emissões. A <a href="https://super.abril.com.br/ciencia/cientistas-ensinam-vacas-a-usar-banheiro-contra-o-aquecimento-global/" target="_blank">Super Interessante</a> falou do potencial dessa técnica em "ajudar a desacelerar o aquecimento global", mas também não se preocupou em avaliar a dimensão dessa "ajuda". A manchete do <a href="https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/bbc/2021/09/15/mudancas-climaticas-cientistas-treinam-vacas-para-usar-banheiro-contra-aquecimento-global.htm" target="_blank">UOL</a> também sobrevaloriza o impacto da pesquisa ao estampar "Mudanças climáticas: cientistas treinam vacas para usar banheiro contra aquecimento global" e a <a href="https://www.istoedinheiro.com.br/cientistas-ensinam-vacas-a-usar-banheiro-para-combater-o-aquecimento-global/" target="_blank">Istoé Dinheiro</a> foi numa toada parecida.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpAHd2Yuff_pdRliU_rEU0AYWy0DiymXmnXk91kOfEi-DFlhFDcBiNWeRQuvez3ecuL3dTYpeFFKjbuh7oG_CW3zl3gA9fgU0MXS7GSBVshjrMcIvmy5_dkwLGmguYv2nAKnUlweW0Jjs/s624/20181218-104596753_carne.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="477" data-original-width="624" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpAHd2Yuff_pdRliU_rEU0AYWy0DiymXmnXk91kOfEi-DFlhFDcBiNWeRQuvez3ecuL3dTYpeFFKjbuh7oG_CW3zl3gA9fgU0MXS7GSBVshjrMcIvmy5_dkwLGmguYv2nAKnUlweW0Jjs/s320/20181218-104596753_carne.jpg" width="320" /></a></div>A falta de um olhar crítico ficou patente. Do ponto de vista da redução das emissões, mudanças superficiais como "treinar vacas" tem efeito muito pequeno mesmo que aplicadas em grande escala, em comparação com o restante das emissões da agropecuária. Ora, sabe-se que os alimentos de origem animal têm uma "pegada" várias vezes maior que os de origem vegetal, respondendo pela maior parte das emissões do sistema alimentar (58%). Dai, a defesa de uma dieta a base de plantas ou, no mínimo, da redução substancial do consumo de carne (especialmente de animais ruminantes) é a única forma de termos um impacto efetivamente substancial nessas emissões. <p></p><p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcdTTE6gZBpMnmBZRE1hyphenhyphen8gFgwBHCmTCzAL2kiU5jIhg7IAIun2gmjHb7g-Q7LIEazA79WPHlTlwMQy7l3RYOi7br39bPKcPn5XcBgVCiKlydz0Ml7OGGpgyE_pJ5TualOVhSfkgi2N8c/s361/Imagem1.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="201" data-original-width="361" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcdTTE6gZBpMnmBZRE1hyphenhyphen8gFgwBHCmTCzAL2kiU5jIhg7IAIun2gmjHb7g-Q7LIEazA79WPHlTlwMQy7l3RYOi7br39bPKcPn5XcBgVCiKlydz0Ml7OGGpgyE_pJ5TualOVhSfkgi2N8c/s320/Imagem1.png" width="320" /></a></div>Mas o que tem acontecido ao longo dos últimos anos vai na contramão do que é necessário. O consumo anual de carne se expandiu de 71 milhões de toneladas em 1961 para 341,2 milhões de toneladas em 2018, com o consumo per capita tendo quase duplicado nesse período, saltando de 23,1 kg por pessoa por ano para 43,2 kg. Para além da questão climática, sabe-se que a redução das áreas de habitat da vida silvestre nas últimas décadas tem relação direta com a expansão do consumo de produtos de origem animal. Nada menos que 77% da área ocupada pela agropecuária são utilizados como pasto ou monoculturas para produção desses alimentos, enquanto 23% se destinam ao plantio de alimentos humanos de origem vegetal. E mesmo ocupando 3,6 vezes mais área, os produtos de origem animal nos fornecem apenas 18% das calorias e, excluindo pescado, 37% das proteínas, segundo a FAO.<p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiajrs4GTnUZbJWkeOcT9nJTKPxqTQ2dJNLw8iqdTAh6ne2VaRrE4TOnjaBqnoPnmOVeW2ia9RTSUZS2VkGmi2u1SbmIPx451IA2Z8FZX-HH7uRO3TfQ00HxlahFI5avvEpVgE3hLC9RFY/s1280/cow-153873_1280.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="830" data-original-width="1280" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiajrs4GTnUZbJWkeOcT9nJTKPxqTQ2dJNLw8iqdTAh6ne2VaRrE4TOnjaBqnoPnmOVeW2ia9RTSUZS2VkGmi2u1SbmIPx451IA2Z8FZX-HH7uRO3TfQ00HxlahFI5avvEpVgE3hLC9RFY/w258-h168/cow-153873_1280.png" width="258" /></a></div>A conclusão a que chegamos é que, por mais que soe exótico e tenha apelo como algo pitoresco, a ideia de "vaquinhas educadas" não representa contribuição substancial para resolver a crise climática e se a mídia (tradicional ou alternativa) deseja informar corretamente sobre a crise climática, deve dar peso proporcional ao que realmente importa: a descarbonização profunda dos sistemas produtivo, alimentar e energético, incluindo o necessário debate da nossa dieta. Assim como no tópico da captura de carbono, <b>não podemos supervalorizar o periférico e perder o foco do central</b>. <p></p><p> </p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-74787644237806111042021-09-22T20:47:00.000-03:002021-09-22T20:47:22.685-03:00Até Quando Continuaremos Desviando do Foco? Parte I - Remoçãozinha de Carboninho<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK0zPEXmtGrXx7OFC0WYkR8HyTlE2oCsKXkbMEYk6iVI6i9S8hXqnbrLvt14TRpShOJqHVeqT-oLcaX5By3aufHwX0fKJF2V_wk0W76Cl_Q8wdConLalmaSKvP-SMDrzWzbexpvEJAMbg/s1280/maxresdefault.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK0zPEXmtGrXx7OFC0WYkR8HyTlE2oCsKXkbMEYk6iVI6i9S8hXqnbrLvt14TRpShOJqHVeqT-oLcaX5By3aufHwX0fKJF2V_wk0W76Cl_Q8wdConLalmaSKvP-SMDrzWzbexpvEJAMbg/w283-h171/maxresdefault.jpg" width="283" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Atmosfera e Biosfera para o capital:<br />"Você não soube me amar!"</td></tr></tbody></table>Duas notícias correram o mundo nas últimas semanas: a divulgação de uma usina,
em funcionamento na Islândia, capaz de remover dióxido de carbono diretamente da
atmosfera e "transformá-lo em rocha" e a publicação de uma pesquisa em que
vacas, treinadas para "usar o banheiro", poderiam contribuir com a redução das
emissões de óxido nitroso. "Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem". Mas
existe um "pequeno" (ou seria grande?) problema: <b>escala</b>. Em dois artigos, vamos comentar um pouco sobre essas
duas notícias... e um pouco mais. <div><br /></div><div><br /><div><span><a name='more'></a></span><b><br /></b></div><div><b>A PULGA E A MONTANHA</b><div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ4Fu7fzHCqrocX90vMRW7AEKn0G2cSg9Hm71ucWz-YIN9rU5ScP1Sv80VHbDO4XotMB9iCz14By4vrICWAI-WrJCNrQ7kfFrQDk_-8EJT7o1o5ctQN6lB0byY7QcnyvzuDE1RKn_y8BY/s1296/Captura+de+Tela+2021-09-11+a%25CC%2580s+11.18.31.png" style="clear: right; display: block; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="1250" data-original-width="1296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ4Fu7fzHCqrocX90vMRW7AEKn0G2cSg9Hm71ucWz-YIN9rU5ScP1Sv80VHbDO4XotMB9iCz14By4vrICWAI-WrJCNrQ7kfFrQDk_-8EJT7o1o5ctQN6lB0byY7QcnyvzuDE1RKn_y8BY/s320/Captura+de+Tela+2021-09-11+a%25CC%2580s+11.18.31.png" width="320" /></a></div>A usina de mineralização de CO2, como divulgou a imprensa internacional (vide "print" da <a href="https://www.theguardian.com/environment/2021/sep/09/worlds-biggest-plant-to-turn-carbon-dioxide-into-rock-opens-in-iceland-orca" target="_blank">matéria do periódico britânico "The Guardian"</a>) entrou em funcionamento e foi amplamente destacado que se tratava da <b>maior usina do mundo</b> em operação, a realizar remoção de dióxido de carbono diretamente da atmosfera. Em quase toda a cobertura de imprensa, a tecnologia apareceu vendida como uma esperança para contribuir com a mitigação das mudanças climáticas e isso em si já traz um risco quando não se enfatiza, <b>ao mesmo tempo</b>, a necessária descarbonização dos sistemas energético, produtivo e alimentar. Mais do que isso, embora todo e qualquer suporte tecnológico para conter o aquecimento global seja, a priori, bem vindo, sem contextualizar a dimensão dessa captura de carbono face as emissões, o "oba-oba" em torno desses "technofixes" (soluções tecnológicas) adquire o risco de se transformar em desinformação pura e simples. A indústria de combustíveis fósseis agradece. </div><div><br /></div><div>No que diz respeito à mídia brasileira, para sermos justos, o <a href="https://oglobo.globo.com/mundo/maior-usina-de-captura-de-carbono-do-ar-comeca-operar-na-islandia-25188957" target="_blank">site de "O Globo"</a> até chegou a colocar os números da usina ORCA ao lado das emissões globais, mas não desenvolveu em cima dessa comparação, como deveria, e a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/09/maior-usina-de-captura-de-gas-carbonico-do-mundo-e-inaugurada-na-islandia.shtml" target="_blank">matéria da Folha de São Paulo</a>, por sua vez, mostrou os custos elevados, falou da necessidade de "tirar bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono da atmosfera" e chegou a mencionar críticas, mas também ficou a dever naquilo que deveria ser dito ao público. </div><div><br /></div><div>Para quem não é familiar com a captura direta de carbono, a tecnologia é facilmente entendida: o ar é sugado para compartimentos com um filtro que captura o gás carbônico. Depois o dispositivo é selado e aquecido para liberá-lo e o ar enriquecido com CO2 é injetado em água, que é infiltrada na rocha onde ele é mineralizado na forma de carbonato. Mesmo sem entrar nos impactos ambientais, na energia consumida nesse processo e nos custos, ao nos perguntarmos <b>quanto CO2 é capturado</b>, constatamos o quão pífias são essas tecno-iniciativas no presente, sabendo que não podermos esperar genericamente por um futuro nos quais elas ganhem em escala, dada a urgência de enfrentamento inadiável da crise climática. A ORCA, a um custo indecente de uma libra esterlina por quilograma de CO2, tem capacidade de remover apenas 4 mil toneladas desse gás por ano. </div><div><br /></div><div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1k6Um0l6iRDVBYrHf_I6y9W9hIQBVFPUQkxMyU4c9PTvkxmlh4IJG-Ui9UdHLb6dzwvLefQZeo299ETtXm5yCIgYlcBDmBvK4XfwBwmaIzDAsQKDFXRhpJ9Z4-7ZLQQeT7SO_KRYE3T0/s1650/Captura+de+Tela+2021-09-22+a%25CC%2580s+20.16.19.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="854" data-original-width="1650" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1k6Um0l6iRDVBYrHf_I6y9W9hIQBVFPUQkxMyU4c9PTvkxmlh4IJG-Ui9UdHLb6dzwvLefQZeo299ETtXm5yCIgYlcBDmBvK4XfwBwmaIzDAsQKDFXRhpJ9Z4-7ZLQQeT7SO_KRYE3T0/s320/Captura+de+Tela+2021-09-22+a%25CC%2580s+20.16.19.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Termelétricas a carvão em operação no mundo.<br />Fonte: carbonbrief.org</td></tr></tbody></table>Vamos aos números que importam. Uma única termelétrica a carvão, como a UTE Pecém, a maior em operação no Brasil até 2019, emite mais de 5 milhões de toneladas de CO2 por ano, ou seja, em menos de 7 horas de funcionamento ela já lançou todo o gás que a ORCA levaria um ano para capturar. Mas mesmo sendo de grande porte, essa usina está longe de estar entre as maiores do mundo. A maior unidade termelétrica do planeta, a <a href="https://www.gem.wiki/Datang_Tuoketuo_power_station" target="_blank">Datang Tuotekuo</a>, localizada na China, emite 30,69 milhões de toneladas de CO2 anualmente e, portanto, precisa de cerca de uma hora e quinze minutos para exceder a capacidade anual de captura de carbono da ORCA. Mas existem muitas termelétricas operando no planeta. <a href="https://www.statista.com/statistics/859266/number-of-coal-power-plants-by-country/" target="_blank">Só na China, são 1082 movidas a carvão</a> em operação. Fora as usinas a gás e derivados do petróleo. Fora os automóveis, aviões e navios (e neste caso basta lembrar que a ORCA captura o CO2 emitido por apenas 870 carros, enquanto a frota automobilística do planeta provavelmente <b><a href="https://www.worldometers.info/cars/#:~:text=It%20is%20estimated%20that%20over,roads%20of%20the%20world%20today." target="_blank">ultrapassa 1 bilhão</a></b>). Fora o uso de combustíveis fósseis pelas indústrias e a produção de cimento. Fora o desmatamento na Amazônia, florestas da Indonésia e restante do mundo....</div><div><br /></div><div>A <a href="https://climeworks.com/" target="_blank">Climeworks</a>, empresa responsável pela ORCA pretende construir uma usina similar, "dez vezes maior", "nos próximos anos", mas a essa altura do nosso texto, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso percebe como até mesmo 1000 usinas 10 vezes maiores seriam irrelevantes do ponto de vista da solução da crise climática, pois tudo isso resultaria na captura anual de meros 43 milhões de toneladas de CO2 (pouco mais do que emite a Datang Tuotekuo). Em 2019 foram emitidos 43 <b>bilhões</b> de toneladas de CO2, ou mil vezes mais.</div></div></div><div><br /></div><div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuiNcoHx_A5tMtXlmD54aXuLFhTh1YnhisJ8h6OJPQcCfLmDr4XHVidQiGE-NHHyy_PjXn1Z3deHzBgBGuvhAhbAiGDm6D4cjrMuOZpLXGjOEokcB-Wg1VDNs5BwjGG8Bs97DH1YRS3_Y/s1280/waterfalls-1030737_1280.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuiNcoHx_A5tMtXlmD54aXuLFhTh1YnhisJ8h6OJPQcCfLmDr4XHVidQiGE-NHHyy_PjXn1Z3deHzBgBGuvhAhbAiGDm6D4cjrMuOZpLXGjOEokcB-Wg1VDNs5BwjGG8Bs97DH1YRS3_Y/s320/waterfalls-1030737_1280.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Usinas" de captura "raiz" (literalmente)</td></tr></tbody></table>Não, a solução definitivamente passa longe de instalarmos 10 milhões de usinas de remoção de CO2, mas por reduzir a demanda energética, promover a transição para renováveis, descarbonizar a indústria e o transporte e, obviamente, interromper imediatamente o desmatamento e revertê-lo, beneficiando-nos das incríveis usinas de captura de carbono chamadas... árvores, que funcionam com tecnologia aprovada há muitos milhões de anos. Por mais que tecnologias de captura artificial de carbono possam em algum momento auxiliar-nos na gigantesca tarefa de evitar que o sistema climático terrestre ultrapasse limites de alto risco, as atenções precisam estar voltadas para <b>manter o carbono onde está</b>, ao invés de cair na armadilha, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2018/06/o-capital-quer-lucrar-duas-vezes-ao.html" target="_blank">duplamente lucrativa</a> para corporações capitalistas, de lançá-lo à atmosfera (ao queimar carvão, petróleo, gás ou florestas) para depois (fazer de conta que irá) retirá-lo de lá.</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-66459779371689895962020-07-12T16:19:00.000-03:002020-07-12T16:54:42.673-03:00O desserviço de "Planeta dos Humanos"<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0UukFGH_svHARe3TmjTwhRLs_NgzMoQVg2WjgdSuV-0i9m53Qhw9DidYvQ0LJ4qoiXsR3yKO9bvoJh3SZdMaRMBqnCVS3OD0ZIj5ikZL2yjIbSGTLxi4OQ8K8CHSzBJjsh6HpSUQ6he4/s1600/Captura+de+Tela+2020-07-12+a%25CC%2580s+13.11.19.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1398" data-original-width="1600" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0UukFGH_svHARe3TmjTwhRLs_NgzMoQVg2WjgdSuV-0i9m53Qhw9DidYvQ0LJ4qoiXsR3yKO9bvoJh3SZdMaRMBqnCVS3OD0ZIj5ikZL2yjIbSGTLxi4OQ8K8CHSzBJjsh6HpSUQ6he4/s320/Captura+de+Tela+2020-07-12+a%25CC%2580s+13.11.19.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Famigerado site de Fake News da ultradireita dos EUA celebra<br />
"Planet of the Humans" porque ele "desmonta as fraudes da<br />
energia verde da esquerda". E tem razão em celebrá-lo.</td></tr>
</tbody></table>
"Planet of the Humans" parece ter chegado com mais força ao radar do ambientalismo brasileiro e isso quase me obriga a vencer a inércia de escrever sobre um filme que considero particularmente ruim. O que é preocupante é que, com uma ou outra premissa correta e um ou outro discurso aparentemente radical como "simplesmente trocar combustíveis fosseis por renováveis não irá nos salvar; o foco dos capitalistas é lucro", o que é uma platitude, uma obviedade, ele parece ganhar a atenção de alguns ambientalistas e da esquerda. Mas um olhar minimamente crítico sobre o filme mostra que provavelmente mais sentido ainda faça ele ter sido celebrado, vejam só, no ecossistema da direita negacionista como mostra <a href="https://www.desmogblog.com/2020/05/01/fossil-fuel-backed-climate-deniers-rush-promote-michael-moore-planet-of-humans">farta evidência</a>. Neste breve artigo, analisaremos o porquê disso.<br />
<br />
<br />
<a name='more'></a>A isca é aparentemente boa. Tem apelo para capturar setores mais radicais do ambientalismo, que entendem - como todos deveriam, aliás - que o capitalismo é um sistema essencialmente expansionista e, portanto, destrutivo, afinal, denunciar o impacto negativo de projetos de energias renováveis voltados apenas para o lucro é justamente o que se deve fazer, não é? Tem apelo também para seduzir setores da esquerda que nunca foram de fato simpáticos às renováveis e que sempre relutaram a abandonar o desenvolvimentismo, afinal se tanto renováveis quanto nuclear ou até mesmo fósseis são todas destrutivas, por que se importar em mudar a matriz energética mesmo?<br />
<br />
Mas é só aparência. A isca está estragada e, dentro dela, o anzol é realmente o que mata.<br />
<br />
No filme, nenhum Cientista do Clima é ouvido. Alguns "especialistas" aparecem em determinado momento com afirmações perigosas (voltaremos a eles em breve), mas o tom da narrativa é todo ditado pelas afirmações lançadas ao vento na voz de Jeff Gibbs, alternadamente com a do autor da pérola, Ozzie Zehner.<br />
<br />
O filme se caracteriza por uma abordagem anticientífica, deturpada e desonesta sobre as tecnologias de energias renováveis já no começo. Mostra paineis solares velhos para ilustrar a "tragédia" do que deveria ser uma energia limpa. Mente descaradamente sobre as emissões do ciclo de vida de produção, transporte, instalação, operação e descarte de paineis solares e aerogeradores, ao afirmar que "as emissões nesse processo são maiores" do que aquelas que essas energias evitam ao substituírem fontes fósseis.<br />
<br />
Isso não é apenas "errado". Para ficar "errado" precisa melhorar muito. É uma barbaridade desprovida de qualquer fundamento. É uma afirmação mentirosa e desonesta. Já seria de fato questionável, desde os idos de 2012, quando Zehner escreveu seu livro "Green Illusions: The Dirty Secrets of Clean Energy and the Future of Environmentalism" (algo como "Ilusões Verdes: os Segredos Sujos da Energia Limpa e o Futuro do Ambientalismo) e que coincidentemente é o ano do <a href="https://www.nature.com/articles/nclimate1451">artigo científico</a> apresentado no documentário para dar um verniz... mas em 2020, tornou-se um disparate completo.<br />
<br />
Uma das afirmações, de que a indústria de renováveis criou "os processos industriais mais tóxicos jamais criados" é aparentemente uma bravata. Até onde sei, nenhum processo é mais tóxico do que o do <a href="https://www.ecycle.com.br/1899-cianeto.html">processamento do ouro</a>, que envolve cianeto, sendo que, embora alguns países tenham banido essa prática, "quase 90% de toda a produção mundial ainda é feita a partir do processo de cianetação do ouro" segundo o <a href="https://www.ecycle.com.br/">ecycle</a>. E o ouro, além das joias, aparece (embora hoje em menor proporção do que antes) <a href="https://firstquarterfinance.com/what-electronics-have-the-most-gold-in-them/">em quase todos os eletrônicos que se possa imaginar</a>: computadores, TVs, games, celulares...<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij6quM3IAGMoszzZ5Ebz_WYbQrlEqWzSHVU3ph9Xwh-Ln00ZV9tXRyJBadX5FizUbMzeljNFu7kFci9Puf2GWq8XD5szye-FU1V1vMd38O-nLYpDwwD2whd7nSnurIMDzodS9GRZSCSUs/s1600/Imagem1.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="377" data-original-width="883" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij6quM3IAGMoszzZ5Ebz_WYbQrlEqWzSHVU3ph9Xwh-Ln00ZV9tXRyJBadX5FizUbMzeljNFu7kFci9Puf2GWq8XD5szye-FU1V1vMd38O-nLYpDwwD2whd7nSnurIMDzodS9GRZSCSUs/s320/Imagem1.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">É verdade que precisamos de 30 paineis solares para fazer<br />
funcionar uma única torradeira?</td></tr>
</tbody></table>
Em outros momentos, o documentário retira as coisas de contexto de maneira desonesta, como ao mostrar um conjunto de paineis solares e afirmar: "tudo isso só para fazer funcionar uma torradeira". Segundo <a href="https://www.daftlogic.com/information-appliance-power-consumption.htm">este site</a>, uma torradeira pode consumir de 800 a 1800 Watts. De fato, um <a href="https://www.magazineluiza.com.br/painel-solar-fotovoltaico-405w-policristalino-half-cell-canadian-solar-nac-cs3w-405p/p/dkbd0023gf/rc/rcnm/?&1=1&seller_id=minhacasasolar&&utm_source=google&utm_medium=pla&utm_campaign=&partner_id=54222&gclid=Cj0KCQjw6ar4BRDnARIsAITGzlBRRTIQn57bWXJ3csNcDxDcwcKwX6Ze7igvrhcBDdtJDXCh4QcXGOgaArsEEALw_wcB">painel solar típico</a> tem potência nominal (isto é, máxima) de 405 W com eficiência média (considerando as noites em que, por motivos óbvios, não há geração) de 18,3%. Então seriam necessários, em média, 10 a 24 paineis, em média para suprir uma torradeira que <b>ficasse ligada o tempo todo</b>.<br />
<br />
Mas essa conta não faz sentido no mundo real, pois as torradeiras não ficam o tempo todo ligadas... Pelo contrário, é um dos eletrodomésticos que permanece ligado por menos tempo. Se usarmos a torradeira por 10 min no café da manhã, mesmo o modelo de maior potência vai usar apenas 300 Wh (Watt-hora). Um único painel solar com as características acima produz 405 x 18,3% x 24 = 1779 Wh, portanto quase 6 vezes mais. Francamente, usar desse tipo de falácia ultrapassa o limite do vergonhoso.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Lv_Ev3sH6x2-G0GdddSiRplwxkiXfcmSfQqlhqFpSN_BTzfiFYChJW3g6KGvmfj1uRY3hDEvdP5fZejLOprQZ_-PH4YY5vGjzmIJjhUPEe5txnoiaQujYIMuWyuAlqab1kd1FgqNZzQ/s1600/0000.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="613" data-original-width="792" height="247" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Lv_Ev3sH6x2-G0GdddSiRplwxkiXfcmSfQqlhqFpSN_BTzfiFYChJW3g6KGvmfj1uRY3hDEvdP5fZejLOprQZ_-PH4YY5vGjzmIJjhUPEe5txnoiaQujYIMuWyuAlqab1kd1FgqNZzQ/s320/0000.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Planet of the Humans mente. A pegada de carbono das renováveis<br />
é realmente várias ordens de magnitude menor do que das fósseis.</td></tr>
</tbody></table>
As informações de que a "eficiência" dos paineis solares é de 8% e que sua durabilidade é restrita a 10 anos não conferem com a realidade. O padrão de tempo de vida dos paineis hoje é de <a href="https://news.energysage.com/how-long-do-solar-panels-last/">até 3 décadas</a>, quase sem necessidade de manutenção. Sua eficiência também é bem maior do que afirmado no lamentável "documentário". É o dobro ou o triplo do que foi afirmado, tipicamente. Isso significa que, durando 3 vezes mais e produzindo até 3 vezes mais energia, paineis solares são na verdade produzem 9 vezes mais energia ao longo do seu ciclo de vida do que "Planet of the Humans" afirma, o que por si só já demonstra a farsa de que essa energia seria menor do que aquela necessária para fabricá-los, transportá-los e instalá-los. Os números, aliás, não mentem. Mesmo com o uso de energias fósseis em sua produção, como atualmente, a pegada de carbono de paineis fotovoltaicos gira em torno de 50 gCO2eq/kWh (gramas de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Equival%C3%AAncia_em_di%C3%B3xido_de_carbono">CO2-equivalente</a> por quilowatt-hora), enquanto que o valor para gás ultrapassa 400gCO2eq/kWh e para carvão vai à ordem de 1000gCO2eq/kWh ou mais. Para mais detalhes nas inúmeras distorções sobre renováveis, indicamos o <a href="https://www.renewableenergymagazine.com/panorama/just-plain-wrong-the-false-claims-errors-20200513">artigo de Robin Whitlock</a> na Renewable Energy Magazine.<br />
<br />
Não é à toa que Dana Nuticelli publicou <a href="https://www.yaleclimateconnections.org/2020/05/michael-moores-planet-of-the-humans-documentary-peddles-dangerous-climate-denial/">artigo no site Yale Climate Connection</a> em que se refere ao documentário produzido por Michael Moore como uma peça de "negacionismo climático perigoso", que Ketan Josh se refere ao filme como uma <a href="https://ketanjoshi.co/2020/04/24/planet-of-the-humans-a-reheated-mess-of-lazy-old-myths/">mistura requentada de mitos antigos e indolentes</a>, e que ele é um "<a href="https://www.vox.com/2020/4/28/21238597/michael-moore-planet-of-the-humans-climate-change">presente para o Big Oil</a>", como afirma Leah Stokes.<br />
<br />
A tortura com os números feita em Planet of the Humans me faz lembrar do malabarismo que foi feito para que Cowspiracy afirmasse que a pecuária era a maior responsável pelo aquecimento global (quando isso obviamente não é verdade, como mostramos na crítica que fizemos ao filme, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2016/10/sobre-os-graves-erros-de-cowspiracy.html">aqui mesmo em nosso blog</a>).<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr1YZV_XiSik-C09Hm1E6XxfsZh6EMwTzo4GWwv-GcBOPQ5jXzPvN-GuKC-4zsT6lF5ae_RlxHu2pmumzYW644tCCMK3dGdVoV6tn8z4TuDQW9BTqS95xABT9Y26To1X5nJytm9Kjwayg/s1600/Captura+de+Tela+2020-07-12+a%25CC%2580s+13.58.39.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1147" data-original-width="1600" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr1YZV_XiSik-C09Hm1E6XxfsZh6EMwTzo4GWwv-GcBOPQ5jXzPvN-GuKC-4zsT6lF5ae_RlxHu2pmumzYW644tCCMK3dGdVoV6tn8z4TuDQW9BTqS95xABT9Y26To1X5nJytm9Kjwayg/s320/Captura+de+Tela+2020-07-12+a%25CC%2580s+13.58.39.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O discurso sobre demografia colocado acima do discurso de<br />
consumo e de modo de vida é uma porta aberta para ideologias<br />
de extermínio, como o ecofascismo. Precisa ser rejeitado de<br />
imediato! (Prints do documentário)</td></tr>
</tbody></table>
A analogia entre os dois filmes aliás também aparece no que diz respeito ao tom conspiracionista e aos ataques desproporcionais a organizações ambientalistas. Sim, não é que Greenpeace, 350.org, Sierra Club e outras estejam acima da crítica, mas esse padrão de ataques levianos me causa enorme desconfiança (em particular o ataque a Bill McKibben, tratado como um terrível "queimador de árvores" me pareceu injusto e desonesto e por isso deixo o link para <a href="https://350.org/response-planet-of-the-humans-documentary/">a resposta do ambientalista ao documentário</a>).<br />
<br />
Mas diferente de Cowspiracy, que parece apontar, embora com vários argumentos errados, para um propósito correto (o de abandonar, ou pelo menos reduzir radicalmente o consumo de carne, algo realmente necessário e urgente), Planet of the Humans parece atirar-nos muito mais para o imobilismo, o conformismo, a desilusão; para um niilismo com toques malthusianos que chega a deixar até mesmo a porta aberta para o ecofascismo.<br />
<br />
Sim, porque quando o filme desata a falar de população, o bicho realmente pega. "Há muitos seres humanos consumindo muito e muito rapidamente", "precisamos começar a lidar com a questão da população", "o crescimento populacional continua a ser o elefante, ou a manada de elefantes na sala". E isso é uma das maiores falácias que se possa imaginar. Um habitante médio de Malawi, da República Democrática do Congo ou de Ruanda emite apenas 0,1 tonelada de CO2-equivalente por ano. Essa pegada de carbono é 165 vezes menor do que a de um habitante médio dos EUA. Mas entre os 10% mais ricos dos estadunidenses, a pegada é 50 toneladas de CO2-equivalente por ano. Isso é <b>quinhentas vezes maior </b>do que as emissões médias dos habitantes de países da África. E eu não faço ideia de qual seja a pegada de carbono de um único bilionário.<br />
<br />
Então, não! Não somos muitos consumindo muito. É uma minoria que está consumido para muito além do que é razoável. Energia e matéria-prima para suprir um modo de vida de elevado consumo de bens e serviços que simplesmente não cabe neste planeta. O impacto ambiental humano não é simplesmente um impacto individual abstrato multiplicado pelo total de pessoas, mas o resultado de um modo de vida e um padrão de consumo específicos, o modo de vida do Sr. Carbono, como mostramos <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2018/11/a-prosperidade-como-inimiga-do-clima.html">em outro artigo do nosso blog</a>. Brian Khan, <a href="https://earther.gizmodo.com/planet-of-the-humans-comes-this-close-to-actually-getti-1843024329">no Gizmodo</a>, chega a afirmar que Planet of the Humans chega "bem perto" de entender qual é realmente o problema, mas "termina por virar ecofascismo total". Não serei generoso em afirmar que ele chegou pertinho ("this close") da solução, pois para mim andou longe; embora tampouco ache que a terrível saída ecofascista é a única interpretação possível.<br />
<br />
Porque para mim há outra interpretação que pode perfeitamente emergir do filme: o derrotismo, o niilismo, o imobilismo. Na realidade, o filme chega a induzir isso em um dado momento quando abre espaço para um psicólogo criticar que "recusamos a imortalidade". Uma longa citação de "O Mito de Sísifo" de Camus é destacada, no que sugere que abracemos o niilismo.<br />
<br />
Mas ao contrário de uma perspectiva niilista mais elaborada de que "fora dessa única fatalidade da morte, tudo, alegria ou felicidade, está liberto", é o abraço do fatalismo que geralmente se vê. Afinal, se todas as energias têm impactos, para que mudar mesmo o sistema energético; se tudo é mal, deixa as fósseis mesmo... Aliás, para que mudar algo mesmo, se o destino final de todos e cada um já se sabe? Quem aplaude esse fatalismo imobilista e essa impotência autointrojetada é ninguém menos que o conservadorismo. Não é à toa que o artigo da primeira imagem que mostramos, publicado na Breibart (recusamo-nos, por motivos óbvios a "linká-lo") afirma: "Planet of the Humans pede à esquerda que analise com atenção sua própria hipocrisia e com que facilidade suas visões utópicas são exploradas por negociantes e oportunistas. E talvez abra um diálogo produtivo com os conservadores também."<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEZytkge0BvsIgL9zwbjojX0idL0Z_oBGnL7gtEhIIP_uMlW6uVVAy8EwTAKyT2Cw5t42Mr1F_xB1zk8V_y9QDn-Xq9HA1Q49BY2BAQrMdC0mu0U9h09Qcr4oImXgQxcw_TTLZLm071m0/s1600/008-everything-you-need-to-know-about-the-september-20-climate-strikes-17th-sept-2019-vogue-int-getty-images+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="640" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEZytkge0BvsIgL9zwbjojX0idL0Z_oBGnL7gtEhIIP_uMlW6uVVAy8EwTAKyT2Cw5t42Mr1F_xB1zk8V_y9QDn-Xq9HA1Q49BY2BAQrMdC0mu0U9h09Qcr4oImXgQxcw_TTLZLm071m0/s320/008-everything-you-need-to-know-about-the-september-20-climate-strikes-17th-sept-2019-vogue-int-getty-images+%25281%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nem ecofascismo nem niilismo. AÇÃO!</td></tr>
</tbody></table>
Daí, parece haver um grave erro aqui... Não, senhores Ozzie Zehner e Michael Moore! O que recusamos não é a finitude, mas a morte antecipada! Ao buscamos saídas justas, coletivas e sustentáveis para a existência humana o que queremos é negar que nosso destino esteja irremediavelmente amarrado ao de um sistema predatório e destrutivo (que não apenas tem de morrer como tem de morrer logo) e isso não tem nada a ver com uma ilusão de imortalidade! E aí, pensando bem... talvez até haja, além da porta, uma outra janela aberta para o ecofascismo, afinal quem foi mesmo que disse que a morte era o "destino de todo mundo", banalizando a carnificina produzida pelo coronavírus em Terra Brasilis?<br />
<br />
É em virtude de todos esses absurdos que mostramos aqui que mesmo as eventuais críticas justas trazidas no filme - uma delas à mineração e produção de zonas de sacrifício - se tornam não apenas insuficientes, mas perdem o que há de mais importante na crítica: o empoderamento para a ação. A pergunta, como historicamente os movimentos socioambientais têm feito é "Energia: para quê, para quem e como?" ao que acrescentaria "quanta". Precisamos sim, reconhecendo os enormes impactos da mineração e a insustentabilidade da gigantesca demanda energética atual, afirmar que energia para hospitais, escolas, produção de bens de consumo duráveis, compartilháveis e de fato úteis é uma demanda justa; que nesse sentido, energia é direito humano (e também não-humano), isto é, é bem comum oferecido por um reator de fusão nuclear localizado a 150 milhões de quilômetros de nós com garantia de funcionamento por vários bilhões de anos à frente; que ela precisa ser distribuída de forma acessível, descentralizada e com mínimo impacto socioambiental, sem perdularismo.<br />
<br />
E essa possibilidade é a que sempre defendemos aqui em nosso blog, no ecossistema de ideias ecossistêmicas: Ecossocialismo, Bem-Viver, Decrescimento Justo, Justiça Climática! Planet of the Humans, aplaudido por negacionistas, pela indústria fóssil, pela indústria nuclear e pela Breibart anda longe dessa alternativa e eu jamais o recomendaria como um documentário sério a fim de debater a crise climática e a questão energética.</div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-90483135448294768992020-03-11T23:58:00.000-03:002020-03-12T10:50:15.659-03:00Compreender o Antropoceno e combater o Capitalismo, para além da terminologia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj66dmI5VW0-rgiSuh5vJJuhcupbvA0ZaP1qpRGCO1ZBz1zFNTfhrdwG5yoPTxLNQ2F3IJPnUCczsjPRqf6vQSvkyDuDTTP6PbWta400jiStPA2WnBGq3-cnevFYGuCjQ05WkSEY25_CiU/s1600/antro3.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="980" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj66dmI5VW0-rgiSuh5vJJuhcupbvA0ZaP1qpRGCO1ZBz1zFNTfhrdwG5yoPTxLNQ2F3IJPnUCczsjPRqf6vQSvkyDuDTTP6PbWta400jiStPA2WnBGq3-cnevFYGuCjQ05WkSEY25_CiU/s320/antro3.jpeg" width="320" /></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">É cada vez mais evidente a incompatibilidade entre um sistema planetário (clima, biosfera, bioeoquímica) limitado, que funciona à base de fluxos (de matéria e energia) e ciclos (da água, do carbono, do nitrogênio etc.) e um sistema econômico expansionista, em cujo coração estão uma roda insana e crescente de extração-produção-consumo-descarte e a lógica míope da geração, concentração e acumulação de riqueza a curto prazo. Daí, a percepção de parcela cada vez maior da esquerda radical da gravidade e, em decorrência, da centralidade do colapso ecológico tem se ampliado. Isso é positivo, pois é preciso agregar forças sociais, políticas e ideológicas que estejam dispostas a jogar fora toda a água suja (o sistema econômico) a fim de que se salve o bebê (a civilização humana e, no limite, a vida no planeta como a conhecemos).</span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">No entanto, a mistura da empolgação da descoberta da profunda crise ecológica (sim, estreitamente associada ao desenvolvimento capitalista nas últimas décadas) com a tradição de uma certa arrogância, pode trazer efeitos colaterais ruins, dentre eles, embarcar em falsas polêmicas ou em debates pouco produtivos. Um deles é a tentativa de contrapor ao termo "Antropoceno", que veio se consolidando junto às Ciências da Terra especialmente na última década, o termo "Capitaloceno". </span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">O reconhecimento da existência do "Antropoceno" tem sido construído como consenso científico, inclusive com a constituição de um Grupo de Trabalho de especialistas, conforme relatado pela revista científica Nature. Há vários anos, essa definição vem sendo construída, afinal, para ser aceito como uma subdivisão geológica formal, o Antropoceno precisa ter um "sinal geológico" significativamente grande, claro e distinto. O conceito, porém, transcende o aspecto geológico e tem desdobramentos inclusive para a política. No entanto, negá-lo ou substituí-lo a partir desses desdobramentos é um equívoco em diversos aspectos:</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">1. A oposição de "Capitaloceno" a "Antropoceno" introduz uma confusão desnecessária na caracterização da estratificação geológica com caracterização sócio-econômica de um modo de produção. Os geólogos, no debate feito ao se estabelecer a necessidade de uma nova época (não era) geológica se baseiam em marcadores com permanência estratigráfica (substâncias estáveis, isótopos estáveis ou isótopos radioativos de vida muito longa, vestígios fósseis etc.). Queiramos ou não populações animais (humanos e gado, pela abundância) podem deixar fósseis (ou de seus esqueletos ou até de suas pegadas), bem como tecnologias específicas podem deixar resíduos químicos ou físicos (resíduos de plástico e outras substâncias duráveis, plutônio dos testes nucleares e até tecnofósseis como impressões em futuras rochas sedimentares de circuitos integrados ou carcaças de outros equipamentos), mas um sistema econômico não.</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">2. É um espantalho gigantesco achar que o uso do termo "Antropoceno" implica dizer que todos os "humanos" têm o mesmo peso no desequilíbrio ecológico. Nenhum cientista sério, de qualquer área, afirma isso, pelo contrário. Seguindo a mesma lógica do "Capitaloceno", no limite teríamos então de abandonar os termos "mudanças climáticas antrópicas" e "aquecimento global antrópico" para usar "mudanças climáticas capitalistas" e "aquecimento global capitalista", mas isso significaria a introdução de uma desnecessária polêmica de nomenclatura quando virtualmente todos os cientistas do clima entendem a profunda desigualdade de causa e efeito. "Os ricos respondem pelas emissões, os pobres arcam com os impactos" é algo tão reconhecido pelo conjunto da comunidade que tem servido inclusive como uma motivação moral para muitos desses cientistas se envolverem, com maior ou menor radicalidade, na luta política. O incentivo à radicalização desse entendimento político, a partir do aprofundamento da compreensão da desigualdade intrínseca à crise climática faz muito mais sentido do que uma eventual disputa terminológica. Também mais produtivo e construtivo é defender a comunidade de Ciência do Clima do negacionismo climático e dos movimentos anticiência em geral. Lógica semelhante deveria ser aplicada à comunidade de Geologia que investiga o chamado Antropoceno.</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">3. Há ainda um debate sobre a demarcação do Antropoceno dentro da Geologia. A maioria do Grupo de Trabalho do Antropoceno defende que o mesmo seja definido a partir da Grande Aceleração (crescimento exponencial de meados do século XX). Mesmo este marco estando fortemente ligado à dinâmica que o capitalismo seguiu, é preciso reconhecer que a GA não é o início do Capitalismo, mas se vincula mais à globalização, financeirização, etc. e nesse caso a inviabilidade/imprecisão/inadequação de definir um "Globaloceno" ou "Finacioceno" dado o que expliquei no item 1 me parece evidente. Mas existem outros cientistas que defendem que o Antropoceno se inicia com as grandes navegações (ou seja, antes do capitalismo propriamente dito) e outros que falam até de um "Antropoceno Precoce" que, no limite, pela vinculação com a Agropecuária, colocaria em xeque até a definição de "Holoceno" como época geológica distinta das anteriores.</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">4. É preciso reconhecer que, mesmo não sendo razoável para a maioria dos socialistas identificar o Stalinismo com o Socialismo, que parte do processo destrutivo da GA foi impulsionado também por uma economia - expansionista e predatória - cuja caracterização não é exatamente "capitalista" (No limite, não há consenso em torno de que a URSS seria um "Capitalismo de Estado" e há uma série de outras caracterizações, de "Estado Operário Burocratizado" a "Socialismo Real" etc.). Pensemos nos impactos ambientais de Chernobyl, do sobreuso das águas do Mar de Aral e tantos outros... Aliás, o candidato mais forte a marcador do Antropoceno hoje - isótopos de Plutônio e derivados de decaimento radioativo - veio justamente da corrida armamentista entre URSS e EUA. Eu acredito que a maioria dos que fazem a crítica ecológica ao capitalismo reconhece Ecossocialismo como um modo de produção distinto (a partir do próprio coração das forças produtivas) daquilo que se pensava como Socialismo com base industrial no final do século XIX e início do século XX, mas por isso mesmo é preciso entender que a crítica precisa ir além do desastre capitalista. Mesmo um hipotético sistema de propriedade social baseado na indústria e com tendências expansionistas (por exemplo, que emergisse de uma eventual vitória revolucionária na Alemanha e outros países industrializados nos anos 1910) iria produzir, muito provavelmente, um conflito ecológico - senão no mesmo grau, pelo menos do mesmo tipo - com o meio natural, já que o metabolismo de ambos os sistemas seriam muito parecidos. Ao fim e ao cabo, seria muito ruim chamar esse cenário de "Socialoceno".</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"> </span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">5. Do ponto de vista pragmático, há um risco de uma transposição do termo, pelos cientistas da sociedade para dentro das Ciências da Natureza, criar mais arestas do que pontes, quando o acordo justo é entender o porquê do estabelecimento da nomenclatura e, na análise social, trazer o sentido absolutamente necessário da crítica anticapitalista e da necessidade de superação desse sistema. A ideia de mudar tudo o que foi escrito sobre Crise Climática para "aquecimento global capitalista" traria mais incômodo, pelo sectarismo, arrogância e limitação epistemológica, do que ganho. Podemos ser mais inteligentes e atrair a comunidade de Geologia para uma "crítica anticapitalista do Antropoceno" ao invés de querer que a referida comunidade reformule uma terminologia construída após muitos anos de debate e investigação. Mesmo que o termo "Capitaloceno" estivesse 100% certo do ponto de vista teórico (e esperamos ter mostrado que está longe disso), a falta de capacidade de diálogo com o acúmulo das Ciências da Terra se mostra contraproducente. No limite, a tentativa de enquadrar o desenvolvimento da Geologia na lógica das necessidades da luta política e da ideologia pode levar a um neo-Lysenkoísmo, em que ao invés de uma "Genética Proletária" teríamos uma "Geologia Ecossocialista". Por mais que possa ser recheada de boas intenções, esse tipo de ideia já mostrou historicamente o quanto é nociva e perigosa.</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">6. Por fim, se lembrarmos a contraposição de Bruno Latour dos "humanos" aos "terranos", o próprio "anthropo" é reconciliado como motor do colapso ecológico (incluindo aí não apenas os capitalistas, mas também os produtores e consumidores que, conscientemente ou não, querendo ou não, são copartícipes da dinâmica predatória). O pensar "capitalocenista" abre um flanco para que se deixe de fazer a disputa necessária junto a um proletariado que precisa não apenas negar a si mesmo como classe explorada, mas fundamentalmente como engrenagem de um sistema predatório. Ao trair o mundo "humano" e aderir ao lado "terrano", é um sujeito que se disporia não apenas a expropriar de seus patrões os poços de petróleo e as minas de carvão e ferro, mas a selá-los e fechá-las. Daí, ao invés de ser uma proposição "mais radical" do que "Antropoceno", "Capitaloceno" corre o risco de ser ao mesmo tempo um termo sectário e superficial, com potencial agitativo entre os círculos que já estão convencidos da necessidade de superação do capitalismo, mas insuficiente tanto como chave interpretativa mais profunda da realidade quanto como elemento de disputa mais amplo na sociedade.</span></span><br />
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; white-space: pre-wrap;">Em suma, dialogar com as Ciências da Terra, entender a profundidade do colapso ecológico, debater alternativas ao sistema econômico vigente e principalmente para recompor o Sistema Terra, recuperando-o da ruptura metabólica, são tarefas urgentes. Nossa energia pode ser muito melhor dedicada a elas se evitarmos falsas polêmicas ou debates contraproducentes. </span></span><br />
<div>
<br /></div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-2842353295851113712019-08-12T20:38:00.003-03:002019-08-12T20:39:52.972-03:00O Obscurantismo Negacionista no Itamaraty - Parte I - Ernesto e os Extremos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC8L7DUVxnTtPNda0X1PrDz85uoOaGEA71WVnxb3N1xFxHf3L0y45uw_hgc9tkTRFLUf_w2InyxtipZWPj4ptSOASYErqe9S2u4-veit3FmgqSvaTpeknsEojMevP2st2fJoQmBl8UrZo/s1600/Captura+de+Tela+2019-08-12+a%25CC%2580s+19.09.33.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="794" data-original-width="1068" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC8L7DUVxnTtPNda0X1PrDz85uoOaGEA71WVnxb3N1xFxHf3L0y45uw_hgc9tkTRFLUf_w2InyxtipZWPj4ptSOASYErqe9S2u4-veit3FmgqSvaTpeknsEojMevP2st2fJoQmBl8UrZo/s320/Captura+de+Tela+2019-08-12+a%25CC%2580s+19.09.33.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vocês algum dia imaginaram ser esse lixo paranoico o tipo de<br />
leitura adotado e recomendado por um ministro das relações<br />
exteriores do nosso país? (Print do Twitter de Ernesto Araujo)</td></tr>
</tbody></table>
Tudo no atual "governo" do Brasil é bizarro. De um ministro do meio ambiente cujo papel é obviamente o de acelerar a devastação ambiental a um ministro da educação que aposta no desmonte do ensino público, de um por um, até, claro, a bizarrice-mor que ocupa a presidência. Mas mesmo em meio a esse circo de horrores, uma figura se destaca, por ser o que melhor expressa o olavismo, o negacionismo climático e a ideologia anticiência em geral. Trata-se de Ernesto Araújo, ocupante do ministério das relações exteriores, uma figura que abraça com força a paranoia das ditas teorias de conspiração e cuja posição sobre a questão climática já antecipamos aqui mesmo, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2018/11/a-ideologia-delirante-de-ernesto-araujo.html">em nosso blog</a>.<br />
<br />
A bizarrice do chanceler se espalha em tudo aquilo que ele resolve opinar a respeito. O nível de delírio é tão medonho que ele chega a afirmar que "<a href="https://www.jb.com.br/pais/2018/11/957588-ernesto-araujo---a-esquerda-quer-uma-sociedade-onde-ninguem-nasca--nenhum-bebe--muito-menos-o-menino-jesus.html">a esquerda quer uma sociedade onde ninguém nasça, nenhum bebê, muito menos o menino Jesus</a>". Mas como aqui a nossa praia é mudança climática (<a href="https://oglobo.globo.com/sociedade/nao-minha-praia-diz-novo-diretor-do-inpe-sobre-aquecimento-global-23858248">diferentemente do novo diretor do INPE</a>), vamos nos deter à nova pérola do chanceler neste tema.<br />
<br />
Também por intermédio do Twitter do ministro, fiquei sabendo que ele havia cometido um texto intitulado "<a href="https://www.metapoliticabrasil.com/blog/falsas-aspas-falsos-modelos">Falsas aspas, falsos modelos</a>", o que me motivou a responder também no Twitter, começando na mesma noite, mas se estendendo pelos dois dias seguintes. Resolvi, então, colocar aqui, de maneira sistematizada e melhor estruturada, a resposta ao delirante Ernesto. Vamos lá!<br />
<br />
<br />
<br />
<a name='more'></a>Imagino que a motivação do ministro para escrever tanta bobagem tenha sido a série de reportagens que se seguiram à declaração dele, negando o aquecimento global com base no fato de que "<a href="https://epoca.globo.com/guilherme-amado/ernesto-araujo-nega-aquecimento-global-fui-roma-em-maio-havia-uma-onda-de-frio-23851347">estava frio em Roma</a>". Ou seja, era a velha confusão entre tempo e clima. Mas ao colocar por escrito, alegando que "não era bem aquilo que queria dizer", veremos que Ernesto só piorou a sua própria situação...<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Como é que o ocupante do Itamaraty trata a questão dos eventos extremos de tempo? Afirmando que "qualquer fenômeno específico que pareça comprovar essa convicção [de que existe aquecimento global], como um recorde de calor em algum lugar, tende a ser amplamente reportado, ao passo que um fenômeno que pareça desmenti-la é rejeitado e não aparece com destaque na mídia".<br />
<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjZfufBd9HnB3g4sCb-nK9P_GV7-O2aJLkEgCStq4yWdSJLxIUSKE6HKZDMwbDW0-4j_ak4xmeGTMvbUfRfHYPVpomxGkYp3x56ZYczBY_2-SnJE_WFfPcSb11zlhnjutj9R9CrhhwDWs/s1600/EBLFvcLXsAAjFfI.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="598" data-original-width="804" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjZfufBd9HnB3g4sCb-nK9P_GV7-O2aJLkEgCStq4yWdSJLxIUSKE6HKZDMwbDW0-4j_ak4xmeGTMvbUfRfHYPVpomxGkYp3x56ZYczBY_2-SnJE_WFfPcSb11zlhnjutj9R9CrhhwDWs/s320/EBLFvcLXsAAjFfI.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Razão entre extremos mensais de calor e de frio, no mundo,<br />
desde 1880, com projeção para as próximas décadas.<br />
Fonte: Coumou et al. (2013) </td></tr>
</tbody></table>
Para o chanceler, é como se extremos de calor estivessem sendo indevidamente usados para confirmar o aquecimento global, enquanto eventos frios estariam sendo ignorados. Isso faria sentido se a ocorrência de extremos de calor e frio fosse equivalente, como seria de se esperar num clima em equilíbrio. Acontece que <b>todas as estatísticas demonstram que a frequência de extremos de calor é, hoje, bem maior do que a frequência de baixas temperaturas. Cinco vezes para ser mais preciso</b>. É o que demonstra o <a href="https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10584-012-0668-1">artigo de Coumou et al.</a>, de 2013, na revista científica <a href="https://link.springer.com/journal/10584">Climatic Change</a>. Aliás, como mostra a figura do artigo (que reproduzimos aqui), a partir dos anos 1980, a quebra de recordes de alta temperatura passou a ser mais de duas vezes mais frequente que a quebra de recordes de baixa. Hoje em dia, a proporção é de 5 para 1, podendo chegar a 10 para 1 até mesmo antes de 2030.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibDvUlD1YUNq3o_mIdrnyGEOtlJ1_Q0sblcH6G6YY0ggjDFLB1A2F7wvJbHfUnmHbM8QcpJaIRABYCe7P-uMHjjrHnN0SyQ5G1S21HTcFX4WSsM6enGVivwKNrF6LODau1Psum7gTPA7c/s1600/Captura+de+Tela+2019-08-12+a%25CC%2580s+20.09.18.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1154" data-original-width="1146" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibDvUlD1YUNq3o_mIdrnyGEOtlJ1_Q0sblcH6G6YY0ggjDFLB1A2F7wvJbHfUnmHbM8QcpJaIRABYCe7P-uMHjjrHnN0SyQ5G1S21HTcFX4WSsM6enGVivwKNrF6LODau1Psum7gTPA7c/s320/Captura+de+Tela+2019-08-12+a%25CC%2580s+20.09.18.png" width="317" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ondas de calor extremo, como a verificada na Europa em<br />
Julho/2019 tendem a ser cada vez mais frequentes. Não é<br />
"viés de confirmação" ilustrar essa tendência a partir de um<br />
desses eventos e de seus impactos.</td></tr>
</tbody></table>
Mesmo que isoladamente nenhum evento de tempo seja necessariamente representativo, há portanto uma óbvia assimetria aqui. Usar uma onda de calor extremo de maneira ilustrativa para a tendência observada de aumento da frequência desse fenômeno é legítimo, especialmente se for feita a ressalva sobre a estatística de eventos. Já usar um episódio de frio cuja frequência é cada vez menor para tentar "refutar" o aquecimento global aí sim, é uma manipulação flagrante. Trata-se de querer vender como regra aquilo que é, cada vez mais, exceção.<br />
<br />
Na verdade, com noções elementares de estatística se torna fácil entender porque extremos como os recentes eventos de calor extremo na <a href="http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-07/onda-de-calor-extremo-sufoca-europa">Europa</a> e no <a href="https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/anchorage-no-alasca-nunca-teve-mais-de-32-graus-ate-agora-11078515.html">Alaska</a> devem se tornar cada vez mais frequentes, ao passo que recordes de frio vão ficando mais e mais raros. Com um pouquinho de esforço, talvez até o ministro seja capaz de absorver o conceito.<br />
<br />
Considere a figura abaixo, que mostra uma distribuição de temperaturas para uma determinada região. Em geral, a maior parte dos registros acontece em torno da média para aquele período do ano, como mostrado na curva amarela. As frequências de eventos frios e quentes são proporcionais, respectivamente às áreas coloridas em azul e amarelo próximo às extremidades da curva. Em outras palavras, temperaturas muito mais baixas que a média são relativamente raras, assim como temperaturas muito mais altas. Mas sem que haja uma mudança no clima, a estatística permanece a mesma e a frequência de eventos frios e quentes permanece equivalente.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg37oz76jzNLNmGbEGE034opPrqwctyu0yssD28vnMOl9iaRbAYBJvcA0yu0AN7_-HYNPxfUlhNqsGWHq4xGmZOiQ8A9DPrJXsRwCqq94JV0gVFNFC7-guOgSJ3XbbIrXdbgS1v74gfuWA/s1600/temperature-distribution-australia.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1074" data-original-width="1359" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg37oz76jzNLNmGbEGE034opPrqwctyu0yssD28vnMOl9iaRbAYBJvcA0yu0AN7_-HYNPxfUlhNqsGWHq4xGmZOiQ8A9DPrJXsRwCqq94JV0gVFNFC7-guOgSJ3XbbIrXdbgS1v74gfuWA/s320/temperature-distribution-australia.jpg" width="320" /></a></div>
Mas o que acontece quando <b>a própria temperatura média aumenta</b>? A distribuição como um todo se desloca, como mostrado na curva vermelha. Nesse caso, a área em azul sob a curva, à esquerda, correspondente à frequência de extremos de frio, diminui. Em contrapartida, a área em amarelo, à direita, correspondente à frequência de extremos de calor, aumenta. A proporção entre as duas, que antes era de um para um, muda radicalmente. E o que também acontece é que a chance de quebra de recorde de calor se torna bem maior (área vermelha).<br />
<br />
Para o chanceler, a atenção dada às ondas de calor (que além de mais frequantes estão cada vez mais perigosas e até <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/06/o-asfalto-escoa-como-liquido-o-que-e.html">mortíferas</a>) teria o mero propósito de validar a "conspiração globalista". Também conforme o pensamento distorcido de Ernesto Araújo, a conspiração também deve estar escondendo recordes de frio. Mas como mostramos aqui, o único tipo de extremo que está tão frequente quanto as ondas de calor são os extremos de delírio conspiracionista do chanceler. Ou o extremismo político-ideológico a que ele é afiliado e que se traduz numa paranoia conspiracionista e anticiência.<br />
<br />
Mas esse equívoco evidente é só o começo... Ernesto segue, aventurando-se a falar de Paleoclima, então imaginem o que vem por aí! Mas isso é papo para a Parte II da resposta ao ministro. Até lá!</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-16037271389063036452019-07-26T18:06:00.000-03:002019-08-09T16:06:58.992-03:00ELES SABIAM: a verdadeira conspiração por trás da questão climática<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://archive.nerdist.com/wp-content/uploads/2017/09/rick-sanchez.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="800" height="179" src="https://archive.nerdist.com/wp-content/uploads/2017/09/rick-sanchez.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cientistas são muitas vezes caricaturados como "malucos" ou<br />
em alguns casos até mesmo como vilões enredados em cons-<br />
pirações globais e para alguns o aquecimento global é uma<br />
farsa montada numa delas (para quê nunca fica muito claro).<br />
Neste artigo vamos mostrar que existe sim uma conspiração<br />
relacionada ao clima, mas bem diferente do que essa narrativa<br />
bizarra desenha.</td></tr>
</tbody></table>
A rede de computadores anda infestada pelas chamadas “teorias de conspiração”. Muitas delas são apenas histórias sem pé nem cabeça, algumas quase inofensivas, mas outras nem tanto, como é o caso das invencionices do chamado movimento antivacina. Outras são mentiras plantadas com interesses bastante específicos, como o caso de um certo presidente de topete estranho afirmando que “o aquecimento global é uma farsa inventada pelos chineses”.<br />
<br />
O problema dessas “teorias” (usado de maneira imprópria, pois nada tem a ver com o uso da palavra nas ciências) é duplo: se as pessoas levam a sério as mentiras, podem ignorar evidências reais ou até militar por causas inexistentes; se dão de ombros para qualquer suposta conspiração, afinal a maior parte é pura invencionice mesmo, podem terminar não dando a devida atenção aos (raríssimos) casos em que uma conspiração (ou algo parecido) realmente exista.<br />
<br />
Nestes tempos de vazamento de informações à la Wikileaks e Vaza-Jato, a divulgação de um certo material passou bastante despercebido, mas não deveria. Afinal, ele mostra, como veremos, que a indústria fóssil sabia há muitos anos do risco de caos climático e que o negacionismo climático jamais teve qualquer fundamento em debate científico real; pelo contrário, é uma cria de laboratório dessa mesma indústria, que montou uma enorme fraude - que persiste até hoje - apenas para defender seus interesses. Leiam. Até o fim.<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
<b>A MUDANÇA DO CLIMA NO RADAR DA INDÚSTRIA FÓSSIL: O RELATÓRIO STANFORD</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLG3YBUgDjjqj1X9C0ZYaBNEweAXQoAgfo3HuF2FZxtWhLHvRPSSYOUNIMYGab4X_HHjdNszYbjkOtww2GEe-VQgnsYxDagdPycq7GjeKBPdLaazu9AMtdsVuOdz7fQK3MI3Wp1y8O5_A/s1600/stanford.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="617" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLG3YBUgDjjqj1X9C0ZYaBNEweAXQoAgfo3HuF2FZxtWhLHvRPSSYOUNIMYGab4X_HHjdNszYbjkOtww2GEe-VQgnsYxDagdPycq7GjeKBPdLaazu9AMtdsVuOdz7fQK3MI3Wp1y8O5_A/s320/stanford.jpeg" width="246" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Capa do relatório “Fontes, Abundância e Destino<br />
de Poluentes Atmosféricos Gasosos”, de 1968.<br />
Fonte: <a href="https://www.smokeandfumes.org/">https://www.smokeandfumes.org</a></td></tr>
</tbody></table>
A provável relação entre clima e concentração de CO2 é conhecida <a href="https://blogs.bl.uk/science/2016/12/the-first-paper-on-carbon-dioxide-and-global-warming.html">desde o século XIX</a> e já <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2017/02/aquecimento-global-79-anos-de-evidencias.html">na década de 1930</a> surgiram evidências observacionais de que a queima de combustíveis fósseis estaria contribuindo para aquecer o planeta.<br />
<br />
Principais responsáveis pela extração, processamento e queima desses combustíveis, a mudança climática já estava no radar das grandes corporações petroquímicas há muito tempo, na verdade muito antes de a Organização das Nações Unidas convocar especialistas para comporem um painel sobre o tema (o <a href="https://www.ipcc.ch/">IPCC</a>, criado em 1988).<br />
<br />
Com efeito, há mais de meio século, em 1968, o <a href="https://www.api.org/"><i>American Petroleum Institute</i> (API)</a> encomendou um relatório a ser preparado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Stanford. Ressalte-se que o API é a principal associação comercial da indústria do petróleo e gás dos EUA, reunindo 650 companhias, inclusive a Exxon, a Chevron e os braços estadunidenses da Shell e da BP. O objetivo do relatório era saber, de especialistas, quais os possíveis impactos da extração e queima de combustíveis fósseis sobre o clima, pois isso poderia vir a afetar em algum momento a lucratividade dessas empresas.<br />
<br />
Quais as conclusões do relatório Stanford? O mesmo alertava que “a humanidade está realizando um vasto experimento geofísico” e que “mudanças significativas de temperatura quase certamente devem ocorrer em torno do ano 2000, trazendo consigo mudanças climáticas”.<br />
<br />
<b>O QUE A EXXON SABIA SOBRE O RISCO CLIMÁTICO AO FINAL DOS ANOS 1970</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF4vuCmvMPbjYiMVBemE_yJ9CB4jiqywZHiZqYVW6VIBIj-D3FK-nyrDHCvHxOHaddzPeJ99rje0maPGHn8RVDidiIEmkRtgweYHuM_Fv0nW573T9Lp8acsimE_792ok3siME9Hqc2YPo/s1600/black01.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="781" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF4vuCmvMPbjYiMVBemE_yJ9CB4jiqywZHiZqYVW6VIBIj-D3FK-nyrDHCvHxOHaddzPeJ99rje0maPGHn8RVDidiIEmkRtgweYHuM_Fv0nW573T9Lp8acsimE_792ok3siME9Hqc2YPo/s320/black01.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Slide apresentado por James Black à direção da Exxon, com<br />
resultados de simulação climática, incluindo projeção para o<br />
futuro. Fonte: https://insideclimatenews.org</td></tr>
</tbody></table>
<div>
A falta de qualquer desdobramento concreto a partir do Relatório Stanford já era um indício de que a indústria petroquímica não havia ficado feliz com as conclusões do mesmo e, nesse contexto, a Exxon resolveu ela mesma realizar estudos sobre as possíveis alterações do clima causadas pelas emissões de CO2 resultantes de sua atividade.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Nos anos 1970, ela montou um grupo de pesquisa, com um orçamento não desprezível, para por meio de gente "de dentro" responder à questão se queimar petróleo traria riscos para a estabilidade climática do planeta ou não. O grupo era liderado por <a href="https://insideclimatenews.org/news/15092015/james-black">James F. Black</a>, pesquisador sênior do Departamento de Pesquisa e Engenharia da Exxon, ligado à companhia desde a sua antecessora (a Standard Oil), e que gozava da confiança dos seus chefes.</div>
<div>
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLdBsv6ythvDxwIpzRHnGcmFn1yvdCBcDg_psxZKeVSWRV4hT2DGLzZSXPcFQUR7W4QwZ6woSPk96inX4Bo7pRbp4ZnUcwp75pxm6AyD8G_2ZdahRT2fPCMZe1r1zrxkDQXO7QDdqyZq0/s1600/Captura+de+Tela+2019-07-25+a%25CC%2580s+21.50.19.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1006" data-original-width="1114" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLdBsv6ythvDxwIpzRHnGcmFn1yvdCBcDg_psxZKeVSWRV4hT2DGLzZSXPcFQUR7W4QwZ6woSPk96inX4Bo7pRbp4ZnUcwp75pxm6AyD8G_2ZdahRT2fPCMZe1r1zrxkDQXO7QDdqyZq0/s320/Captura+de+Tela+2019-07-25+a%25CC%2580s+21.50.19.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mesmo com um modelo climático bem menos complexo do<br />
que os disponíveis hoje em dia, as simulações apresentadas por<br />
Black mostravam resfriamento da estratosfera e aquecimento<br />
bem mais acentuado no Ártico do que no resto do planeta.</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Já em 1978, James Black apresentou projeções de aquecimento global que são incrivelmente parecidas com aquelas produzidas pela comunidade de clima muitos anos depois. A hipótese é que, extrapolando o crescimento das emissões, poderíamos duplicar ou até quadruplicar a concentração de CO2 até 2075. A projeção climática correspondente apontava para um aquecimento em torno de 1-2°C após o ano 2000 (em 2016 chegamos a 1,2°C de anomalia de temperatura em relação ao período pré-industrial) e um valor mais provável em torno de 3°C em meados deste século.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
O nível de sofisticação da simulação era atestado pela projeção de padrões que começam a ser observados e que passaram a constar das simulações realizadas pela comunidade científica de clima vários anos depois, incluindo: 1) Um aquecimento bem mais acelerado no Ártico do que em latitudes mais baixas; 2) O resfriamento da estratosfera, em contraste com o aquecimento da superfície e da troposfera, que consiste em uma das maiores evidências de que o aquecimento global está relacionado à redução da radiação infravermelho que escapa da troposfera em função do aumento da intensidade do efeito estufa e não a um aumento da atividade solar ou algo do gênero e 3) O reconhecimento de que os impactos sobre a temperatura global perdurariam por milênios mesmo que as emissões fossem interrompidas em algum momento permitindo que o planeta voltasse a resfriar.</div>
<div>
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpYZZGbJt9JsWYcFGxzthynf4LHO6vWvqAqFVk0gHOSkEMFgOWM-JLV1r-hgUbVFTa8HOLv68EbCDqV0wIigwbuNJwC2sonqG4E6xesr0RW6wMY_4i5KMiQqcT062_HDEL8YD4Y3sEZec/s1600/Captura+de+Tela+2019-07-25+a%25CC%2580s+21.50.32.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1084" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpYZZGbJt9JsWYcFGxzthynf4LHO6vWvqAqFVk0gHOSkEMFgOWM-JLV1r-hgUbVFTa8HOLv68EbCDqV0wIigwbuNJwC2sonqG4E6xesr0RW6wMY_4i5KMiQqcT062_HDEL8YD4Y3sEZec/s320/Captura+de+Tela+2019-07-25+a%25CC%2580s+21.50.32.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Efeito de um "pulso" de emissão de CO2 na escala de<br />
milhares de anos, na simulação de Black, que criou o<br />
termo "super-interglacial".</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Black também falava em uma janela “de cinco a dez anos” antes de tomar medidas drásticas para mudar o modelo energético. Em outras palavras, nos bastidores da Exxon, tanto o risco de um aquecimento global descontrolado quanto a necessidade de termos iniciado na década de 1980 uma transição energética que nos livrasse dos combustíveis fósseis, já eram conhecidas. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Mas o que a Exxon fez a partir disso? O desenrolar dessa história não chega a ser de todo surpreendente, mas não é por isso que deixa de ser profundamente indignante.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<b>A OPÇÃO CONSCIENTE DA EXXON PELO DESASTRE CLIMÁTICO</b></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAdpbbN61sMz7bD1a3bFJ6IlFozSlBh182lbfg5-LJBwuUMZzy8t45x2cuT-l5YtqUqY5KxDuBNxvb6BoQVAWSEqv8736jxlyB4QjDW4xPeaK2QP4vH2n5gP-VLHlct2tiRlK4py5X-0k/s1600/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.02.37.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="965" data-original-width="1044" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAdpbbN61sMz7bD1a3bFJ6IlFozSlBh182lbfg5-LJBwuUMZzy8t45x2cuT-l5YtqUqY5KxDuBNxvb6BoQVAWSEqv8736jxlyB4QjDW4xPeaK2QP4vH2n5gP-VLHlct2tiRlK4py5X-0k/s320/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.02.37.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trecho de documento da Exxon, disponibilizado por <a href="http://www.climatefiles.com/trade-group/american-petroleum-institute/1998-global-climate-science-communications-team-action-plan/">ClimateFiles</a>.<br />
Com uma dose extraordinária de maldade, o documento propõe,<br />
como objetivo da campanha de comunicação, fazer com que os<br />
defensores do Protocolo de Kyoto parecessem "fora da realidade"</td></tr>
</tbody></table>
Vindo de dentro, não tinha mais sentido questionar a informação. Era fato: o desastre climático viria mais cedo ou mais tarde, os combustíveis fósseis teriam de virar coisa do passado e - mais do que a fonte de lucro - a própria razão de existir da Exxon estava em xeque. A posição da companhia não poderia ser mais odiosa: a opção consciente pelos negócios, pelo lucro, um enorme f*da-se para a humanidade e para a própria vida no planeta como a conhecemos.<br />
<br />
Em 1982, a Exxon encerrou o programa de pesquisas em clima. Tudo que havia sido produzido foi engavetado e a companhia passou a articular-se com grupos de direita e <i>think tanks</i> conservadores a fim de iniciar uma cruzada para esconder a verdade sobre o risco climático. Desde então, a Exxon financiou diversos grupos negacionistas, tendo transferido para eles mais de 30 milhões de dólares. </div>
<div>
<br />
Não foi algo feito de maneira aleatória. F oi caso pensado, com tática e estratégia. Os documentos internos da Exxon demonstram isso. Havia um "Plano de Comunicação da Ciência do Clima Global", cujo propósito era o de reformatar completamente o debate público sobre a questão climática que então se iniciava, após a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (a <a href="https://unfccc.int/">UNFCCC</a>)<span id="goog_972119697"></span><a href="https://www.blogger.com/"></a><span id="goog_972119698"></span> e a realização da Eco-92 e das primeiras Conferências das Partes (COPs), processo que viria a desaguar no (muito tímido) <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Quioto">Protocolo de Kyoto</a>.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8HG2c_IrYb4cgFKdMV-YQdrbVRjXjHegKWQ67rEbcuislRHcolcLtRbvYFOU5T0aiRkltyLARMNQFUVxCmX1G5h3IW1oHDFKB_-DYiMTzYIEQ7QcSwLxbEfXqrnjVrrSTRF93iZUXH4g/s1600/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.10.53.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1276" data-original-width="1054" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8HG2c_IrYb4cgFKdMV-YQdrbVRjXjHegKWQ67rEbcuislRHcolcLtRbvYFOU5T0aiRkltyLARMNQFUVxCmX1G5h3IW1oHDFKB_-DYiMTzYIEQ7QcSwLxbEfXqrnjVrrSTRF93iZUXH4g/s320/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.10.53.png" width="264" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Estratégias e táticas da coalizão liderada pela Exxon<br />
em seus ataques à Ciência do Clima. Documento<br />
disponibilizado via <a href="http://www.climatefiles.com/trade-group/american-petroleum-institute/1998-global-climate-science-communications-team-action-plan/">ClimateFiles</a>.</td></tr>
</tbody></table>
Segundo a própria Exxon, esse plano só seria vitorioso quando o "cidadão médio" viesse a questionar o que eles chamavam de "conhecimento convencional", ou seja, a Ciência do Clima, para aderir à narrativa negacionista ou pelo menos viesse a ter dúvidas. Idem para o conjunto do empresariado e para a mídia, que deveria, segundo o plano da coalizão liderada pela Exxon, mostrar os "dois lados", isto é, abrir espaço tanto para a ciência quanto para a sua negação deliberada e arquitetada com fins mesquinhos e espúrios de preservar os lucros da indústria fóssil. O documento mostra toda a vilania e escrotidão da coalizão liderada pela Exxon, ao colocar como um dos seus objetivos fazer com que quem defendesse o Protocolo de Kyoto parecesse, perante o público, como "fora da realidade".<br />
<br />
Embora não fossem exatamente novas, já que tudo fora inspirado na sabotagem anticiência feita anos antes pela indústria do tabaco, o nível de detalhamento das estratégias e táticas da "coalizão" não deixa margem para dúvidas de como a Exxon e seus comparsas conspiraram contra a comunidade científica, contra o interesse público, contra a humanidade e a biosfera, unicamente para defender seus lucros. Era necessário recrutar pessoas dentro da academia (em todo lugar sempre tem algum sujeito de caráter duvidoso disponível para vender a alma, não é?). Daí, seria necessário cavar espaço dentro da mídia, via editorias de ciência, cartas e editoriais escritos por esses "cientistas" recrutados, promover palestras de negacionismo junto a universidades, sindicatos, comunidades etc. Imaginem o que não constaria do plano se naquela época já existissem o YouTube, o WhatsApp, o Facebook, o Instagram etc...<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIcHk4dQPIge2HHeceqgAM95-tcdy1_PdLYJzqOcix-20K_vgwXAObInXBgg5eanZCGC2J5SH74KLgoTo6u9lKu3CPGvw8526yBt-3tG4OUswAXNZA7Ix8Yx4V_v2JIwlyWUaTZlxNGOQ/s1600/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.40.03.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="1084" height="113" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIcHk4dQPIge2HHeceqgAM95-tcdy1_PdLYJzqOcix-20K_vgwXAObInXBgg5eanZCGC2J5SH74KLgoTo6u9lKu3CPGvw8526yBt-3tG4OUswAXNZA7Ix8Yx4V_v2JIwlyWUaTZlxNGOQ/s320/Captura+de+Tela+2019-07-26+a%25CC%2580s+17.40.03.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Potenciais financiadores e implementadores do projeto da<br />
"coalizão" anticiência.</td></tr>
</tbody></table>
Óbvio, toda essa campanha anticiência sórdida não sairia do lugar sem dinheiro! E no documento, que pode ser checado <a href="http://www.climatefiles.com/trade-group/american-petroleum-institute/1998-global-climate-science-communications-team-action-plan/">no site Climate Files</a>, aparece o orçamento detalhado, totalizando dois milhões de dólares à época ou mais de três milhões, corrigindo para os dias de hoje. Isso bancaria não apenas ações na mídia e palestras, mas até como o negacionismo chegaria às escolas. Também é evidente que, em havendo esse orçamento, alguém teria de bancá-lo. Nenhuma surpresa sobre os financiadores: associações empresariais dos setores de mineração e petróleo, com destaque, mais uma vez, para o <a href="https://www.api.org/">API</a>. Quem "tocaria" o barco seriam consultorias e institutos ideologicamente ligados ao ultraconservadorismo como ALEC, Marshall Institute etc.<br />
<br />
BREVES FRASES FINAIS SOBRE A IMPOSSÍVEL "CONSPIRAÇÃO DE CIENTISTAS"<br />
<br />
As corporações capitalistas têm um interesse que, para elas, está acima de tudo: o próprio lucro. Às escondidas da opinião pública, à revelia do interesse da maioria das pessoas e por meio de suas associações e com recursos generosos, essas corporações têm todas as condições - e o motivo - para conspirarem na defesa desses interesses. E como mostramos, essa conspiração não apenas aconteceu como deixou-nos um legado maldito: o negacionismo climático, hoje multiplicado e difundido muito mais rapidamente através dos meios digitais.<br />
<br />
Por outro lado, falar em "conspiração de cientistas" é um total contrassenso. Primeiro, porque a motivação do trabalho científico em geral não é o dinheiro. Em outras atividades, pessoas com a alta qualificação dos cientistas poderiam ganhar muito mais. Segundo, porque os cientistas são bem mais competitivos entre si do que corporativistas. A ideia de superar o trabalho do colega, ou até desbancar o entendimento científico vigente sobre determinado assunto é atraente. Traz prestígio, publicações em revistas conceituadas (como <i>Science</i> e <i>Nature</i>), citações. Mas terceiro e principalmente porque não é da natureza do fazer científico. Mesmo com as imperfeições e limites individuais e coletivos, a ciência se guia pelas evidências e os pontos de vista são moldados de tal modo que, mais cedo ou mais tarde, essas evidências prevalecem e, se for o caso, até mesmo uma revolução científica se impõe.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://i.ytimg.com/vi/5GXM3ZR7sPE/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="240" src="https://i.ytimg.com/vi/5GXM3ZR7sPE/hqdefault.jpg" width="320" /></a></div>
Não é que nós, cientistas, sejamos vestais, ou que entre nós reine uma pureza moral e ética que impeça desvios individuais e/ou temporários, alguns deles graves, incluindo fraudes científicas. Mas simplesmente que não faz sentido esperar que sejamos capazes de uma conspiração que efetivamente envolva milhares de cientistas e pesquisadores, estudantes e técnicos, todos imbuídos de um único propósito espúrio, que no fim das contas ninguém consegue dizer direito qual seria: vender bicicletas e paineis solares, atrapalhar a competitividade econômica dos países ricos, conter o desenvolvimento dos países pobres ou sabotar a economia como um todo? Desculpem, mas - diferente da indústria do tabaco e da indústria do petróleo - não temos "competência" para isso. Uma conspiração de cientistas daria errado. A não ser a conspiração de levantar evidências, se aproximar da verdade e melhor entender a realidade que nos cerca.<br />
<br /></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-74447000468614726032019-06-08T12:57:00.000-03:002019-06-08T12:58:32.563-03:00A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte III: Caos climático<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFelfvQD6hvrfC5tHQReiZPzfAWNa14sgMpuOTEqsTTwaZCUWqRYXOjspyGkLeEbbSDZXeKGz8Cl8LSsrzVXqaCgQW6WBlmZr9k-13V2cMOeOHRFokgek-4QcIRaLxzt7SMAGuhxZ9m-Y/s1600/earthburned.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="437" data-original-width="580" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFelfvQD6hvrfC5tHQReiZPzfAWNa14sgMpuOTEqsTTwaZCUWqRYXOjspyGkLeEbbSDZXeKGz8Cl8LSsrzVXqaCgQW6WBlmZr9k-13V2cMOeOHRFokgek-4QcIRaLxzt7SMAGuhxZ9m-Y/s320/earthburned.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A civilização humana é filha de um clima estável. Mas está<br />
arruinando com ele.</td></tr>
</tbody></table>
A humanidade é filha de um clima particularmente estável, que emergiu há pouco mais de onze mil anos com o encerramento da última glaciação (ou “era do gelo”). (1) Foi a regularidade da chuva, das estações, o comportamento cíclico de plantas e animais, enfim, a previsibilidade do comportamento da natureza que permitiu a mulheres e homens de nossa espécie se estabelecessem em assentamentos fixos, que promovessem domesticação de espécies vegetais e animais e desenvolvessem a agricultura e a pecuária. Daí, vieram as cidades, as civilizações, as sucessivas revoluções industriais, até chegarmos no mundo capitalista globalizado de agora.<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
Esse caminho transformou os indivíduos da espécie Homo sapiens de caçadores-coletores que demandavam para viver tão somente as 2.000 kcal (quilocalorias) diárias provenientes dos alimentos em violentos predadores de energia, capazes de “devorar”, em países ricos como os EUA, uma média de quase 200.000 kcal por dia. Isso acontece porque, além de consumirmos alimentos, mantemos um gigantesco aparato de indústrias, máquinas, equipamentos, meios de transporte etc., todos demandando uma quantidade formidável de energia.<br />
<br />
<b>CAPITALISMO FÓSSIL</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLOYMHj0Ib9fltOf09ZQ-rqIjpf9VXD4X34ZMbBUY5ABC7fLVNRGcusoZz25gkmGnwsIAgI_zB7i6ZF4MpANTrDV3DshvSAH0c5DcaUOA8_HKppHdoG4fqF6pNwWbAvqNezjlm8U4Pr0Y/s1600/fossil.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="398" data-original-width="600" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLOYMHj0Ib9fltOf09ZQ-rqIjpf9VXD4X34ZMbBUY5ABC7fLVNRGcusoZz25gkmGnwsIAgI_zB7i6ZF4MpANTrDV3DshvSAH0c5DcaUOA8_HKppHdoG4fqF6pNwWbAvqNezjlm8U4Pr0Y/s320/fossil.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A gigantesca demanda energética mundial é suprida<br />
principalmente a partir da queima de carvão, petróleo e gás.<br />
Mas a humanidade precisa abandonar urgentemente o uso<br />
desses combustíveis.</td></tr>
</tbody></table>
A mudança na escala de produção de bens e, portanto, na demanda de energia especialmente a partir da Primeira Revolução Industrial e, mais acentuadamente, com a Grande Aceleração, só foi viabilizada graças à abundância e flexibilidade de um tipo particular de fonte de energia: os combustíveis fósseis.<br />
<br />
Restos de organismos vivos, geologicamente processados, constituem o carvão, o petróleo e o gás. Mesmo tendo sido usadas em escala gigantesca, a quantidade desses materiais nas jazidas é impressionante. O fácil acesso e uso desses combustíveis parecia representar um milagre. O capitalismo dificilmente teria avançado até o estágio atual se não fosse montado sobre o gigantesco estoque de energia química dos combustíveis fósseis.<br />
<br />
<b>PLANETA SUPERAQUECIDO E CLIMA DE EXTREMOS</b><br />
<br />
É um fato estabelecido da ciência que o dióxido de carbono (CO2) principal subproduto da queima do carvão, petróleo e gás, é um gás de efeito estufa, isto é, um gás capaz de absorver o calor irradiado pela superfície da Terra, impedindo que ele vá para o espaço. Uma determinada concentração desse gás contribui para evitar que a Terra seja uma esfera gélida e possivelmente sem vida vagando no cosmos, mas uma quantidade maior pode aquecer perigosamente o planeta.<br />
<br />
Hoje a queima de petróleo, carvão e gás, o desmatamento e a emissão de outros gases (como o metano da pecuária e o óxido nitroso) estão promovendo uma alteração extremamente perigosa do delicado equilíbrio energético do planeta. Atualmente, a cada ano, são lançadas quase 40 bilhões de toneladas, só de CO2, na atmosfera da Terra, transformada em lata de lixo do capitalismo fóssil. Esse gás tem se acumulado a uma taxa muito acelerada e sua concentração já é quase 50% maior do que no período pré-industrial. Nessas condições, o efeito não poderia ser outro senão o aquecimento em escala planetária: o mundo já está cerca de 1°C mais quente do que naquele período.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtBtH5K0xqNanPzyD5AUypzh76ERbh2Dr2f_NNtxN5nlIfYg5G8GeMpFy6UwVX3CrLawPWkiQCdG28piC55NvUMKd4Qatc1JpgcIxw7-cyZvWdS_nBd-NQ1_Qo3BL-XXb3pCWmpe_sjJg/s1600/typhoonhaiyan.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="891" height="203" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtBtH5K0xqNanPzyD5AUypzh76ERbh2Dr2f_NNtxN5nlIfYg5G8GeMpFy6UwVX3CrLawPWkiQCdG28piC55NvUMKd4Qatc1JpgcIxw7-cyZvWdS_nBd-NQ1_Qo3BL-XXb3pCWmpe_sjJg/s320/typhoonhaiyan.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Filipinas, após a passagem do Supertufão Haiyan, em 2013.<br />
Tempestades mais intensas, associadas a temperaturas mais<br />
altas, podem ter efeitos devastadores sobre os países mais<br />
pobres e populosos durante o século XXI </td></tr>
</tbody></table>
Mas a alteração no clima está longe de se limitar a um aumento da temperatura média planetária. Todas as evidências científicas apontam para um clima com mais eventos extremos: tempestades severas, ondas de calor mortíferas, secas excepcionais, incêndios florestais devastadores.<br />
<br />
Além disso, há um consenso de que a perda das calotas polares, a elevação do nível dos mares, problemas para a produção agrícola e a disponibilidade de água já estão produzindo – e produzirão com bem mais severidade – impactos sobre a sociedade humana. Para não falarmos dos impactos sobre uma biosfera já encurralada pela expansão predatória do capitalismo sobre os habitats da vida silvestre.<br />
<br />
<b>INJUSTIÇA CLIMÁTICA</b><br />
<br />
Esses impactos não se distribuem por igual em nossa sociedade. Enquanto executivos-chefes das corporações petroquímicas contabilizam os bilhões de dólares movimentados por essas empresas, ondas de calor matam principalmente idosos e crianças, além de trabalhadores e trabalhadoras expostas ao calor em suas atividades, como agricultores(as), pescadores(as) etc.<br />
<br />
A responsabilidade sobre o atual quadro de emergência climática também está longe de ser por igual. Historicamente, países ricos como EUA, Inglaterra, Alemanha, Japão etc acumularam riqueza às custas de emissões gigantescas de CO2, enquanto países mais pobres, sem base industrial nem agricultura intensiva estão pagando o ônus da fúria do clima. Hoje em dia, o fosso permanece: um “estadunidense médio” emite 16,5 toneladas de CO2–equivalente (2) por ano enquanto um “moçambicano médio” emite 0,3, ou 55 vezes menos!<br />
<br />
A multiplicação de refugiados climáticos nos países mais pobres e comunidades mais vulneráveis é quase certa. Enfrentar as causas do aquecimento global e socorrer as pessoas impactadas é a urgência que se impõe, justamente o oposto da perigosa e repugnante mistura de xenofobia/racismo e negacionismo climático que a extrema-direita apregoa. E para mostrar que existe uma ligação intrínseca não somente entre a exploração capitalista do trabalho e da natureza e o colapso ecológico, mas também entre este e todas as formas de opressão, vale lembrar que existe desigualdade nos impactos não apenas por classe ou nacionalidade, mas também por grupo étnico-racial e gênero.<br />
<br />
<b>UM OCEANO MORTO E AZEDO</b><br />
<br />
Além de alterar correntes marinhas e ter o potencial de gerar enormes desequilíbrios e extinções, o aquecimento dos oceanos, que ocorre a partir de cima, dificulta a oxigenação das águas mais profundas. Fora isso, um tema bem menos comentado do que o aquecimento global, mas também consequência do excedente de dióxido de carbono na atmosfera, é a mudança do nível de acidez dos mares. Essa acidificação ocorre justamente porque o CO2 em excesso é capturado pelos oceanos, gerando ácido carbônico. Como resultado os oceanos já estão quase 30% mais ácidos no período pré-industrial. A trajetória atual traz um prognóstico sombrio para os oceanos do planeta: contaminados por plásticos e um coquetel de substâncias tóxicas, acidificado e com menos oxigênio.<br />
<br />
<b>ECOSSOCIALISMO OU BARBÁRIE</b><br />
<br />
Há fortes indícios de que a indústria petroquímica sabia de todo o estrago planetário que promovia há várias décadas. Especialmente nos EUA, o Instituto Americano de Petróleo e a Exxon optaram conscientemente pelo caos planetário para não sacrificar o lucro.(3) Não chega a ser surpresa que os setores mais duros do capital (representados em figuras torpes como Trump e Bolsonaro) apostem no ataque violento à ciência, na sabotagem dos acordos climáticos e no negacionismo.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii2Ji3QVDqFjvSLON0tNHQtfu62_lB_6FLCcHx3XB0pkvqgRi_fuWHyt6Yy-nmd34y6pu3o78Wq4TtzKhnYNX3bO4NG3z_Z2mvPCHHvjGGQtm_yDi64dd5RL5oLtuz4OHzbdmj4RMN2Fs/s1600/tempofossil.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1066" data-original-width="900" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii2Ji3QVDqFjvSLON0tNHQtfu62_lB_6FLCcHx3XB0pkvqgRi_fuWHyt6Yy-nmd34y6pu3o78Wq4TtzKhnYNX3bO4NG3z_Z2mvPCHHvjGGQtm_yDi64dd5RL5oLtuz4OHzbdmj4RMN2Fs/s320/tempofossil.png" width="270" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Tempo Fóssil" (ampulheta de betume) - escultura<br />
de Mari Fraga</td></tr>
</tbody></table>
Mas também não há saída possível do tipo “capitalismo verde”. A economia capitalista e o modo de vida a ela associado são simplesmente viciados nos combustíveis fósseis e nas consequentes emissões de CO2. Não é à toa que, apesar da expansão das energias renováveis, (4) o crescimento econômico capitalista levou as emissões a crescerem em nada menos que 2,7% no último ano. (5) Além disso, mecanismos de mercado, como os “créditos de carbono” foram tragados pelas fraudes, pela especulação e pelo imediatismo do capital financeiro em busca de retorno a seus investimentos.<br />
<br />
Contra a barbárie capitalista e o caos climático, outro paradigma de sociedade precisa emergir. Nós o chamamos de ECOSSOCIALISMO. Mas o termo em si é uma questão menor diante da essência: uma nova sociedade de mulheres e homens livres e em harmonia com a natureza seus fluxos e ciclos.<br />
<br />
As mudanças no sistema produtivo-destrutivo capitalista precisam ser operadas com rapidez, preservando as massas trabalhadoras ligadas ao setores mais devastadores (mineração, petróleo, indústria do plástico, agrotóxicos etc.) na mudança de atividade laboral. O ônus precisa recair sobre as corporações, mediante a cobrança da dívida climática (6) sobre as corporações e os países e indivíduos ricos. Dada o nível de degradação e destruição ambiental – legado já inevitável do império do capital – provavelmente não será um “reino da abundância”, mas derrotadas as forças da ganância, do lucro e da exploração, certamente ainda poderá ser um reino – partilhado de compartilhado – da “suficiência”.<br />
<br />
Publicado originalmente no <a href="https://esquerdaonline.com.br/2019/06/08/a-declaracao-de-guerra-do-capital-contra-a-natureza-parte-iii-caos-climatico/">Esquerda Online</a><br />
<br />
<b>N</b><b>OTAS</b><br />
<b><span style="font-size: x-small;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: x-small;">1 – Essa época geológica, iniciada há 11.700 anos, denomina-se Holoceno. Os cientistas indicam que, em virtude das profundas alterações promovidas pela humanidade no ambiente especialmente a partir de meados do século XX, o Holoceno deu lugar a uma nova época geológica denominada Antropoceno.</span></b><br />
<b><span style="font-size: x-small;">2 – Trata-se do termo usado quando é feita a equivalência do impacto de outros gases para o aquecimento global, tomando o CO2 como referência. Mais detalhes, por exemplo, em https://pt.wikipedia.org/wiki/Equival%C3%AAncia_em_di%C3%B3xido_de_carbono</span></b><br />
<b><span style="font-size: x-small;">3 – Como denunciei em entrevista ao IHU (vide http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/565659-a-fabrica-de-ilusoes-que-leva-ao-colapso-civilizacional-entrevista-especial-com-alexandre-costa)</span></b><br />
<b><span style="font-size: x-small;">4 – A capacidade eólica instalada triplicou de 2009 a 2016. A solar cresce ainda mais rápido: triplicou num período ainda mais curto (de 2012 a 2016).</span></b><br />
<b><span style="font-size: x-small;">5 – https://www.theguardian.com/environment/2018/dec/05/brutal-news-global-carbon-emissions-jump-to-all-time-high-in-2018</span></b><br />
<b><span style="font-size: x-small;">6 – O conceito de dívida climática aparece em https://esquerdaonline.com.br/2019/03/25/o-nome-nao-e-ajuda-humanitaria-e-divida-climatica/</span></b></div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-17728065553590821602019-06-07T08:38:00.001-03:002019-06-07T08:41:54.166-03:00A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte II: Biosfera encurralada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoJ6_iVwU7ngkRKxUdBXh57BKiqTWl_og6pQz6L-M991YMrD0TQi4YadA-HGLn8Hm5N8dVBltMOeOtZg6SaPbljQE_zvDAso8717_2dfVTJ3U4EAp96slLaVZHAMeuEJQNSw0_x9YpNow/s1600/capitalism.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="664" data-original-width="768" height="276" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoJ6_iVwU7ngkRKxUdBXh57BKiqTWl_og6pQz6L-M991YMrD0TQi4YadA-HGLn8Hm5N8dVBltMOeOtZg6SaPbljQE_zvDAso8717_2dfVTJ3U4EAp96slLaVZHAMeuEJQNSw0_x9YpNow/s320/capitalism.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Em menos de cinco décadas, o mundo assistiu à terrível redução<br />
de 60% nas populações silvestres de vertebrados, levando incontá-<br />
veis espécies à ameaça de extinção ou à sua extinção efetivamente."</td></tr>
</tbody></table>
O capitalismo requer cada vez mais território a fim de suprir a demanda crescente de matéria e energia necessária para sua reprodução ampliada. A ocupação de terras para atividades humanas, seja a mineração, a instalação de cidades, infraestruturas que incluem estradas, barragens etc. ou principalmente áreas para agropecuária, vem encurralando a biosfera terrestre contra a parede.<br />
<br />
Globalmente, essa ocupação territorial tem sido responsável por um verdadeiro encolhimento da vida silvestre. Hoje, existem 51 milhões de quilômetros quadrados de terra “domesticada”, contra 39 milhões de quilômetros quadrados de florestas. Para citar o exemplo mais próximo, em menos de cinco décadas, o Brasil perdeu mais de 20% da Amazônia e impressionantes 50% do cerrado (1). Sim, o mesmo agro, que assassina indígenas e sem-terra, que financia esquemas de corrupção, que se apropria da água para irrigação, que envenena o alimento e ajuda a bancar a radicalização à direita da política do País, é a maior ameaça à biodiversidade, riqueza impossível de se traduzir em dinheiro.<br />
<br />
<a name='more'></a><b>Poluição, mudança climática e outros fatores se somam</b><br />
<b><br /></b>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO2D69IhZGQJePDDcCled9IGWXyNvGJu5yUB-1-HgiYzOnQKiS9z2y6igPWN9LbzNaLdU5-VTd_mc396BEGCi6v9Cem_K75e5jSyyBlAJM-4NlYUg5ZKLZOVtdOSSg2D8r9UsrG2gPAH8/s1600/acid-rain-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="1280" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO2D69IhZGQJePDDcCled9IGWXyNvGJu5yUB-1-HgiYzOnQKiS9z2y6igPWN9LbzNaLdU5-VTd_mc396BEGCi6v9Cem_K75e5jSyyBlAJM-4NlYUg5ZKLZOVtdOSSg2D8r9UsrG2gPAH8/s320/acid-rain-4.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Poluição, alteração do clima, introdução de espécies invasoras,<br />
destruição de habitats, caça e pesca indiscriminadas estão<br />
levando a um encolhimento da vida silvestre e a um<br />
empobrecimento acelerado da biosfera terrestre.</td></tr>
</tbody></table>
Uma das maiores ameaças à vida no planeta, hoje, é a poluição em suas diversas formas. Solo, rios, oceanos e atmosfera têm sido contaminados por uma multiplicidade de substâncias que vão dos agrotóxicos e fertilizantes da agricultura a antibióticos e outros medicamentos usados em seres humanos e outros animais; de gases de enxofre de indústrias e compostos orgânicos voláteis cancerígenos das refinarias; de lixo radioativo a lixo hospitalar.<br />
<br />
Nesse contexto, vale certamente mencionar o plástico, como poluente presente em praticamente todo lugar. Hoje, a cada cinco toneladas de peixe nos mares, já existe uma tonelada de plástico e as duas quantidades se igualarão já em 2050 se as tendências atuais persistirem. (2)<br />
<br />
Somam-se a esses fatores a mudança do clima, que atinge em especial certos habitats mais frágeis (como o Ártico), a introdução de espécies invasoras (como é o caso de espécies marinhas trazidas na água de lastro de navios) e outras transformações ambientais (como a acidificação oceânica, que abordaremos no terceiro capítulo desta série).<br />
<br />
<b>O cerco à biosfera e sua escravização</b><br />
<b></b><br />
<b></b>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxZjxLPwxxkOeqqlnLNLLywQZdudbVTuEAy9FpkUoS7wygE3rSZ1p-zcGSMtHmUr94hHUOjlKhtCZJSFHl8uW9LpI30mLxInjf7ub1GkIT67RQq8vkNmuSVn6Je5zFa9g3nWoosPkFXIs/s1600/australia-baby-giraffbraz-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="690" data-original-width="460" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxZjxLPwxxkOeqqlnLNLLywQZdudbVTuEAy9FpkUoS7wygE3rSZ1p-zcGSMtHmUr94hHUOjlKhtCZJSFHl8uW9LpI30mLxInjf7ub1GkIT67RQq8vkNmuSVn6Je5zFa9g3nWoosPkFXIs/s320/australia-baby-giraffbraz-1.jpg" width="213" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Parcela significativa dos grandes mamíferos<br />
da Terra está ameaçada de extinção nos<br />
dias de hoje.</td></tr>
</tbody></table>
Em menos de cinco décadas, o mundo assistiu à terrível redução de 60% nas populações silvestres de vertebrados, levando incontáveis espécies à ameaça de extinção ou à sua extinção efetivamente. (3)<br />
<br />
O controle violento da biosfera pela humanidade assume colorações dramáticas quando dados científicos revelam que 96% da biomassa de mamíferos é “domesticada” (36% de humanos, 60% de gado e domésticos, restando somente 4% para animais silvestres) e que 70% da biomassa de aves está nos frangos enquanto os 30% que sobram ficam com todas as demais espécies de pássaros. (4)<br />
<br />
Parte significativa da biosfera foi escravizada. O que resta de vida silvestre está encurralado pela combinação mortífera de destruição e degradação de habitats, caça/pesca predatórias/insustentáveis, introdução de espécies invasoras, mudança climática antrópica, poluição, proliferação de doenças. Na guerra declarada pelo sistema econômico vigente, a biosfera sofre um verdadeiro cerco, tanto territorial quanto químico.<br />
<br />
<b>Sexta extinção</b><br />
<b></b><br />
<b></b>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRyXM8-o1UPUXbEgoGc8dzAEQ2EfwJFMEW6fXCGFj0lQWQKIoRRtcjOX89mDTT1EEkXGVdE1tXHqXEeBXSO0tM5H3HfRW9ESrNCEH0QKPYhJnv0ZFAu_vmtTNM3rtvsem3ue9iK3zI3RA/s1600/Captura+de+Tela+2019-06-07+a%25CC%2580s+08.21.38.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="1440" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRyXM8-o1UPUXbEgoGc8dzAEQ2EfwJFMEW6fXCGFj0lQWQKIoRRtcjOX89mDTT1EEkXGVdE1tXHqXEeBXSO0tM5H3HfRW9ESrNCEH0QKPYhJnv0ZFAu_vmtTNM3rtvsem3ue9iK3zI3RA/s320/Captura+de+Tela+2019-06-07+a%25CC%2580s+08.21.38.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Há muito mais biomassa <strike>domesticada</strike> escravizada de aves e<br />
mamíferos do que silvestre. Essa é uma das marcas da<br />
chamada "6ª extinção".</td></tr>
</tbody></table>
A publicação de um relatório científico recente (5) trouxe dados alarmantes sobre o nível de degradação e destruição ambiental planetárias. (6) Baseado na estimativa de que há aproximadamente 8,1 milhões de espécies de animais e plantas (7), o relatório conclui que pelo menos 1 milhão de espécies está ameaçada de desaparecer do planeta.<br />
<br />
Essa estimativa pode inclusive ser por conservadora (8), pois não há informação suficiente sobre o risco de extinção de espécies de insetos, grupo vivo mais numeroso. Mas mesmo em relação a estes, a situação não parece ser nada confortável. Concordando com relatos de que há menos insetos colidindo com os para-brisas dos carros nas estradas ou menos insetos procurando a luminosidade de lâmpadas, TVs e computadores, há observações científicas daquilo que se começa a chamar como o “apocalipse dos insetos”: a redução substancial (em alguns casos acima de 70%) em sua biomassa. Não chega a ser surpreendente quando se sabe que os agrotóxicos têm colocado em risco a existência das abelhas e outros polinizadores tão fundamentais. Não custa lembrar: no Brasil do desgoverno Bolsonaro, quase 200 agrotóxicos foram liberados, incluindo alguns banidos na Europa por estarem diretamente associados à mortandade de abelhas. (9)<br />
<br />
A redução da diversidade genética das populações colocou as taxas de desaparecimento de espécies num patamar centenas a milhares de vezes acima daquilo que seria considerado “natural”. Isso já configura aquilo que passou a ser conhecido como a 6a grande extinção, um evento com impacto, sobre a biosfera terrestre, de magnitude comparável ao choque da Terra com um asteroide há 66 milhões de anos, eliminando a maior parte dos dinossauros e outras formas de vida de então.<br />
<br />
<b>A vida acima do lucro: Lutar para seguir sonhando</b><br />
<b><br /></b>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikNuqSA-2cNDyYz2SQ4dBrYFFHYkhScKpHettPfCIxTATQ0_cmPPFu6G7rWncUAdo3ZXLhkXebAkiswYXvMuT8YTpgET44jT09ECpxWZUzkbpteuNbiNGgySdrMI4NM0RxYdMX_XTnmnQ/s1600/chickens.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikNuqSA-2cNDyYz2SQ4dBrYFFHYkhScKpHettPfCIxTATQ0_cmPPFu6G7rWncUAdo3ZXLhkXebAkiswYXvMuT8YTpgET44jT09ECpxWZUzkbpteuNbiNGgySdrMI4NM0RxYdMX_XTnmnQ/s320/chickens.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">De acordo com a organização alemã Deutscher Tierschutzbund,<br />
<b>2,5 bilhões de pintinhos</b> são mortos por ano. Em vários casos,<br />
os animais são moídos vivos.</td></tr>
</tbody></table>
Uma publicação recente em um conceituado periódico científico apontou semelhanças marcantes entre os padrões cerebrais, durante o sono, em determinados répteis, aves e mamíferos. (10) Foram encontrados, em uma variedade de outras espécies, justamente os padrões que correspondem à fase do sono mais profunda, em que sonhamos. A inferência – inevitável – é que possivelmente vivemos em um planeta não apenas repleto de vida, mas também povoado de sonhos! Um planeta com talvez um trilhão de seres… que sonham!<br />
<br />
A devastação ambiental, que se acentuou marcadamente nas últimas décadas, é, não apenas um duro golpe contra a biosfera e a diversidade do viver, mas também contra essa “morfeosfera” e a diversidade do sonhar. A luta em defesa da biodiversidade é também uma luta para que o planeta continue sonhando e, em especial no século XXI, a luta pela libertação de mulheres e homens de toda a forma de exploração e opressão andará junto do combate para libertar a natureza à qual pertencemos do domínio aniquilador do capital. É uma luta entre classes e uma guerra entre mundos.<br />
<br />
Publicado originalmente no <a href="https://esquerdaonline.com.br/2019/06/06/a-declaracao-de-guerra-do-capital-contra-a-natureza-parte-2-biosfera-encurralada-alexandre-costa/">Esquerda Online</a>.<br />
<br />
<b>NOTAS</b><br />
<span style="font-size: x-small;">1 – Vide https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46026334</span><br />
<span style="font-size: x-small;">2 – https://www.ellenmacarthurfoundation.org/our-work/activities/new-plastics-economy/2016-report</span><br />
<span style="font-size: x-small;">3 – Vide o “Índice do Planeta Vivo” ou “Living Planet Index”: http://livingplanetindex.org</span><br />
<span style="font-size: x-small;">4 – Vide https://www.pnas.org/content/115/25/6506</span><br />
<span style="font-size: x-small;">5 – Publicado Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services, ou “Plataforma Internacional de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”), ligada ao PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente)</span><br />
<span style="font-size: x-small;">6 – O relatório, composto de vários documentos específicos, está disponível no link: https://www.ipbes.net/assessment-reports</span><br />
<span style="font-size: x-small;">7 – MORA et al. (2011): How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? Plos Biology, 9(8): e1001127 DOI: doi.org/10.1371/journal.pbio.1001127</span><br />
<span style="font-size: x-small;">8 – Vide https://www.ipbes.net/how-did-ipbes-estimate-1-million-species-risk-extinction-globalassessment-report</span><br />
<span style="font-size: x-small;">9 – Vide https://www.oeco.org.br/reportagens/governo-registra-mais-tres-agrotoxicos-associados-a-mortandade-de-abelhas/</span><br />
<span style="font-size: x-small;">10 – LIBOUREL et al. (2018): Partial homologies between sleep states in lizards, mammals, and birds suggest a complex evolution of sleep states in amniotes, PLoS Biol 16(10): e2005982. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.2005982</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-35187890280647169682019-06-05T21:08:00.000-03:002019-06-05T21:08:46.112-03:00A declaração de guerra do capital contra a natureza. Parte I: A Grande Aceleração<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqVc-N8eKqWGLtTnee7HTlQZfTJcvLppMYLiRTYvGTzhS2lrpUl9N88G6LYEPwF65AKfSSzzJv1waWpcVCNoG-lcFjBWoLzRdmgSEoOE8Gl2BxSogif0ONbzRUmfY54MJ4I4zrOJWYdyM/s1600/nature-versus-human-evolution-wallpaper-47547-open-walls.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqVc-N8eKqWGLtTnee7HTlQZfTJcvLppMYLiRTYvGTzhS2lrpUl9N88G6LYEPwF65AKfSSzzJv1waWpcVCNoG-lcFjBWoLzRdmgSEoOE8Gl2BxSogif0ONbzRUmfY54MJ4I4zrOJWYdyM/s320/nature-versus-human-evolution-wallpaper-47547-open-walls.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"A característica fundamental da Grande Aceleração é colocar<br />
o Sistema Terra para além dos seus limites. É uma declaração<br />
de guerra à natureza."</td></tr>
</tbody></table>
O capitalismo é um sistema econômico eminentemente expansionista. O crescimento é uma condição necessária do seu funcionamento e existência, à medida em que a lógica, desvendada por Marx no século XIX, é usar o dinheiro para ganhar mais e mais dinheiro, às custas da exploração da força de trabalho e da espoliação da natureza.<br />
<br />
Uma contradição inevitável desse sistema é a acumulação de riqueza nas mãos de um punhado cada vez menor de capitalistas ao lado da exclusão de amplas massas da riqueza produzida a partir de seu próprio trabalho. Mas o que não era evidente há um século e meio é que além dessa contradição interna, o sistema capitalista rapidamente faria emergir, com toda força, uma outra, ainda mais incontornável: o seu antagonismo com o próprio “Sistema Terra” [1].<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
<br />
Especialmente desde a década de 1950, as atividades humanas (e seus impactos correspondentes no meio-ambiente) cresceram exponencialmente e passaram a colocar sob pressão inédita o clima e a biosfera do planeta, configurando o que conhecemos hoje como “a grande aceleração”. A quantidade de bens de consumo, de automóveis a telefones celulares e computadores pessoais cresceu enormemente, ao ponto de hoje haver mais de um bilhão de veículos automotivos circulando mundialmente, sendo provável que o número de telefones celulares atinja a casa dos cinco bilhões em 2019 [2].<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiKgzezx9yIR179UJE-l3eFPusBbgMjFqoJrsefuJ0re8hKBtD0GaDmXaEk6LpO9FDKu9XMezBw-N8S_HFA64q2dGqze8IuZxcaCcgGcev_WTxNPGHV6gZ2_0hMwzgIIcZyLtgp1IYv6M/s1600/images_cms-image-000469011.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="357" data-original-width="1001" height="114" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiKgzezx9yIR179UJE-l3eFPusBbgMjFqoJrsefuJ0re8hKBtD0GaDmXaEk6LpO9FDKu9XMezBw-N8S_HFA64q2dGqze8IuZxcaCcgGcev_WTxNPGHV6gZ2_0hMwzgIIcZyLtgp1IYv6M/s320/images_cms-image-000469011.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Peixes mortos retirados do Rio Doce após crime da Samarco.<br />
Apenas 3 anos depois de Mariana, foi a vez de Brumadinho<br />
ser vítima da atividade criminosa das mineradoras, desta vez<br />
a Vale S/A.</td></tr>
</tbody></table>
Para se ter uma ideia do impacto que somente esses dois processos ocasionam, vale lembrar que cada automóvel tem em média quase 1 tonelada de aço e cada celular de meros 150g possui mais de 50 elementos químicos, demandando a mineração de 70 kg de rocha para obter um único desses aparelhinhos (que rapidamente são descartados para a compra de um novo, por conta da baixa durabilidade, do desgaste prematuro e da imposição da substituição na chegada de novas tecnologias, ou seja, da chamada <b>obsolescência programada</b>). Para atender – de maneira lucrativa – ao aumento incessante da velocidade da roda de extração-produção-consumo-descarte, as corporações entram num verdadeiro regime de “Vale-tudo”. Da devastação ambiental e trabalho semi-escravo “normais” a crimes como os cometidos em Mariana e Brumadinho é um pulo.<br />
<br />
Mantendo-se como exemplos somente esses dois símbolos da sociedade de consumo e do “<i>american way of life</i>” (o carro particular e o celular), a crescente-se a demanda energética envolvida na extração e transporte desses materiais, no processo industrial de fabricação e no transporte desses bens até o consumidor final, lembrando que a maior parte dessa demanda é suprida a partir da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) em usinas termelétricas. Sem mencionar o efeito do descarte, com a poluição associada à liberação de substâncias tóxicas, metais pesados, plástico etc. É tudo absolutamente insustentável!<br />
<br />
<b>O Agro é morte</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB9jK7BkW7C1XumEgPGFJDQ_6XjzAs6IJN15nHPBksfcg0ZnTT5j-wiosfVSXGXXtFnRhUjBsBZDEp8oyu4mVtQtDqPzLZRCDpSlyUUh0HP-dobwJ7E7Q8YfNkvB1ya1HhGdfCuarYtRU/s1600/queimada-santarem-amazonia2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB9jK7BkW7C1XumEgPGFJDQ_6XjzAs6IJN15nHPBksfcg0ZnTT5j-wiosfVSXGXXtFnRhUjBsBZDEp8oyu4mVtQtDqPzLZRCDpSlyUUh0HP-dobwJ7E7Q8YfNkvB1ya1HhGdfCuarYtRU/s320/queimada-santarem-amazonia2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Queimada em Santarém. Fonte: Revista Época</td></tr>
</tbody></table>
Ao mesmo tempo, avançou sobremaneira a agricultura intensiva, marcada pela monocultura, utilização intensiva de agrotóxicos e fertilizantes. Vale ressaltar que boa parte da produção agrícola nesses moldes visa a produção de alimentos não para serem consumidos por seres humanos, mas a produção de grãos para servirem de ração para animais confinados: bovinos, suínos, aves etc. (mais de 2/3 da produção de soja é destinada a este fim [3]). Além desta, é importante lembrar as monoculturas associadas à produção industrial de papel (caso do eucalipto), produtos de higiene pessoal (como os que utilizam óleo de palma) e bioenergia (como cana-de-açúcar).<br />
<br />
Além da contaminação de ecossistemas e sistemas hidrográficos por agrotóxicos, esse modelo agrícola está associado à utilização de enormes quantidades de água para irrigação e à liberação em larga escala de nitrogênio e fósforo reativos no ambiente, sendo esses nutrientes responsáveis por graves desequilíbrios em lagos, na zona costeira etc. Claro, o avanço do agronegócio é também responsável por parcela significativa do desmatamento à medida em que ocupa as terras antes ocupadas por biomas como as florestas tropicais. No Brasil, o caso da Amazônia e especialmente do Cerrado são emblemáticos.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<div>
<b>A Sedução da “Grande Aceleração”</b></div>
<div>
<br /></div>
<div>
É evidente que há um aspecto sedutor em todo esse processo. A maioria trabalhadora, ainda que cada vez mais a precarização e o desemprego batam à porta, se sente convidada a participar do banquete. Adquirir os bens de consumo descartáveis do capitalismo se torna sonho, fetiche. Torna-se inclusive, “necessidade” (em geral, uma falsa necessidade, artificial e alimentada pela “indústria” da propaganda). Pior, enquanto as massas são seduzidas pelo império do consumo, o pensamento de esquerda se deixa levar pelas mesmas métricas do pensamento capitalista, louvando acriticamente o “crescimento econômico”, disputando o PIB etc. Mas somente é possível esse sequestro de consciência a partir de uma combinação de fatores objetivos relacionados à globalização. </div>
<div>
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivwMT3wX5jKt0ew-JW-HQ1Hd8tuDVAWOdyb7EC9bSUhyNS4CRLdsRgDLYQXKt4fZz6xQBh7nAj5V1Gd31apSj9cUysnm1CiQbR_2cAXCfC9Is-7UXBpUHGp6L-ssQjmnwPiLZYIHutVxY/s1600/ogoniland.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivwMT3wX5jKt0ew-JW-HQ1Hd8tuDVAWOdyb7EC9bSUhyNS4CRLdsRgDLYQXKt4fZz6xQBh7nAj5V1Gd31apSj9cUysnm1CiQbR_2cAXCfC9Is-7UXBpUHGp6L-ssQjmnwPiLZYIHutVxY/s320/ogoniland.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Essa lógica, de separar paraísos de consumo de um lado e zonas<br />
de sacrifício de outro, é reproduzida na escala de países inteiros<br />
inteiros e até de cidades, configurando o chamado racismo ambi-<br />
ental." Foto: vazamento de óleo da Shell em Ogoniland, Nigéria</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Primeiro, o alongamento, até a escala planetária, das chamadas “cadeias produtivas”. A mineração para as matérias-primas e a extração de combustíveis fósseis para energia se dão de um lado do planeta, que pode ser a África ou a América Latina ou o Oriente Médio, enquanto a produção se dá do lado oposto, tendo se concentrado especificamente na China. Enquanto isso, centros consumidores como os países ricos ficam distantes da devastação da mineração e da poluição industrial. E essa lógica, de separar paraísos de consumo de um lado e <b>zonas de sacrifício</b> [4] de outro, é reproduzida na escala de países inteiros e até de cidades, configurando o chamado <b>racismo ambiental</b> [5].</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Segundo, o advento de um capital “virtual”, aparentemente sem sede e sem face, que ajuda a colocar o dinheiro distante dos impactos socioambientais de tudo o que ele financiar. Na lógica míope, tacanha e suicida do mercado de ações, as atividades mais “rentáveis” nas bolsas, e onde os bancos investem sistematicamente são, comumente aquelas em que esses impactos são tão profundos quanto invisíveis (ou melhor, escondidos, invisibilizados).</div>
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<br /></div>
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<b>Capitalismo de Desastre</b></div>
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<br /></div>
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O resumo é que o capitalismo do século XXI é o capitalismo do desastre ambiental. Poluição, uso de água em excesso para o agronegócio e a indústria pesada, emissões de gases de efeito estufa que desestabilizam o clima, destruição de florestas e redução da biodiversidade, comprometimento da camada de ozônio da estratosfera e até uma mudança potencialmente catastrófica no nível de acidez dos oceanos... A característica fundamental da Grande Aceleração é colocar o Sistema Terra para além dos seus limites [6]. É uma declaração de guerra à natureza.</div>
<div>
<br /></div>
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Mas por isso mesmo, por ser uma declaração de guerra ao Sistema Terra, a crise singular do capitalismo, que se revela hoje é, dentre outras características, uma crise da impossibilidade de continuar “exportando” os impactos socioambientais destrutivos da produção capitalista para outros territórios. Mudou a escala [7]. Não se trata mais apenas de ameaçar um ou outro habitat em separado (o que já seria no mínimo questionável) ou de (criminosamente) colocar indústrias com emissões tóxicas longe de onde moram os mais ricos. Os riscos agora são globais, planetários.</div>
<div>
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfqN2LEMeAsQWw95OYfodtUaai11Cwr2ttIejmvZadVeCl6HnsuFCwhJ68euXwIVZpqvAAsgFz4LJc7_vN8HF2TbpuHZMyFzjdLaHiGe5VMkV6n53xew4EYjVMUJTJbV3_L8FodA8zQYQ/s1600/mothernature.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="549" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfqN2LEMeAsQWw95OYfodtUaai11Cwr2ttIejmvZadVeCl6HnsuFCwhJ68euXwIVZpqvAAsgFz4LJc7_vN8HF2TbpuHZMyFzjdLaHiGe5VMkV6n53xew4EYjVMUJTJbV3_L8FodA8zQYQ/s200/mothernature.png" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Por outro lado, declarar guerra à Terra<br />
implica que ela, ao sofrer mudanças,<br />
deixa de ser um “palco”, para ser atriz,<br />
protagonista."</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Por outro lado, declarar guerra à Terra, implica que ela, ao sofrer mudanças, deixa de ser um “palco”, para ser atriz, protagonista. Passa a impor suas condições e regras – físicas, químicas, geológicas – à existência humana e, portanto, à sua forma que a humanidade se organiza territorial, econômica e politicamente. Naquilo que chamam de “Intrusão de Gaia” [8], coloca, de forma crua, a incompatibilidade entre um sistema econômico que almeja o crescimento e acumulação ilimitados (o capitalismo) e um sistema físico limitado (o planeta), que funciona à base de ciclos (da água, do carbono, do nitrogênio etc) e fluxos (de matéria energia).</div>
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<br /></div>
<div>
Nos demais artigos desta série, abordaremos as questões relacionadas especificamente às duas “fronteiras planetárias” consideradas estruturantes: o clima e a biosfera e mostraremos que a continuidade desse sistema de morte está colocando objetivamente em risco a existência não apenas de inúmeras formas de vida que compartilham conosco este planeta, mas também a própria civilização humana.</div>
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<br /></div>
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<span style="font-size: x-small;">[1] Termo usado para denominarmos o planeta com os subsistemas que o compõem (atmosfera, criosfera e em particular a biosfera, dentre outros) e as complexas relações entre estes.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[2] Vide <a href="https://www.statista.com/statistics/274774/forecast-of-mobile-phone-users-worldwide/">https://www.statista.com/statistics/274774/forecast-of-mobile-phone-users-worldwide/</a></span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[3] Vide https://globalforestatlas.yale.edu/land-use/industrial-agriculture/soy-agriculture</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[4] Segundo Viégas, “a expressão ‘zonas de sacrifício’ é utilizada pelos movimentos de justiça ambiental para designar localidades em que observa-se uma superposição de empreendimentos e instalações responsáveis por danos e riscos ambientais. Ela tende a ser aplicada a áreas de moradia de populações de baixa renda, onde o valor da terra relativamente mais baixo e o menor acesso dos moradores aos processo decisórios favorece escolhas de localização que concentram, nestas áreas, instalações perigosas” (<a href="https://www.faneesp.edu.br/site/documentos/desigualdade_ambiental_zonas_sacrificio.pdf">https://www.faneesp.edu.br/site/documentos/desigualdade_ambiental_zonas_sacrificio.pdf</a>).</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[5] Como racismo, colonialismo e capitalismo caminham juntos, é em geral sobre comunidades pobres, negras e/ou indígenas que recaem os impactos da implantação de grandes empreendimentos capitalistas.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[6] Do ponto de vista científico, é a ultrapassagem das chamadas “fronteiras planetárias”, um conjunto de 9 parâmetros enumerados por um grupo de cientistas liderado por Joham Rockström em publicação na revista Nature em 2009: <a href="https://www.nature.com/articles/461472a">https://www.nature.com/articles/461472a</a>.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[7] Cientistas da natureza já chegam a um consenso de que ingressamos em outra subdivisão geológica (denominada Antropoceno), em que as ações humanas competem ou até suplantam, em escala, os processos naturais.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">[8] Termo usado por Isabelle Stengers, vide, por exemplo, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584423-consideracoes-de-uma-filosofa-da-ciencia-sobre-o-fim-do-mundo-no-tempo-das-catastrofes-de-isabelle-stengers">http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584423-consideracoes-de-uma-filosofa-da-ciencia-sobre-o-fim-do-mundo-no-tempo-das-catastrofes-de-isabelle-stengers</a>.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://esquerdaonline.com.br/2019/06/05/a-declaracao-de-de-guerra-do-capital-contra-a-natureza-parte-i-a-grande-aceleracao/">Esquerda Online</a>. </span></div>
</div>
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<br /></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-79783168702218343612019-03-24T10:51:00.000-03:002019-03-24T11:14:16.241-03:00O nome não é "Ajuda Humanitária". É Dívida Climática!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw5TM_v6_jx8-z50KVTmuQgMKh0TnVkk68-jrBavq3qqaIaucHbZW_BRrf2Br-tMFn5xs6cHQdPl6iPAEUNL354GtQ90rfuqjOOYdaSA9_4suWhswgC7ReqGSDLO7CILKvl-2s7Wqwu2A/s1600/Mozambique+4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1072" data-original-width="1600" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw5TM_v6_jx8-z50KVTmuQgMKh0TnVkk68-jrBavq3qqaIaucHbZW_BRrf2Br-tMFn5xs6cHQdPl6iPAEUNL354GtQ90rfuqjOOYdaSA9_4suWhswgC7ReqGSDLO7CILKvl-2s7Wqwu2A/s320/Mozambique+4.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pessoas ilhadas aguardam resgate em Moçambique após passagem<br />
do Ciclone Tropical Idai. Foto: Chris Sherrard (Irish Mirror)</td></tr>
</tbody></table>
Neste ano já tivemos enchentes devastadoras associadas a eventos extremos aqui mesmo no Brasil (com impacto bastante severo em nossas megacidades, Rio e São Paulo), nos EUA (com enormes danos e prejuízos em Minnesota e <a href="https://www.npr.org/2019/03/21/705408364/nebraska-faces-over-1-3-billion-in-flood-losses">Nebraska</a>).<br />
<br />
Mas, como em tantas outras ocasiões, eventos similares produzem impactos maiores - e um número bem maior de mortes - quanto mais pobres e vulneráveis forem os países e as comunidades sobre os quais eles se abaterem.<br />
<br />
<br />
<a name='more'></a>Como antes nas <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2014/11/tacloban-um-ano-depois.html">Filipinas</a>, em <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2017/08/serra-leoa-precisamos-falar-de-pobreza.html">Serra Leoa</a>, etc., a tragédia, que finalmente parece chamar a atenção do mundo, veio na forma do Ciclone Tropical Idai, que se formou a partir de uma depressão tropical no Canal de Moçambique, entre o sudeste do continente africano e Madagascar. Três países pobres (Malawi, Zimbabwe e particularmente Moçambique) foram duramente castigados, com o número impressionante de 1,7 milhão de pessoas afetadas e, no momento em que escrevo, mais de 700 mortes confirmadas.<br />
<br />
Aqui me sinto obrigado a fazer uma confissão sobre como têm-me incomodado os memes, tweets, textinhos e eventuais textões que batem na tecla "não tem 'ajuda humanitária' em Moçambique porque lá não tem petróleo". Não é que eu discorde de maneira absoluta da ideia. Pelo contrário, entendo o sentido. É feito um contraponto ao cinismo dos governos ultradireitistas de EUA e Brasil no caso da Venezuela, em que a tese da "ajuda humanitária" certamente escondia outra agenda. Só que a repetição do meme expõe os limites de como muitas pessoas estão encarando a tragédia.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuygy5PTHuSuf4yFoDSj0yVmaUD9Tt4aAi0JTV8pH5SzZlr57YwANaeTxl8iA7MmIB43IvYuuUF_ZpSC3gsyxeWPLC4iScgZi261DTpDcT9MkZ8rYcRAYC1YF3Ll085Lh4AFDlDgXQVOM/s1600/idai.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuygy5PTHuSuf4yFoDSj0yVmaUD9Tt4aAi0JTV8pH5SzZlr57YwANaeTxl8iA7MmIB43IvYuuUF_ZpSC3gsyxeWPLC4iScgZi261DTpDcT9MkZ8rYcRAYC1YF3Ll085Lh4AFDlDgXQVOM/s320/idai.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Idai, como toda tempestade tropical formada numa atmosfera<br />
com mais de 400 ppm de CO2, tende a adquirir poder devastador<br />
maior do que nas condições, por exemplo, do clima pré-industrial</td></tr>
</tbody></table>
A primeira questão é que o petróleo é trazido à baila de forma totalmente deslocada. Moçambique foi vítima sim, do petróleo. Não daquele que em tese poderia haver em seu subsolo (mas que pelo visto realmente não há), mas daquele que fora tirado do subsolo de outro lugar, <b>queimado e despejado na atmosfera como CO2</b>. De uma vez por todas, é necessário que caia a ficha: o aquecimento global, ao elevar a temperatura dos oceanos tropicais e aumentar a capacidade da atmosfera em armazenar vapor d'água, está produzindo e produzirá cada vez mais tempestades extremamente severas e mortíferas.<br />
<br />
Nesse contexto, o abandono da África à sua própria sorte, gritante no caso de Moçambique, Malawi e Zimbabwe, é uma amostra terrível da profunda desigualdade por trás das mudanças climáticas. Os habitantes do Zimbabwe emitem em média 0,8 toneladas de CO2-equivalente por ano. As emissões de Moçambique e Malawi são ainda menores: 0,3 e 0,1 tons/pessoa/ano. Sem indústria ou agricultura intensiva, <b>esses países não tem responsabilidade alguma sobre o caos climático</b>. Para se ter uma ideia, a média global per capita das emissões está em torno de 5 tons/pessoa/ano de CO2-equivalente, ou seja, 17 vezes maior que as emissões de Moçambique. E o que vem de países ricos é algo muito maior ainda!<br />
<br />
Tirando os maiores produtores de petróleo, que por isso aparecem no topo do ranking das emissões, fica evidente que o modo de vida dos países ricos é insustentável. As emissões por habitante dos EUA chegam a 16,5 tons/pessoa/ano. Austrália e Canadá, 15,4 e 15,1, respectivamente. Em outras palavras, o "estadunidense médio" tem um impacto climático equivalente a 55 "moçambicanos médios". O "canadense médio" conta como 151 habitantes de Malawi em termos da pegada de carbono. Carro privado, grande, de alta cilindrada, movido a combustível fóssil e trocado constantemente; consumo excessivo de bens diversos, de roupas a eletrônicos; dieta com muita carne, principalmente de ruminantes; viagens aéreas...<b> isso não se sustenta</b>.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVDMjBL0BRecY1CfwhP-JiCJGRibh1d-vsuDWfTUdOwlorKjG6zNAbhXrwLAPt_74JuFzqm6a2ezt9hepXFINahmVBRricXCjKT1zIga-O67UP9-q4qVR9rnRaAmf126S0O3Fw3xFRW3A/s1600/emissions.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="655" data-original-width="1200" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVDMjBL0BRecY1CfwhP-JiCJGRibh1d-vsuDWfTUdOwlorKjG6zNAbhXrwLAPt_74JuFzqm6a2ezt9hepXFINahmVBRricXCjKT1zIga-O67UP9-q4qVR9rnRaAmf126S0O3Fw3xFRW3A/s320/emissions.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Praticamente todos os cenários que limitam o aquecimento global<br />
a 1,5°C, recomendado pelos cientistas, implicam redução de ~50%<br />
nas emissões até 2030 e emissão zero em torno de 2050. </td></tr>
</tbody></table>
De acordo com o último relatório especial do IPCC, o SR15, seria extremamente benéfico limitarmos o aquecimento global a 1,5°C. O suposto limite de 2°C nada tem de seguro e além dele cada décimo de grau amplifica a catástrofe. Mas para tal, seria necessário reduzir as emissões globais pela metade até 2030. Em outras palavras, o limite de emissão per capita seria 2,5 tons/pessoa/ano em CO2-equivalente (isto é, considerando outros gases, como o metano, de acordo com seu potencial de aquecimento global).<br />
<br />
Façam as contas comigo. Numa lógica de <b>equidade climática</b>, isso significa que as emissões per capita dos EUA têm de ser reduzidas por um fator de 7 vezes. As dos habitantes de Moçambique poderiam até crescer por um fator de 8! Em uma década, esse crescimento permitiria a pessoas de países muito pobres da África acesso a energia, água potável, saneamento, hospitais, escolas, universidades e infraestrutura de monitoramento, prevenção e assistência em caso de eventos extremos (num mundo condenado, pelo aquecimento global, a um clima de extremos, todos precisaremos, e muito). Isso poderia ser feito a tempo inclusive antes de precisarmos encarar um desafio ainda maior, o de zerar completamente as emissões até 2050.<br />
<br />
Mas essas iniciativas necessárias para elevar o padrão de vida dos países mais pobres precisam ser bancadas por quem se beneficiou da queima de combustíveis fósseis para acumular riqueza. Por isso, não é caridade, nem mesmo <b>"ajuda"</b> que os países pobres expostos ao caos climático precisam. É de <b>compensação</b>, de <b>indenização</b>. "Ajuda" é algo meio facultativo, uma decisão moral, um "ato de bondade". O que precisamos é de mais do que isso: é obrigar quem é responsável pelo aquecimento global a arcar com os danos que ele provoca.<br />
<br />
O problema é que o dinheiro que poderia ser usado para compensar e indenizar aqueles que não tem responsabilidade sobre a mudança do clima tem fluído ao contrário do que deveria. Desde que o Acordo de Paris foi aprovado, 33 bancos investiram 7 trilhões de reais na indústria de combustíveis fósseis. Uma fração desse dinheiro teria ajudado a descarbonizar a economia e, ao mesmo tempo, indenizar preventivamente os países com baixas emissões mas, pelo contrário, o sistema segue financiando o caos climático, a devastação e a morte. Tão destrutivo e assassino quanto a indústria de combustíveis fósseis é o capital financeiro que a alimenta!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAxSNm1U05vp-uut3NOnp7HscncI-xGbV5Vnt2SyN5yh8HA4YjgJvK8vTWspaNFCJ4TJ0Je2DQf3xn51wNiLqt-X-qpsFr3-6ADR87DXSvvzv3m8EYi6P3B1MxRroDqtXyYXy-vBm_hdc/s1600/climatedebt.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAxSNm1U05vp-uut3NOnp7HscncI-xGbV5Vnt2SyN5yh8HA4YjgJvK8vTWspaNFCJ4TJ0Je2DQf3xn51wNiLqt-X-qpsFr3-6ADR87DXSvvzv3m8EYi6P3B1MxRroDqtXyYXy-vBm_hdc/s320/climatedebt.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quem deve pagar pelos danos associados às mudanças<br />
climáticas? Por que seguir achando que se trata de oferecer<br />
"ajuda humanitária" aos mais pobres, quando estes são<br />
credores da dívida climática e têm pleno direito de serem<br />
compensados pelos ricos?</td></tr>
</tbody></table>
Daí, minha objeção ao raciocínio por trás da "ausência de ajuda humanitária em virtude da ausência de petróleo" é mesmo a falta de perspectiva da questão de fundo. Moçambique é vítima do caos climático, do petróleo (que alguns lamentavelmente ainda sonham ser usado para produzir riqueza de forma justa), do carvão e do gás. É vítima da profunda desigualdade associada às mudanças climáticas. E o que precisamos não é de "ajuda humanitária", mas do pagamento da <b>DÍVIDA CLIMÁTICA</b>, que precisa ser cobrada, pelos pobres, dos países ricos e, principalmente, das corporações fósseis e dos bancos que as financiam.</div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-59164821114626580962019-02-08T00:33:00.001-03:002019-02-08T01:29:17.390-03:00Rio de Fevereiro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWPwZ2kYEZQmEKePoupzpXZo8y__dX27cvIaPvLXMDMjIBJAPRGp489p0DtzDWsAUjg30NWx5Rlt6UzzQd9YIaGryGcXGCr3r4prP6mhsRULLjAu7irmMv6ngd9WwTaaErEV2gJkVE5KQ/s1600/enchente01.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="940" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWPwZ2kYEZQmEKePoupzpXZo8y__dX27cvIaPvLXMDMjIBJAPRGp489p0DtzDWsAUjg30NWx5Rlt6UzzQd9YIaGryGcXGCr3r4prP6mhsRULLjAu7irmMv6ngd9WwTaaErEV2gJkVE5KQ/s320/enchente01.jpeg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem: Folha de São Paulo</td></tr>
</tbody></table>
Com um saldo terrível de 6 pessoas mortas, centenas de árvores derrubadas e inúmeros danos materiais a residências, edifícios públicos e comerciais, à infraestrutura da cidade, etc., tudo indica que os impactos da enxurrada que lavou o Rio de Janeiro são bem maiores do que teriam sido caso medidas básicas de prevenção e uma gestão minimamente decente de risco tivessem sido adotadas. <a href="https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/02/07/crivella-deixa-de-gastar-r-560-mi-no-combate-a-enchentes-e-encostas.htm">Tendo gasto apenas 22% do orçamento previsto</a> para controle de enchentes e contenção de encostas, é óbvio que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) tem culpa no cartório.<br />
Mas este texto pretende se dedicar a uma reflexão um pouco mais além (ressalto que isso não pode servir de modo algum para isentar nenhum gestor, a começar do prefeito da cidade debaixo d'água, de suas responsabilidades mínimas).<br />
<a name='more'></a><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwAsBtwT1IS8OZBvbXDTecumNKiQT4eUWpEYWnU4AENVwUEFjDIL42RsYYi_5QnwTK7l9fa5jiBO4j9zqiDcyjsZU2R_pctzGLOMNl7EGZj2FOnVP3eDGypUzhjMH38IT9G3bdWgRfPGI/s1600/crivella.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="459" data-original-width="543" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwAsBtwT1IS8OZBvbXDTecumNKiQT4eUWpEYWnU4AENVwUEFjDIL42RsYYi_5QnwTK7l9fa5jiBO4j9zqiDcyjsZU2R_pctzGLOMNl7EGZj2FOnVP3eDGypUzhjMH38IT9G3bdWgRfPGI/s200/crivella.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Crivella "cuidando das pessoas"?<br />
Foto: O Globo</td></tr>
</tbody></table>
Haveria menos alagamentos não fosse o lixo nas galerias pluviais... A água não escoaria tão violenta se a cidade não fosse tão impermeabilizada... Os pobres seriam menos impactados se as construções fossem adequadas e fora de locais de risco... O alerta e o socorro seriam mais eficazes se um péssimo prefeito não tivesse sucateado órgãos responsáveis e cortado verbas para as ações durante enchentes... Os R$ 564 milhões que deixaram de ser repassados para ações de controle de enchentes e contenção de encostas certamente fizeram falta, e muita.<br />
<br />
Mas é preciso, mais do que nunca, que se diga: as chances de uma tempestade como a que desabou sobre o Rio de Janeiro seriam menores se o planeta não estivesse mais quente do que há pouco mais de um século! Toda tempestade, no mundo de hoje, se desenvolve numa atmosfera com 46% a mais de CO2 e com temperatura 1°C mais quente do que a dos tempos pré-industriais e isso faz toda a diferença!<br />
<br />
Para quem tiver interesse em se aprofundar um pouco mais, a Física por trás é relativamente simples, dada pela chamada "Relação de Clausius-Clapeyron" que estabelece que a pressão de vapor de saturação cresce (quase) exponencialmente com a temperatura. A consequência prática dessa relação é que a cada 1°C, a capacidade da atmosfera em armazenar vapor d'água cresce em aproximadamente 7%. Ora, se quanto mais quente a atmosfera, mais vapor d'água ela será capaz de armazenar, por conseguinte também haverá mais água para ser despejada depois que ele se condensar.<br />
<br />
Claro, sempre choveu e sempre houve, ocasionalmente, precipitações extremas. Mas a conclusão é que eventos extremos de precipitação (e seus impactos como inundações, deslizamentos, etc.) são exacerbados com o aumento da temperatura. Temos reiterado em nosso blog: <b>um clima mais quente é um clima de extremos</b>.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIaimcO5horuOkDMSUWRlfnM0G2__dlERZu-NkCl2cp23AtyaD-KRC0bn6aIXQdMPeUgNh9HD030SD0KHzb4JIaN_df5gjOxPlz2WZzd31W2v6jr5VgOA7TEs0ThQ8Gr6QP4CJ5xozt5g/s1600/nasagiss.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1130" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIaimcO5horuOkDMSUWRlfnM0G2__dlERZu-NkCl2cp23AtyaD-KRC0bn6aIXQdMPeUgNh9HD030SD0KHzb4JIaN_df5gjOxPlz2WZzd31W2v6jr5VgOA7TEs0ThQ8Gr6QP4CJ5xozt5g/s320/nasagiss.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Evolução da temperatura média global (continentes e oceanos)<br />
de 1880 a 2018, segundo a NASA. Fonte: NASA-GISS.</td></tr>
</tbody></table>
E se é para falar de um clima mais quente, as evidências nunca foram tão nítidas após a divulgação dos dados consolidados de 2018 pelas agências dos EUA que monitoram o clima: NASA e NOAA. 2018 não foi um recordista (ficou em 4º lugar no ranking), mas os 5 anos mais quentes do registro histórico foram exatamente os 5 anos mais recentes. Os sete anos mais quentes são todos de 2010 para cá. Entre os 10 mais quentes, apenas 1998 não pertence a este século e é quase certo que 2019 vai chutá-lo para fora desse conjunto.<br />
<br />
Prevenção é fundamental, e seguiria sendo mesmo se não houvesse mudanças climáticas. Adaptação é essencial, e seguiria sendo mesmo se estivéssemos fazendo direitinho o dever de casa de reduzir as emissões a fim de estabilizar o clima e conter o aquecimento global em patamares menos inseguros.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpcKsRI1bUz1rZC3BjNCBRpmm2azrWwlsKAFpq8BgFgbM7qQkszJl6RXI1dDA5kyL731F4pRi3fbAt5zKuy4-7ob7VsA8lxaehCuQ-y-hIb6DmqOwLbWbioE0jBoWtqHgSYff0TQD1hWY/s1600/carro-canal-rio.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="608" data-original-width="1080" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpcKsRI1bUz1rZC3BjNCBRpmm2azrWwlsKAFpq8BgFgbM7qQkszJl6RXI1dDA5kyL731F4pRi3fbAt5zKuy4-7ob7VsA8lxaehCuQ-y-hIb6DmqOwLbWbioE0jBoWtqHgSYff0TQD1hWY/s320/carro-canal-rio.jpg" width="320" /></a></div>
Mas não dá pra ficar nisso. No varejo. No local. Não dá mais para assistir a tragédias como a que se abateu sobre o RJ e não falar da relação de eventos extremos com o aquecimento global. Virão tempestades violentas com mais frequência e ainda maior intensidade a cada décimo de grau que a temperatura do planeta subir. Combater as emissões de gases de efeito estufa (CO2, metano, óxido nitroso, halocarbonetos) é tarefa para lá de urgente. Abandonar os combustíveis fósseis, pôr um fim ao desmatamento e adotar outras medidas para evitar que a temperatura global suba descontroladamente é tão urgente quanto coletar o lixo e equipar a defesa civil.</div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-18862861776594104322018-11-16T02:26:00.000-03:002018-11-16T03:35:11.718-03:00A Ideologia Delirante de Ernesto Araujo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR_4wVtOHoWNFn3dWwtPvXHRjImPpc4Ui31fDrQHj45DkxK8TAdWxA7KqWomgr1IgEg8Vp9DWXuS-fb_5vzKsRsbdClxQxRnOxvRSWznAsczg6uUgIecQjkzu2idRVOc70nAZUxFutCSs/s1600/trump.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="321" data-original-width="617" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR_4wVtOHoWNFn3dWwtPvXHRjImPpc4Ui31fDrQHj45DkxK8TAdWxA7KqWomgr1IgEg8Vp9DWXuS-fb_5vzKsRsbdClxQxRnOxvRSWznAsczg6uUgIecQjkzu2idRVOc70nAZUxFutCSs/s320/trump.png" width="320" /></a></div>
Há 6 anos, Donald Trump usava a sua rede social favorita, o Twitter, para expor toda sua ignorância a respeito da questão climática, ao afirmar que "o conceito do aquecimento global" teria sido "criado pelos chineses" para prejudicar a economia dos EUA. Naquele momento, mal imaginávamos que ele chegaria à presidência dos EUA e, coerente com esse ponto de vista bizarro, retiraria seu país do acordo global sobre o clima celebrado em Paris, em 2015. Muito menos imaginaríamos, porém, que dois anos depois seria a vez do Brasil de não apenas eleger um presidente de extrema-direita como que esse presidente eleito anunciaria um negacionista climático para as Relações Exteriores do Brasil.<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
Dentre os despautérios do futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, estão a afirmação de que tudo o que a comunidade de cientistas do clima tem apresentado é uma "<a href="https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/novo-chanceler-afirma-que-mudanca-climatica-e-dogma/">tática global servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados</a>". Ele chega a cunhar um neologismo ("climatismo") para definir o que, para ele, não é mais do que uma "ideologia", ou mais absurdo ainda, um "dogma" voltado para "atacar direitos individuais", dentre os quais o Sr. Araújo inclui "<a href="https://exame.abril.com.br/brasil/as-opinioes-polemicas-do-novo-chanceler-sobre-raca-fake-news-e-8-temas/">andar de carro</a>"...<br />
<br />
O que obviamente não faz nenhum sentido é porque milhares de cientistas mundo afora produziríamos uma fraude científica para "impedir que as pessoas andassem de carro", embora ter menos carros na rua seja de fato necessário. Acontece que se fosse uma questão simplesmente de reduzir os engarrafamentos, seríamos mais diretos, podem ter certeza!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://pbs.twimg.com/media/DsGNHBSXQAA0zj2.jpg:large" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="353" data-original-width="480" height="235" src="https://pbs.twimg.com/media/DsGNHBSXQAA0zj2.jpg:large" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O vertiginoso crescimento econômico da China é todo fundado<br />
no uso massivo de combustíveis fósseis. É totalmente incoe-<br />
rente dizer que combater as mudanças climáticas seria algo<br />
inventado para beneficiar a China, justamente o país que mais<br />
tem a perder com reduções nas emissões de CO2!</td></tr>
</tbody></table>
A desconexão com a realidade do futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, é tão completa que ele diz que o objetivo dessa "conspiração" passa também por "sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China", repetindo o conteúdo do célebre <i>tweet</i> tresloucado de Trump de alguns anos atrás.<br />
<br />
Ora, todo o crescimento econômico chinês nas duas últimas décadas, principalmente, foi propulsionado a combustíveis fósseis, especialmente o carvão usado para alimentar suas termelétricas. É o país que mais emite CO2 na atualidade. Desde 2005, as emissões chinesas superam as dos EUA e desde 2012 a China emite mais do que os EUA e a União Europeia juntos! (embora historicamente, os EUA ainda sejam o maior emissor, tendo liberado 216 bilhões de toneladas de CO2 de 1965 para cá, contra 188 bilhões da China).<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://pbs.twimg.com/media/DsGO0XSXQAA7rdG.jpg:large" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="731" height="320" src="https://pbs.twimg.com/media/DsGO0XSXQAA7rdG.jpg:large" width="292" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dentre as 10 companhias de maior faturamento do mundo,<br />
encontramos duas petroquímicas chinesas. Além disso, a<br />
gigantesca produção industrial chinesa é baseada na queima<br />
de carvão. De onde é que se pode tirar a ideia de que todo o<br />
combate às mudanças climáticas é uma "farsa para favore-<br />
cer a China"? Fonte da imagem: Forbes.</td></tr>
</tbody></table>
Mais do que isso! <a href="https://www.forbes.com/global2000/list/#header:revenue_sortreverse:true_industry:Oil%20%26%20Gas%20Operations">Como mostra o site da Forbes</a>, hoje, a petroleira com maior faturamento não é mais a Shell, que reinou por muitos anos ao lado da Exxon. É a Sinopec chinesa. A Shell vem em seguida e a Petrochina (também chinesa, óbvio) logo atrás. BP e Exxon também aparecem entre as 10 empresas de maior faturamento do mundo. Mais do que isso, também segundo o site da Forbes, a China se tornou uma gigante financeira também (<a href="https://www.forbes.com/global2000/list/#header:profits_sortreverse:true_industry:Major%20Banks">dos 4 bancos que mais lucraram no último ano, 3 são chineses!</a>), e essa acumulação de riqueza impressionante só foi possível graças ao emprego massivo de combustíveis fósseis!<br />
<br />
A ideia de que cortar emissões de CO2 seria de alguma forma favorável à China é ainda mais estapafúrdia quando se olha para o que aconteceu em outros países. As emissões dos EUA mostraram uma tendência (modesta, é verdade) à redução nos últimos anos. Na Europa, a tendência de queda das emissões vem de várias décadas, como mostra o gráfico anterior (o que obviamente tem relação não só com o avanço de energias renováveis, mas sobretudo com o deslocamento de indústrias poluentes para outros países). Mesmo no Brasil, em que lamentavelmente há uma tendência de crescimento nos últimos anos, as emissões hoje são bem menores do que em 2004, por exemplo, o que pode ser facilmente verificado no site do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (<a href="http://www.seeg.eco.br/">SEEG</a>).<br />
<br />
Em suma, a China é, a princípio, o país com menos interesse em reduzir emissões e conter o aquecimento global. Além disso, como temos mostrado sempre em nosso blog, as evidências do aquecimento global, da causa antrópica e da emergência da questão estão por todo lado. São fato científico.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.brazilmonitor.com/wp-content/uploads/2018/11/bolsonaro-ernesto-araujo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://www.brazilmonitor.com/wp-content/uploads/2018/11/bolsonaro-ernesto-araujo.jpg" data-original-height="400" data-original-width="600" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ao nomear um negacionista climático que acredita em bizar-<br />
rices puramente ideológicas, Bolsonaro coloca em risco não<br />
só a imagem do Brasil, mas demonstra estar disposto a dar<br />
prosseguimento à sua pauta nefasta de liberar a Amazônia ao<br />
desmatamento e até mesmo tirar o país do Acordo de Paris.<br />
Como bem situa o Observatório do Clima é "tornar o Brasil<br />
um anão diplomático e um pária global".</td></tr>
</tbody></table>
O que se constata é que a capacidade de inversão da realidade por parte da ultradireita impressiona. O caso do futuro chanceler em relação ao clima <a href="http://www.observatoriodoclima.eco.br/escolha-de-ernesto-araujo-para-chanceler-poe-em-risco-lideranca-ambiental-brasileira/">foi classificado pelo OC</a> (Observatório do Clima) como estarrecedor. Eu acrescentaria que é grotesco, bizarro, medonho... Moléculas de CO2 e fótons de infravermelho não têm nenhuma ideologia. Eles simplesmente se comportam da forma como a ciência desvelou desde o século XIX. O CO2 e outros gases absorvem esses fótons. Ponto.<br />
<br />
Onde é que entra ideologia aqui? Justamente da parte daqueles que se recusam a agir conforme a ciência. E isso sim, é um misto de mesquinhez, estupidez e vilania. Afinal, é para as corporações não abrirem mão de ganhar dinheiro, não importando se isso produza uma catástrofe planetária, e de quebra justificar que não se abra mão de uma parte do luxo e dos excessos do estilo de vida dos mais ricos que surgiu essa ideologia escrota chamada negacionismo climático.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-52852680871208196872018-11-05T17:44:00.002-03:002018-11-05T17:47:50.533-03:00A "Prosperidade" como Inimiga do Clima<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_fToyGpZ3wxAfLf58-mAAc3sFe4TWCTHtXSIs3WE7HfRRkwcTUTAyZvH2mXwgCBAWyN8YL5wOV2MaWsSe-Jv_mW5-CvzlggdvB_WQ6Lz2nQ7MnObz2a9djiOc_edbzd6IFGr2Qf9nH5U/s1600/carra%25CC%2583o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="411" data-original-width="549" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_fToyGpZ3wxAfLf58-mAAc3sFe4TWCTHtXSIs3WE7HfRRkwcTUTAyZvH2mXwgCBAWyN8YL5wOV2MaWsSe-Jv_mW5-CvzlggdvB_WQ6Lz2nQ7MnObz2a9djiOc_edbzd6IFGr2Qf9nH5U/s200/carra%25CC%2583o.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A casa do Sr. Carbono</td></tr>
</tbody></table>
<b>Senhor Carbono</b> tem uma casa grande, climatizada, com espaço para aquele churrascão com uísque. Carrão na garagem, trocado com frequência (três anos é carro velho, certo?). Férias todo ano na Disney ou na Europa ou em algum destino "exótico". Roupas usadas quase nunca, sapatos "para cada ocasião", celular novo, computador novo. Compra o que vê pela frente, usa uma vez e encosta, quebra e descarta, compra de novo, mais e mais rápido. É um padrão de vida alcançado apenas por alguns, mas almejado por muitos. Mas esse sonho de ascensão social virou um pesadelo para o planeta. E neste texto, mostraremos porquê.<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
<b>Cresce a urgência de conter emissões</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOyrPtooKZspBcW4bEWg0XEIy5Q4jt0F6x5kx2IdUSf9EonPDcywfSQU_P3QoX1rF-w_4rccq9HZf6FnJtztIiS2Nj6UhrJW-F_L9QfKU6ulmLHArF1tf1lK_bIaXyVWCblnapROjBGzg/s1600/Captura+de+Tela+2018-11-05+a%25CC%2580s+15.34.24.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="879" data-original-width="958" height="293" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOyrPtooKZspBcW4bEWg0XEIy5Q4jt0F6x5kx2IdUSf9EonPDcywfSQU_P3QoX1rF-w_4rccq9HZf6FnJtztIiS2Nj6UhrJW-F_L9QfKU6ulmLHArF1tf1lK_bIaXyVWCblnapROjBGzg/s320/Captura+de+Tela+2018-11-05+a%25CC%2580s+15.34.24.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Emissão de CO<span style="font-size: small; text-align: left;">₂</span> nos cenários que mantêm a mudança de<br />
temperatura global menos de 1,5°C acima dos níveis pré-<br />
industriais. Remoção de carbono da atmosfera é necessária<br />
em todos os cenários e aqueles sem "<i>overshooting</i>" reduzem<br />
as emissões pela metade já em 2030.</td></tr>
</tbody></table>
Há poucas semanas foi lançado, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, o <a href="http://www.ipcc.ch/">IPCC</a>, um documento importantíssimo: o SR15, o Relatório Especial sobre Aquecimento Global de 1,5°C (cujo sumário está disponível <a href="http://report.ipcc.ch/sr15/pdf/sr15_spm_final.pdf">neste link</a>).<br />
<br />
O relatório conclui que estamos em rota para ultrapassar 1,5°C de aquecimento global com rapidez, a não ser que sejam tomadas medidas radicais. A década de 2006-2015 já teve temperaturas 0,87°C acima do período de 1850 a 1900 e o planeta segue aquecendo a uma taxa de 0,2°C por década. Também evidencia que qualquer política razoável de adaptação requer que os números do Acordo de Paris, isto é, aquecimento limitado a 2°C e preferencialmente a 1,5°C, sejam obedecidos.<br />
<br />
Mas o que chama mesmo atenção são os cenários que mantêm a temperatura do planeta dentro do limite de 1,5°C. Todos eles demandam redução muito significativa das emissões ao longo da próxima década, com uma queda desde o patamar de emissões anuais de 40 GtonCO₂ (bilhões de toneladas de dióxido de carbono) para 20 GtonCO₂ já em 2030! Além disso, requer emissões líquidas em torno de zero já pouco depois de 2050. O relatório também destaca que emissões de metano, fuligem e óxido nitroso também precisam diminuir acentuadamente (cortes de pelo menos 35% nas emissões de metano até 2050 sendo necessários).<br />
<br />
<b>Mudanças climáticas têm tudo a ver com desigualdade</b><br />
<div>
<b><br /></b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXWt88YX6Sr_3AS7V-R2dRaC_pQtyvNr-3w7EauEzLYr_r8lnukZwRGIyOlFCoxeEQtW2bOq37ad1I5A_xsJPtdee_66g9MPas7NoExUBbQEqnnRjpteP0R_yEhujWfFAOZahuvXlRcxU/s1600/carbon_inequality.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1076" data-original-width="1600" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXWt88YX6Sr_3AS7V-R2dRaC_pQtyvNr-3w7EauEzLYr_r8lnukZwRGIyOlFCoxeEQtW2bOq37ad1I5A_xsJPtdee_66g9MPas7NoExUBbQEqnnRjpteP0R_yEhujWfFAOZahuvXlRcxU/s320/carbon_inequality.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Relatório da OXFAM mostra relação direta entre emissões de<br />
gases de efeito estufa e desigualdade econômica</td></tr>
</tbody></table>
Segundo um relatório da <a href="http://www.oxfam.org/">Oxfam</a>, intitulado "<a href="http://bit.ly/1N3rrio">Extreme Carbon Inequality</a>", as mudanças climáticas são caracterizadas por uma profunda desigualdade não apenas nos impactos, mas começando nas emissões de gases de efeito estufa por ricos e pobres. Os dados mostram que os 10% mais ricos do mundo respondem por 49% das emissões, enquanto os 10% mais pobres emitem apenas 1% dos gases de efeito estufa (em CO2-equivalente). Mas é ainda mais espantoso saber que as emissões per capita do 1% mais ricos são 175 vezes maiores que as emissões per capita dos 10% mais pobres.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwxnmBshqj2UrJ3oi_6A2cVYN2icQnV4ScPduiB1SFPQZJlgPRDeHqGPxnLwtLZwqa0y_aN5kFQ9733LMokj-LmkAuOgnjO4BA94G2xVRK7XRO3nfwpp2D7gIbfmqr1y3t-NnE9r0Usq8/s1600/hipc.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="415" data-original-width="940" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwxnmBshqj2UrJ3oi_6A2cVYN2icQnV4ScPduiB1SFPQZJlgPRDeHqGPxnLwtLZwqa0y_aN5kFQ9733LMokj-LmkAuOgnjO4BA94G2xVRK7XRO3nfwpp2D7gIbfmqr1y3t-NnE9r0Usq8/s200/hipc.png" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os países considerados pobres e alta-<br />
mente endividados (fonte: Wikipédia)</td></tr>
</tbody></table>
Essa desigualdade é também patente quando analisamos a situação de diferentes países, conforme dados fornecidos pelo próprio <a href="https://data.worldbank.org/indicator/EN.ATM.CO2E.PC?year_high_desc=false">Banco Mundial</a>. As emissões globais per capita estão em torno de 4,97 toneladas/pessoa/ano. Considerando as recomendações do SR15 do IPCC, elas precisam cair pela metade até 2030. Mas esse valor reduzido (cerca de 2,5 tons/pessoa/ano) ainda seria quase 10 vezes as emissões médias no grupo de países conhecido como HIPC (<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADses_pobres_altamente_endividados">Países pobres altamente endividados</a>). Os HIPC são pouco mais de 30 países, a maioria na África e - vejam só - as emissões médias de CO2-equivalente per capita nesses países ficam em 0,27 tons/pessoa/ano. Em seis países desse grupo, as emissões na verdade ficam abaixo de 0,10 tons/pessoa/ano (Burundi, Chad, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Ruanda e Mali).<br />
<div>
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvVESJXvPLXA1gu8eYssXLuWahTtqhCiSCuaOZEbRbgU2CQRuJ32ugW_azb9-maHBTPPaIBOu7AvFWz0P1JzfMXURmc9bL0O2VJh0oo7cpp-iN4_v1ctEE-nXbNRRBDyny15hK9UVajkQ/s1600/oecd-map.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="745" height="137" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvVESJXvPLXA1gu8eYssXLuWahTtqhCiSCuaOZEbRbgU2CQRuJ32ugW_azb9-maHBTPPaIBOu7AvFWz0P1JzfMXURmc9bL0O2VJh0oo7cpp-iN4_v1ctEE-nXbNRRBDyny15hK9UVajkQ/s320/oecd-map.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Países-membros da OCDE</td></tr>
</tbody></table>
Já no lado oposto, nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), as emissões chegam a 9,51 tons/pessoa/ano, incluindo grandes países com valores elevados per capita, como os EUA, o Canadá e a Austrália (respectivamente 16,49, 15,12 e 15,37 tons/pessoa/ano) etc. É outro planeta, em que cada habitante dos EUA emite o equivalente a 412 habitantes de Burundi!<br />
<br />
Não é à toa que Kevin Anderson, cientista do Centro Tyndall de pesquisa em mudanças climáticas, <a href="https://www.heraldscotland.com/news/17199919.end-oil-and-gas-and-hit-the-worst-emitters-hard-how-scotland-could-fight-climate-change/">aponta em entrevista</a> que, mantidas inalteradas as emissões dos restantes 90%, se os 10% mais ricos da humanidade tiverem suas emissões reduzidas ao equivalente à média do habitante da Europa (o que não representa um padrão de vida "baixo"), as emissões globais já cairiam em aproximadamente 1/3. Ou seja, não há caminho mais fácil e imediato para cortar as emissões globais de gases de efeito estufa que não seja incidindo sobre o andar de cima.<br />
<br />
<b>Ou o "American Way of Life" ou o Clima, Senhor Carbono! Não se pode ter os dois!</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGzQ9pPDzDCdZzI_L2vfiDXNPFAHV5GIQWS2eWDJ7VMXaECfXN54DE9baOWI1J70cbdd32fvz2kyFh6RUtkc3YE7fMEBQZJyTmzEn7g95GfLdyMfCb0dm5vNfEDbSdCqw2ReWPPsduO3E/s1600/srcarbono.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1185" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGzQ9pPDzDCdZzI_L2vfiDXNPFAHV5GIQWS2eWDJ7VMXaECfXN54DE9baOWI1J70cbdd32fvz2kyFh6RUtkc3YE7fMEBQZJyTmzEn7g95GfLdyMfCb0dm5vNfEDbSdCqw2ReWPPsduO3E/s200/srcarbono.png" width="147" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ele não é um "monstro". Não<br />
vive na opulência inimaginável<br />
dos extremamente ricos. É um<br />
cara "normal", privilegiado mas<br />
normal. Mal entra no 1% mais<br />
rico da sociedade. Mas a vida<br />
que leva o Sr. Carbono é <br />
sim, insustentável!</td></tr>
</tbody></table>
Se olharmos para a diferença entre as pessoas <b>dentro</b> de um país, especialmente num país desigual como o nosso, a coisa fica ainda mais gritante. Nem vou me dar ao trabalho de mencionar o quão insustentável é o estilo de vida dos multimilionários e bilionários com seus jatinhos, iates e mansões, mas vou retornar aqui à figura do <b>Sr. Carbono</b>.<br />
<br />
Sr. Carbono é um privilegiado em nossa sociedade e embora seja certamente parte de uma minoria (algo mais para o 1% do "topo da pirâmide") está muito distante do punhado de bilionários que existe no planeta (<a href="https://www.businessinsider.com/how-many-billionaires-world-billionaires-2017-10">pouco mais de 1500 indivíduos</a>). Mas é exatamente porque há uma quantidade razoável de Senhores Carbono, o impacto dos mesmos termina sendo significativo.<br />
<br />
O carro do Sr. Carbono é uma picape, digamos uma picape Amarok, que, <a href="http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pbe/veiculos_leves_2018.pdf">segundo o site do INMETRO</a>, emite até 245 gramas de CO₂ por quilômetro rodado. Pode parecer pouco. Acontece que o Sr. Carbono vai diariamente ao trabalho no seu carrão (sozinho, é claro), contribuindo com o engarrafamento (que ele, óbvio, atribui aos outros) e viaja com ele nos fins de semana, para desfrutar das serras e praias. Vamos supor que o Sr. Carbono rode 20.000 km por ano em seu emissor particular. Neste caso, lá se vão, todo ano, 4,9 toneladas de CO₂ na atmosfera. E mesmo que não fizesse mais nada a não ser rodar no carrão, o Sr. Carbono já emitiria mais que o argentino médio (e suas 4,75 tons/ano) e quase tanto quanto o espanhol médio (5,03 tons/ano).<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://abrilquatrorodas.files.wordpress.com/2018/08/volkswagen-amarok-carlex-amy-4-e1535409100703.jpg?quality=70&strip=info" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="800" height="214" src="https://abrilquatrorodas.files.wordpress.com/2018/08/volkswagen-amarok-carlex-amy-4-e1535409100703.jpg?quality=70&strip=info" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Rodar 20 mil quilômetros num "carrinho" desses já produz<br />
uma pegada de carbono quase igual à média dos moradores<br />
da Espanha...</td></tr>
</tbody></table>
Acontece que o trabalho do Sr. Carbono demanda dele uma viagem por mês ("nada demais", não é?) de Porto Alegre para Brasília. Isso já é suficiente para somar 3,09 toneladas de CO₂ às emissões (segundo a <a href="https://calculator.carbonfootprint.com/">calculadora da pegada de carbono</a>). Claro, uma viagem de férias internacional por ano é o mínimo para aliviar todo o <i>stress</i> da vida corrida do Sr. Carbono, e ele ainda vai de classe econômica! Que mal um mísero pulinho a Nova Iorque pode fazer além de deixar 1,01 toneladas de CO₂ no ar, não é mesmo? Pois é, o simples fato de voar (bem menos do que alguns políticos, empresários e até do que alguns artistas e cientistas, não é?) acrescenta mais 4,10 (3,09+1,01) toneladas à pegada de carbono do Senhor Carbono, que a essa altura já chega a 9,13 tons/ano, acima do alemão médio e suas 8,89 toneladas anuais...<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.615298.1524234742!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_653/image.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="533" height="320" src="https://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.615298.1524234742!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_653/image.jpg" width="213" /></a></div>
A dieta do Sr. Carbono não é excepcionalmente elaborada, mas ele curte uma carninha... Aliás, não dispensa uma picanha e em média consome 203g de carne bovina por dia. Puxa, um bifinho! Acontece que <a href="http://www.greeneatz.com/foods-carbon-footprint.html">a pegada de carbono varia muito entre diferentes alimentos</a> e a carne de ruminantes tem disparadamente mais impacto climático do que outras fontes de proteína. A cada kg de carne bovina, por exemplo, são emitidos gases de efeito estufa (principalmente metano, da fermentação entérica), cujo impacto equivale a 27 kg de CO₂. Ao final do ano, isso resulta em 2,0 toneladas de CO₂-equivalente. (Para nós, que já debatemos em <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/10/a-outra-bomba-de-carbono-nossa-dieta.html">textos anteriores</a> essa temática, nenhuma surpresa: aquela churrascada com os amigos com 12 kg de carne são piores do que uma viagem de ida-e-volta daqui de Fortaleza ao Rio de Janeiro). O restante da dieta do Sr. Carbono não inclui nada de muito estranho (massas, grãos e, claro, leite e derivados, como aquele queijinho metido que vai bem com um vinho ou uma cerveja mais elaborada) e acrescenta 1,5 toneladas à pegada de carbono. A alimentação do Sr. Carbono termina totalizando 3,5 tons/ano (o grosso por conta da carne de ruminantes) e a pegada total já vai para 12,63 tons/ano. Mais um pouco, ele se torna um canadense honorário...<br />
<br />
A eletricidade e o uso de gás de cozinha também se somam e mesmo o Brasil tendo um perfil de baixa pegada de carbono na geração elétrica ela não é nula. Por exemplo, a estimativa é que no Nordeste Brasileiro, que tem um perfil intermediário em nosso país, sejam emitidos 123g de CO₂-equivalente na produção de cada kWh. Como o Sr. Carbono tem um consumo certamente acima da média da população brasileira, assumir 500 kWh/mês não é tão distante da realidade. Isso nos dá 0,74 tons ao final do ano pela eletricidade, graças ao fato de que hidrelétricas apoiadas por eólicas constituem grande parte da matriz de geração em nosso país (caso o Sr. Carbono morasse nos EUA, é possível que esse valor fosse quatro vezes maior ou até mais!). Não perca as contas, pois agora temos 13,37 tons emitidas pelo Sr. Carbono.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOsUiSIRXqHUEZPZx9zhtkL1iPjVHEJE0hJsBsvoegcY6WX7uGertQW-cS0h6oo1j78dhmSpMfI9ssjr_bShG0DEaFJ-KizGeKpHtj8UtRzpNuNkT1C7YX_h0kr0_nNB7cHjZ2jEoaQ78/s1600/Captura+de+Tela+2018-11-05+a%25CC%2580s+17.34.30.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1046" data-original-width="1196" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOsUiSIRXqHUEZPZx9zhtkL1iPjVHEJE0hJsBsvoegcY6WX7uGertQW-cS0h6oo1j78dhmSpMfI9ssjr_bShG0DEaFJ-KizGeKpHtj8UtRzpNuNkT1C7YX_h0kr0_nNB7cHjZ2jEoaQ78/s320/Captura+de+Tela+2018-11-05+a%25CC%2580s+17.34.30.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fiz uma simulação de consumo no site da <a href="https://www.blogger.com/"><span id="goog_594850277"></span>calculadora de<br />pegada de carbono<span id="goog_594850278"></span></a> e a conclusão não pode ser outra:<br />
vivemos - e pior, desejamos viver - de forma insustentável!</td></tr>
</tbody></table>
E agora vem um item fundamental: o <b>consumo</b>. A <a href="https://calculator.carbonfootprint.com/calculator.aspx?tab=7">calculadora da pegada de carbono</a> nos permite fazer essa conta e devemos estimar o quanto é gasto anualmente com cada classe de itens de consumo, incluindo a troca do carro, a compra frenética de novos equipamentos eletrônicos e itens de vestuário, etc. Fiz uma estimativa em que o Sr. Carbono gastava 30 mil dólares por ano (cerca de 112 mil reais) nos itens de consumo diversos. E o consumismo do Sr. Carbono, vejam só, acrescentam nada menos que 16,34 toneladas de CO₂ à sua pegada anual. Com 29,71 toneladas emitidas ao final do ano, ele emite quase 6 vezes a média global, quase o dobro do norte-americano médio e mais de 10 vezes o que é se espera da média <i>per capita</i> para 2030.<br />
<br />
Viver como o Sr. Carbono é o sonho incentivado por toda a propaganda, todo o apelo de consumo, toda a ideologia de consumismo e individualismo e até mesmo por uma certa "teologia da prosperidade". Mas além de questionável sob vários pontos de vista, do econômico ao moral, o fato <b>matematicamente verificado</b> aqui, é que esse estilo de vida não cabe no planeta. É básico. O que é vendido como o paraíso aqui na Terra, esse "american way of life" (que é até fichinha para os bilionários), mas que milhões de pessoas perseguem, é incompatível com um clima estável. Outro modo de viver, outro modo de se relacionar com a natureza, outras fontes de satisfação social deixaram de ser um "papo hippie". Tornou-se uma necessidade incontornável para evitar uma completa calamidade global.<br />
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-63235729585545610412018-06-23T22:02:00.003-03:002018-06-26T14:26:03.763-03:003 Décadas de Inoperância que Podem Custar a Civilização<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://grist.files.wordpress.com/2018/05/james-hansen.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="180" src="https://grist.files.wordpress.com/2018/05/james-hansen.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">James Hansen, um dos pioneiros dos estudos de mudanças<br />
climáticas, prestando depoimento ao Congresso dos EUA há<br />
30 anos. De lá para cá, as condições se agravaram de maneira<br />
bastante acelerada.</td></tr>
</tbody></table>
Há exatos 30 anos, em 23 de Junho de 1988, um dos principais cientistas da NASA, o Dr. James Hansen, era chamado a depor no Congresso dos EUA sobre a questão climática. Anos mais tarde, <a href="https://www.facebook.com/OQueVoceFariaSeSoubesse/videos/583654938461410/">numa palestra</a>, diante de uma plateia surpreendida por um <i>slide</i> em que ele mostrava uma foto sua, algemado diante da Casa Branca num protesto promovido por entidades ambientalistas, ele proferia a frase que dá nome ao nosso blog. Sim, ele acreditava que se as pessoas soubessem da gravidade da questão climática elas iriam se mobilizar com todas as suas forças, indo às ruas, pressionando governos e parlamentos, passando por cima até mesmo da possibilidade de serem presas.<br />
<br />
<a name='more'></a><b>Os avisos vinham de muito antes</b><br />
<br />
A realidade é que se sabia da tendência ao aquecimento do sistema climático provocado pela queima de combustíveis fósseis muito antes desse depoimento histórico. Em 1896, o cientista Svent Arrhenius, com a física conhecida na época estimou que uma duplicação na concentração atmosférica de CO₂ seria suficiente para elevar a temperatura do planeta em vários graus e publicou seus resultados num artigo intitulado "On the Influence of Carbonic Acid in the Air Upon the Temperature of the Ground" e disponível <a href="http://www.rsc.org/images/Arrhenius1896_tcm18-173546.pdf">neste link</a>.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVP6ut1ZaXytDrMXcOdflbA_b6yFF2xd5FPA4Bo79E83l1lxFA_nkldHY2qZYiqYzEZzTpCOJWFKj09gez-a2JUs3Z0i7pYhv1Nts5C2tIs0xRmu5ovcAyIhLN627FS8Iy0n-wcIaYoYY/s1600/callendar.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="443" data-original-width="784" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVP6ut1ZaXytDrMXcOdflbA_b6yFF2xd5FPA4Bo79E83l1lxFA_nkldHY2qZYiqYzEZzTpCOJWFKj09gez-a2JUs3Z0i7pYhv1Nts5C2tIs0xRmu5ovcAyIhLN627FS8Iy0n-wcIaYoYY/s320/callendar.jpeg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Há 80 anos, Guy Callendar já mostrava que o planeta estava<br />
aquecendo, como esperado em função das emissões de CO₂<br />
da queima de combustíveis fósseis. </td></tr>
</tbody></table>
Pouco mais de quatro décadas se passaram e as previsões de Arrhenius deixavam de ser teóricas para encontras as primeiras evidências práticas. Em 1938, foi a vez de Guy Callendar apresentar as primeiras evidências observacionais do aquecimento global a partir da análise dos dados das estações meteorológicas de superfície coletados desde 1880. Callendar chegou inclusive a estimar a efetiva contribuição antrópica para o aquecimento observado, separando-a da variabilidade climática natural, apesar de, naquele momento, subestimar não apenas os efeitos desse aquecimento, mas o próprio ritmo, nas décadas seguintes, da acumulação de CO₂ na atmosfera e, por conseguinte, de seus impactos sobre o Sistema Terra. No dia 16 de fevereiro deste ano, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2017/02/aquecimento-global-79-anos-de-evidencias.html">completamos 80 anos</a> do trabalho de Callendar. <b>80 anos</b>!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/71/KeelingCurve-5-26-18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="500" height="192" src="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/71/KeelingCurve-5-26-18.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A famosa "Curva de Keeling", em homenagem ao cientista<br />
Charles David Keeling, que iniciou as pesquisas em Mauna<br />
Loa, que produzem um registro de medições de dióxido de<br />
carbono que já completa 60 anos.</td></tr>
</tbody></table>
As suspeitas de que estávamos de fato avançando com um experimento inadvertido e perigoso com o clima do planeta aumentaram quando a partir de 1958 medições da concentração atmosférica de CO₂ passaram a ser feitas operacionalmente no <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Mauna_Loa_Observatory">observatório de Mauna Loa</a>. Os dados coletados desde então permitiram à comunidade científica verificar a elevação, ano a ano, dos níveis desse importante gás de efeito estufa que, por conta das gigantescas emissões humanas, acumula-se perigosamente na atmosfera terrestre. A elevação dessa concentração, que hoje domina completamente o ciclo anual associado ao crescimento e decaimento da folhagem da vegetação do hemisfério norte, é mostrada num gráfico muito famoso hoje em dia, a chamada <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Keeling_Curve">Curva de Keeling.</a><br />
<br />
<b>A indústria de combustíveis fósseis estava atenta. E criminosamente escondeu o que sabia.</b><br />
<br />
Desde antes das medições de Mauna Loa, havia consciência por parte de cientistas ligados à antecessora da ExxonMobil, a <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Humble_Oil">Humble Oil</a>, do potencial que o uso intensivo de combustíveis fósseis teria em contribuir para a elevação das concentrações de CO₂ e a indústria, que já era obrigada a controlar outros poluentes (como óxidos de enxofre e material particulado) estava antenada para a possibilidade de algum tipo de controle sobre as emissões de gases de efeito estufa aparecer. <b>Há 60 anos</b>!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-t3oih0rgDoIPN4G2RT6lMVIksahyDgoACofzKk-WJfW2Jn8XVQ5lYjBPjd0lrW1XXfxZA3qSGwhj14ieqbFhi-Nf6Z8fctaWVKEHKLrT7CvBT9L4oA6suWvq9kmhslwd3gpuPnJlmg/s1600/stanford.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="617" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-t3oih0rgDoIPN4G2RT6lMVIksahyDgoACofzKk-WJfW2Jn8XVQ5lYjBPjd0lrW1XXfxZA3qSGwhj14ieqbFhi-Nf6Z8fctaWVKEHKLrT7CvBT9L4oA6suWvq9kmhslwd3gpuPnJlmg/s320/stanford.jpeg" width="246" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Relatório produzido pelo Instituto de Pesquisa<br />
de Stanford em 1968 por encomenda da própria<br />
indústria de combustíveis fósseis já dizia que<br />
"não parece haver dúvidas de que o dano poten-<br />
cial [do <span style="font-size: 12.8px;">CO₂] </span>ao ambiente pode ser severo".</td></tr>
</tbody></table>
A prova de que especialmente a indústria petroquímica dos EUA estava de fato atenta à questão do possível efeito climático planetário de sua atividade está no fato de que em 1968 o <a href="http://www.api.org/">Instituto Americano do Petróleo</a> solicitou ao Instituto de Pesquisa de Stanford (<i>Stanford Research Institute</i>, SRI) a elaboração de um relatório para responder se de fato a exploração de petróleo e outras fontes de energia fósseis representaria uma ameaça à estabilidade do clima do planeta. Claro, em se confirmando essa "suspeita", a indústria petroquímica estava ciente de que mais cedo ou mais tarde regulações dessas emissões estariam sendo debatidas e possivelmente implementadas, afetando seus negócios.<br />
<br />
O relatório, que só <a href="https://news.vice.com/article/the-oil-industry-was-warned-about-climate-change-in-1968">veio a público recentemente</a>, é bastante taxativo sobre vários pontos. Afirma que "se a temperatura da Terra crescer significativamente, vários eventos são esperados, incluindo o derretimento do manto de gelo da Antártica, a elevação do nível do mar, o aquecimento dos oceanos e um aumento na fotossíntese", que "a humanidade agora está envolvida num vasto experimento geofísico com seu ambiente, a Terra" e que "mudanças significativas de temperatura quase certamente ocorrerão por volta do ano 2000 e estas poderão trazer consigo mudanças no clima". Sobre a "dúvida" levantada pela indústria fóssil, o Instituto de Stanford responde que "os poluentes abundantes que geralmente ignoramos por terem pequeno efeito local, CO₂ e partículas submicrométricas, podem ser a causa de sérias mudanças na escala planetária", que apesar das incertezas "não parece haver dúvidas de que o dano potencial ao ambiente pode ser severo".<b> Há 50 anos</b>!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMNQc9HGit6QBKVgcitr6xvx1YzouL3VoF1RL7SugUljj8MmsR7uY1sqkHhbTx443964tdUTKRrXIOI0QMr4kdK0thXgdPxNb2lLjMZuP7iv5HNJHnFWU_WX_ZTbRw6VdP_YtGbxL0w2M/s1600/black.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="643" data-original-width="784" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMNQc9HGit6QBKVgcitr6xvx1YzouL3VoF1RL7SugUljj8MmsR7uY1sqkHhbTx443964tdUTKRrXIOI0QMr4kdK0thXgdPxNb2lLjMZuP7iv5HNJHnFWU_WX_ZTbRw6VdP_YtGbxL0w2M/s320/black.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Projeções de temperatura para o século XXI feitas por James<br />
Black, cientista da Exxon, e apresentadas em 1978 para seus<br />
superiores, sugerindo um aquecimento global de no mínimo<br />
1°C ao final do século XX e de no mínimo 1,5°C em meados<br />
do século XXI. A indústria petroquímica sabia de tudo!</td></tr>
</tbody></table>
Uma década depois, estudos feitos internamente à Exxon, com recursos computacionais significativos para a época, trouxeram informações ainda mais sólidas sobre a dimensão do risco climático. Ao ponto de no dia 06 de Junho de 1978, o cientista J. F. Black, da própria companhia, emitir um <a href="http://www.climatefiles.com/exxonmobil/1978-exxon-memo-on-greenhouse-effect-for-exxon-corporation-management-committee/">memorando</a> aos seus superiores em que ele indicava o risco de um aumento de 1 a 3°C na média temperatura planetária em caso de duplicação do CO₂ atmosférico, mas com risco de esse valor, nos polos, chegar a algo como 10°C. As conclusões do memorando falavam de uma "janela de 5 a 10 anos" para se coletar a informação necessária acerca desses riscos e adotar medidas coerentemente. Essa janela obviamente se encerrava em 1988, ano em que James Hansen depôs no Congresso dos EUA e em que o <a href="http://www.ipcc.ch/">IPCC</a> foi fundado.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-c-HOFoW6CH-oymI6HQ6MWmt5RRDudlLxyNDPQfBHmfIc0eyrza3QgWV0Bsbo-fziS2C57R1waJLqTLqEIc8fq3bHuH0MO4h96hrj8WMzvKollYQzcBdiyg9-CSmJdx2V1N7OebQeNNM/s1600/Captura+de+Tela+2018-06-23+a%25CC%2580s+20.29.05.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="774" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-c-HOFoW6CH-oymI6HQ6MWmt5RRDudlLxyNDPQfBHmfIc0eyrza3QgWV0Bsbo-fziS2C57R1waJLqTLqEIc8fq3bHuH0MO4h96hrj8WMzvKollYQzcBdiyg9-CSmJdx2V1N7OebQeNNM/s320/Captura+de+Tela+2018-06-23+a%25CC%2580s+20.29.05.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O trabalho de J. F. Black chegava a analisar o efeito da<br />
acumulação antrópica de CO₂ na "escala interglacial",<br />
fazendo com que a temperatura quase certamente ultra-<br />
passasse o intervalo em que ela havia se mantido por<br />
pelo menos 150 mil anos (que eram os dados paleoclimá-<br />
ticos disponíveis na época).</td></tr>
</tbody></table>
Black apresenta, em anexo ao memorando, uma série de gráficos que impressionam. A projeção dele apontava para um aquecimento em torno de 1-2°C após o ano 2000 (em 2016 chegamos a 1,2°C de anomalia de temperatura em relação ao período pré-industrial) e um valor certamente acima de 1,5°C (mais provável em torno de 3°C) em meados deste século. O trabalho apresenta aspectos da ciência bastante completos, incluindo a tendência de resfriamento da estratosfera (porção superior da atmosfera) acompanhando o aquecimento da troposfera (sua porção inferior) e a quase certeza de que o aquecimento atual iria ultrapassar os limites do interglacial anterior. <b>Há 40 anos</b>! Como sabemos, o que a Exxon fez a partir disso? Encerrou o programa de pesquisas em clima, engavetou tudo e passou a financiar grupos negacionistas, tendo transferido para eles <a href="https://exxonsecrets.org/html/index.php">mais de 30 milhões de dólares</a>.<br />
<br />
<b>As projeções de Hansen se confirmam</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwctmK7sI-fyKFsc6FBLceAAwpmhUMmlEj2BZDBt44oqMlPs35v8hgCnMwXc7mTwBOWUnBe7PAXIv6t54xj2IrKup7rC3GEDnd66gDD2NQEsmpYCqItA26bofTK6Ani-ROldi5X456AMY/s1600/hansen_graph.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="731" data-original-width="1200" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwctmK7sI-fyKFsc6FBLceAAwpmhUMmlEj2BZDBt44oqMlPs35v8hgCnMwXc7mTwBOWUnBe7PAXIv6t54xj2IrKup7rC3GEDnd66gDD2NQEsmpYCqItA26bofTK6Ani-ROldi5X456AMY/s320/hansen_graph.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Projeções de modelos usados por James Hansen em 1988,<br />
comparadas com observações. Essencialmente as projeções<br />
se confirmaram. O que é mais grave é que na realidade nada<br />
foi feito para resolver o problema, pelo contrário.</td></tr>
</tbody></table>
O testemunho prestado por James Hansen diante do Congresso Nacional era baseado tanto no que havia de mais avançado na época em termos de observações quanto nos progressos acelerados dos recursos de modelagem computacional, disponíveis na NASA. Colocando as projeções de Hansen num gráfico com as observações destes últimos 30 anos constatamos que o que ele considerava o "cenário mais plausível" (<i>Scenario</i> B) apresenta temperaturas apenas ligeiramente acima daquelas que estamos experienciando neste final de década.<br />
<br />
Hoje os modelos são mais avançados, incluindo um conjunto de processos físicos e biogeoquímicos que não estavam disponíveis para os modelos usados naquela época. Ao mesmo tempo, os recursos computacionais de memória e processamento avançaram exponencialmente e hoje a resolução espacial horizontal e vertical dos modelos é mais fina, permitindo uma melhor representação de diversos processos (embora fenômenos de escala menor do que dezenas de quilômetros como a formação de nuvens individuais permaneça tendo de ser "<a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Parametrization_(atmospheric_modeling)">parametrizada</a>"). No entanto, aparentemente os modelos mais simples, de 30 anos atrás, já eram capazes de capturar a tendência geral das mudanças climáticas e fazer projeções bastante confiáveis.<br />
<br />
Os negacionistas, de maneira inaceitável, seguem desdenhando dos modelos climáticos. Nada mais falso. Quem os conhece por dentro sabe do esforço concentrado da comunidade científica em assegurar que eles representem adequadamente o conjunto dos processos físicos e biogeoquímicos que regem o sistema climático terrestre e dos avanços nestas 3 décadas. Mais do que isso, trabalhando com modelos, fazemos incansavelmente testes desses modelos com situações para as quais há observações a fim de validá-los. Sim, os modelos funcionam!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0gmHR-45ckWu_DxQhVtlqcbTFB1W_jHWi7he0IaDdt0G8HRuWWo-PP-qrXTxgOAF0T2ViHSf9Fq4b1h4k0Oi5c277UJoOKnCbZ2Hs20e_-Phu4ypJarxHT8eAmDtlAScuPyPxjK2MHJQ/s1600/Fig12-05.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="701" data-original-width="1044" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0gmHR-45ckWu_DxQhVtlqcbTFB1W_jHWi7he0IaDdt0G8HRuWWo-PP-qrXTxgOAF0T2ViHSf9Fq4b1h4k0Oi5c277UJoOKnCbZ2Hs20e_-Phu4ypJarxHT8eAmDtlAScuPyPxjK2MHJQ/s320/Fig12-05.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Projeções de temperatura para diversos cenários até 2300. O<br />
número indica a quantidade de modelos que simularam cada<br />
cenário em cada período (certas simulações vão só até 2100).<br />
Fonte: <a href="http://www.ipcc.ch/report/ar5/wg1/">IPCC AR5</a></td></tr>
</tbody></table>
Ora, se as evidências são de que eles já eram confiáveis há 30 anos, o que dizer dos dias de hoje? Não há nenhum cabimento em duvidar das projeções climáticas apresentadas nos relatórios da comunidade científica de clima, considerando a margem de incerteza que os próprios cientistas mostram! Ademais, a alternativa a simular o clima futuro com modelos é a tragédia que estamos assistindo. Ou seja, um experimento prático, real, com o único planeta que temos. Nas Terras simuladas em computador, eu não tenho nenhum problema em duplicar ou quadruplicar a concentração de CO₂ , em desmatar por completo a Amazônia, etc. Mas todas essas simulações apenas apontam o desastre que é repetir isso no mundo real.<br />
<br />
Com efeito, como indicado no gráfico, o próprio relatório do IPCC coloca que, em relação ao período de referência de 1986 a 2005, as temperaturas devem subir, no intervalo de confiança de 90%, a depender do cenário, de 0.3°C a 1.7°C (RCP2.6, forte mitigação e remoção de carbono), 1.1°C a 2.6°C (RCP4.5), 1.4°C a 3.1°C (RCP6.0) ou 2.6°C a 4.8°C (RCP8.5, cenário sem mitigação). Lembrando que as temperaturas do período de referência já são cerca de 0,6°C acima dos valores pré-industriais.<br />
<br />
<b>A situação é muito mais grave hoje</b><br />
<br />
Após 80 anos das evidências do aquecimento global mostradas por Callendar, 60 anos do início das medidas de Mauna Loa, 50 anos do relatório de Stanford, 40 anos do memorando de Black à direção da Exxon e 30 anos do depoimento de Hansen no Congresso, em que pé estamos?<br />
<br />
Há 30 anos, 79% da demanda energética era suprida a partir de fontes fósseis. Hoje, <a href="http://gwec.net/global-figures/wind-in-numbers/">mais de 300 mil aerogeradores instalados</a> depois, de possíveis <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Growth_of_photovoltaics">500 GW de capacidade solar fotovoltaica</a> instalada ao final deste ano, sequer avançamos em termos relativos. Nada menos que 81% da energia, incluindo transportes, dos dias de hoje é obtida queimando petróleo, carvão ou gás. E isso é uma sentença de morte.<br />
<br />
É algo que vai para além da sabotagem aberta da indústria fóssil, que escondeu o que ela sabia para financiar uma campanha orquestrada de negacionismo climático e com isso inviabilizou qualquer chance que por ventura houvesse de avanços, primeiro através do <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Quioto">Protocolo de Kyoto</a> e agora através do <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Paris_(2015)">Acordo de Paris</a>.<br />
<br />
Sim, em ambos os casos o governo dos EUA atuou como um agente direto da indústria de combustíveis fósseis, com Bush não ratificando o primeiro e Trump retirando o país do segundo. Mas o buraco é mais embaixo. É sistêmico. Globalização, crescimento econômico, produção para consumo e descarte, obsolescência programada, tudo isso mais que anulou qualquer avanço que as renováveis possam ter trazido. Como escrevi recentemente, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2018/06/o-capital-quer-lucrar-duas-vezes-ao.html">o capitalismo declarou guerra ao Sistema Terra</a>. Sua eterna lógica de expansão, que penetra inclusive em projetos políticos situados ideologicamente à esquerda, suas redes produtivas extremamente longas e em última instância globais, a cegueira imposta pelo lucro de curto prazo, a sua negação de valores coletivos e ecológicos o tornam incompatível com a solução da crise climática.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ1K_SShD9fbDqfyG0MLAzjnyxO4E3KLemUl1CWqcSeDirzzh7L" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="179" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ1K_SShD9fbDqfyG0MLAzjnyxO4E3KLemUl1CWqcSeDirzzh7L" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O clima é como uma aeronave entrando em pane e o capitalismo,<br />
como um piloto que insiste em manter o curso inalterado.</td></tr>
</tbody></table>
Poderíamos ter detido essa aeronave desgovernada se tivéssemos atuado há 50, 40 ou mesmo 30 anos atrás, certamente já com algum grau de dano, mas longe da irreversibilidade e em condições administráveis, num pouso razoavelmente suave. Hoje, provavelmente sem saldo nenhum restante para 1,5°C e com as forças do capital contando com captura de carbono para 2°C, é impossível falar de outra coisa que não um "pouso de emergência". E é preciso disputarmos o manche. Já.</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-61634990721061381502018-06-16T01:47:00.002-03:002018-06-16T01:57:43.278-03:00O Capital quer lucrar duas vezes ao declarar guerra ao clima. E nós?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuOM0Ok-QHpXjrEPjLz0PpIljozkJokQCUxnZRGvXhXzLZDXu8lo6xI_EEgcXjXPOzlBxFy3BJy2k-2EvcSVNhqe3Uu7n2NszR1NawiI92J1Yrey9aSlL-vprQiNZmk8hp3xsz2Q96cVg/s1600/%25D8%25AD%25D9%2584%25D8%25A8-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="614" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuOM0Ok-QHpXjrEPjLz0PpIljozkJokQCUxnZRGvXhXzLZDXu8lo6xI_EEgcXjXPOzlBxFy3BJy2k-2EvcSVNhqe3Uu7n2NszR1NawiI92J1Yrey9aSlL-vprQiNZmk8hp3xsz2Q96cVg/s320/%25D8%25AD%25D9%2584%25D8%25A8-1.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Aleppo, Síria. Na lógica do capital, existe "oportunidade" de<br />
lucrar duas vezes com a guerra. A cada prédio destruído, a<br />
cada prédio reconstruído.</td></tr>
</tbody></table>
Nas contas do capitalismo, as guerras são <b>duplamente lucrativas</b>. A indústria armamentista, uma das maiores, mais poderosas e com um lobby eficiente ao extremo, impõe que bombardeiros, tanques, navios e submarinos de guerra sejam mobilizados e as munições, bombas, mísseis, etc. sejam despejados onde for possível. É assim, afinal, que justificam que novos e mais poderosos equipamentos de guerra sejam desenvolvidos (e comprados pelos Estados-nação) e que os "estoques" sejam repostos, garantindo-lhes lucros astronômicos. Em seguida, e isso sempre entra na contabilidade perversa de cada bombardeio, vem as empreiteiras, construtoras, empresas de engenharia dos mais diversos campos dando conta de "reparar o dano", "reconstruindo" estradas, pontes, edifícios, hospitais, infraestrutura de energia e água, etc. e, óbvio, faturando muito com isso! Importante frisar, tudo isso, da bomba lançada ao prédio reconstruído, entra no <b>cálculo do PIB</b>... Agora imagine<b> se o Capitalismo declarar guerra ao sistema climático terrestre...</b><br />
<a name='more'></a><br />
<b><br /></b>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic08xRt6VkGVGLEkklyQy9Shx6hi4Zw8P1hAxoq-jLbDZ9Wm7Jz65MM6qfg4x0HJvke6PcjQzyNc-jgyUkK71FzdMMl5XkzUZAHqQ-Vb1C_DpWgaN9d9tKRPju5xhyphenhyphenTCMFMFAzND9XgnA/s1600/Captura+de+Tela+2018-06-15+a%25CC%2580s+22.17.20.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="925" data-original-width="1600" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic08xRt6VkGVGLEkklyQy9Shx6hi4Zw8P1hAxoq-jLbDZ9Wm7Jz65MM6qfg4x0HJvke6PcjQzyNc-jgyUkK71FzdMMl5XkzUZAHqQ-Vb1C_DpWgaN9d9tKRPju5xhyphenhyphenTCMFMFAzND9XgnA/s320/Captura+de+Tela+2018-06-15+a%25CC%2580s+22.17.20.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Evolução ao longo do tempo das emissões, em bilhões de tone-<br />
ladas de carbono por ano por desmatamento e queima de com-<br />
bustíveis fósseis. Valores em CO₂ são 3,7 vezes maiores.</td></tr>
</tbody></table>
Acredite, já o fez. Desde antes da Revolução Industrial, com um desmatamento acelerado inicialmente na Europa (e também Ásia) e logo expandido para outros continentes com a colonização, mas principalmente a partir dela com a queima alucinada de carvão, petróleo e gás, as alterações na composição química da atmosfera terrestre foram um gigantesco ato de violência, <b>uma declaração de guerra aberta contra a estabilidade climática planetária</b>. Eu costumava afirmar que a maior e menos citada privatização da história tinha sido a atmosfera, tratada pelo capital, especialmente de dois séculos para cá, como uma imensa lata de lixo. Mas a ideia de uma ação militar, de um ataque brutal e sem trégua, me parece mais precisa e talvez nenhuma comparação seja tão simbólica nesse sentido quanto pegar os 2,29 W/m² de forçante radiativa e multiplicá-los pela área do planeta, obtendo que <b>o calor retido pelo aquecimento global equivale à energia que seria liberada pela explosão de 18 bombas de Hiroshima a cada segundo</b>.<br />
<br />
E essa guerra se intensifica a cada dia. Na contramão das necessidades, as emissões de CO₂ <a href="http://www.observatoriodoclima.eco.br/emissoes-em-2017-batem-recorde-e-soterram-esperanca-de-pico/">quebraram novo recorde em 2017</a>, chegando à cifra impressionante de 41 bilhões de toneladas (ou 11,2 bilhões de toneladas de carbono). É verdade que a reaceleração da indústria chinesa e a <a href="https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/donald-trump-retira-eua-do-acordo-de-paris-sobre-clima-21423570">retirada dos EUA do Acordo de Paris</a> pelo "<a href="https://subverta.org/2017/04/03/um-nero-laranja/">Nero Laranja</a>" foram golpes naquilo que parecia uma tímida tentativa de armistício, mas é de conhecimento público que mesmo que todas as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa apresentadas voluntariamente pelos signatários fossem cumpridas à risca ainda assim <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/12/o-irrelevante-o-insuficiente-e-o.html">ficaríamos muito longe de atingir os objetivos do acordo</a>.<br />
<br />
Esse desprezo pelos limites de 1,5°C e 2°C estabelecidos pela comunidade científica (e aquiescidos no Acordo de Paris) coloca por terra qualquer noção ingênua de que este sistema poderia chegar racionalmente a uma autocontenção, reduzindo os lucros para preservar a estabilidade climática. A irracionalidade de um sistema que, dentro de um planeta limitado, insiste em expandir a demanda por matéria e energia para produção de mercadorias se revela por completo. Mas essa irracionalidade do capital não chega ao ponto de ser <b>inteiramente autodestrutiva</b>, e é esse o ponto em que quero chegar.<br />
<br />
Não, os CEOs não estão nem um pouco "preocupados com o planeta", mas os principais quadros da burguesia internacional estão atentos, sim, à possibilidade de colapso civilizacional. E, usando uma <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2014/04/ipcc-reconhece-desigualdade-como-chave.html">metáfora que já utilizei antes</a>, querem se assegurar que, se for mesmo inevitável que o Titanic colida com o iceberg, haja botes salva-vidas para a minoria de <i>uberprivilegiados</i> e que os portões da terceira classe estejam devidamente trancados. Não é pura irreflexão. Há um projeto pensado, que pode ser considerado perverso e irracional e até inviável por ter grande chance de, ao fim e ao cabo, dar tudo errado. <b>A</b> <b>estratégia do capitalismo para o clima existe e é precisamente igual à guerra. Ganha ao destruir, ganha ao "consertar"</b>!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjYPWPMIm-YX36D62N1JLHduVt6kMUrf17caz2YtrBzZaMOmUuQcYArREd0JO4U0ihsFCnC1ep7iOJbUSNc9yuxxdNc3-R9flPGb6G9CUS-jxpyGzq1mp_TbOnYKloFY0E31PMo6XEaBQ/s1600/Captura+de+Tela+2018-06-16+a%25CC%2580s+00.44.02.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="866" data-original-width="1298" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjYPWPMIm-YX36D62N1JLHduVt6kMUrf17caz2YtrBzZaMOmUuQcYArREd0JO4U0ihsFCnC1ep7iOJbUSNc9yuxxdNc3-R9flPGb6G9CUS-jxpyGzq1mp_TbOnYKloFY0E31PMo6XEaBQ/s320/Captura+de+Tela+2018-06-16+a%25CC%2580s+00.44.02.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">6 corporações do setor de petróleo e gás faturaram juntas o<br />
equivalente a quase 1,3 trilhões de dólares, mais que o PIB<br />
do México, 15ª economia do mundo.</td></tr>
</tbody></table>
A indústria de combustíveis fósseis, especialmente as corporações petroquímicas, constituem o coração energético do sistema. Sem serem cobradas pelos danos ambientais e climáticos atuais e futuros e subsidiadas por Estados nacionais, petroquímicas e similares seguem faturando muito alto e obtendo lucratividade. No ano passado, <a href="https://www.forbes.com/global2000/list/#header:revenue_sortreverse:true">segundo a Forbes</a>, 3 das 4 companhias com maior faturamento no mudo foram petroquímicas (perderam apenas para o Walmart). 6 companhias do ramo de petróleo e gás (ExxonMobil, Shell, Gazprom, Chevron, Total e Sinopec) faturaram quase 1,3 trilhões de dólares e obtiveram 74,8 bilhões de dólares de lucro líquido. Em nenhum cenário dentro da ordem econômica vigente esse setor desaparecerá ou abandonará a lógica do "<i>drill baby, drill</i>". Pelo contrário, tende a manter a exploração de petróleo e gás avançando para operações de maior risco como o Ártico e a camada do pré-sal ao mesmo tempo em que passam a investir uma parcela minoritária do seu capital em renováveis, movimentação através da qual não apenas contribuem para suprir o aumento da demanda energética como promovem <i><a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2017/04/greenwashing-o-ogro-filantropo.html">greenwashing</a>.</i><br />
<br />
Mas essas mesmas companhias estão de olho num futuro em que - condenado por emissões nunca mitigadas, ou pelo menos não mitigadas numa proporção sequer próxima do necessário - o clima global precise ser "consertado". A Shell há tempos anuncia seus <a href="https://www.shell.com/sustainability/environment/climate-change/carbon-capture-and-storage-projects.html">projetos de CCS</a> ("Carbon Capture and Storage", ou seja, Captura e Armazenamento de Carbono) e a ExxonMobil que cinicamente passou anos financiando generosamente o negacionismo climático, <a href="http://corporate.exxonmobil.com/en/technology/carbon-capture-and-storage/carbon-capture-and-storage">não fica atrás</a>. Em outras palavras, uma companhia que pagou pseudo-cientistas, jornalistas e políticos conservadores para negarem o aquecimento global, ao ponto de mitos negacionistas inteiramente refutados permanecerem vagando <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2017/08/negacionismo-esse-pinoquio-zombie.html">como zumbis</a> até hoje, está investindo em tecnologias para remover o "gás inofensivo" da atmosfera...<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg71QjsbLn0EOzpC3PhXiqPUnfp-a6PB2Ov0nh0N0mHHU8WsNItCZP2sZ0c9iqm304CRb_VObtXZ9TxIM8tq2_IOKQoZ5tZABGMoDA-2jiy1WVx8c6x7JE_SVtkc1qXQlZxH9B6MYmb6vE/s1600/CtXJJ8H.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg71QjsbLn0EOzpC3PhXiqPUnfp-a6PB2Ov0nh0N0mHHU8WsNItCZP2sZ0c9iqm304CRb_VObtXZ9TxIM8tq2_IOKQoZ5tZABGMoDA-2jiy1WVx8c6x7JE_SVtkc1qXQlZxH9B6MYmb6vE/s320/CtXJJ8H.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A ideia de "conserto tecnológico" do clima é fundada na ilusão<br />
de controle sobre um sistema altamente complexo e não-linear<br />
que pode reagir imprevisivelmente.</td></tr>
</tbody></table>
Nesse contexto projeto do núcleo central da burguesia é usar intensivamente petróleo, carvão e gás até o fim e quando a fera climática já tiver varrido habitantes de países-ilha e dizimado populações na África, Sul da Ásia e os pobres das Américas, tirar da gaveta - afinal será a "única saída" - as "soluções tecnológicas".<br />
<br />
A primeira é a Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BECCS) que, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2018/02/a-bioenergia-com-captura-de-carbono.html">como mostramos em detalhe</a>, se aplicada em grande escala por corporações, significará que elas estarão se apropriando de vez do uso das terras e da água e mesmo que contenha o caos climático nos levará à ultrapassagem de outros limites planetários (mudança no uso do solo, demanda de água doce, biodiversidade, ciclos biogeoquímicos).<br />
<br />
A segunda, ainda pior, é a geoengenharia, nome genérico a uma variedade de técnicas visando manter o termostato planetário sob controle artificial e com chances enormes de ser um "remédio" pior do que a doença. Como mostramos em artigos anteriores em nosso blog, além de algumas propostas serem bizarras ou darem a um número muito pequeno de corporações <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2014/04/nao-rendicao-nem-geoengenharia-nem.html">um poder não pensando nem nas piores distopias de ficção científica</a>, há um problema de natureza filosófica: uma <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com/2015/04/o-equilibrio-do-sistema-climatico.html">ilusão de controle injustificável</a> sustentada na falsa noção de que o clima - resultante da interação complexa e não-linear do conjunto de subsistemas do Sistema Terra - é apenas mais um "problema de engenharia".<br />
<br />
Candidatas a serem as corporações da CCS e da geoengenharia, as atuais petroquímicas seguirão lucrando horrores com a destruição do sistema climático, almejando lucrar mais horrores com o suposto "conserto" do mesmo. Esse projeto econômico e político é um projeto em que os povos não têm vez, de extermínio mesmo de populações inteiras e que servirá de base para mais desigualdade, violência, xenofobia, fechamento de fronteiras e militarismo.<br />
<br />
Eis que na lógica de uma declaração de guerra ao sistema climático, o que parece escapar no cálculo frio de lucrar dobrado feito pelo capital é a possibilidade de esse sistema reagir violentamente, contra-atacar com munições além daquelas que ora avaliamos que ele disponha. É aquilo que a pensadora belga Isabelle Stengers chama de "<a href="http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=2965">Intrusão de Gaia</a>" ("Alguns consideraram que a Terra fosse um recurso a ser explorado, outros que era preciso protegê-la, mas ela nunca foi enxergada como poder assustador, que poderia nos destruir"), mas que bem poderia se chamar "Vingança de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Medeia">Medeia</a>". Supertufões e superfuracões como Haiyan, Patricia, Irma e Maria, secas e ondas de calor recorde como as que vimos recentemente e até a aceleração da perda de gelo marinho e degelo dos mantos continentais da Groenlândia e Antártica podem disparar desequilíbrios imprevisíveis em territórios, fontes de água doce e sistemas de suporte à vida essenciais para muitas populações.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin5OcUN_EMCoSKOF2gbrm-aN_FiuyI2U8Q5JogTUb4R_MEBG_jZ2TwWjIwLN-H59NjnXiQUih64ZxEHoLIaCaWP5rlhc6uHzvzz6Gk-FulI2KRtVdynK2kCWlRrMEfSYB5yScF-77cn9k/s1600/maria.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="900" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin5OcUN_EMCoSKOF2gbrm-aN_FiuyI2U8Q5JogTUb4R_MEBG_jZ2TwWjIwLN-H59NjnXiQUih64ZxEHoLIaCaWP5rlhc6uHzvzz6Gk-FulI2KRtVdynK2kCWlRrMEfSYB5yScF-77cn9k/s320/maria.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nem uma fonte inesgotável de recursos (como pensam os capi-<br />
talistas e a esquerda produtivista), nem uma natureza passiva a<br />
ser protegida. "Gaia" precisa ser pensada cada vez mais como<br />
uma agente política, capaz de reagir, de contra-atacar e, em<br />
última instância, de vencer a guerra que o capitalismo defla-<br />
grou contra ela.</td></tr>
</tbody></table>
Para os muito ricos, a linha de ação de alto risco, de seguir a guerra aberta com o Sistema Terra, faz algum sentido na medida em que recuar significaria abdicar resoluta e irreversivelmente dos privilégios, dos extremos opulência, luxo e riqueza; significaria abrir mão de uma ordem econômica baseada em incessante crescimento e acumulação. Mas para a maioria, nada há a ganhar nessa lógica expansionista, produtivista, pois ainda que houvesse distribuição equitativa da riqueza gerada a curto prazo, o empobrecimento dos sistemas naturais rapidamente privaria as gerações futuras dessa mesma possibilidade. Daí, nossa perspectiva tem necessariamente de ser outra, baseada na lógica de que nossa sociedade precisa caber na biosfera terrestre e se harmonizar com seus fluxos, ciclos e limites.<br />
<br />
Mesmo que a curto prazo ainda haja alguma brecha para ganho monetário advindo da produção destrutiva, o que inclui o uso de combustíveis fósseis, a conta definitivamente não fecha numa escala intergeracional. Claro, o que é de se estranhar mesmo é que num contexto em que tal realidade só se torna mais e mais evidente, boa parte da esquerda ainda entenda que faz sentido queimar petróleo para financiar a educação e a saúde. Ou pior, que boa parte da esquerda - assimilando os discursos da tecnocracia a serviço do capital - seja seduzida pelas "soluções de engenharia" ou pela ilusão de um poder mágico da ciência e tecnologia.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-74662317875221133462018-04-03T15:10:00.000-03:002018-04-03T15:31:49.024-03:00O ninho do Antropoceno e os ovos do fascismo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsF4l7P0SI5dXv6qxqHFiUSbLvOrGC1b8Ej__H9LuumuhEQ8OhUpoayEHsTMu0GCLiqSfigdlrXVR504ez39WklMI12rhSsQB0jydNMgmPBL6u38XKhNcuXuP8APJFQpVcYYWcR-F_nFI/s1600/marielle.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsF4l7P0SI5dXv6qxqHFiUSbLvOrGC1b8Ej__H9LuumuhEQ8OhUpoayEHsTMu0GCLiqSfigdlrXVR504ez39WklMI12rhSsQB0jydNMgmPBL6u38XKhNcuXuP8APJFQpVcYYWcR-F_nFI/s320/marielle.jpg" width="320" /></a></div>
20 dias após a execução brutal de <a href="https://www.mariellefranco.com.br/">Marielle Franco</a>, a ferida aberta na sociedade brasileira se recusa a fechar. Pelo contrário, sangra mais e mais. E a deterioração da situação política no País não para de se agravar, com ataque a tiros à caravana de Lula no Sul, com um <a href="https://exame.abril.com.br/brasil/com-lula-candidato-nao-ha-alternativa-a-nao-ser-intervencao-diz-general/">general da reserva chantageando</a> abertamente o STF e o país inteiro, com ameaça de golpe militar a depender do posicionamento da corte, com um bufão com posições abertamente fascistas despertando simpatia de 1/5 ou mais do eleitorado. Neste cenário, mesmo pessoas próximas, sensíveis às ditas "causas ambientais" ou à "pauta ecossocialista" questionam "como falar de mudanças climáticas em tais condições?" ou "não seria o caso de deixar um pouco de lado essas bandeiras ambientais?" ou, pior, se colocam aberta ou veladamente na linha de considerar tudo isso como algo "secundário", senão <i>a priori</i>, pelo menos na atual conjuntura. Mas será que essa linha de raciocínio está correta?<br />
<br />
<a name='more'></a><br />
<br />
Um aspecto trágico - dentre tantos - do <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2017/03/o-colapso-inevitavel-e-o-antropoceno.html">colapso ecológico do Antropoceno</a> é que ele não é uma catástrofe que chega gradualmente com a sociedade unida, em laços de solidariedade, tendo oportunidade de gradualmente tomar consciência dela e enfrentá-la; com a admissão, por parte de setores cada vez mais amplos da sociedade, da necessidade de frear a máquina produtiva-destrutiva do capital, que demanda eterna expansão em contradição antagônica com a realidade de um planeta limitado; com o entendimento, em particular, de que é insustentável para a natureza e para o restante da sociedade manter uma minoria, uma elite econômica, com padrões de consumo escandalosamente elevados.<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.thehagueinstituteforglobaljustice.org/wp-content/uploads/2016/11/IDPs-720x540.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://www.thehagueinstituteforglobaljustice.org/wp-content/uploads/2016/11/IDPs-720x540.jpg" data-original-height="540" data-original-width="720" height="240" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A ONU estima que mais de 20 milhões de pessoas sejam des-<br />
locadas anualmente por catástrofes de alguma forma ligadas à<br />
mudança climática. Estima-se, infelizmente, que essa cifra <br />
cresça exponencialmente ao longo deste século.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Pelo contrário, o colapso ecológico do Antropoceno chega com a disputa de bens naturais, território e recursos se agudizando. Chega trazendo secas cada vez mais severas que ampliam a insegurança alimentar e hídrica, somando-se à pressão de outros fatores, como a degradação e perda de fertilidade do solo e a demanda gigantesca de água pela irrigação de grande escala de monoculturas, pela mineração, pela indústria pesada como termelétricas, siderúrgicas e refinarias de petróleo, etc. Chega associado a <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2015/06/o-asfalto-escoa-como-liquido-o-que-e.html">ondas de calor mortíferas</a> que matam agricultor(a), pescador(a), operário(a) da constução civil, mas não mata político nem CEO engravatado. Chega produzindo tempestades cada vez mais severas, como o Katrina, o <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2013/12/supertufao-haiyan-dentro-de-cada-nova.html">Haiyan</a>, o <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2015/10/furacao-patricia-amostra-das.html">Patrícia</a>, o Harvey, o Irma, o Maria, que para além das mortes e prejuízos imediatos deixa sequelas de mais longo prazo especialmente em países pobres (Mais de 6 meses após a passagem do Maria, parcela significativa da população de Porto Rico ainda se ressente da falta de energia na rede e água na torneira).<br />
<br />
Esse colapso chega com populações cada vez mais depauperadas, expulsas de suas terras de origem, com um número crescente de refugiados de guerra e <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Refugiado_clim%C3%A1tico">refugiados climáticos</a> (estimativas dão conta de que estes podem chegar a 140 milhões em 2050, <a href="http://www.dnoticias.pt/mundo/clima-pode-forcar-mais-de-140-milhoes-de-pessoas-a-migrar-ate-2050-MN2906284">especialmente na África, Ásia e América Latina</a>), conectando a aldeia indígena ou a comunidade camponesa inviabilizadas por alguma grande barragem ou mina às periferias de cidades inchadas, em que as pessoas são sistematicamente privadas de condições dignas de vida. Chega alimentando conflitos, servindo de solo fértil a ideologias de ódio, a micro e macrofascismos. Chega produzindo uma barbárie em que militarização e xenofobia ganham apelo. É um caldo de cultura terrível.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIjSa9NvRKxtWWEsjDHjowfZ0Qe0CxBTlm2AS0VeDvwjdDj4mM2mz7xXiO0P1gwFdrYEXJqJ9PxP86dwKyivOVt9rBwrTv0XMLNlPXM4Q48dpG8Ww7xT4Xrme5wuc11TSU1Ng3vz1KHgA/s1600/mariana.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIjSa9NvRKxtWWEsjDHjowfZ0Qe0CxBTlm2AS0VeDvwjdDj4mM2mz7xXiO0P1gwFdrYEXJqJ9PxP86dwKyivOVt9rBwrTv0XMLNlPXM4Q48dpG8Ww7xT4Xrme5wuc11TSU1Ng3vz1KHgA/s320/mariana.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">880 dias depois, o crime da Samarco-Vale-BHP em Mariana <br />
segue essencialmente impune. O assassinato de Marielle já<br />
contabiliza 20 dias e até agora nada.</td></tr>
</tbody></table>
Ou seja, o colapso do Antropoceno chega tornando ainda mais difíceis as condições de luta contra ele próprio. Primeiro, porque fortalece justamente as ideologias e correntes políticas mais alheias à defesa da integridade do ambiente. Segundo, porque encurrala os setores sociais e políticos potencialmente mais conscientes do ponto de vista ecológico, com o debate climático, ambiental, hídrico, etc., sendo soterrado ante a correria para salvar a própria pele e a das mínimas liberdades democráticas e direitos.<br />
<br />
Mas saber, mesmo nos tempos mais duros, que tudo está conectado - <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2014/03/de-400-ppm-amarildo.html">400 ppm de CO2 e Amarildo</a>, Mariana e Marielle, agronegócio matando indígena e milícia matando favelado - é dever nosso. E por mais que seja sob o sangue e as lágrimas dos nossos e nossas, que nos coloquemos à altura do desafio de pensar saídas e respostas não apenas para a fumaça no ar, que ora nos sufoca, mas para a própria ameaça da "queda do céu". Não se pode, portanto, cair na tentação de "deixar a discussão ambiental e climática para outro momento". Afinal esta crise profunda que vivenciamos já é, em larga medida (ou arriscaria até dizer <b>essencialmente</b>), ecológica.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkgsD8EcpJvKV4pu6NBADUHfjGWjiASq1ycyTsRaCNNDWXjTO6vrXnjeXfjGwh5fjdmeUBtf54Y0PzG7UIVFt0gLUr0iTsTRa2icCwB8EIb1A3fmEx8XncoeYSAogCS7r0tF0a5Pmk1YFR/s1600/Steve-+Man.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="347" data-original-width="638" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkgsD8EcpJvKV4pu6NBADUHfjGWjiASq1ycyTsRaCNNDWXjTO6vrXnjeXfjGwh5fjdmeUBtf54Y0PzG7UIVFt0gLUr0iTsTRa2icCwB8EIb1A3fmEx8XncoeYSAogCS7r0tF0a5Pmk1YFR/s1600/Steve-+Man.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quadro da animação "<a href="https://www.youtube.com/watch?v=RbpL5xGCXx8">Man</a>" ("O Homem"), de Steve Cutts</td></tr>
</tbody></table>
A sensação de que está tudo fora da normalidade, que não dá simplesmente para continuar tocando as coisas como antes, está caindo sobre boa parte da esquerda brasileira no que tange à percepção de endurecimento do regime político e deterioração das condições de luta. Essa percepção de saída da "normalidade" e entrada em terreno bem mais perigoso e difícil precisa, porém, se estender às alterações no sistema Terra, à desestabilização do clima, à crise hídrica, ao colapso da biodiversidade. O Antropoceno é uma grande chocadeira do fascismo. Diria mais, pela lógica de controle, sujeição, eliminação do diferente, o Antropoceno é ele próprio um grande fascismo voltado contra o planeta.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-5289817505046189422018-03-09T10:25:00.000-03:002018-03-09T10:36:08.724-03:00Aquecimento Global como Argumento para Privatizar a Petrobrás: Sobre a lógica às avessas de Elena Landau<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://livres17.org.br/public/media/dynamic/news/9743dc04bea10b51caaa4773ca3467e7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://livres17.org.br/public/media/dynamic/news/9743dc04bea10b51caaa4773ca3467e7.jpg" data-original-height="156" data-original-width="235" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Apelidada de "rainha das privatizações", Elena<br />
Landau não nega o aquecimento global. Apenas<br />
defende uma política econômica que o agravará!</td></tr>
</tbody></table>
No dia de ontem, Elena Landau, economista, publicou um <a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,privatizar-a-petrobras-por-que-nao,70002218325">texto de opinião</a> no Estadão, em que defende a privatização da Petrobrás. Até aqui, nenhuma surpresa, evidentemente, afinal ela já havia trabalhado na administração de Fernando Henrique Cardoso, na condição de diretora do BNDES, justamente no programa de privatização de estatais. A preferência por uma agenda neoliberal, de "Estado mínimo", por parte de Landau, não é de hoje. A novidade fica pelo fato de que ela tenta usar o aquecimento global como um argumento a mais para a defesa da venda da companhia de petróleo ao capital privado. Mas... será que isso faz sentido?<br />
<br />
<a name='more'></a><b><br /></b>
<b>UMA "PRIVATIZAÇÃO COMO OUTRA QUALQUER"?</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://www.struggle.pk/wp-content/uploads/2013/06/Capitalism-Global-Warming-Enviroment-Destruction-cartoon-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://www.struggle.pk/wp-content/uploads/2013/06/Capitalism-Global-Warming-Enviroment-Destruction-cartoon-2.jpg" data-original-height="775" data-original-width="545" height="320" width="225" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Lembrar do aquecimento global e defender<br />
mais privatização das reservas fósseis é um<br />
contrassenso. Ou melhor, é pura desonestidade.</td></tr>
</tbody></table>
Em pleno século XXI, especialmente quando se trata de combustíveis fósseis, incluindo petróleo, o debate econômico não pode se restringir à tradicional confrontação entre uma direita privatista e uma esquerda estatizante. Além de discutirmos a questão da propriedade dos meios de produção (se privada ou pública) é preciso questionar inclusive que setores "produtivos" precisam ser descontinuados, em função de limites ambientais planetários. No fundo, Landau sabe disso, daí, a frase final do seu artigo ("Não há nenhuma diferença entre as razões para a retirada do Estado do controle da Petrobrás e de qualquer outra empresa estatal") entra em contradição com o que ela usa como um dos argumentos para defender que o Estado brasileiro precisa se livrar da empresa.<br />
<br />
A lógica de Landau é que "o aquecimento global vem impondo restrições ao uso de combustíveis fósseis, o que reduz o valor da empresa para a sociedade ao longo do tempo" e que em virtude disso "sua venda deveria ser feita o mais breve possível". Claro, ela se dá ao trabalho de excluir a possibilidade de "gastar recursos públicos para reorientar suas atividades para energias renováveis", sem apresentar nenhuma justificativa plausível para isso.<br />
<br />
Percebam portanto como se chega a um nível de cinismo e <i>non sequitur</i> impressionantes: a pessoa consegue usar a dramaticidade do aquecimento global para dizer que a empresa vai "perder valor" e que por isso é preciso vendê-la logo... mas "esquece" que nessa lógica, o capital privado irá explorar as jazidas fósseis num ritmo ainda mais frenético, e despejar o carbono todo na atmosfera, agravando justamente o problema!<br />
<b><br /></b>
<b>NACIONALIZAR AS RESERVAS FÓSSEIS PARA DEIXÁ-LAS NO SUBSOLO</b><br />
<br />
Há muito tempo tenho insistido que é preciso superar o discurso desenvolvimentista do varguismo e as ilusões de explorar petróleo para financiar educação, saúde, etc. Landau usa cinicamente um argumento "geracional", mas aqui o verdadeiro debate sobre o legado para as futuras gerações é que mesmo que usemos todo recurso da exploração de petróleo com saúde e educação públicas, a conta não fecha, pelo contrário.<br />
<br />
Sem conter o aquecimento global, <b>o que implica impedir a queima da grande maioria das reservas fósseis</b>, o legado para a geração seguinte é mais eventos extremos: ondas de calor, secas, tempestades severas, elevação do nível do mar. É um conjunto de impactos cuja severidade afetará as vidas das pessoas em todos os seus aspectos, com consequências diretas sobre a saúde, seja pela dificuldade de acesso a água potável (nos extremos, a <a href="https://g1.globo.com/mundo/noticia/crise-hidrica-pode-levar-cidade-do-cabo-a-ficar-sem-abastecimento-de-agua-ate-abril.ghtml">Cidade do Cabo</a> pode entrar em colapso de abastecimento por seca extrema - para não falar de <a href="http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/mobile/cadernos/cidade/acude-castanhao-deixa-de-abastecer-a-capital-1.1900955">Fortaleza</a>, que pode escapar por um fio - e <a href="https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/24/opinion/1511554210_725336.html">Porto Rico</a> teve grande parte de seu território privado de água potável por conta da enchente produzida), seja pela <a href="http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/aquecimento-global-facilita-transmissao-de-virus-por-mosquitos/">proliferação de vetores transmissores de doença</a>s, seja pelos malefícios diretos de ondas de calor, como as que mataram milhares de pessoas na <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Onda_de_calor_de_2003_na_Europa">Europa em 2003</a> e na <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2015/06/o-asfalto-escoa-como-liquido-o-que-e.html">Índia e Paquistão em 2015</a>. É imigração forçada em massa, é um risco real e concreto<br />
<br />
Daí a saída é justamente o contrário do que propõe Landau. O correto é sair de "o petróleo é nosso" para "o petróleo é nosso pra ficar no chão", como defendo <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2018/01/brasil-na-contramao-enquanto.html">neste artigo</a>. Com seu cinismo e malabarismo argumentativo, Landau acha que devemos trocar "o petróleo é nosso" para "o petróleo é de vocês pra queimar à vontade e f*der de vez com o clima global". Francamente, ela parece subestimar a inteligência dos leitores e joga às favas qualquer vestígio de honestidade intelectual. Ou seja, para evitar passar vergonha com um negacionismo climático explícito, Landau resolve passar vergonha equilibrando elementos antagônicos numa mesma linha de raciocínio.<br />
<br />
<b>E FALANDO EM AUSÊNCIA DE HONESTIDADE INTELECTUAL...</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://assets.rollingstone.com/assets/2015/media/199981/_original/1434576052/1035x690-R1238_FEA_Fracking_B.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://assets.rollingstone.com/assets/2015/media/199981/_original/1434576052/1035x690-R1238_FEA_Fracking_B.jpg" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Tratar o gás de xisto como "combustível alternativo" é uma<br />
piada de mau gosto. Como provavelmente Elena Landau não<br />
é ignorante, acreditamos que ela atue inteiramente de má fé<br />
ao esconder os problemas associados ao <i>fracking</i>.</td></tr>
</tbody></table>
... Landau se refere ao gás de xisto como "combustível alternativo", ressaltando que sua descoberta foi "mérito do capital privado". Impressionante...<br />
<br />
Para início de conversa, o gás natural em si já é um combustível fóssil como carvão e petróleo e portanto o gás natural também precisa ser abandonado como fonte de energia. A queima de metano (seu principal constituinte) produz dióxido de carbono e a parte que escapa, constituindo aquilo que chamamos de "<a href="https://www.ecycle.com.br/component/content/article/63/3075-discretamente-perigosas-entenda-o-que-sao-emissoes-fugitivas-e-de-onde-elas-vem.html">emissões fugitivas</a>", também tem impacto bastante significativo sobre o clima, já que o <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Potencial_de_aquecimento_global">potencial de aquecimento global</a> da molécula de CH₄ é várias vezes maior do que o do CO₂.<br />
<br />
Além disso, o gás de xisto é extraído via <i>fracking</i>, uma das tecnologias mais sujas que foram inventadas nas últimas décadas no setor de energia. Aliás, exatamente por ter emissões fugitivas maiores que o gás extraído em moldes convencionais, o gás de <i>fracking</i> é tão desastroso para o clima quanto o carvão, como mostramos em nosso blog no artigo "<a href="http://uma%20fratura%20no%20clima/">Uma Fratura no Clima</a>".<br />
<b><br /></b>
<b>PRIVATIZAÇÃO FÓSSIL OU DEMOCRATIZAÇÃO COM DESCARBONIZAÇÃO?</b><br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://www.portalsolar.com.br/Content/EditorImages/images/temperatura-e-potencia-do-painel-solar.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="414" data-original-width="800" height="165" src="https://www.portalsolar.com.br/Content/EditorImages/images/temperatura-e-potencia-do-painel-solar.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">100% pública, democrática e descarbonizada. A Petrobrás<br />
poderia virar uma Solarbrás!</td></tr>
</tbody></table>
"<i>There is no alternative"</i>. A frase de efeito, sentença baixada sobre a cabeça da humanidade pelos ideólogos neoliberais teima em aparecer nos textos que defendem determinadas agendas econômicas. Landau afirma peremptoriamente que não existe a "alternativa de investir em renováveis" e que não há alternativa para a Petrobrás que não a privatização, mas a frase não resiste a uma análise minimamente séria...<br />
<br />
Investimentos diretos da própria companhia e investimentos de bancos públicos podem e precisam ser feitos para tornar as energias renováveis o centro da Petrobrás. É justamente a potência de investimentos que esse setores ainda têm que permite orientar a política industrial brasileira para longe do papel primário-extrativista-exportador e construindo a base de uma transição energética. Esse processo não apenas não penalizaria a maioria da população como, pelo contrário, se reverteria em energia limpa e barateada (com painéis solares nos telhados das casas assegurando a redução da conta de luz). Também contribuiria para a manutenção das reservas hídricas pois não apenas hidrelétricas como também termelétricas (fósseis e nucleares) demandam grandes quantidades de água.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://portallubes.com.br/wp-content/uploads/2018/01/conta-de-luz-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://portallubes.com.br/wp-content/uploads/2018/01/conta-de-luz-1.jpg" data-original-height="330" data-original-width="605" height="174" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A privatização do setor elétrico brasileiro produz contas caras<br />
e tornou a matriz ainda mais suja. A inserção de uma empresa<br />
pública como a Petrobrás, convertida em companhia de energia<br />
limpa, no setor, pode contribuir para quebrar esse ciclo perverso.</td></tr>
</tbody></table>
A alternativa, portanto, não é uma privatização fóssil da Petrobrás. Ao contrário, a rota é a da transformação da Petrobrás em uma empresa 100% pública, o que implica justamente em nacionalizar a sua metade não-pública e tirá-la da lógica de mercado e em anular os leilões de petróleo, renacionalizando as jazidas; democrática, isto é, gerida pelo conjunto de seus trabalhadores e trabalhadoras ao lado do conjunto da sociedade; descarbonizada, isto é, orientada para uma transição acelerada que a converta em uma empresa pública de energia limpa, contribuindo para livrar o povo brasileiro do jugo das corporações do setor energético.<br />
<br />
Já abordamos o tema de quão desastroso é entregar jazidas fósseis nas mãos do capital internacional no artigo "<a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2016/02/e-o-clima-por-um-verdadeiro-debate.html">E o clima? Por um verdadeiro debate sobre o pré-sal</a>". Nas mãos das corporações, petróleo, gás e carvão serão explorados para muito além do limite, pois nada está acima, para elas, do que o próprio lucro. Às maiorias sociais, pelo contrário, interessa deter a exploração de combustíveis fósseis e conter o aquecimento global. Ao capital interessa que a Petrobrás vire "Petrobrax", isto é, que o caos climático siga se acelerando, com lucros cada vez maiores para as corporações internacionais. Às maiorias sociais interessa que ela não apenas permaneça como empresa pública, mas que seja radicalmente transformada, desde sua gestão até a fonte energética com a qual trabalha. Já que o problema não é só o "Brax", mas também o "Petro", se é para mudar, que a Petrobrás vire Solarbrás.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-2259891715660742522018-03-07T10:55:00.001-03:002018-03-07T10:56:14.365-03:00A Ficha Vai Ter de Cair<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="" data-block="true" data-editor="7anou" data-offset-key="7cojl-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "SF Optimized", system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: -0.12px; white-space: pre-wrap;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIb4GIoEyyuZls9dc7phtwn3JnntYXSotkrt8hDUP18pf4XrNasNU7GcHlaPTQ8jue6xXvyUQ7teWeJNWPN8_7HIFzJMXiF1VbXCy68ulQJnU9PQeu-q0FtMPEb4_0RotzUgFCjlnT5jc/s1600/ficha_laerte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="276" data-original-width="972" height="90" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIb4GIoEyyuZls9dc7phtwn3JnntYXSotkrt8hDUP18pf4XrNasNU7GcHlaPTQ8jue6xXvyUQ7teWeJNWPN8_7HIFzJMXiF1VbXCy68ulQJnU9PQeu-q0FtMPEb4_0RotzUgFCjlnT5jc/s320/ficha_laerte.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O famoso "cartoon" de Laerte: mais atual do que nunca!</td></tr>
</tbody></table>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7cojl-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="7cojl-0-0" style="font-family: inherit;"><a href="https://www.nature.com/articles/s41558-018-0091-3">Publicação desta semana na Nature</a> aponta ainda mais nitidamente para uma dura realidade. </span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;">Os cenários para 1,5°C demandam: abandono rápido das fontes fósseis, remoção de CO2 atmosférico *E*, <b>pelo menos</b> contenção do crescimento da demanda energética, o que inevitavelmente impõe "mudanças nos padrões de consumo". </span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7cojl-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;"></span><br />
<a name='more'></a></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7cojl-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;">Sabe-se também, por outro lado, que BECCS não pode assumir a escala que alguns imaginam, devido a outros problemas ambientais, <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2018/02/a-bioenergia-com-captura-de-carbono.html">como discutimos em nosso blog</a>. Remover carbono da atmosfera, suprindo uma demanda crescente via bioenergia, mesm</span><span style="letter-spacing: -0.12px;">o</span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;"> usand</span><span style="letter-spacing: -0.12px;">o tecn</span><span style="letter-spacing: -0.12px;">ol</span><span style="letter-spacing: -0.12px;">ogias bem mais eficientes d</span><span style="letter-spacing: -0.12px;">o</span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;"> que </span><span style="letter-spacing: -0.12px;">os tradicionais biocombustíveis implica em aumento da demanda de terra para essas culturas, de água para irrigação e de uso de fertilizantes (com consequências graves para a ciclagem de nitrogênio e fósforo).</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7anou" data-offset-key="a4l3q-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "SF Optimized", system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: -0.12px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="a4l3q-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="a4l3q-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7anou" data-offset-key="coan7-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "SF Optimized", system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: -0.12px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="coan7-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="coan7-0-0" style="font-family: inherit;">Mas é fato, e não digo isso confortavelmente, pelo contrário. Sem remoção de carbono para além daquela possível via reflorestamento, não vamos conter essa bagaça. Em suma: estou disposto a abrir mão, portanto, de uma ilusão, a de que sem nenhum uso dessas tecnologias poderemos resolver o problema. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7anou" data-offset-key="bmlt8-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "SF Optimized", system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: -0.12px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="bmlt8-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="bmlt8-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7anou" data-offset-key="ai5lf-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "SF Optimized", system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: -0.12px; white-space: pre-wrap;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://whythemagicbulletmisses.files.wordpress.com/2010/11/impossible_2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="284" data-original-width="459" height="197" src="https://whythemagicbulletmisses.files.wordpress.com/2010/11/impossible_2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma excelente metáfora da impossibilidade física de<br />
crescimento econômico infinito é o "hamster impossível",<br />
vídeo de pouco mais de um minuto, disponível no YouTube.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ai5lf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="ai5lf-0-0" style="font-family: inherit;">No entanto a questão <b>fundamental</b> é outra: é se políticos, economistas, chefes de Estado, tomadores de decisão, etc. também estão dispostos a abrirem mão das suas ilusão. E aqui, a de que é possível seguir explorando e queimando fontes fósseis impunemente (como a esquerda que se ilude em financiar programas sociais com o pré-sal) só não é pior do que a outra: a d</span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;">e que é possível ter um futuro com mais consumo de energia do que temos hoje. Não dá, não cabe.</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ai5lf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ai5lf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;">Renováveis como eólica e solar podem nos cobrir uma parte importante da demanda. As hidrelétricas em operação e a bioenergia podem complementá-las, compensando pela intermitência. </span><span style="color: #14171a; font-family: "helvetica neue" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; letter-spacing: normal;">Mas não há fisicamente como seguir com essa ideia estapafúrdia de crescimento econômico infinito. É uma fantasia, uma crença desprovida de base real. E se não planejarmos o nosso próprio decrescimento, o planeta o imporá pelos seus meios. </span><span style="color: #14171a; font-family: "helvetica neue" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; letter-spacing: normal;">Spoiler: não vai ser nada bonito.</span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: -0.12px;"> </span></div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-61149197056943915752018-02-14T22:17:00.000-03:002018-02-14T22:17:16.581-03:00Clive Hamilton no Guardian: "O grande silêncio climático: estamos no limite do abismo, mas ignoramos"<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://i.guim.co.uk/img/media/b4fb4cf02ae22b9bbf9507cabb538018c0a25a62/0_0_5760_3840/master/5760.jpg?w=620&q=20&auto=format&usm=12&fit=max&dpr=2&s=614c6066040d06d7423eb389897857a9" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="800" height="213" src="https://i.guim.co.uk/img/media/b4fb4cf02ae22b9bbf9507cabb538018c0a25a62/0_0_5760_3840/master/5760.jpg?w=620&q=20&auto=format&usm=12&fit=max&dpr=2&s=614c6066040d06d7423eb389897857a9" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Como podemos entender o miserável fracasso do pensamento<br /> contemporâneo em enfrentar o que agora nos confronta?"<br /> Fotografia: Piyal Adhikary / EPA</td></tr>
</tbody></table>
<h2 style="text-align: left;">
O grande silêncio climático: estamos no limite do abismo, mas ignoramos</h2>
<i>Clive Hamilton</i><br />
<h4 style="text-align: left;">
Continuamos planejando o futuro como se os cientistas do clima não existissem. A maior vergonha é a ausência de um sentimento de tragédia. </h4>
Após cerca de 200 mil anos da existência dos humanos modernos em uma Terra de 4,5 bilhões de anos, chegamos a um novo ponto da história: o Antropoceno. A mudança veio sobre nós com velocidade desorientadora. É o tipo de mudança que geralmente leva duas, três ou quatro gerações para ser assimilada.<br />
<br />
<a name='more'></a><br /><br />
Nossos melhores cientistas nos dizem insistentemente que uma calamidade já está se desenrolando, que os sistemas de suporte à vida da Terra estão sendo danificados de um modo que ameaça a nossa própria sobrevivência. No entanto, diante desses fatos, seguimos como se nada estivesse acontecendo.<br />
<br />
A maioria dos cidadãos ignora ou minimiza as advertências, muitos de nossos intelectuais se entregam a ilusões e algumas vozes influentes declaram que nada está acontecendo, que os cientistas estão nos enganando. No entanto, as evidências nos dizem que os seres humanos se tornaram tão poderosos que entramos nesta nova e perigosa época geológica, definida pelo fato de que a pegada humana no ambiente global tornou-se tão grande e ativa que rivaliza com algumas das grandes forças da natureza em seu impacto no funcionamento do sistema terrestre.<br />
<br />
Essa situação bizarra, na qual nos tornamos potentes o suficiente para mudar o destino da Terra embora incapazes de nos regularmos a nós mesmos, contradiz toda crença moderna sobre o tipo de criatura que é o ser humano. Para alguns, é absurdo sugerir que a humanidade possa sair dos limites da história e inscrever-se como uma força geológica de tempo profundo. Os seres humanos seriam muito insignificantes para mudar o clima, eles insistem, por isso seria extravagante sugerir que possamos mudar a escala de tempo geológica. Outros atribuem a Terra e sua evolução ao reino divino, de modo que não é mera petulância sugerir que os humanos possam sobrepujar o todo poderoso, mas uma blasfêmia.<br />
<br />
Muitos intelectuais das ciências sociais e das humanidades não aceitam que os cientistas da Terra tenham algo a dizer que possa influenciar a compreensão do mundo, porque o "mundo" consiste apenas em seres humanos envolvidos com outros seres humanos, enquanto a natureza, não é mais do que um cenário passivo para que dela aproveitemos como quisermos.<br />
<br />
A orientação "somente humana" das ciências sociais e humanas é reforçada pela nossa absorção total das representações da realidade derivadas da mídia, encorajando-nos a ver a crise ecológica como um espetáculo que ocorre fora da bolha de nossa existência.<br />
<br />
É verdade que compreender a escala do que está acontecendo exige não só quebrar a bolha, mas também fazer o salto cognitivo ao "pensamento do sistema terrestre" - isto é, conceber a Terra como um sistema único, complexo e dinâmico. Uma coisa é aceitar que a influência humana se espalhou por toda a paisagem, os oceanos e a atmosfera, mas outra é entender que as atividades humanas estão perturbando o funcionamento da Terra como uma totalidade complexa, dinâmica e em constante evolução, composta de inúmeros processos de interligação.<br />
<br />
Mas considere esse fato espantoso: com o conhecimento dos ciclos que governam os movimentos da Terra, incluindo a inclinação do eixo e sua precessão, paleoclimatologistas são capazes de prever com certeza razoável que a próxima era de gelo deveria vir em 50.000 anos. Mas o dióxido de carbono persiste na atmosfera por milênios e se espera agora que o aquecimento global causado pela atividade humana nos séculos XX e XXI suprima não só essa glaciação, mas possivelmente o seguinte, prevista para 130 mil anos.<br />
<br />
Se a atividade humana ao longo de um século ou dois pode transformar irreversivelmente o clima global por dezenas de milhares de anos, somos incitados a repensar a história e a análise social como um assunto puramente intra-humano.<br />
<br />
Como devemos entender o fato inquietante de que a massa de evidências científicas sobre o Antropoceno, um evento que se desenrolou de proporções colossais, seja insuficiente para induzir uma resposta racional e adequada?<br />
<br />
Para muitos, o acúmulo de fatos sobre a ruptura ecológica parece ter um efeito anestesiante, muito aparente nas atitudes populares em relação à crise do sistema terrestre, e especialmente entre formadores de opinião e líderes políticos. Alguns se abriram para o pleno significado do Antropoceno, atravessando esse limiar por meio de um processo gradual, mas cada vez mais perturbador, de assimilação de evidências ou, em alguns casos, após uma percepção que os invade de repente e com grande força em resposta a um evento ou a uma peça de informação em si bastante pequena.<br />
<br />
Fora da ciência, uns poucos alertas percebem a situação difícil da Terra e sentem que algo insondavelmente grande está ocorrendo, conscientes de que enfrentamos uma luta entre a ruína e a possibilidade de algum tipo de salvação.<br />
<br />
Então, <b>hoje a maior tragédia é a ausência de um senso da tragédia</b>. A indiferença da maioria diante do distúrbio do sistema terrestre pode ser atribuída a uma falha de razão ou a uma fraqueza psicológica; mas estas parecem inadequadas para explicar por que nos encontramos à beira do abismo.<br />
<br />
Como podemos entender o miserável fracasso do pensamento contemporâneo para enfrentar o que agora nos confronta? Poucos anos após a queda da segunda bomba atômica, Kazuo Ishiguro escreveu um romance sobre o povo de Nagasaki, um romance em que a bomba nunca é mencionada, mas cuja sombra paira sobre todos. A sombra do Antropoceno também cai sobre todos nós.<br />
<br />
Com efeito, as livrarias são regularmente reabastecidas com livros sobre o futuro do mundo de nossos principais intelectuais de esquerda e direita, mas nos quais a crise ecológica é pouco mencionada. Eles falam do surgimento da China, o advento de civilizações e máquinas que assumem o mundo, mas são escritos e apresentados como se os cientistas do clima não existissem. Prognosticam sobre um futuro a partir do qual os fatos dominantes foram expurgados, futurologistas presos em um passado obsoleto. É o grande silêncio.<br />
<br />
Ouvi falar de um jantar durante o qual um dos psicanalistas mais eminentes da Europa falou apaixonadamente sobre todos os assuntos, mas ficou mudo quando as mudanças climáticas foram levantadas. Ele não tinha nada a dizer. Para a maioria dos intelectuais, é como se as projeções dos cientistas da Terra fossem tão absurdas que pudessem ser ignoradas com segurança.<br />
<br />
Talvez a rendição intelectual seja tão completa porque as forças que esperávamos que tornassem o mundo um lugar mais civilizado - as liberdades pessoais, a democracia, o avanço material, o poder tecnológico - estão na verdade abrindo o caminho para sua destruição. Os poderes em que mais confiamos nos traíram; o que nós acreditamos que nos salvaria agora ameaça nos devorar.<br />
<br />
Para alguns, a tensão é resolvida rejeitando as evidências, ou seja, descartando a Luz da ciência. Para outros, a resposta é desqualificar os apelos para que se dê atenção ao perigo como uma perda de fé na humanidade, como se a angústia da Terra fosse uma ilusão romântica ou uma regressão supersticiosa.<br />
<br />
No entanto, os cientistas da Terra continuam a perseguir-nos, seguindo-nos como aparições lamentáveis enquanto seguimos apressados com a nossa vida, dando a volta ocasionalmente com irritação para continuar segurando o Crucifixo do Progresso.<br />
<br />
<span class="notranslate" style="background-color: #fef9f5; color: #121212; font-family: "Guardian Text Egyptian Web", Georgia, serif; font-variant-ligatures: common-ligatures;"><em>Este é um extrato editado da obra </em></span><em style="color: #121212; font-family: "Guardian Text Egyptian Web", Georgia, serif; font-variant-ligatures: common-ligatures;">de Clive Hamilton<a class="u-underline" data-link-name="in body link" href="https://translate.googleusercontent.com/translate_c?act=url&depth=1&hl=pt-BR&ie=UTF8&prev=_t&rurl=translate.google.com.br&sl=en&sp=nmt4&tl=pt-BR&u=https://www.allenandunwin.com/browse/books/general-books/popular-science/Defiant-Earth-Clive-Hamilton-9781760295967&xid=17259,15700019,15700105,15700124,15700149,15700168,15700173,15700184,15700201&usg=ALkJrhjTHhPF2dZ6K9x2JJ3Ayb4_zMqc9Q" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border-bottom: 0.0625rem solid rgb(220, 220, 220); color: #e05e00; text-decoration-line: none !important; touch-action: manipulation; transition: border-color 0.15s ease-out;"> </a></em><em style="color: #121212; font-family: "Guardian Text Egyptian Web", Georgia, serif; font-variant-ligatures: common-ligatures;"><a class="u-underline" data-link-name="in body link" href="https://translate.googleusercontent.com/translate_c?act=url&depth=1&hl=pt-BR&ie=UTF8&prev=_t&rurl=translate.google.com.br&sl=en&sp=nmt4&tl=pt-BR&u=https://www.allenandunwin.com/browse/books/general-books/popular-science/Defiant-Earth-Clive-Hamilton-9781760295967&xid=17259,15700019,15700105,15700124,15700149,15700168,15700173,15700184,15700201&usg=ALkJrhjTHhPF2dZ6K9x2JJ3Ayb4_zMqc9Q" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border-bottom: 0.0625rem solid rgb(220, 220, 220); color: #e05e00; text-decoration-line: none !important; touch-action: manipulation; transition: border-color 0.15s ease-out;">Terra Desafiadora: o destino dos humanos no Antropoceno</a> , disponível agora através da Allen & Unwin. O extrato foi publicado na edição de 05/05/2017 do periódico britânico The Guardian <a href="https://www.theguardian.com/environment/2017/may/05/the-great-climate-silence-we-are-on-the-edge-of-the-abyss-but-we-ignore-it?CMP=share_btn_fb">neste link</a>.</em></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-1957908076705558422018-02-01T00:44:00.000-03:002018-02-01T00:44:52.227-03:00A Bioenergia com Captura de Carbono (BECCS) poderá nos salvar?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxTsMfhCMvfqy-FJKIRF0NL_PvijEk-PaU71ewLXpFtSOXWd6BGgRB17nGTtBgEG8WH8nPRN_iT5xnUZdv6WIe_WP6piNaASyZ7JlONofprf-8hVqoHWq8ssJJOd9EAec2kwO7SgdP5GQ/s1600/hat.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="182" data-original-width="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxTsMfhCMvfqy-FJKIRF0NL_PvijEk-PaU71ewLXpFtSOXWd6BGgRB17nGTtBgEG8WH8nPRN_iT5xnUZdv6WIe_WP6piNaASyZ7JlONofprf-8hVqoHWq8ssJJOd9EAec2kwO7SgdP5GQ/s1600/hat.jpeg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A ideia de que existe uma saída tecnológica "mágica" na <br />
cartola ou na manga para a crise climática é ilusória. Mas<br />
há setores que apostam nessa ilusão para continuarem na<br />
lógica do lucro hoje (com os combustíveis fósseis) e no<br />
futuro próximo (seja com BECCS ou geoengenharia).</td></tr>
</tbody></table>
Uma sigla que já está presente nos debates sobre a crise climática e que possivelmente deverá chegar à arena pública em algum momento é <b>BECCS (Bioenergia com Captura de Carbono)</b>. Trata-se de uma promessa de futura tecnologia de mitigação, casando a geração de energia com a captura e armazenamento de carbono (CCS). A ideia é que biomassa e biocombustíveis seriam utilizadas na indústria e em usinas de energia dotadas de equipamentos para realizarem o sequestro de CO₂ (injeção do mesmo em formações geológicas ou fixação química). Gerar energia não só sem emitir CO₂ mas retirando-o da atmosfera parece ser a salvação do planeta. <b>Aviso de Spoiler: </b><b>mesmo que a tecnologia já existisse, </b><b>só parece...</b><br />
<br />
<a name='more'></a><b>O Problema das "Emissões Negativas"</b><br />
<br />
O <a href="http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/search/label/Acordo%20de%20Paris">Acordo de Paris</a> estabeleceu como limite aceitável para o aquecimento global até o final deste século um valor "bem abaixo de 2°C" e preferencialmente abaixo de 1,5°C, valor este historicamente defendido pelos países mais vulneráveis em particular os países insulares através de sua associação, a <a href="http://aosis.org/small-islands-propose-below-1-5%CB%9Ac-global-goal-for-paris-agreement/">AOSIS</a>. Dos quatro cenários trabalhados nos relatórios do IPCC (os RCPs ou trajetórias de concentrações representativas) apenas um atende a essa prerrogativa, o chamado RCP2.6. Dois deles (RCP4.5 e RCP6.0) ficam no meio do caminho, enquanto o cenário de "negócios como sempre" (também conhecido como "cenário f*da-se") não deixa dúvidas de que se trata de uma catástrofe absoluta. Uma breve descrição desses cenários é apresentada <a href="http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,saiba-o-que-significa-cada-cenario-projetado-pelos-cientistas-do-ipcc,1145437">nesta reportagem</a> e a descrição pormenorizada está disponível (em inglês) no <a href="https://link.springer.com/article/10.1007/s10584-011-0148-z">artigo publicado por van Vuure et al.</a> na <i>Climate Change</i>.<br />
<br />
Seria possível permanecer emitindo grandes quantidades de gases de efeito estufa desde que haja sumidouros equivalentes, ou seja, desde que retiremos uma quantidade equivalente (ou maior) de carbono da atmosfera? Essa retirada de carbono constituiria o que chamamos de "emissões negativas" e o problema desse conceito é que ele pode levar à ilusão de que é possível seguir aumentando as "emissões positivas" desde que houvesse "emissões negativas" para compensar. A ideia de um "saldo" ou "orçamento" de carbono nos dá a falsa impressão de que é possível fazer uma analogia com o orçamento familiar baseado em renda e despesas, que é uma visão por demais simplista, mas nesse aspecto até mesmo o orçamento familiar pode nos servir de aviso: não podemos aumentar indefinidamente as despesas de nossa casa, porque há limites objetivos para a quantidade de dinheiro que podemos obter a cada mês para fechar as contas!<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ywlU5611sWs9Hq1VYOehdJKph6ijlsprWFCz0Bu4-wBbtv5oSEO0CK9w7HbucWE7pX_xJB_FH3Jc89AEt9UvHAd1-F5YGRYsrFf6_63wuKUxfUE6uu5-ihx8HKVDRl1VgHRgYMUQPjM/s1600/Global-Carbon-Project_fig_07_NCC_Fuss1a_AR5scenarios-1024x698.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="698" data-original-width="1024" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ywlU5611sWs9Hq1VYOehdJKph6ijlsprWFCz0Bu4-wBbtv5oSEO0CK9w7HbucWE7pX_xJB_FH3Jc89AEt9UvHAd1-F5YGRYsrFf6_63wuKUxfUE6uu5-ihx8HKVDRl1VgHRgYMUQPjM/s320/Global-Carbon-Project_fig_07_NCC_Fuss1a_AR5scenarios-1024x698.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trajetórias de emissões segundo o artigo de Fuss et al. (2014).<br />
O cenário RCP2.6 que é o único que oferece probabilidades<br />
reais de cumprimento das metas do Acordo de Paris envolve<br />
enormes emissões negativas ao final do século supostamente<br />
possíveis usando tecnologias como BECCS.</td></tr>
</tbody></table>
Pouco se comenta que um aspecto do RCP2.6 é que embora nele esteja previsto um declínio importante no uso de combustíveis fósseis a partir já da próxima década, ainda assim as metas não são cumpridas nesse cenário sem o uso de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (<i>carbon capture and storage</i> ou CCS) ou mais especificamente de captura e armazenamento de carbono para bioenergia (<i>bioenergy</i> <i>carbon capture and storage </i>ou BECCS) a fim de que haja "emissões negativas" nas últimas décadas do século XXI. Em outras palavras, a ideia nesse caso é ter uma gigantesca retirada de carbono na atmosfera através do plantio de espécies vegetais com aproveitamento energético, o que já era questionado por Fuss et al. (2014) em <a href="https://www.nature.com/articles/nclimate2392">artigo na Nature Climate Change</a>, em que os autores dizem que a credibilidade da BECCS como opção de mitigação não está comprovada e que a ideia de sua implantação generalizada em cenários de estabilização climática poderia se tornar uma distração perigosa.<br />
<br />
Colocando de maneira mais simples, a ilusão de que se poderia ter uma solução tão boa no futuro poderia nos desviar dos necessários esforços para buscar uma redução radical e imediata das emissões de gases de efeito estufa, abandonando os combustíveis fósseis e promovendo transformações revolucionárias no sistema produtivo, na matriz energética, sistema de transportes, alimentação etc. incluindo uma redução na demanda energética global. Apostar na capacidade futura de produzir "emissões negativas" é, portanto, um risco em si inaceitável, quando a saída reconhecidamente segura é uma só: reduzir desde já e da maneira mais acelerada possível as "emissões positivas".<br />
<b><br /></b>
<b>BECCS em larga escala viola os limites planetários</b><br />
<br />
Como se já não bastasse o fato de ser arriscado demais depositar todas as fichas em tecnologias futuras, algo que precisa ser avaliado é que tipo e que dimensão de impacto essa nova tecnologia pode causar se utilizada em grande escala e não poderia ser diferente em relação à BECCS. Mesmo numa escala de regional a continental, sabe-se que há problemas concretos em relação aos chamados agrocombustíveis (etanol, biodiesel) e que embora os mesmos sejam quase neutros em relação ao carbono e portanto uma melhor alternativa em comparação com gasolina, diesel etc., outros impactos socioambientais os acompanham, incluindo a concorrência, no que diz respeito a área de plantio, com a produção de alimentos, o uso de água, a produção de rejeitos, etc.<br />
<br />
Eis que um novo <a href="https://www.nature.com/articles/s41558-017-0064-y.epdf">artigo recentemente publicado na revista Nature por Heck et al.</a> se propôs a investigar, exatamente por conta da ideia de implantar uma tecnologia de BECCS em grande escala (isto é, global), que impactos essa tecnologia teria sobre outros limites planetários para além do clima.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIqFF0y-VPzN4Wq_KgvvXXty378AmsiLuLPpw7Zx68RzS-HOZHvwp3pUtT6vtm0BfC0A9GgbMGP_DzoLz78niVhp0UcoZRSss_KAMyJSI-cbq4KWtFVlTDSMt39JcxQosFOE4zBDCqb-E/s1600/DUTcyyAW4AAqa8w.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="986" data-original-width="788" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIqFF0y-VPzN4Wq_KgvvXXty378AmsiLuLPpw7Zx68RzS-HOZHvwp3pUtT6vtm0BfC0A9GgbMGP_DzoLz78niVhp0UcoZRSss_KAMyJSI-cbq4KWtFVlTDSMt39JcxQosFOE4zBDCqb-E/s400/DUTcyyAW4AAqa8w.jpg" width="318" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figura do artigo de Heck et al. (2018) que mostra como a<br />
redução da pressão sobre o clima seria acompanhado do<br />
aumento da pressão sobre outros limites planetários.</td></tr>
</tbody></table>
Para quem não é totalmente familiar com o conceito de limites ou <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Fronteiras_planet%C3%A1rias">fronteiras planetárias</a>, trata-se de uma proposição trazida por um conjunto de cientistas liderado por Johan Rockström em 2009 <a href="http://web.mit.edu/2.813/www/readings/PlanetaryBoundaries.pdf">em artigo na Nature</a>. A ideia é que existe um "espaço de navegação seguro para a humanidade" no Sistema Terra, com nove limites que não devem ser ultrapassados. São eles: a integridade da biodiversidade, o consumo de água doce, o uso da terra, a concentração de ozônio estratosférico, os fluxos biogeoquímicos de nitrogênio e fósforo, a presença de poluentes e materiais no ambiente ("novas entidades"), a poluição atmosférica de particulado, o pH oceânico e, claro, o equilíbrio climático. É condição para a manutenção da biosfera e da própria humanidade que tais limites sejam respeitados.<br />
<br />
O artigo encabeçado por Vera Heck conclui que "ao mesmo tempo que a BECCS visa reduzir a pressão sobre a fronteira planetária para mudança climática, ela muito provavelmente colocaria o Sistema Terra mais próximo do limite para uso de água doce e aprofundaria a transgressão das fronteiras para mudança no uso do solo, integridade da biosfera e fluxos biogeoquímicos" (estas últimas já ultrapassadas).<br />
<br />
Sem introduzir pressões ambientais extras em escala regional, o artigo de Heck et al. considera "marginal" o potencial de remoção de carbono via BECCS mesmo usando hidrogênio como rota (o que aumenta a eficiência): de 0,11 a 0,13 bilhões de toneladas de carbono, muito abaixo do necessário segundo a rota prevista no cenário RCP2.6. Por outro lado, já descontadas as emissões de produção e transporte, os autores estimam que na realidade uma remoção de apenas 1,2 a 6,3 (usando a trajetória mais eficiente do ponto de vista energético) bilhões de toneladas de carbono anuais seria obtida via BECCS, <b>mas numa estratégia que "descarta o princípio da precaução e pode disparar feedbacks ambientais críticos"</b>.<br />
<div>
<br /></div>
O primeiro problema, claro é a quantidade de <b>terra agricultável</b> requerida para sustentar as culturas para BECCS (cana-de-açúcar, milho, soja e outras oleaginosas e fontes de biomassa diversas). A estimativa é que para se remover 10 bilhões de toneladas de CO₂, uma área maior do que a da Índia seria necessária. Num planeta em que as culturas agrícolas voltadas para alimentar a humanidade já estarão sob pressão, possivelmente perdendo produtividade especialmente nos trópicos por conta do próprio aquecimento global, e em que o desmatamento precisa não apenas ser zerado mas revertido, essa demanda. Nos dois cenários analisados por Heck et al. (2018), haveria o risco de perda extra de área de florestas entre 586 e 645 milhões de hectares. Inaceitável.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBrfl81Dn5QZm6Qnq8EJCEfGuJ-uA9FcM8YcSQCfF1wvtd5jTkRJ2qfDBFT2WGUcQOPzsJn1mEOyBzpjCcs-IB4zLlHPoZdqR9MejJqR-r9ddQHKAwMqsd30fyYRbzC9-XuNK_TuA_j80/s1600/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+23.17.31.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="460" data-original-width="691" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBrfl81Dn5QZm6Qnq8EJCEfGuJ-uA9FcM8YcSQCfF1wvtd5jTkRJ2qfDBFT2WGUcQOPzsJn1mEOyBzpjCcs-IB4zLlHPoZdqR9MejJqR-r9ddQHKAwMqsd30fyYRbzC9-XuNK_TuA_j80/s400/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+23.17.31.png" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A depender da quantidade pretendida de remoção de carbono da atmosfera<br />(entre 5 e 20 bilhões de toneladas por ano), alivia-se a tensão sobre a crise<br />climática, mas agrava-se a situação de outros quatro parâmetros. Ao se prio-<br />rizar a minimização do impacto sobre um deles (biodiversidade), aumenta-se<br />o impacto sobre outro (água doce) e vice-versa. Para agravar, o impacto não<br />é distribuído equitativamente em todas as regiões do globo. Adivinhem onde<br />é mais severo...</td></tr>
</tbody></table>
O segundo problema é o <b>uso de água doce</b> para irrigação. Já estamos com várias localidades do mundo em recorrente crise hídrica e competição cada vez maior entre o abastecimento humano e a água destinada principalmente para grandes plantações de monocultura do agronegócio (além de usos industriais, geração de eletricidade etc.). Para assegurar alta produtividade e diminuir a demanda por mais terra agricultável, a estimativa de Heck et al. é a de que a irrigação <b>dobraria</b> a demanda anual de água para este fim em escala global, demandando 1167 km³ a mais de água além do que já se utiliza hoje, o equivalente a mais de 40 vezes o volume (útil) do reservatório de Sobradinho completamente cheio.<br />
<br />
O uso a mais de fertilizantes implicaria em um aumento do fluxo de nitrogênio entre 56 e 65 teragramas (Tg) por ano. O valor atual, em virtude das atividades humanas, já é de 121 Tg/ano, muito acima do limite de 35 Tg/ano, ou seja, o uso em grande escala de mas fertilizantes para culturas agrícolas voltadas para BECCS amplificaria a geração de zonas mortas na costa e nos oceanos e eutrofização de corpos d'água. Como no caso da água, um uso menor de fertilizantes implicaria em um uso maior de terra ou vice-versa.<br />
<br />
Para completar, o impacto seria desigual do ponto de vista regional, atingindo mais duramente os países mais pobres das regiões tropicais, em especial na África, cujos ecossistemas adentram na faixa de alto risco em qualquer cenário, podendo também, caso a prioridade seja dada para a conservação da água doce em detrimento da biodiversidade, ser absolutamente devastador sobre os biomas da América do Sul.<br />
<br />
<b>É preciso aceitar a realidade: o cobertor é curto</b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://i.ytimg.com/vi/rUfWIIdtgwU/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="179" src="https://i.ytimg.com/vi/rUfWIIdtgwU/maxresdefault.jpg" width="320" /></a></div>
Vivemos num planeta finito; em que o espaço (compartilhado com todas as outras espécies) no qual cultivamos nossos alimentos, de onde obtemos água doce em quantidade e qualidade adequadas, em que depositamos nossos dejetos, etc. é limitado; em que a ciclagem de matéria (incluindo água, carbono, nitrogênio, fósforo e nutrientes diversos) é regulado; em que determinados materiais só são reciclados naturalmente numa escala geológica. Não é possível comportar uma sociedade cujas demandas de bens de consumo e portanto de matéria e energia sigam crescendo em proporções tão gigantescas e tão desiguais.<br />
<br />
Evidentemente desejamos manter uma comunidade global com um padrão tecnológico minimamente elevado e socialmente acessível, com um certo grau de automação e que proporcione dignidade a cada ser humano. Desejamos primariamente que os direitos básicos à alimentação, água, educação, saúde, moradia, etc., sejam assegurados. Mas é preciso que a solução da equação para tal sociedade seja tal que a mesma caiba na biosfera, no ecossistema global.<br />
<br />
Podemos até optar por abdicar globalmente do consumo de carne em níveis tão elevados, a fim de abrir terras que hoje servem de pasto ou plantações de grãos para alimentar reses, porcos e aves para que estas forneçam alguma biomassa para que esta contribua para o "mix" de energias renováveis nas quais entram também obviamente a eólica e a solar, desde que também atendendo a limites dos impactos socioambientais que cada uma carrega. Mas não poderemos ter as duas coisas.<br />
<br />
Podemos até imaginar sermos capazes de manter um grau menor, mas ainda relativamente elevado de produção/conserto/reposição de bens materiais especialmente se os mesmos estiverem associados a necessidades importantes como saúde e difusão de informação e conhecimento, mas precisaremos lembrar que tais condições só serão sustentáveis com base na plena reciclagem e numa economia circular, mesmo porque se a mineração prossegue invadindo territórios fundamentais para sustentar a biodiversidade global e as nossas próprias fontes de água, tal qual um bumerangue enfeitiçado, ele se voltará contra os (aprendizes de) feiticeiros.<br />
<br />
Nossa sociedade, baseada no consumo e no descarte, com setores econômicos desnecessário, perdulários e/ou nocivos que vão desde a indústria bélica à propaganda, da produção com base na obsolescência programada à mineração, passando obviamente pela indústria de combustíveis fósseis, já impõe uma pressão insuportável sobre os sistemas naturais. Por ser tão brutalmente desigual (e com <a href="https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Antifascismo/Aumenta-a-desigualdade-1-da-populacao-tem-mais-recursos-que-todo-o-resto-da-humanidade/47/39247">desigualdade crescente</a>), termina não resolvendo questões básicas para a dignidade humana para um contingente humano enorme, ao mesmo tempo que contém uma minoria parasitária e perdulária, cujos impactos associados ao padrão de consumo, são enormes e, se estendidos a uma parcela maior da sociedade, implodiriam imediatamente os limites planetários. Nosso modo de vida, à medida em que impõe uma incessante busca de novas fontes energéticas para atender à demanda crescente, de matéria-prima para responder ao crescimento do consumo de bens, que produziu a idolatria do transporte individual motorizado, que viu crescer a proporção da carne como fonte protéica, que depende de cadeias produtivas extremamente longas e perdulárias que deslocam matéria ao redor do globo com impactos que vão das emissões de gases de efeito estufa à introdução de espécies invasoras via água de lastro em navios, etc., é simplesmente insustentável.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju3xWG2axZs-a4EcmgK-Zd0oz-6Sj8WYOs_2SWk3-l0fhMIt5bHnuNLgKKa_nwcd6ZkXy6sU_k_VHiJ98SUzFRCRFMlZvA25nhtiDwW6NMz7gZFU3SQaRM8fMITelwCVVy9cgt6PgfjKQ/s1600/Captura+de+Tela+2018-02-01+a%25CC%2580s+00.39.21.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="313" data-original-width="343" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju3xWG2axZs-a4EcmgK-Zd0oz-6Sj8WYOs_2SWk3-l0fhMIt5bHnuNLgKKa_nwcd6ZkXy6sU_k_VHiJ98SUzFRCRFMlZvA25nhtiDwW6NMz7gZFU3SQaRM8fMITelwCVVy9cgt6PgfjKQ/s320/Captura+de+Tela+2018-02-01+a%25CC%2580s+00.39.21.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O único cenário do IPCC que mantém a temperatura global<br />dentro dos limites do Acordo de Paris se baseia ainda num<br />crescimento (embora pequeno) da demanda energética. Mas<br />esse cenário depende de CCS/BECCS para funcionar. Que<br />tal pensar além, numa <b>redução</b> da demanda energética?</td></tr>
</tbody></table>
Nesse sentido, não adianta dourar a pílula. Da maneira como foi concebido, a fim de que o cenário RCP2.6 trabalhado nos relatórios do IPCC consiga deter o caos climático e evitar as piores consequências associadas à ultrapassagem dos limites planetários para o clima, depende do sucesso da BECCS. Isso se deve porque em essência, mesmo com mudanças não desprezíveis nos sistemas energético, de transporte, etc., esse cenário mantém um modo de vida de (relativamente) elevada demanda energética e consumo. Em outras palavras, sem CCS/BECCS, o único cenário do IPCC que nos salvaria também fracassa (é algo que pode ser inclusive testado usando esta excelente ferramenta: a "<a href="http://tool.globalcalculator.org/">Calculadora Global</a>"), o que requer repensar as transformações da nossa sociedade num nível ainda mais profundo. Mesmo porque ainda que o desenvolvimento dessa tecnologia, ainda incerta, seja "bem sucedido", acaba-se jogando o problema para outras caixinhas, e não adianta ter uma abordagem que não seja sistêmica, que limite o aquecimento global mas às custas do comprometimento do acesso à água ou aceleração da destruição de habitats de outras espécies. Cobre a cabeça, descobre as pernas, numa verdadeira síndrome de cobertor curto. Aceitar a realidade do tamanho desse cobertor e perceber que encolher o próprio tamanho é a única forma de caber sob ele é a ficha que precisa cair de uma vez por todas.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1984129592768917165.post-8592384999422248792018-01-31T15:10:00.001-03:002018-01-31T15:19:29.130-03:00Cadê o aquecimento global? Parte I - Frio nos EUA<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; padding: 6px; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHi2vPYR_CQ0vYmqJlVW_hYEpd4cGUTxDqXVMaoxV_40o5LHJhxpl3IhYNokH8y0dY-GR5ChOubSMtP4qcTRXM9XLOrFdQQP4yNkHq4KLWqS8LybLeYvRj7RDa0st7m0w26mw-gBOqSs/s1600/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+14.49.45.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="776" data-original-width="858" height="289" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHi2vPYR_CQ0vYmqJlVW_hYEpd4cGUTxDqXVMaoxV_40o5LHJhxpl3IhYNokH8y0dY-GR5ChOubSMtP4qcTRXM9XLOrFdQQP4yNkHq4KLWqS8LybLeYvRj7RDa0st7m0w26mw-gBOqSs/s320/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+14.49.45.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; padding-top: 4px; text-align: center;">Para sermos mais precisos, se a esmagadora maioria de especia-<br />
listas em clima nas universidades e institutos de pesquisa ou<br />
meia dúzia de pessoas mal informadas ou com extrema má fé...</td></tr>
</tbody></table>
<span style="text-align: left;">"E esse frio todo?" é uma pergunta usada de maneira recorrente, explícita ou implicitamente para questionar as mudanças climáticas, seja ela referente a dias muito frios em sequência no Sul e Sudeste do Brasil seja na costa leste dos EUA. Incautos e militantes do negacionismo adoram fazer distorções em tornos desses eventos (e outros como neve no Saara e até granizo no sertão), não sem uma confusão completa entre tempo e clima, para provocar confusão na opinião pública. É algo inclusive praticado por jornalistas sem compromisso com a informação como Alexandre Garcia (que recebeu </span><a href="https://twitter.com/alexaraujoc/status/870715715799601152" style="text-align: left;">resposta minha à altura no twitter</a><span style="text-align: left;">) e por políticos não apenas de direita (como o filho de Bolsonaro) mas também de esquerda como Aldo Rebelo. Este é o primeiro de uma série de artigos sobre esse tópico com o objetivo precisamente de separar o joio do trigo e contribuir </span><span style="text-align: left;">não apenas </span><span style="text-align: left;">para desfazer a confusão entre tempo e clima relacionada a esses eventos, mas também para trazer informações sobre a formação de eventos extremos dessa natureza.</span><br />
<br />
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMoJ1DyLSjSjtS3XfNbrt6TbQNc49UNtPT-f26UsPFyk4rsunsW5O1q4P-8n2spnK3PKIzDb7JOjdD3dzOQ-EC5IlM-nK0A3d5HGFpfaVaoougW9OY59iraPxaIFR5Q3E1wcLdJ006EAQ/s1600/2017.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1130" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMoJ1DyLSjSjtS3XfNbrt6TbQNc49UNtPT-f26UsPFyk4rsunsW5O1q4P-8n2spnK3PKIzDb7JOjdD3dzOQ-EC5IlM-nK0A3d5HGFpfaVaoougW9OY59iraPxaIFR5Q3E1wcLdJ006EAQ/s320/2017.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; text-align: center;">Anomalia de temperatura de 1880 a 2017 segundo o Instituto<br />
Goddard de Estudos Espaciais da NASA, em que 2017 aparece<br />
como o segundo ano mais quente do registro histórico.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Respondendo de cara à pergunta do título ("cadê o aquecimento global?"), afirmamos sem titubear que na verdade o aquecimento global segue "firme e forte" (infelizmente). O ano de 2017, segundo <a href="https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/global/201713">dados da NOAA</a>, foi o terceiro mais quente de todo o registro histórico desde 1880, atrás apenas de 2016, recordista absoluto, e 2015. <a href="https://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/">Segundo a NASA</a>, 2017, teria sido o segundo, superando 2015. A diferença nesse caso é que a anomalia de temperatura no final de 2015 e durante boa parte de 2016 contou com a contribuição do segundo maior evento de El Niño já registrado enquanto que a anomalia de 2017, com o Pacífico com condições entre neutralidade e La Niña, se deveu basicamente ao efeito antrópico puro. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que 2017 foi o ano mais quente sem influência da mais importante fonte natural de variabilidade climática na escala interanual.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mais uma vez, a estatística</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não apenas a temperatura média do planeta segue subindo, como a ocorrência de recordes de calor vem superando de longe a ocorrência de recordes de frio. É o que mostra, por exemplo, <a href="https://www.ncdc.noaa.gov/cdo-web/datatools/records">este serviço da NOAA</a>, que indica, dentre outras informações, que nos últimos 365 dias, considerando data por data, houve 53810 quebras de recorde de maior temperatura máxima nas estações da rede mundial de observações (a<i><a href="https://gis.ncdc.noaa.gov/geoportal/catalog/search/resource/details.page?id=gov.noaa.ncdc:C00838"> Global Historical Climatological Network</a></i>) enquanto tivemos 18109 recordes de menor temperatura mínima, uma proporção de 3 para 1. Já olhando para as quebras de recorde absoluto, tivemos globalmente 144 quebras de recorde de calor para 26 quebras de recorde de frio, uma desproporção ainda maior (5,5 para 1).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBxafNvWQ3kgHMkbmqdfj7ynmB3fTJxpwDNtGusUGBQp9z_7NU8ylWOPrzhJp_IuCFl1rq7WHpm7OnA6-CiyGzip1ZfRsxGVC7MhlrjP03cIDKUt3MT448_6riR27IxFPolnwEFYanR84/s1600/Captura+de+Tela+2018-01-24+a%25CC%2580s+09.55.37.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1240" data-original-width="736" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBxafNvWQ3kgHMkbmqdfj7ynmB3fTJxpwDNtGusUGBQp9z_7NU8ylWOPrzhJp_IuCFl1rq7WHpm7OnA6-CiyGzip1ZfRsxGVC7MhlrjP03cIDKUt3MT448_6riR27IxFPolnwEFYanR84/s400/Captura+de+Tela+2018-01-24+a%25CC%2580s+09.55.37.png" width="235" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; text-align: center;">Como mostra o site "Climate Signs", a despro-<br />
porção entre recordes de temperatura máxima<br />
e recordes de mínima nos EUA vem crescendo<br />
de modo acelerado. Hoje, há bem mais recordes<br />
de calor do que de frio em contraste com os<br />
anos 1950, por exemplo.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Este outro site, o "<i><a href="http://www.climatesignals.org/data/record-high-temps-vs-record-low-temps">Climate Signs</a></i>" mostra de maneira interativa que, nos EUA, os recordes (máxima e mínima combinados) de maior temperatura nos últimos 365 dias superam os de menor temperatura numa proporção de 2,37 para 1, um aumento muito significativo em relação à década de 1990 (1,36 para 1) e principalmente em relação aos anos 1950, quando tínhamos uma situação bem mais próxima à de um clima ainda não desestabilizado (1,09 para 1).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Explicando: estatisticamente, num clima estável, a chance de ocorrer um recorde local de frio ou de calor é a mesma. No entanto, num clima em mudança, essas probabilidades ficam desequilibradas, como num dado viciado. <b>O aquecimento global não implica a inexistência de recordes de frio</b> assim como um eventual resfriamento global não implica a inexistência de recordes de calor. O que acontece, porém, é que <b>muda a probabilidade de ocorrência</b>. Recordes de calor hoje estão muito mais prováveis que recordes de frio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há negacionistas que se queixam quando uma onda de calor (ou outro evento extremo cuja probabilidade aumenta com o aquecimento global) é usada para ilustrar os impactos das mudanças climáticas. Querem estabelecer uma <b>falsa simetria</b>. A rigor, o mais correto é sempre colocar a questão do ponto de vista da estatística, que indica nitidamente que 3 em cada 4 das ondas de calor atuais está relacionada ao aquecimento global antrópico, mas trata-se de um argumento válido mesmo que essa consideração probabilística não seja colocada de maneira explícita. Afinal, é o tipo de evento representativo do "novo normal". O oposto ocorre quando uma ou outra onda de frio é usada para "refutar" o conhecimento estabelecido pela comunidade científica. É o mesmo que pegar os dez jogadores em quadra numa partida da NBA como amostra para a população humana (e concluir que a humanidade só é composta de indivíduos do sexo masculino com 2 metros de altura ou mais...).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Estava frio nos EUA, mas fez calor recorde em outros locais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVdTYV-KZEtUWb0tAgdgc8D1bvSsb3j6bTXgl2bmiADt7jopm_f0ZgSglGm6MsNjvFucWaHnfElRWV5Xzbmm2iT93zojGapX73cqmzNvKwhieNEJ7QHYd9BWqQsiBog974Da8uvH2LNsA/s1600/trump_idiota.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="908" data-original-width="1354" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVdTYV-KZEtUWb0tAgdgc8D1bvSsb3j6bTXgl2bmiADt7jopm_f0ZgSglGm6MsNjvFucWaHnfElRWV5Xzbmm2iT93zojGapX73cqmzNvKwhieNEJ7QHYd9BWqQsiBog974Da8uvH2LNsA/s320/trump_idiota.png" width="320" /></a></div>
"No leste poderá ser a véspera de ano novo MAIS FRIA da história. Talvez possamos usar um pouco desse bom e velho Aquecimento Global do qual o nosso país, mas não os outros, está pagando TRILHÕES DE DÓLARES para se proteger. Agasalhem-se!" Trump, para variar, com a irresponsabilidade e ignorância costumeiras, conseguiu em duas centenas de caracteres misturar conceitos, mentir sobre valores financeiros. Mas não obstante o destaque dado pela mídia e apesar da bravata infantil de Trump, o frio recorde no leste dos EUA não apenas não era representativo de tendências de longo prazo como sequer era representativo espacialmente. Tampouco foi capaz de produzir grande impacto nas médias globais mesmo tomando apenas o mês de dezembro especificamente, senão vejamos. </div>
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiffhTlSikI0GdJyfiGCREFtxrUHodkpzDbVwR7wC3p43WhEw2lzP8fk0MjF8yHWSzaqZXZp4vxg5CYLbR0Oo7L8mftuNCepM2bbYEMCy9jc7xWt7qLRzmbPp0OBZdlsIazPsQrPOqlLPM/s1600/201712.gif" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="743" data-original-width="1052" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiffhTlSikI0GdJyfiGCREFtxrUHodkpzDbVwR7wC3p43WhEw2lzP8fk0MjF8yHWSzaqZXZp4vxg5CYLbR0Oo7L8mftuNCepM2bbYEMCy9jc7xWt7qLRzmbPp0OBZdlsIazPsQrPOqlLPM/s320/201712.gif" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; text-align: center;">Anomalia de temperatura para o mês de dezembro/2017</td></tr>
</tbody></table>
Usando os <a href="https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/global/201712">dados da NOAA</a> (que colocam 2017 como terceiro e não como segundo ano mais quente), constata-se que dezembro do ano passado foi o 4º dezembro mais quente do registro histórico, 1,13°C mais quente do que o normal. Uma anomalia negativa (isto é, temperaturas mais frias do que o normal) aparece nitidamente no Nordeste dos EUA, além de outras regiões do globo incluindo o Pacífico equatorial central e leste, assinatura típica de um evento de La Niña. Mas obviamente a maior parte do mapa está pintada em tons de vermelho, que representam anomalias positivas, e merece destaque justamente o calor anômalo em áreas como o oeste da Rússia e o Alaska, cujas temperaturas ficaram vários graus acima do normal naquele mês. Em meio ao calor anômalo de dezembro/2017, vale ressaltar a <a href="https://www.nytimes.com/2018/01/07/world/australia/heat-wave.html">onda de calor na Austrália</a>, com um subúrbio de Sidney atingindo impressionantes 47,3°C.</div>
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiymNSF6IpV69EGqsWE5096g2HKBHnXNPg-af39XlDwbh1nTmvx25hQgiwhCY63m_RW1s7SjMxc583KG1XZmQXs986KeBT7bvDcj9Rvtfm_fZqmjnvxzscHYqomkNjgNrFd6mL2Un02yhs/s1600/statewidetavgrank-201712.gif" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="650" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiymNSF6IpV69EGqsWE5096g2HKBHnXNPg-af39XlDwbh1nTmvx25hQgiwhCY63m_RW1s7SjMxc583KG1XZmQXs986KeBT7bvDcj9Rvtfm_fZqmjnvxzscHYqomkNjgNrFd6mL2Un02yhs/s320/statewidetavgrank-201712.gif" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px; text-align: center;">Rankings de temperatura para o mês de dezembro nos EUA,<br />
por estado: 1 = recorde de frio, 123 = recorde de calor.</td></tr>
</tbody></table>
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Mesmo <a href="https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/national/201712">considerando apenas os EUA</a> e apenas o mês de dezembro, os dados da NOAA não deixam dúvida: o sinal que prevalece nos recordes não é o do frio a Nordeste, mas o calor a Sudeste, como mostra a figura ao lado. Enquanto nos estados do Nordeste tivemos temperaturas médias mensais que ficaram entre as 40 a 50 mais frias em 123 anos de registro histórico, do outro lado do país a situação foi completamente oposta. Além do Alaska, que esteve em média 8,7°C mais quente do que o normal, o Arizona teve o terceiro mês de dezembro mais quente desse período e a Califórnia, o quarto mais quente, com Novo México e Colorado também entrando na lista dos estados com anomalias quentes entre as 10 maiores do registro.</div>
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Óbvio: a conclusão a que se chega é que uma onda de frio localizada de alguns dias, mesmo severa e que envolva quebras de recordes de temperaturas mais baixas, sequer tem sido suficiente para alterar sensivelmente as estatísticas mesmo ao longo de um mês, especialmente na escala global. Fisicamente não há como, aliás. Por conservação da energia, o calor extra acumulado pelo aquecimento global pode até ser transportado de um lugar para o outro e transferido de uma para outra componente do sistema climático, mas não pode desaparecer num passe de mágica. Ilusões a esse respeito só deveriam encontrar eco na cabeça de pessoas pouco informadas ou de má fé. O que lamentamos é que nesse rol se encontram alguns jornalistas ignorantes, mas famosos e alguns políticos com poder de decisão em suas mãos, incluindo o presidente do Estado-nação mais poderoso do planeta...</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8FttUgVc9dNtvzVZRVfqk7H9YKkxd4v4pL-zuPaWYzH6nUS8VwXZrvubaL7AwqLAioj6eHpXbKgUlxWWcvxbSlhTYslnLbMlehyjadxKIAh1KLpF5wkYTY9CJ8dyg7ao-JQpTHgGvuFY/s1600/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+15.04.26.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="1600" height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8FttUgVc9dNtvzVZRVfqk7H9YKkxd4v4pL-zuPaWYzH6nUS8VwXZrvubaL7AwqLAioj6eHpXbKgUlxWWcvxbSlhTYslnLbMlehyjadxKIAh1KLpF5wkYTY9CJ8dyg7ao-JQpTHgGvuFY/s640/Captura+de+Tela+2018-01-31+a%25CC%2580s+15.04.26.png" width="640" /></a></div>
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Unknownnoreply@blogger.com1